quinta-feira, 31 de março de 2022

Small is beautiful

 

Small is beautiful
(Beware of small people)
 
Não fica bem bater nos pequenos:
assim, não custa nada ser herói.
Os russos fizeram-no aos tchetchenos,
mas tenham cuidado com um Hanói…
 
Os pequenos, quando, enfim, se chateiam,
lembram-se do David e do Golias:
rapam da fisga e com zelo arreiam
nos grandalhões que se metem em folias.
 
Os homens nunca se medem aos palmos:
há pequenos com uma grande tusa
e grandes com desejos muito calmos.
 
Há grandes surpresas na gente lusa,
como há também na ucraniana:
muito humilde, mas, na luta, sacana!
                         31.03.2022
Eugénio Lisboa

Um impressivo apelo


Somos folhas breves onde dormem
aves de sombra e solidão.
Somos só folhas e o seu rumor.
Inseguros, incapazes de ser flor,
até a brisa nos perturba e faz tremer.
Por isso a cada gesto que fazemos
Cada ave se transforma noutro ser.
Eugénio de Andrade, “ As mãos e os Frutos,1948

Até os seres mais inseguros, que se assustam com o ribombar dos trovões, enxergam, no clarão da alvorada, o advir de um novo dia . E quando se dispõem a escutar os acordes de um impressivo apelo,  sentem a  força  da esperança e transformam-se em  heróis.

The last hero , de  Phil Rey Gibbons.

quarta-feira, 30 de março de 2022

Elogio da guerra


ELOGIO DA GUERRA
 
A guerra foi inventada
para ajudar a solução,
de forma organizada,
dos problemas da nação.
 
Há maneiras de matar,
umas, um pouco à toa,
sem sequer se procurar
boas rendas para a coroa.
 
Guerra é organização,
somada com disciplina:
há que guardar a razão,
mesmo quando se assassina.
 
Matar é o supra-sumo,
se é estratégia calculada,
com panache e com aprumo,
e a máquina bem oleada.
 
A guerra é uma empreitada:
pesem-se os custos e os ganhos,
tal casa bem governada,
contas dadas ao rebanho.
 
Os mortos e as ruínas,
tudo está bem incluído,
nas despesas pequeninas,
para feito tão brunido!
               30.03.2022
Eugénio Lisboa

A vergonha destes dias

 



O mundo pode e deve parar Putin.

Sobre o Tempo e a Violência


Abrimos o livro " A Gravidade e a Graça" , de Simone Weil e reencontrámos  estas reflexões que partilhamos:
" O tempo é violento; é a única violência. Um outro cingir-te-á e conduzir-te-á aonde não queres ir; o tempo conduz aonde não queremos ir. Se me condenarem à morte, não me executarão se , no intervalo, o tempo parar. O que quer que possa acontecer de terrível - poderemos nós desejar que o tempo pare, que as estrelas parem? A violência do tempo rasga a alma: pela abertura entra a eternidade.
Todos os problemas se reproduzem no tempo.
Dor extrema: tempo não orientado: via do inferno ou do paraíso. Perpetuidade ou eternidade."

"Causa das guerras: cada homem, cada grupo humano sente-se, com todo o direito , mestre legítimo e possuidor  do universo. Mas esta posse é mal entendida, por desconhecimento de que o acesso - tanto quanto é possível ao homem sobre a terra - passa, em cada um,  pelo seu próprio corpo."
Simone Weil, in A Gravidade e a Graça, Relógio D' Água Editores, Abril de 2004, pp.85, 86, 88, 89.

terça-feira, 29 de março de 2022

No coração das trevas


NO CORAÇÃO DAS TREVAS
 
Mistah Kurtz enlouqueceu,
lá, no coração das trevas;
na loucura se escondeu,
onde vidas valem pevas.
 
Mistah Kurtz emigrou,
de um Congo que ardia,
para a Rússia onde ficou,
à procura de outra orgia.
 
O poder é um orgasmo,
como é matar à toa:
um país em cardioespasmo
é prazer que se abençoa.
 
Lagarto de sangue frio
pede estimulantes fortes:
só perverso arrepio
lhe dá ao sexo transportes.
 
Mistah Kurtz mata com brio,
a morte aquece-lhe o sangue:
ver no outro calafrio
é pra ele um bigue-bangue!
                   29.03.2022

Este poema, como o leitor informado terá percebido, foi buscar inspiração à terrível novela – Heart of Darkness – de Joseph Conrad, usando-a como operador eficaz para este poema enterrado até aos copos na realidade da guerra na Ucrânia.
Eugénio Lisboa

segunda-feira, 28 de março de 2022

BELOS PENSAMENTOS


TÃO BELOS PENSAMENTOS!
TÃO POUCA APRENDIZAGEM!
por Eugénio Lisboa
 
Tudo o que o homem aprendeu com a História
é que não aprendeu nada.

