" o ar de Lisboa andou esguedelhado de tiros, o
céu riscado de fogos-de-vistas singulares.” José Rodrigues Miguéis , in “A Escola do Paraíso”, 1960, Editorial Estampa
José
Rodrigues Miguéis (1901-1980), é um dos nomes maiores da literatura portuguesa,
com uma enorme obra publicada e, frequentemente, esquecido na invocação
literária.
Em “ A Escola do Paraiso”, este
admirável escritor, através do olhar de uma criança, Gabriel, relata e
descreve os acontecimentos e o revolucionário tempo vividos em 1910, na
implantação da República.
"Começavam-se
a vender na rua bandeiras, alfinetes, postais e globos de vidro colorido com
cenas e retratos dos homens do regime. Era uma Vida Nova que raiava. Dir-se-ia
que estava tudo preparado para a celebração! Passavam bandos aos vivas, caminho
da Baixa, da Rotunda, do Tejo, cantando a Portuguesa. Afluíam de todos os lados
os heróis de última hora: as barricadas, até ali quase vazias, transbordavam
agora de combatentes, eriçadas de armas que não tinham chegado a dar fogo.
Tiravam-se grupos memoráveis, para depois se dizer «Eu também Lá estive!».
(…)Então
compreenderam que alguma coisa de grande e sério se passava: não era só festa,
só vivas, só fogo-de-vista! E ficaram muito tempo calados, no escuro da noite,
pensando no pai que chorava de alegria, até que o cansaço daquele primeiro dia
da Vida Nova os venceu, e adormeceram."
José Rodrigues Miguéis , in “A Escola do Paraíso”, 1960, Editorial Estampa
José Rodrigues Miguéis, através da personagem "Gabriel" relata-nos a forma como viu os acontecimentos da implantação da República, quando era criança, quando tinha apenas 9 anos. Um testemunho pungente.
ResponderEliminar... Com saudades de Portugal, especialmente de Lisboa e dos muitos amigos, José Rodrigues Miguéis acabou os seus dias nos U.S.A., já depois de ter ocorrido a Revolução da Abril de 74... Com a sua vida profisisonal e familiar toda no mundo Americano, concluiu que já era tarde para voltar!