sexta-feira, 31 de julho de 2015

Hoje Há Lua Azul

Lua azul ocorre nesta sexta-feira
Expressão 'lua azul' designa a segunda lua cheia do mês.
Uso do termo teve origem em um erro ocorrido em 1946.

"A noite desta sexta-feira (31) terá a segunda lua cheia de Julho. Essa ocorrência é chamada, desde a década de 1940, de lua azul. Mas isso não significa que a lua realmente terá a coloração azulada.
Como explica o astrónomo Cassio Barbosa, autor do Blog Observatório, trata-se apenas de uma lua cheia comum. O uso do termo com esse sentido teve origem em 1946, quando um astrónomo amador publicou um texto numa revista popular de astronomia dos Estados Unidos afirmando que à segunda lua cheia do mês dava-se o nome de lua azul.
A última vez que o fenómeno ocorreu foi em Agosto de 2012 e a próxima vez será em Janeiro de 2018.” G1,S.Paulo,31/07/2015

"A história deste nome foi esmiuçada num artigo do PÚBLICO de Agosto de 2012, na altura da última “lua azul”, e explica como a cultura popular se apropriou de um nome que nasceu de um erro. Há ainda Elvis Presley, folclore e Luas realmente azuis à mistura."

Os 10 lugares mais românticos do Mundo

destinos São Valentim 
Ilha de Páscoa
Que fazer: Ver o pôr-do-sol ao lado do Moai solitário de Hanga Roa. 
Por que é romântico: Ver estátuas gigantes não parece um plano demasiado romântico… Mas pense bem: está num dos pontos mais isolados do mundo com vista para o Pacífico e com um pôr-do-sol inesquecível.. 
Grau de Romantismo: 2
Quando ir: Perfeito para um casal com vontade de viajar e conhecer o mundo. 
Como manifestar o amor: oferecendo-lhe uma estátua de um Moai em miniatura, para que esta viagem fique sempre na mente da pessoa amada.
destinos dia dos namorados 
Ushuaia, Argentina
Que fazer: Ir ao farol do “Fin del Mundo” e sentir que não existe nada mais além de vocês dois.
Por que é romântico: É o final do mundo (cidade mais a Sul do planeta). “Ushuaia, fim do mundo, principio de tudo”.
Grau de Romantismo:
Quando ir: Quando estejam preparados para ir juntos até ao fim do mundo… 
Como manifestar o amor: Dizendo-lhe “Te quiero”!
lugares São Valentim  
Nova Iorque
Que fazer:  Passear pelo Central Park é um dos programas mais românticos que se podem fazer em Nova Iorque.Apanhar uma charrete de cavalos, alugar um barco e perder-se num dos românticos lagos da cidade, ou percorrer a pé as pontes mais pitorescas da cidade. Todos estes lugares foram já testemunha de propostas matrimoniais.
Por que é romântico: Estareis rodeados por um ambiente bucólico, cheio de árvores, paisagens insólitas onde qualquer imagem serve de argumento para demonstrar publicamente o vosso amor. 
Grau de Romantismo:  3
Quando ir: Uma das melhores épocas do ano para visitar esta cidade é o Outono. A paisagem adquire tons quentes, as folhas das árvores decoram os caminhos e todas as esquinas parecem saídas de um conto. 
Como manifestar o amor: Dizendo-lhe “I love you!”
destinos Dia dos Namorados 
Veneza
Que fazer: Caminhar pelas 350 pontes da cidade, contemplar os elegantes palácios e os seus reflexos na água, desfrutar da opulência de São Pedro e emocionar-se com as cores das casas de Burano. E se ainda tem tempo, por que não seguir os passos de Casanova explorando os lugares das suas aventuras amorosas? 
Por que é romântico: Uma cidade que flutua sobre a água só poderia ser sinónimo de romantismo. Veneza é eterna, intemporal – como o amor – e a sua beleza suspensa entre o sonho e a realidade convida-o a deixar-se seduzir… 
Grau de Romantismo:
Quando ir: Quando queira declarar o seu amor eterno… 
Como manifestar o amor: Sobre a ponte dos suspiros, ao pôr-do-sol, qualquer frase é poesia…
viagens para São Valentim 
Paris
Que fazer: Passear pelas ruelas estreitas, respirando o ambiente do bairro mais boémio do planeta. Procure voos para Paris em qualquer época do ano. De certeza que a surpresa lhe vai encantar…
Por que é romântico: Paris é a cidade do amor por excelência.
Grau de Romantismo: 3
Quando ir: Em qualquer época do ano.
Como manifestar o  amor: Acreditando que “Sempre teremos Paris”…
lugares românticos dia dos namorados 
BALI
Que fazer: Reservar pelo menos uma noite no Hotel Ubud Hanging Gardens, mais concretamente o quarto Panoramic Delux Pool Villa. Vai deixar-vos sem palavras! 
Por que é romântico: Basta olhar para a imagem para ter uma ideia. Tereis a sensação de estar sozinhos no mundo. Não faltará nem um detalhe para a vossa noite mais romântica.
Grau de Romantismo:
Quando ir: Por que não aproveitar para pedir aqui a mão à vossa futura mulher? 
Como manifestar o  amor: Dizendo-lhe “Saya Cinta Kamu”.
viagens dia dos namorados 
Las Vegas
Que fazer: Jogar num casino. 
Por que é romântico: É o sítio onde poderá casar-se mais rapidamente.
Grau de Romantismo:
Quando ir: Quando esteja um pouco bebido…
Como manifestar o  amor: Num quarto de hotel, pela manhã, não dizer nunca: “E tu, quem és?”
destinos para dia dos namorados
Kilimanjaro
Que fazer: Acordar ao lado de uma manada de elefantes, com uma montanha nevada como fundo… 
Por que é romântico: Tem a montanha maior de África como testemunha do vosso amor. 
Grau de Romantismo:
Quando ir: Quando queira partir numa aventura… 
Como manifestar o amor: Dizendo-lhe “Ninapenda Wewe”
viagens para São Valentim 
Bangkok
Que fazer: Explorar o passado visitando os templos, sentir a cultura local nos seus animados mercados de rua e adivinhar o futuro admirando as incríveis vistas desde os seus enormes arranha-céus.
Por que é romântico: Esta exótica cidade nunca dorme e nunca deixará de o surpreender. Saboreie os sabores locais nos mercados de rua e nos seus fantásticos restaurantes. Ao final do dia deixe-se relaxar com uma massagem Thai. Agora sim, estará preparado para um cruzeiro romântico no rio Chao Phraya.
Grau de Romantismo: 4 
Quando ir: Sempre que queira combinar uma animada vida nocturna com um interessante programa cultural. 
Como manifestar  amor: Dizendo-lhe “Phom Rak Khun” (a uma mulher); “Chan Rak Khun” (a um homem)
lugares românticos
Honolulu
Que fazer: abraçar-se num dos bancos do Foster Botanical Gardens. Unir-se a uma festa na praia. 
Por que é romântico: Tem praias incríveis. Além disso, não se imagina com uma coroa de flores na cabeça, de mãos dadas com a cara metade? Porque não começa já a procurar um voo barato? Pode ser que este Verão seja a sua oportunidade… 
Grau de Romantismo: 2
Quando ir: Lua de Mel ao estilo dos filmes americanos. 
Como manifestar o  amor: Dizendo-lhe “Aloha Au Ia’oe” [lightbox]