       Albert Einstein

 

“Que pena as nossas escolas ensinarem tudo menos um pouco de sabedoria de viver! Que pena os estudantes abandonarem as escolas, com um punhado de certezas duvidosas e uma quase incapacidade de pensar. Que pena a filosofia ser uma filha bastarda do nosso ensino e os nossos jovens não terem o prazer e o proveito de fruir tanto pensamento cintilante e tão elegantemente formulado, que os incitasse a uma saudável rebeldia, quando os que decidem o fazem tão mal! Se os estudantes fossem expostos, neste mundo de conflitos insensatos e suicidas, às nobres palavras de Platão (“Só os mortos conhecem o fim da guerra”), ou de Sólon (“A igualdade não gera guerras”), ou de Cícero (“Prefiro a paz mais injusta à mais justa das guerras”), ou do grande Spinoza, que nós perdemos, dando-o à Holanda (“Paz não é a ausência de guerra; é uma virtude, um estado mental, uma disposição para a benevolência, confiança e justiça”). Reparem: “disposição para a benevolência, confiança e justiça”. Não serão melhores instrumentos para se resolverem discórdias, do que o infame poder destrutivo de tanques de guerra, canhões potentes, mísseis estupidamente sofisticados, países destruídos, crianças mortas e mutiladas ou mulheres enviuvadas e velhos desamparados no meio de ruínas? Haverá, num homem como Putine, demagogo, insensível, iletrado, boçal, alguma migalha mínima de sabedoria que o possa redimir? Será ele mentalmente adulto? Como reagiria ele a esta verificação devastadora do grande Melville, o autor de Moby Dick: “Todas as guerras são infantis e desencadeadas por crianças”? Crianças, sim, em termos de crescimento mental, mas de corpo de adulto, insuficientemente oxigenado, no topo. Não faria alguma impressão benfazeja, não criaria algum saudável desassossego visitar a sabedoria de tantos grandes homens que tanto enriqueceram o nosso património intelectual e emocional? Homens como Thomas Mann (“A guerra é a saída cobarde para os problemas da paz”) ou como o autor dessa pérola imortal – O Pequeno Príncipe – (“A guerra é uma doença, como o tifo”), ou como George Orwell (“… o objectivo de travar uma guerra é sempre estar em melhor posição para travar outra guerra”), ou como Gandhi (“Olho por olho e o mundo acabará cego”), ou como Karl Marx, que Putine, pelos vistos, não frequentou (“O povo que subjuga outro povo forja as suas próprias cadeias”), ou o eloquentíssimo e bem humorado John Lennon (“Lutar pela paz é como fazer amor pela virgindade”) ou, já agora, como Jean-Paul Sartre, que não estimo particularmente, mas que disse esta coisa muito verdadeira: “Quando se conhecem os pormenores da vitória, é difícil distingui-la da derrota”. Mas a pérola das pérolas veio-nos, paradoxalmente de Audie Murphy, o soldado americano mais condecorado da segunda guerra mundial: “Nenhum soldado sobrevive realmente a uma guerra”. E terminarei este acervo de sabedoria, com o muito corajoso e subversivo conselho do cientista, explorador polar, aventureiro e político norueguês, que recebeu, em 1922, o Prémio Nobel da Paz: “A guerra acabará quando os homens se recusarem a lutar.” Já os tem havido, como o grande Gandhi e seus seguidores ou o escritor francês Jean Giono, que pagou com a prisão o seu pacifismo irredutível ou o hoje famoso soldado americano, Slovick que, na segunda guerra mundial, preferiu morrer à frente de um pelotão de execução a disparar um tiro. Foi, aliás, o único soldado americano executado por “deserção em frente do inimigo”, embora muitos milhares de outros tenham sido julgados pelo mesmo “crime”.
O problema é que não estou muito certo de que haja muitos governos, democráticos ou não, que achem muito aconselhável os alunos visitarem empenhadamente as mais acutilantes pérolas de sabedoria que, contra a guerra, se escreveram. Talvez um dia lá cheguemos, quando a guerra puder ser considerada um crime, punido por uma lei internacional e for internacionalmente intervencionado o país que se atrever a dar início a uma. Utópico? Eu sei: os seres humanos sempre acharam difícil fazer as coisas mais lógicas e mais simples. O enviesado ganha sempre. E a estupidez sempre teve mais crédito do que a inteligência.”
Eugénio Lisboa, 28.03.2022

