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Ludwig Van Beethoven por Joseph Karl Stieler , em 1820, segurando a partitura de“Missa Solemnis in D#”
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A vibração no ar da respiração de Deus fala à alma dos homens. Música é a linguagem de Deus. Nós, músicos , estamos o mais
perto que os homens podem estar de Deus. Escutamos a sua voz.
Lemos os seus lábios . Damos a luz aos filhos de Deus. Contamos
as suas preces. Isso é o que os músicos são.
Beethoven
Missa Solene, Op. 123, de Beethoven
Não é solene esta música,
ao contrário do nome e da intenção.
Clamores portentosos, violência obsessiva
( por sob apelos doces, lacrimosos)
de um ritmo orquestral continuado,
tanta paixão gritada, tanto contraponto
que teimosamente impede que na tessitura
das vozes e dos timbres se interponha hiato
não de silêncio mas de um fio só
de melodia, por onde a morte
penetre interrompendo a vida.
É medo, um medo-orgulho, feito
de solidão e de desconfiança. Não
piedosa tentativa para captar um Deus,
ou ardente anseio de união com Ele.
Não é também, com tanta majestade,
a exigência de que Ele exista,
porque o mereça quem assim O inventa.
É um medo comovente de que O não haja
para remissão dos pecados, bálsamo
das feridas, consolo
das amarguras, dádiva
do que se não teve nunca
ou se perdeu para sempre. É
desejo ansioso de que um Agnus Dei
se interponha (ao contrário da morte) mediador e humano
entre um nada feito música
e outro possivelmente Deus.
E a esperança desesperada de que seja
uma grandeza nossa quanto fique,
de pé, no intervalo entre ambos.
2 de Novembro 64
Jorge de Sena, in " Versos e alguma prosa de Jorge de Sena, Prefácio e Selecção de textos de Eugénio Lisboa", Co-edição de Arcádia e Moraes, 1979 p. 82
Não sei dizer quantas e quantas vezes tenho ouvido Beethoven. A Missa Solemnis, Op. 123 é a obra que mais me encanta, que mais procuro. A peça é contemporânea da Sonata Hammerklavier, a 9ª Sinfonia e das últimas três sonatas para piano.
"Das principais Missas, consideradas clássicas (Bach e Bruckner), a de Beethoven possui uma forma sinfónica,em 5 movimentos: Kyrie, Gloria, Credo, Sanctus e Agnus Dei. A obra possui um estilo dramático, é só observar as palavras do próprio Beethoven: “do coração! Que possa retornar aos corações”.
Ludwig van Beethoven compôs duas missas e um singular oratório intitulado Cristo no Monte das Oliveiras, além de duas cantatas compostas na juventude; essa foi toda a sua produção religiosa. A segunda missa, a impressionante Missa Solemnis, op. 123, por sua alta qualidade musical já seria suficiente para garantir a Beethoven um lugar na história da música. Composta para homenagear o arquiduque Rudolfo da Áustria, a Missa Solemnis é tão extraordinária que a sua audição fora de uma sala de concertos é praticamente impossível. Os elementos que necessita para a sua execução extrapolam as dimensões de uma igreja de tamanho normal: quatro solistas (soprano, contralto, tenor e baixo), um grande coro, uma orquestra de cordas, duas flautas, dois oboés, dois clarinetes, dois fagotes, corno de bassetto, quatro trompas, dois trompetes, três trombones, timbales e um órgão. A estrutura segue as secções tradicionais de Kyrie, Gloria, Credo, Sanctus/Benedictus e Agnus Dei, apesar de ser longa demais para a utilização litúrgica convencional. Além disso, os textos em certas partes afastam-se do dogma católico. Tremendamente complexa, a Missa Solemnis não se parece a nada: é única.
Missa Solemnis, en Re mayor, Op. 123. Ludwig van Beethoven (Latin/ Engl./ Span. subtitles)
Título de la obra: Missa para solistas, coro e orquesta, em Re mayor ("Missa Solemnis"), Opus 123. Compositor: Ludwig van Beethoven (1770-1827).