quinta-feira, 30 de julho de 2015

EL Cante Jondo

Cante Jondo

A mão onde pousava
o que a noite trazia
é quase imperceptível;
memória só seria
do que nem nome tinha:
um arrepio na água?;
um ligeiro tremor
nas folhas dos álamos?,
Um trémulo sorrir
em lábios que não via?
Memória só seria
de ter sonhado a mão
onde nada pousava
do que a noite trazia.
Eugénio de Andrade, in " Ostinato Rigore", Ed. Assírio & Alvim


Enrique Morente , uma voz icónica del  Cante Jondo, del Cante  Flamenco, del  Cante Andaluz, em " El lenguaje de las Flores", na Casa Museo Federico García Lorca , Fuentevaqueros, em 1989. A letra é um  fragmento de "Doña Rosita La Soltera - El Lenguage de Las Flores" de Frederico García Lorca.

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Concha Buika , uma voz de Espanha,  com alma flamenca, numa excelente interpretação de La Falsa Moneda, Culpa Mía e No Habrá Nadíe en el Mundo .

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Mãe Ilha

Mãe Ilha 
Limão aceso na meia-noite ilhada,
O relógio na torre da Matriz
Põe o ponteiro na hora atraiçoada
Da ilha que me deram e eu não quis.
    
Mas, ó de alvos umbrais Ponta Delgada!
Meu prefixo de pastos, a raiz
É de calhau e de onda encabritada:
Um triz de hortênsia e estala-me o verniz.
    
Atamancada em fama a tosca ilhoa,
na praça e no prelo é de Lisboa,
Seu gesto, cãibra de garça interrompida.
    