Os governos podem irritar os outros povos

Conferência de Haia 1899

Patriotismo e Governo
por Lev Tolstoi
[1900]
I
" Já por várias vezes tive a oportunidade de manifestar a ideia de que o patriotismo é, no nosso tempo, um sentimento antinatural, insensato, nocivo, causador de grande parte das desgraças que a humanidade sofre, e que por isso não deve ser ensinado como hoje se faz - pelo contrário  , deve ser reprimido e eliminado por todos os meios ao alcance das pessoas sensatas.
(...)
V
A situação piora constantemente e não há qualquer possibilidade de parar esse agravamento, que leva a uma evidente perdição. A única saída em que acreditavam as pessoas crédulas foi agora fechada pelos acontecimentos dos últimos tempos; refiro-me  à Conferência de Haia e à guerra entre a Inglaterra  e o Transval , que se lhe seguiu imediatamente.
Se as pessoas que raciocinam pouco  e superficialmente ainda se  podiam consolar com a ideia  de que os tribunais internacionais podem afastar as desgraças da guerra e dos armamentos  sempre crescentes, a Conferência de Haia e a guerra que se lhe seguiu mostrou  da maneira  mais evidente a impossibilidade de solução do problema por essa via. Depois da Conferência de Haia, tornou-se evidente que, enquanto houver governos  com exércitos, é impossível  pôr fim aos armamentos e às guerras. Para que seja possível um acordo, é necessário que as partes concordantes confiem umas nas outras. E para que as potências possam confiar umas nas outras, devem depor as armas, como fazem os parlamentares quando se reúnem para conferenciar. Mas enquanto os governos, desconfiando uns dos outros , não só não destroem como aumentam os exércitos  em correspondência com os aumentos feitos pelos vizinhos , e por meio de espiões  seguem cada movimentação das tropas , sabendo que qualquer  potência se lançará contra o vizinho  assim que tiver uma oportunidade para isso, não é possível nenhum acordo, e qualquer conferência é uma tolice, ou uma brincadeira, ou um engano, ou uma impertinência, ou todas essas coisas juntas.
Cabia precisamente ao governo russo , mais do que  aos outros, ser o enfant terrible dessa conferência. O governo russo tão mal habituado porque dentro do país ninguém levanta objecções a todos os seus manifestos e rescritos claramente mentirosos, e, sem a mínima hesitação, arruinou o seu povo com o armamento, estrangulou a Polónia, roubou o Turquestão, a China, e asfixia a Finlândia com especial aspereza -  propôs aos governos o desarmamento, com plena confiança em que acreditariam nele.
Mas , coisa estranha, por inesperada e indecente que fosse essa proposta, em especial no mesmo momento em que se tomava uma disposição para o aumento do exército, as palavras  proferidas  publicamente eram tais que os governos não podiam perante  os seus povos recusar as conferências cómicas  e manifestamente falsas; e os delegados reuniram-se , sabendo  de antemão  que dali nada podia sair, e ao longo de vários meses, durante os quais auferiram  bons ordenados, embora andassem a rir-se à socapa , todos a fingir conscienciosamente que andavam muito ocupados a estabelecer a paz entre os povos.
A Conferência de Haia, que terminou com um horrível morticínio - a guerra do Transval, que ninguém tentou parar -, foi em todo o caso útil, embora de modo nenhum por aquilo que dela se esperava; ela foi útil porque mostrou , da maneira mais patente, que o mal de que os povos sofrem não pode ser remediado pelos governos, que os governos, mesmo que o quisessem a sério, não poderiam acabar com os armamentos nem com as guerras.  Para existirem, os governos têm de defender o seu povo dos ataques de outros povos, mas nenhum povo deseja atacar nem ataca outro, e por isso os governos não só não querem a paz, como exercitam zelosamente o ódio de outros  povos. Ao despertarem nos outros povos o ódio para consigo e o patriotismo no seu próprio povo , os governos convencem o seu povo de que está em perigo e precisa de se defender.
E tendo o poder nas suas  mãos, os governos podem irritar os outros povos, e exercitar o patriotismo no seu próprio povo , e fazem zelosamente uma e outra coisa, e não podem deixar de o fazer porque nisso se baseia a sua existência.
Se dantes os governos eram necessários para defender os seus povos dos ataques de outros, agora, pelo contrário os governos perturbam artificialmente a paz que existe entre os povos, e provocam a hostilidade entre eles.
Se era necessário lavrar para semear, a lavoura foi uma coisa sensata; mas, evidentemente , é absurdo e prejudicial lavrar quando a sementeira está feita. E é isso que os governos obrigam os seus povos a fazer - destruir a unidade que existe e que nada perturbaria se não houvesse governos. "
Lev Tolstoi, in Os Últimos Escritos, Relógio D' Água Editores, Setembro de 2018,  pp.67,77, 78, 79

domingo, 27 de março de 2022

Matei o meu inimigo

 
Andei perdido na guerra,
procurando o inimigo:
vasculhei toda a terra,
de abrigo em abrigo.
 
Como seria o seu rosto?
Como se comportaria?
Seu ódio estaria exposto?
Que faria? Correria?
 
Matar-me-ia com fúria?
Matá-lo-ia com medo?
Gritaria uma injúria?
Um de nós, trinchado e quedo?
 