"Assim o Kyrie, é um hino piedoso e solene, deve ser cantado com devoção. A parte central em forma de moteto (si menor e fa# menor) , é cantada pelos solistas e termina em pianíssimo. A volta do Kyrie, reintroduz a tonalidade principal e intensifica a harmonia numa bela alternância do coro e dos solistas em comovida prece que se extingue lentamente. O texto sagrado conduz aos movimentos seguintes, o Gloria e o Credo. Enquanto que na Missa em si menor de Bach, e o Gloria é cheio de alegria sobre humana, o canto de louvor de Beethoven encontra-se animado de incessante agitação. O Et in terra pax, traz o primeiro repouso porém o arrebatamento retorna com o Laudamus Te. A expressão, bem como a tonalidade é a seguir variável, até que a tonalidade principal seja reencontrada com o Pater omnipotens. A segunda parte do Gloria contem um expressivo Larghetto, o Qui tollis peccata mundi, que Beethoven concebeu como lamento é uma prece de tão comovente humanidade, que ele próprio acrescentou um “o” para os solistas, e um “ah” para o coro, antes dos apelos finais do Miserere. A parte conclusiva deste movimento principia na tonalidade principal com um Quoniam tu solus Sanctus, espantosamente curto e agitado, culminando na grandiosa fuga coral do In gloria Dei Patris, onde Beethoven desenvolve uma arte contrapontística excepcional. Na conclusão, o início do Gloria que retorna acelerado até ao Presto dá desta maneira uma unidade sinfónica ao movimento.
O Credo, em si b maior, de acordo com o carácter do texto, é ainda mais variado e expressivo. Desde o início, sentimos o esforço tremendo que Beethoven realiza para nos transmitir a sua fé. O Et incarnatus est e as outras secções que se seguem, falando da vida, crucificação, ressurreição e ascensão de Cristo; em Cuius regni non erit finis, a palavra non é expressamente repetida para maior ênfase, do mesmo modo que mais tarde a palavra credo. O final constitui, em duas fugas sobre o mesmo tema, a visão da vida eterna, Et vitam venturi saeculi, e nas exclamações finais do Amen, reaparece o tema original do Credo.
No Sanctus, o canto de louvores reflecte uma prece humana, um Adágio e a meditação. Após o curto Pleni sunt coeli, fugado, e o Osanna, a meditação se expande em figuração. A melodia o solo de violino, desce flutuando das mais elevadas paragens, reconstitui o milagre da descida de Jesus e da transubstanciação. O Benedictus, é no amplo sentido, a música de transição, cujo carácter se infiltra no desenvolvimento posterior, indo além da repetição do Osanna.
O Agnus Dei, constitui o Finale desta grande sinfonia coral. Miserere nobis! É aqui, com o solo inicial do baixo, em si menor, e após com o expressivo refrão do coro, que a lamentação alcança maior profundidade. Depois a severidade diminui e a prece de paz que é o Dona nobis pacem, introduz e faz retornar suavemente a tonalidade original de re maior. Sem embargo, ainda não reina paz no mundo exterior. Oração pela paz interior e exterior, foi o substituto anotado pelo autor para esta parte. O primeiro interlúdio orquestral sugere uma perturbação na paz exterior. O equilíbrio íntimo parece se estabelecer. Dona nobis pacem soa como se fora uma fuga solene. O tema é uma reminiscência do Messias de Haendel, cujo texto Der Herr regiert von nun na auf ewig (Agora o Senhor reinará para sempre). Todavia não são as tempestades exteriores as que verdadeiramente nos perturbam; são os da alma. O Scherzo orquestral que se segue é extraordinário pelo rude, veemente contraponto. O Dona nobis pacem, que se sucede, é cantado pelo coro, na tonalidade de sib maior, e constitui autêntico apelo pela paz. Então a tonalidade principal de re maior e o compasso de 6/8, são alcançados após um lento desdobramento. Nessa atmosfera de esperança ante a paz ainda incerta do Dona nobis pacem do coro final, ouvimos os tímpanos em si bemol ribombarem ainda duas vezes – eco da paz perturbada. Beethoven conclui a missa sem acrescentar o grande final redentor.” In Repertório Beethoven