No mais, osso campesino e duro
É fervor, é fogo e fé que juro
Ao lume e às flores da Graça recebida.
   Natália Correia (1923-1993), Sonetos românticosLisboa, Edições O Jornal, 1990.

terça-feira, 28 de julho de 2015

Praça da Canção

Praça da Canção
Por António Lobo Antunes
“Manuel, não imaginas quanto estiveste comigo em África e quanto continuas comigo porque, em certo sentido, nunca saímos de lá. E tu ajudaste-me naquele exílio muito mais do que imaginas
Passei a Faculdade a escrever. Não estudava, não ia às aulas, houve exames a que nem sequer compareci.
Ainda hoje me espanta a paciência com que o meu pai aturou isso tudo, ele que era muito autoritário e, por vezes, violento. Argumentava que queria ser escritor, não queria ser médico, soube muito mais tarde que o meu pai, para meu espanto, tinha a certeza que eu tinha talento embora não lhe mostrasse o que fazia: periodicamente queimava tudo junto à figueira do quintal, depois soube que ele ia lá sem me dizer nada, lia os restos que ficavam na cinza e copiava-os para um caderno verde. O meu pai possuía um respeito sagrado pelos artistas e talvez, na sua cabeça, pensasse que eu era um deles, enquanto eu, pouco mais do que um miúdo, vivia atormentado pelas minhas deficiências, sempre a dizer-me
- Ainda não é isto, ainda não é isto e levei vinte anos a encontrar o que seria a minha voz, quando me apareceu a Memória de Elefante. Disse
- Ainda não é isto mas acho que descobri o caminho. E, depois, seguiu-se o trabalho de fazer crescer aquilo tudo. Mas, nessa altura, já havia terminado a Faculdade de Medicina, já havia passado mais de três anos na tropa, já vivera os horrores de África. Até então fora o tormento do curso, que o fez sofrer a ele e me aborrecia a mim. Mal começava a estudar pensava logo
- Devia estar a escrever e voltava aos poemas péssimos e à prosa mais do que medíocre de que então era capaz, certo que, escondido, morava em mim um grande talento. Não certo, certíssimo, ao ponto de sacrificar fosse o que fosse à literatura. Pai, agradeço-lhe a paciência que teve para comigo, peço-lhe perdão de o haver humilhado com a miséria das minhas notas, agradeço que no fundo de si, embora nunca mo dissesse, me haja compreendido. A certa altura, a meio do curso, aconteceu uma coisa que me abalou muito. Era o final dos anos 60, em que os estudantes se levantavam contra a ditadura: cargas policiais, violência, prisões. Tudo isto me passou um bocado ao lado, entregue, como estava, à minha luta com as palavras. Um colega, no hospital, entregou-me, com grandes pedidos de segredo, um maço de folhas policopiadas. Na primeira página estava escrito Praça da Canção e, por baixo, o nome do autor, que nada me dizia: Manuel Alegre. Foi certamente o livro mais lido, mais comentado, mais entusiasmante, mais influente para a minha geração. Num segundo
(pareceu-me que num segundo) tornou-se a bandeira dos estudantes contra o fascismo e a monstruosidade que vivíamos.
Não me interessou a sua qualidade literária. Interessou-me a corajosa chama daqueles versos e o imenso coração do autor.
Claro que Manuel Alegre era um poeta, não me ralou o tamanho do poeta que ele era, interessou-me o tamanho do que ele dizia.
A ousadia com que fez arder uma geração inteira, e o incêndio que levantou sozinho. Uma ocasião, na fronteira com a Zâmbia, morreu-me um camarada. Só sei dizer assim: morreu-me, porque me morreu de facto. De imediato veio-me à cabeça um poema de Manuel Alegre
Ó meu amigo que nunca mais acenderás no meu o teu cigarro
e comecei a chorar. Só quem passou por uma desgraça assim é capaz de entender isto até ao osso
Ó meu amigo que nunca mais acenderás no meu o teu cigarro.
Esta, e outras passagens do livro, ficaram comigo para sempre, ficarão comigo para sempre: que nunca mais acenderás no meu o teu cigarro.
Foi Manuel Alegre que o escreveu, e é a Manuel Alegre que o devo, porque se trata de uma prenda que nenhum dinheiro paga. Faz cinquenta anos que o livro surgiu, cinquenta anos de gratidão da minha parte. O Poeta mandou-me um exemplar comemorativo do aniversário do livro, com uma dedicatória cuja generosidade me tocou imenso. Manuel, não imaginas quanto estiveste comigo em África e quanto continuas comigo porque, em certo sentido, nunca saímos de lá. E tu ajudaste-me naquele exílio muito mais do que imaginas. Tenho pena que já não fumes porque o brinde que queria fazer-te agradecendo o muito que deste sem o saberes, ao estudantezinho anónimo que eu era, ao militar anónimo que eu fui, seria estender o meu cigarro para ti, dizer-te olhos nos olhos
Ó meu amigo que nunca mais acenderás no meu o teu cigarro
e esconder uma lágrima de homem para homem num chupão imenso.”
António Lobo Antunes, em crónica publicada na revista Visão, em 23 de Julho de 2015