Empalei-o e abracei-o,
colocando-o no chão.
Com cuidado, observei-o:
era, horror!, o meu irmão!
                27.03.2022
Eugénio Lisboa 

Ao Domingo Há Música


Que o amor te salve nesta noite escura,
 E que a luz te abrace na hora marcada, 
Amor que se acende na manhã mais dura, 
Quem há-de chorar quando a voz se apaga?
       Pedro Abrunhosa

O  amor, tal como a música,  é uma linguagem universal.  Todos a entendem sem urgência de palavras. Há quem cante para salvar, da noite escura, a luz da alvorada    poder  abraçar a esperança que teimava em fugir. 
Assim fazem  as  vozes portuguesas  que  seleccionámos  para este domingo.
   
- Pedro Abrunhosa com Sara Correia , em  "Que O Amor Te Salve Nesta Noite Escura”. Gravada ao Vivo no dia 15 de Março, no evento “Uma Voz Pela Paz", na Super Bock Arena - Pavilhão Rosa Mota, Porto, com transmissão ao vivo para a RTP e Rádio Comercial e nos Boom Studios, em Vila Nova de Gaia.
  
- Dulce Pontes , em Soledad, do novo Álbum Perfil. A Música é de Alain Oulman e o poema de Cecília Meirelees.
 
- Miguel Gameiro e Mariza, em O Teu Nome, com letra de Pedro Malaquias e Música de Miguel Gameiro.
 .

sábado, 26 de março de 2022

Receita para decapitar um Putine


Receita para decapitar um Putine
 
Putinínio
reptilínio
latrocínio
assassínio
extermínio
curvilíneo
morticínio…
 
2
 
Se o mal
é banal
radical
mui boçal
e letal…
 
3
 
Se a rima
logo Intima
à pantomima
que se redima…
ENTÃO,
Que o Putine
se refine
e não chacine
e se confine
e não maquine
e se afine
e guilhotine
      quem é putine.
                26.03.2022
Eugénio Lisboa 

A história de uma raiva, de uma fome.

A Música da Fome II
por J.M. Le Clézio
" Os últimos compassos do Boléro são tensos, violentos, quase insuportáveis. O som sobe, enche a sala, agora toda a assistência está de pé, olha para o palco onde os bailarinos rodopiam , aceleram o movimento. Há pessoas que gritam, os tantãs retumbam e sobrepõem-se às vozes. Ida Rubinstein, os bailarinos são fantoches, arrebatados pela loucura. As flautas, os clarinetes, os saxofones, os violinos, os tambores, os címbalos , os timbales, todos os instrumentos se flectem, extremamente tensos , até à estrangulação, até quebrarem as cordas e as vozes, até quebrarem o egoísta silêncio do mundo.
A minha mãe, quando me contou a estreia do Boléro, falou-me da sua emoção, dos gritos, dos aplausos e dos assobios, do tumulto. Algures na mesma sala , encontrava-se um homem que ela nunca conheceu, Claude Lévi-Strauss. Como ele, muito mais tarde, a minha mãe confiou-me que aquela música mudara a sua vida.
Agora compreendo porquê. Sei o que significava para a sua geração aquela frase repetida, seringada, imposta pelo ritmo e o crescendo. O Boléro não é uma peça musical como as outras. É uma profecia. Conta a história de uma raiva, de uma fome. Quando termina em violência, o silêncio que se segue é terrível para os sobreviventes atordoados."
J.M.G. Le Clézio, in A Música da Fome, Publicações Dom Quixote, Julho de 2009

Sempre que escuto o Boléro de Ravel, relembro, de imediato , dois grandes momentos de intensa emoção e fulgor.  O filme " Les uns et les autres" de Claude Lelouch onde se apresenta,   em bailado, uma das mais belas criações desta obra-prima , com a espantosa coreografia de Maurice Béjart e a soberba execução de Jorge Donn. O outro momento refere-se ao romance  A Música da Fome, de que  se extraiu o  texto publicado ontem,  e se republica agora a nota introdutória do seu autor, J.M. Le Clézio, Prémio Nobel da Literatura de 2008. Romance que tem como cenário a última Guerra Mundial e a consequente acção devastadora que provocou em França. Tal como o Boléro, a fome desenvolve-se em crescendo até  à inanição, o seu apogeu final.  É a Música da Fome.  «Esta fome está dentro de mim. (…) Contém uma luz intensa que me impede de esquecer a infância. Sem ela, não teria com certeza conservado a memória desses tempos, desses anos tão longos, em que nos faltava tudo."
Um livro belo de uma escrita sóbria e despida que nos enleva e marca.

sexta-feira, 25 de março de 2022

O Mostrengo


O MOSTRENGO
( RETRATO DE PUTINE )
 
Pálido e traiçoeiro,
ele tem o sangue frio,
de insensível bandoleiro,
que convoca calafrio.
 
Bufo de rosto sombrio,
assassino mafioso,
solitário arredio,
bom cliente de Lombroso,
 
salafrário teimoso,
saudoso de impérios,
megalómano ardiloso,
vomitando impropérios,
 
bom filho de Satanás,
bicho que não teve mãe,
no inferno assarás
ou dele ficarás refém!
            25.03.2022
Eugénio Lisboa 

Por toda a parte tinham crescido muros

Roquebillière
A Música da Fome I
por J.M. Le Clézio
"Rolos de arame farpado encerravam os parques , as colinas de mimosas, as praias . Muros de blocos de cimento aramado impediam o acesso ao mar. Nos promontórios onde , outrora, Ethel gostava  de observar a sucessão das vagas , antes de ir mergulhar entre os rochedos, avistou, um dia, soldados que cimentavam uma espécie de plataforma para um canhão que girava sobre carris. As janelas  do grande seminário tinham sido entaipadas, os padres de sotaina substituídos por soldados  e convalescentes. Um pouco por toda a parte tinham crescido muros, redes de camuflagem cobriam os telhados. Os olivais tinham sido minados. Um painel escrito em duas línguas ameaçava os transeuntes exibindo uma caveira. A partir das dezoito horas, começava o recolher obrigatório. numa tarde  em que Ethel  se atrasou, subia a pé as escadas do prédio quando um tiro cavou um orifício no olho-de-boi do quinto andar e a bala foi espetar-se na parede. A partir daí, sempre que descia as escadas, Ethel não conseguia deixar de introduzir o dedo no orifício para tocar na ponta metálica que não a matara por um triz. 
Quando as sirenes ressoavam sobre todos os telhados da cidade, era preciso descer à cave com uma vela acesa, até ao fim do sinal de alerta. Nos  primeiros tempos, Justine conseguira arrastar o marido, mas este, depois começou a afundar-se na poltrona, agarrando-se aos braços. « Vão, se quiserem, por mim, prefiro morrer ao ar livre a ser enterrado como um rato» 

Não se morria debaixo das bombas dos Ingleses e dos Americanos. Mas morria-se aos poucos, sem comer, sem respirar, sem liberdade, sem poder sonhar. O mar resumia-se a um traço azul, ao longe,  entre as palmeiras , por cima dos telhados  vermelhos. Ethel passava horas a contemplá-lo da janela do quarto dos pais, como se esperasse  alguma coisa.  O calabre inclinado de uma grua emergia dos telhados dos hangares, imóvel, inútil. Os barcos haviam naufragado  à entrada do porto, já nada podia entrar nem sair. O farol já não se acendia à noite. Nas bancas do mercado, não havia nada, quase nada. As mesmas sombras continuavam a circular em redor dos vencedores , mas agora as cascas e as raízes também se vendiam.  Nos jardins, os gatos vadios devoravam-se uns aos outros. Os pombos  haviam desaparecido, e as armadilhas que Justine dispunha nas goteiras só serviam para apanhar ratos.

Certa manhã, no mês de Maio, ouviu um barulho desconhecido. A terra tremia, os vidros das janelas , os copos em cima das mesas. Sem perder tempo a vestir-se , correu para a janela. Afastou a cortina. Pela estrada, ao longo do rio, avançava uma coluna , faróis acesos. Camiões, viaturas blindadas, motas, seguidas de tanques. Cobertos de poeira, ar de insectos em marcha  para um novo território. Avançavam lentamente, apertados uns contra os outros. Passaram em frente da casa, subiam para norte, em direcção às montanhas. Ethel  permanecia imóvel, quase sem respirar. Atrás dos camiões, os tanques abalavam a terra com o barulho das lagartas. As torres blindadas dos canhões apontavam para a frente. Pareciam brinquedos inúteis.
O barulho acordou Justine. Aproximou-se da janela em camisa de noite, braços ligeiramente afastados  do corpo, pés descalços encolhidos nas lajes frias. Ethel proferiu, num sopro: « Eles vão--se embora.» Não estava muito certa de quem seriam «eles», mesmo depois de, atrás dos tanques , terem aparecido os camiões de caixa destapada onde se encontravam os soldados, e o barulho  dos motores se ter tornado ainda mais preocupante. Justine puxava pelo braço  de Ethel. « Vem!» Sussurrava como se os soldados nos camiões pudessem ouvi-la. Mas Ethel  resistia. Queria vê-los todos, até ao último. Homens envergando sobretudos pesados, apertados  uns contra outros, na sua maioria sem capacete, ar extenuado de fadiga. Nem um ergueu a cabeça para observar as janelas.  Talvez tivessem medo. Aquela imagem de vazio penetrou no espírito de Ethel , expulsou todas as recordações anteriores. Mais tarde , virá a saber que os homens que avistou da janela da cozinha, em Roquebillière, eram os restos do exército de África do marechal  Rommel, a caminho do Norte, na esperança de alcançar a Alemanha pelos Alpes. Ficará a saber que o chefe não ia na coluna, já regressara a Berlim de avião, deixando as tropas  abandonadas num território hostil. Tentará imaginar que teriam sentido aqueles homens , na plataforma dos camiões, quando se dirigiam para a barreira  crescente das montanhas, com a vibração das lagartas dos tanques que os ensurdecia, no maior dos silêncios, sem chefe, sem ordens, para transpor  a pé as montanhas de neve do Boréon, perseguidos pelos lobos."
(a continuar amanhã)
J.M.G. Le Clézio, in A Música da Fome , Publicações Dom Quixote, Julho de 2009, pp.146, 147, 160, 161