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Conto de Verão

Conto de verão nº 2: Bandeira Branca
Por Luis Fernando Veríssimo
“Ele: tirolês. Ela: odalisca. Eram de culturas muito diferentes, não podia dar certo. Mas tinham só quatro anos e se entenderam. No mundo dos quatro anos todos se entendem, de um jeito ou de outro. Em vez de dançarem, pularem e entrarem no cordão, resistiram a todos os apelos desesperados das mães e ficaram sentados no chão, fazendo um mantinha de confete, serpentina e poeira, até serem arrastados para casa, sob ameaças de jamais serem levados a outro baile de Carnaval.
Encontraram-se de novo no baile infantil do clube, no ano seguinte. Ele com o mesmo tirolês, agora apertado nos fundilhos, ela de egípcia. Tentaram recomeçar o mantinha, mas dessa vez as mães reagiram e os dois foram obrigados a dançar, pular e entrar no cordão, sob ameaça de levarem uns tapas. Passaram o tempo todo de mãos dadas.
Só no terceiro Carnaval se falaram.

— Como é teu nome?
— Janice. E o teu? — Píndaro.
— O quê?!
— Píndaro.
— Que nome!
Ele de legionário romano, ela de índia americana.
***
Só no sétimo baile (pirata, chinesa) desvendaram o mistério de só se encontrarem no Carnaval e nunca se encontrarem no clube, no resto do ano. Ela morava no interior, vinha visitar uma tia no Carnaval, a tia é que era sócia.
— Ah.
Foi o ano em que ele preferiu ficar com a sua turma tentando encher a boca das meninas de confete, e ela ficou na mesa, brigando com a mãe, se recusando a brincar, o queixo enterrado na gola alta do vestido de imperadora. Mas quase no fim do baile, na hora do Bandeira branca, ele veio e a puxou pelo braço, e os dois foram para o meio do salão, abraçados. E, quando se despediram, ela o beijou na face, disse “Até o Carnaval que vem” e saiu correndo.
No baile do ano em que fizeram 13 anos, pela primeira vez as fantasias dos dois combinaram. Toureiro e bailarina espanhola. Formavam um casal! Beijaram-se muito, quando as mães não estavam olhando. Até na boca. Na hora da despedida, ele pediu:
— Me dá alguma coisa.
— O quê?
— Qualquer coisa.
— O leque.
O leque da bailarina. Ela diria para a mãe que o tinha perdido no salão.
***
No ano seguinte, ela não apareceu no baile. Ele ficou o tempo todo à procura, um havaiano desconsolado. Não sabia nem como perguntar por ela. Não conhecia a tal tia. Passara um ano inteiro pensando nela, às vezes tirando o leque do seu esconderijo para cheirá-lo, antegozando o momento de encontrá-la outra vez no baile. E ela não apareceu. Marcelão, o mau elemento da sua turma, tinha levado gim para misturar com o guaraná. Ele bebeu demais. Teve que ser carregado para casa. Acordou na sua cama sem lençol, que estava sendo lavado. O que acontecera?
— Você vomitou a alma — disse a mãe.
Era exatamente como se sentia. Como alguém que vomitara a alma e nunca a teria de volta. Nunca. Nem o leque tinha mais o cheiro dela.
Mas, no ano seguinte, ele foi ao baile dos adultos no clube — e lá estava ela! Quinze anos. Uma moça. Peitos, tudo. Uma fantasia indefinida.
— Sei lá. Bávara tropical — disse ela, rindo.
Estava diferente. Não era só o corpo. Menos tímida, o riso mais alto. Contou que faltara no ano anterior porque a avó morrera, logo no Carnaval.