quinta-feira, 24 de março de 2022

PUTINE E A HISTÓRIA


PUTINE E A HISTÓRIA
Pequena meditação sobre os usos e abusos da História
 
As palavras mais sonoras
servem só, algumas vezes,
com bons efeitos, embora,
pra velar obscuras teses
 
e vícios bem mal cheirosos.
Dizia um velho francês
que os homens muito ardilosos
enganam bem o freguês:
 
a História dá pra provar,
usando-a com cautela,
que se pode validar
quase tudo com ela!
              24 03.2022
Eugénio Lisboa, que desde os seus anos de adolescência, nunca esqueceu
este aforismo de Voltaire:
A História serve para provar que tudo pode ser provado com ela. 

A vergonha destes dias

Um mês de destruição, maldade, crime decretado por Putin contra a Ucrânia.

 







O mundo pode e deve parar Putin.

Um mundo em desagregação

 

 IV - Um mundo em desagregação
por Amin Maalouf
" Uma das minhas grandes tristezas de hoje diz respeito à Europa. Quando falo disso, respondem-me invariavelmente que sou demasiado exigente, que deveria ter em mente o que foi este continente durante séculos e até uma data não muito longínqua: um campo de confronto entre nacionalismos desenfreados, um terreno de experimentação para as piores barbáries... Estas páginas sombrias não foram viradas agora e para sempre? Atravessa-se a fronteira franco-alemã sem sequer nos darmos conta, como se ainda estivéssemos no mesmo país, como se nunca tivesse havido combates sangrentos pela posse  da Alsácia-Lorena. E em Berlim passa-se de um bairro ocidental para um bairro no leste  sem prestar atenção  ao traçado do antigo Muro. Em que outra parte  do mundo se viu algo semelhante? Certamente, não na minha região natal, que seguiu o caminho inverso, a ponto de muitas das suas regiões  e cidades, que na minha juventude  podia percorrer sem grandes riscos , se terem tornado impraticáveis.
Não gostaria de minimizar os extraordinários progressos alcançados pelos europeus desde o final da Segunda Guerra Mundial. Aplaudo-os de todo o coração. Mas não posso negar que sinto hoje um certo desencanto. Porque eu esperava outra coisa do meu continente de adopção: que ele oferecesse a toda a humanidade uma bússola, que evitasse que se perdesse, que a impedisse  de se desagregar em tribos, em comunidades, em facções e em clãs.
Quando olho para a turbulência deste século lamento que não exista nenhuma autoridade política e moral para a qual os nossos contemporâneos possam voltar-se com confiança e esperança; nenhuma que seja ao mesmo tempo portadora de valores universais  e realmente capaz de influenciar o curso da história. E quando passo o olhar sobre o mundo e me pergunto, não sem angústia, quem poderia desempenhar hoje essa missão, parece-me que só a Europa estaria em condições de o fazer , se dispusesse dos meios necessários.
Porquê a Europa?  Na verdade, não é " a candidata natural"  a esse papel. Logicamente, este deveria antes caber aos Estados Unidos da América. Eles têm desde há muito o desejo de exercer uma liderança global e possuem o essencial das qualidades necessárias. Os princípios sobre os quais a União foi fundada revelam, desde o início, uma inegável preocupação com a universalidade, e a sua composição étnica reflecte a diversidade do mundo; de forma imperfeita , é certo, mas  mais  do que  outros grandes  países. Acima de tudo, acenderam , durante  o século XX,  ao primeiro lugar entre as Potências,  e em todos os domínios: produção industrial, força militar, investigação científica, influência política e intelectual, e assim por diante. Tendo vencido três grandes  confrontos  planetários, a Primeira Guerra Mundial, depois a Segunda e a seguir a Guerra Fria, adquiriram, entre as nações, um primado que ninguém pode seriamente  contestar. Seria lógico que se constituíssem, para toda a humanidade, na autoridade de referência, e por muito tempo. Mas não souberam estar à altura de cumprir essa missão.
O mais surpreendente  é que o seu fracasso, hoje manifesto, não se deve à perda do poder - que, no momento da redacção deste livro, permanece formidável - nem à acção dos seus adversários, mas à incapacidade de os seus líderes sucessivos assumirem de forma coerente a supremacia que adquiriram."
Amin Maalouf, in O Naufrágio das Civilizações, Editorial Presença, Março 2020, pp,196, 197