— E aquela bailarina espanhola?
— Nem me fala. E o toureiro?
— Aposentado.
A fantasia dele era de nada. Camisa florida, bermuda, finalmente um brasileiro. Ela estava com um grupo. Primos, amigos dos primos. Todos vagamente bávaros. Quando ela o apresentou ao grupo, alguém disse “Píndaro?!” e todos caíram na risada. Ele viu que ela estava rindo também. Deu uma desculpa e afastou-se. Foi procurar o Marcelão. O Marcelão anunciara que levaria várias garrafas presas nas pernas, escondidas sob as calças da fantasia de sultão. O Marcelão tinha o que ele precisava para encher o buraco deixado pela alma. Quinze anos, pensou ele, e já estou perdendo todas as ilusões da vida, começando pelo Carnaval. Não devo chegar aos 30, pelo menos não inteiro.
Passou todo o baile encostado numa coluna adornada, bebendo o guaraná clandestino do Marcelão, vendo ela passar abraçada com uma sucessão de primos e amigos de primos, principalmente um halterofilista, certamente burro, talvez até criminoso, que reduzira sua fantasia a um par de calças curtas de couro. Pensou em dizer alguma coisa, mas só o que lhe ocorreu dizer foi “pelo menos o meu tirolês era autêntico” e desistiu. Mas, quando a banda começou a tocar Bandeira branca e ele se dirigiu para a saída, tonto e amargurado, sentiu que alguém o pegava pela mão, virou-se e era ela. Era ela, meu Deus, puxando-o para o salão. Ela enlaçando-o com os dois braços para dançarem assim, ela dizendo “não vale, você cresceu mais do que eu” e encostando a cabeça no seu ombro. Ela encostando a cabeça no seu ombro.
***
Encontram-se de novo 15 anos depois. Aliás, neste Carnaval. Por acaso, num aeroporto. Ela desembarcando, a caminho do interior, para visitar a mãe. Ele embarcando para encontrar os filhos no Rio. Ela disse “quase não reconheci você sem fantasias”. Ele custou a reconhecê-la. Ela estava gorda, nunca a reconheceria, muito menos de bailarina espanhola. A última coisa que ele lhe dissera fora “preciso te dizer uma coisa”, e ela dissera “no Carnaval que vem, no Carnaval que vem” e no Carnaval seguinte ela não aparecera, ela nunca mais aparecera. Explicou que o pai tinha sido transferido para outro estado, sabe como é, Banco do Brasil, e como ela não tinha o endereço dele, como não sabia nem o sobrenome dele e, mesmo, não teria onde tomar nota na fantasia de falsa bávara…
— O que você ia me dizer, no outro Carnaval? — perguntou ela. — Esqueci — mentiu ele.
Trocaram informações. Os dois casaram, mas ele já se separou. Os filhos dele moram no Rio, com a mãe. Ela, o marido e a filha moram em Curitiba, o marido também é do Banco do Brasil… E a todas essas ele pensando: digo ou não digo que aquele foi o momento mais feliz da minha vida, Bandeira branca, a cabeça dela no meu ombro, e que todo o resto da minha vida será apenas o resto da minha vida? E ela pensando: como é mesmo o nome dele? Péricles. Será Péricles? Ele: digo ou não digo que não cheguei mesmo inteiro aos 30, e que ainda tenho o leque? Ela: Petrarco. Pôncio. Ptolomeu…"
Luis Veríssimo, in Histórias brasileiras de verão, editora Objetiva, Rio de Janeiro (RJ)

domingo, 26 de julho de 2015

Ao Domingo Há Música

Vuelvo al Sur,
como se vuelve siempre al amor,
vuelvo a vos,
con mi deseo, con mi temor.
Fernando Solanas

Ir para o Sul. Viver no Sul . Voltar ao Sul . Opções que, neste tempo,  se vislumbram e se materializam. O Sul, lugar  almejado para um tempo de lazer. Sul que se desenha com mar,  praia e calor. O Sul que se transfigura e se apresenta como a salvação prometida, como a reconquista de um eu imerso na erosão dos dias sem descanso. O Sul a promessa do sorriso , a esperança do novo fôlego para um outro recomeçar. 
O Sul que se afasta da xenófoba dicotomia Norte/Sul e,  num único compasso, ultrapassa em vigor, sedução e brilho o nefasto e eugénico olhar do Norte.
É assim o rodar do tempo. E com ele assaltam, à porfia, as palavras proferidas, em tempo demasiado crísico, por um sulista grego em resposta a um nortista germânico: "O dinheiro não se come, mas o mar , a praia e a beleza do Sul enchem-nos os olhos, todos os dias."
O Sul , o lugar que o meu coração escolheu para viver. E é  para o Sul o destino deste Domingo. 
Astor Piazzola, músico, compositor (1921 – 1992), é um dos nomes maiores da Argentina. Quando se fala de Tango, há nomes que surgem de imediato. São eles:  Astor Piazzola e Carlos  Gardel. 
Piazzola compôs , interpretou e correu mundo com a sua ArteCriou composições admiráveis que ultrapassam a arquitectura que está associada ao Tango. "Para além de composições para concerto, música para mais de quarenta filmes, Piazzolla compôs numerosas obras mais curtas – que para muitos não se podem classificar como tango. Morreu em 1992, em Buenos Aires, depois de muitos problemas cardiacos."
Astor Piazzolla é um dos grandes compositores do século XX.
Apresentamos três obras que ilustram  o talento deste notável músico argentino.

 - Remembrance,  de  Astor Piazzolla, extraído do Álbum Oblivion


Astor Piazzola interpreta "Adios Nonino", acompanhado pela  Cologne Radio Orchestra da Alemanha. Esta peça foi extraída do documentário "Astor Piazzolla: The Next Tango".


Caetano Veloso interpreta  "Vuelvo al Sur", um tango de Piazzolla, com letra de Fernando "Pino" Solanas. Peça extraída do DVD , Un Caballero de Fina Estampa .

VUELVO AL SUR

Vuelvo al Sur,
como se vuelve siempre al amor,
vuelvo a vos,
con mi deseo, con mi temor.

Llevo el Sur,
como un destino del corazon,
soy del Sur,
como los aires del bandoneon.

Sueño el Sur,
inmensa luna, cielo al reves,
busco el Sur,
el tiempo abierto, y su despues.

Quiero al Sur,
su buena gente, su dignidad,
siento el Sur,
como tu cuerpo en la intimidad.

Te quiero Sur,
Sur, te quiero.

Vuelvo al Sur,
como se vuelve siempre al amor,
vuelvo a vos,
con mi deseo, con mi temor.

Quiero al Sur,
su buena gente, su dignidad,
siento el Sur,
como tu cuerpo en la intimidad.
Vuelvo al Sur,
llevo el Sur,
te quiero Sur,
te quiero Sur...

sábado, 25 de julho de 2015

Tempo de muitos mares

Este não é o tempo do verde. Este não é o tempo dos dias da Primavera. Este não é o tempo em que a esperança acorda. Mas este não é o tempo da derrota. Tempo dos frutos e não das flores. Tempo de lazer sem que o fazer não seja o tal sonho ambicionado.
Este é o tempo do Mar. Mar vário : ora cinzento, ora prateado, ora intensamente colorido em tons extremos de azul cobalto, turquesa, celeste, marinho . Mar liso . Mar dorido. Mar revoltado. Mar. Mas Mar que lava, que  refresca, que limpa, que afaga e que dá prazer. Tempo de outros mares e de outras gentes que chegam e se espalham, em marés vivas e profusas, por este Portugal .
Portugal envolto em pré campanha de manipulações variadas. As promessas eleitorais que entorpecem as mentes e se diluem nos dias de canícula como que lembrando que, no calor do discurso, o engano também  surge  em força. 
Este é o tempo português. Tempo de muitos mares.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Uma voz do Fado

Devagar os teus olhos foram ficando
abrindo e fechando em abraços
aos poucos por dentro uma luz, clareando os teus passos
agora já sabes o quanto te dobra o lado errado do peito
agora já sentes o quanto me deixas desfeito.


Sei que não dizes que trazes o medo ...
...mas posso guardar-te o segredo.


Como dois barcos perdidos no tempo
que juntam as velas e chamam o vento
foste deixando as pontas dos dedos, largar-te do porto
agora já sonhas em navegar, mais perto do dia que vemos
agora é difícil não desdobrar, o que temos


Sei que não dizes que gostas do medo
...vou desvendar-te o segredo


Agora já sabes, o quanto nos quebra, nos corre,
nos cerca e dispara de perto
agora já sentes quanto o errado está certo
Sabes do perigo?
pode ser cedo...


Vou-te levando em segredo...
vou-te levando em segredo...
vou-te levando em segredo...