quarta-feira, 23 de março de 2022

Não há guerras boas

NÃO HÁ GUERRAS BOAS
por Eugénio Lisboa

Os poetas odeiam o ódio
e fazem guerra à guerra.
           Pablo Neruda


Nunca houve uma guerra
boa nem uma paz ruim.
           Benjamin Franklin

“Eis um problema que tem angustiado os homens, de não há muito tempo a esta parte. As mulheres, que, durante muitos séculos, não tiveram de participar activamente na carnificina, mas tiveram de a sofrer, na sombra, sem poder intervir, mas arcando, depois, com as consequências da destruição, dos ferimentos e da morte dos seus, reagiram, desde muito cedo, à folia bélica com que os homens se entretinham a resolver problemas, muitas vezes de lana caprina. Mais ligadas à terra e à vida (são elas que geram vida), mais sensatas, menos dadas a fantasias com pés de barro, as mulheres opuseram-se, desde cedo, à folia mortífera da guerra. Já no ano de 411 A. C. o famoso comediógrafo grego Aristófanes pôs em cena uma hoje famosa comédia, intitulada LISISTRATA, criticando a guerra de uma maneira muito imaginativa e provavelmente eficaz. Nessa peça, as mulheres gregas, lideradas pela dinâmica Lisistrata, fartas das guerras entre Atenas e Esparta, resolvem trancar-se num templo e fazer greve sexual, enquanto se não pusesse termo à guerra. Aristófanes dava certamente voz, na sua comédia, ao sentimento que as suas conterrâneas gregas deviam andar a tornar bem visível e audível. Contudo, até tempos relativamente recentes (vésperas da primeira guerra mundial), aceitava-se, sem grandes estados de alma, o conceito de Clausewitz: “A guerra é a continuação da política por outros meios”. A guerra era o último recurso, quando a diplomacia esgotava os seus. Não havia, por assim dizer, um problema ético. Grandes fazedores de guerras, como Napoleão, eram admirados por gigantes como Goethe, Stendhal e Beethoven, não necessariamente, por causa da guerra, mas, pelo menos, apesar dela.
Quando se tornou claro, nos primeiros anos do século XX, que se estava à porta de um novo grande conflito europeu – que viria de facto a começar em Agosto de 1914 – vozes corajosas de alguns grandes escritores começaram a erguer-se, com grande coragem e eloquência, contra a insensatez e a imoralidade da guerra, como modo de resolver conflitos de interesses. De entre os intelectuais europeus, que se destacaram nesse destemido e arriscado combate, citarei três: Romain Rolland, Bertrand Russell e Stefan Zweig. Romain Rolland provocou, com os textos pacifistas depois recolhidos no seu famoso e vituperado livro AU DESSUS DE LA MÉLÉE, uma reacção violenta, da parte dos belicistas, que o levou a emigrar para a Suíça, de onde continuou a lutar pela paz. Bertrand Russell pagaria com a prisão o seu credo pacifista.
Curiosamente, dois dos maiores escritores do século XX, Anatole France e Thomas Mann alinharam, por esta altura, com os arautos da guerra, mas não demorariam a mudar de opinião, tendo-se o escritor alemão voltado contra a emergente peste nazi, que lhe valeu o exílio e a perda do título académico que lhe fora dado por uma universidade alemã, para não falar na queima dos seus livros, na praça pública.
A carnificina nas trincheiras da Europa foi de tal natureza e dimensão, que originou em vários escritores europeus, que tinham vivido o horror da guerra, de um lado e do outro do conflito, o desejo de produzirem obras de ficção, centradas naquele morticínio, com o objectivo de fazer com que ele se não voltasse a repetir: por reacção dos leitores à dramatização daquela monstruosidade. Henri Barbusse, Roger Vercel, Roland Dorgelès, Erich Maria Remarque, Georges Duhamel, Roger Martin du Gard, Ernest Hemingway, na ficção, ou Rupert Brooke e Siegfried Sassoon, na poesia, foram impressionantes testemunhos. Nalguns, como Roger Martin du Gard, a impressão causada por aquele inferno de mortos e mutilados – ele trabalhou no serviço de ambulâncias – foi tal, que ficou irredutivelmente contra a guerra, fosse ela qual fosse. De tal maneira que, sendo um homem de esquerda, quando Hitler começou a devorar a Europa, Martin du Gard disse aos amigos, que tudo era melhor do que resistir ao ditador alemão, originando uma reedição da carnificina de 1914 – 1918. Nada era, para ele, tão mau como uma nova guerra. Mais adiante, mudaria de opinião, quando se apercebeu do que Hitler representava e de que se tornava tragicamente necessário resistir-lhe. O mesmo se passou com Bertrand Russell, que pôs entre parêntesis o seu pacifismo, reconhecendo que esta guerra era inevitável. Todavia, outro enorme escritor francês, Jean Giono, que percorrera os anos da primeira guerra mundial a carregar uma espingarda que nunca disparou, mas a ver o lado mais monstruoso da condição humana, jurou e cumpriu, que nunca mais voltaria a participar numa nova guerra. Pacifista radical, recusou-se a combater os exércitos nazis e escreveu porquê. Para Russell e Martin du Gard, não havia guerras boas, mas havia guerras inevitáveis. Para Giono, havia só guerras más, ponto final. Pertencendo ao Mouvement du Contadour, que se opunha a qualquer conflito armado, pagou-o com a prisão. Pode-se não concordar com a decisão dele, mas não se pode deixar de respeitar a coerência do seu radicalismo. Não há, de facto, guerras boas: são todas más, embora algumas sejam inevitáveis. A corajosa resistência da Ucrânia ao monstruoso poder militar de Putine originou uma guerra má, mas inevitável, ainda que desnecessária. São pessoas como Hitler e Putine que cometem o pecado supremo de originarem guerras inevitáveis. E más como a peste.”
Eugénio Lisboa, 23.03.2022