Pedro Moutinho, no  Cinema São Jorge em Lisboa,  na apresentação do  CD " Um Copo de Sol" . Na Guitarra Portuguesa Luis Guerreiro , na Viola Miguel Ramos  para acompanhar  a voz de Pedro Moutinho em " Vou-te levando em Segredo", " Sem Sentido",  com Letra de Manuela de Freitas e Música de Joaquim Campos.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Leitura obrigatória em momentos de crise

As escolhas dos intelectuais franceses nos anos sombrios da Ocupação
Por Luciano Trigo
"Em Junho de 1940, após uma resistência pífia, Paris – então a capital cultural e artística do mundo – e boa parte do território francês foram ocupadas pelos nazis, e somente quatro anos depois a cidade seria libertada pelas tropas aliadas. A conduta dos intelectuais e artistas locais durante a Ocupação é um tema que até hoje desperta paixões e mobiliza a opinião pública na França. Em tom de reportagem, “Paris ocupada – Os aventureiros da arte moderna: 1940-1944 (L&PM, 368 pgs. R$ 44,90), o premiado ensaísta e romancista Dan Franck faz um balanço impressionante do período: embora deixe claras as suas simpatias e antipatias pessoais, ele vai além do julgamento simplista que divide a França da época entre resistentes e colaboradores, sempre buscando contextualizar e fundamentar com um rigoroso trabalho de apuração as escolhas individuais e tomadas de posição política de cada um. E mostra que, entre os extremos do heroísmo e da traição, da arriscada resistência clandestina e da tentadora capitulação total ao inimigo, houve muitas gradações – e, com raras excepções, a maioria optou em algum grau pelo-meio termo, por alguma forma de acomodação.
“Paris ocupada” não é um livro de historiador, mas uma ágil narrativa em mosaico, uma colecção de episódios reveladores das tragédias individuais e da tragédia colectiva da França ocupada. Dessa forma, Franck consegue recriar de forma convincente a atmosfera das ruas e vielas, dos cafés e teatros parisienses que padeciam sob o jugo do invasor. “A Cidade-Luz se ensombreceu”, escreve Franck. “Os museus se esvaziaram na meticulosa operação para proteger dos nazis as principais obras de arte do país, e teve início um dos mais sombrios períodos da longa história de Paris, com intervenção política, toque de recolher, perseguição a judeus e a outras minorias, prisões arbitrárias, violência, medo e suspeita.”
Nesse contexto – e lembrando que naquele momento ninguém sabia quem ia vencer a guerra –, a necessidade de conciliar o trabalho e a subsistência, ou a fuga (quando essa alternativa se apresentava, já que em muitos casos o problema imediato era ficar vivo), com o imperativo moral de se posicionar em relação ao invasor, gerou muito dramas e tragédias pessoais. Por outro lado, entre os mais velhos muitos haviam testemunhado os horrores da Primeira Guerra se transformaram em pacifistas radicais, mesmo que o preço fosse viver de joelhos; outros eram movidos pela ideologia (numa época em que a palavra fazia algum sentido), ou pela canalhice pura – o que não exclui a genialidade artística, caso do antissemita Céline, autor de “Viagem ao fim da noite”. Mas Franck lembra sempre que esses homens e mulheres eram reais, de carne e osso, indivíduos que tinham que lidar com questões familiares e afectivas, com crises financeiras, casamentos desfeitos, traições e inimizades, pequenas humilhações, enfim, todas as angústias decorrentes das exigências mesquinhas do dia a dia: editores esmagados que não tinham papel para imprimir seus livros, cineastas e produtores em busca de bobinas de filme, escritores trabalhando com medo da censura, outros morrendo sob tortura.
Como em seus outros livros, Franck aborda as trajectórias de tantos personagens e conta tantos episódios reveladores, chocantes ou inusitados que seria impossível abarcar tudo no curto espaço de uma resenha. Mas vale citar três personagens que costumam ser associados a posições heróicas, quando na verdade não foi bem assim: Jean-Paul Sartre, que se omitiu em diversos momentos importantes e retomou tranquilamente suas actividades académicas após um curto período no front (registado nos “Diários de uma guerra estranha”), enquanto colegas eram perseguidos; André Malraux, que se alienou em sua casa de campo e só aderiu à Resistência nas vésperas do fim do conflito, em 1944; e Marguerite Duras, que trabalhava junto ao departamento responsável por censurar as obras “inadequadas” do ponto de vista dos nazis. Mas a lista de personagens famosos cuja conduta Franck esquadrinha é longa: André Breton, Louis Aragon, Antoine de Saint-Exupéry, Louis-Ferdinand Céline, Drieu de la Rochelle, Arthur Koestler, Paul Éluard, Matisse, Jean Giono, Jean Cocteau etc.
Depois de “Boémios”, que retratou a vida de artistas como Picasso, Matisse e Modigliani de 1900 a 1930 (lançado no Brasil pela editora Planeta), e “Libertad!”, que abordou o período 1930-1939, com ênfase no impacto da Guerra Civil Espanhola na comunidade artística (ainda sem tradução), “Paris ocupada” é o terceiro volume de uma ambiciosa série de Dan Franck sobre a vida intelectual na França no século 20. Leitura obrigatória em momentos de crise, de relativismo moral e de polarização política, como o que estamos atravessando."  Jornal Globo, 19.07.2015

quarta-feira, 22 de julho de 2015

A actualidade em Cartoon

Henri Cartoon
Henri Cartoon
Cartoon Bandeira, DN
“Dealing with Iran was the easy part. Now we need to deal with congressional Republicans.”
Daily Cartoon, The New Yorker