Sobre a Vida

 
Life , de Ludovico Einaudi (Official Music Video)

terça-feira, 22 de março de 2022

A vergonha destes dias

 




O mundo pode e deve parar Putin.

Morrer por uma ideia, por uma visão ou por uma utopia


Morrer por uma ideia, por uma visão ou por uma utopia
por Eugénio Lisboa
“Perguntaram um dia ao filósofo Bertrand Russell se seria capaz de morrer por uma ideia. Como filósofo cristalino e frontal, que era, respondeu sem hesitar: “Não, porque poderia estar errado.” Irrefutável. Qualquer não fanático, com a mente asseada, sabe que pode sempre estar errado. Só os fanáticos acreditam em “verdades”. Os cientistas e os filósofos, não. Mesmo o mais notável pensador pode estar errado e o mais provável é estar. Portanto, se uma ideia pode estar errada, morrer por ela é um rotundo disparate. Mas, se não se deve morrer por uma ideia, muito menos se deve matar por ela. No entanto, é o que mais se tem visto por aí, desde tempos imemoriais. Muitos muçulmanos ainda hoje matam “infiéis”, isto é, gente que não acredita no que eles acreditam, como "verdade". Os jihadistas fazem-no com grande profusão e de boa consciência. Esses, ao menos, fazem-no pela medida grande: matam e matam-se, por uma crença, que teria alegadamente sido bichanada por Alá ao ouvido do seu profeta Mahomé. A Igreja Católica fê-lo também, com abundante derramamento de sangue – as cruzadas foram uma ignomínia – e puseram de pé um aparelho repressivo, chamado Inquisição, que torturou e matou, com sinistra eficácia, milhares de seres humanos a quem não fora dada a felicidade de acreditarem no mesmo em que ela acreditava e impunha que se acreditasse. Outras religiões, como o comunismo de Staline ou a revolução cultural de Mao fizeram o genocida Hitler quase parecer um menino de coro. Pol Pot, líder do Cambodja, liquidou, a bem da sua “verdade”, 1.5 a 2 milhões de compatriotas (um quarto da população do país). A dissidência tem sido um mau negócio para os que insistem em pensar pela sua cabeça. Mais recentemente, apareceu Putine, com a desculpa esfarrapada de que estava a usar apenas uma “missão especial” devido ao desconforto de umas populações russas no sudeste da Ucrânia. A tal “missão especial” tem consistido em destruir um país lindíssimo, dotado de duas belíssimas cidades – Kiev e Odessa - , arrasando prédios de habitação, hospitais, maternidades, armazéns de alimentos e milhares de pessoas, mortas, além de para cima de três milhões desalojadas e exiladas. Um filósofo usando uma lógica simplista, sugeriria que em vez de uma guerra dantesca, ficava mais barato e destruía menos, enviarem os russos, de acordo com os ucranianos, uns transportes que levassem os ditos russos do sudeste da Ucrânia, para se estabelecerem nos vastos espaços desocupados da grande Rússia. Mas isto, além de ser demasiado simples, ia obviamente contra o “orgulho” próprio da utopia imperialista de Putine, uma das tais “ideias” pelas quais os tiranos não se importam de mandar matar, aos milhões, e destruir até perder de vista. Eu acho que deve haver, nos habitáculos e labirintos da psiquiatria, um nome, para esta doença de que sofre o actual czar da Rússia. Há quem diga que não, que o rapaz é só muito “determinado”. Chamem-lhe o que quiserem. Uma junta médica não faria mal nenhum ao mundo. Para ele e outros que andam por aí. Há vários e são todos muito desnecessários.”
Eugénio Lisboa, 21.03.2022