Daily Cartoon, The New Yorker
The daily cartoon, The Independent

The daily cartoon, The Independent
Cartoon El Roto, El País
Forges, El País
Ros, El País
Peridis, El  País
Elias, o Sem Abrigo, JN
Elias, o Sem Abrigo, JN
Cartoon Chapatte, Le Temps, Suisse
Cartoon Voxeurop
Cartoon Voxeurop
Cartoon Voxeurop
Cartoon ItaliaOggi
Cartoon ItaliaOggi
Cartoon ItaliaOggi
Cartoon António, Expresso

terça-feira, 21 de julho de 2015

O amor é uma forma de iniciação

"E confesso que a razão fica confundida perante o prodígio do amor, da estranha obsessão que faz com que esta mesma carne, que tão pouco nos preocupa quando compõe o nosso próprio corpo, limitando-nos a lavá--la, a alimentá-la e, se possível, a impedi-la de sofrer, possa inspirar-nos uma tal paixão de carícias simplesmente porque é animada por uma individualidade diferente da nossa e porque representa certos lineamentos da beleza sobre os quais, aliás, os melhores juízes não estão de acordo. Aqui a lógica humana fica aquém, como na revelação dos Mistérios. A tradição popular não se enganou ao ver sempre no amor uma forma de iniciação, um dos pontos em que o secreto e o sagrado se encontram."
Marguerite Yourcenar,in  "Memórias de Adriano"(1951), Ed. Ulisseia

Sobre o livro:"Memórias de Adriano tem a forma de uma longa carta dirigida pelo velho imperador, já minado pela doença, ao jovem Marco Aurélio, que deve suceder-lhe no trono de Roma (século II d.C.). Pouco a pouco, através desta serena confissão ficamos a conhecer os episódios decisivos da vida deste homem notável. 
Vencedor do prémio Femina Varesco. Este romance é um dos mais importantes de Marguerite Yourcenar e uma das obras de referência da literatura contemporânea."

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Washington e Havana

Dia que relança a diplomacia efectiva entre dois países que se afastaram desde a década de sessenta. Década marcada, na Europa e na América,  por movimentos libertadores  e que, paralelamente, se permitiu  este fechar de fronteiras e a imposição de um longo e duro embargo a um pequeno país . 
Abrem-se as portas de uma embaixada cubana em Washington. Num edifício totalmente renovado saudar-se-á a reconciliação. Em Havana , a embaixada abrirá também e entrará em funcionamento.
"Edifícios que acolhem desde 1977 as secções de interesses de Washington e Havana estavam sob protecção da Suíça. A partir de hoje voltam ao estatuto que tinham em 1961
A entrada foi repavimentada, a vedação pintada, o jardim arranjado e um novo mastro foi erguido. Nas últimas semanas, o quase centenário edifício do número 2630 da rua 16, em Washington, foi preparado para a festa de hoje. Com a presença de cerca de 500 convidados, o chefe da diplomacia cubana, Bruno Rodríguez, irá presidir ao hastear da bandeira de Cuba, na cerimónia de transformação daquela que desde 1977 foi a secção de interesses da ilha novamente numa embaixada. Um gesto que marca o reatar das relações diplomáticas entre Havana e Washington, cortadas há 54 anos.
E se na capital norte-americana é hasteada a bandeira com as cinco riscas azuis e brancas, o triângulo vermelho e uma única estrela, na capital cubana irá ser hasteada outra bandeira azul, vermelha e branca (mas com 13 faixas horizontais e 50 estrelas): a dos EUA. Contudo, esta só irá drapejar frente ao edifício de seis andares da até agora secção de interesses norte-americana, no Malecón de Havana, quando o secretário de Estado John Kerry visitar a ilha (ainda não há data prevista, mas deverá ser no próximo mês). Entretanto, a embaixada estará a funcionar como tal a partir de hoje."DN

Dos edificios das Embaixadas de Cuba e dos USA(fotogaleria)

Retirada del cartel de la Sección de Intereses que será
 ahora embajada / Bill Gorman  (AP)r

Cuba e EUA. Reatar de relações devolve pompa às embaixadas
por Susana Salvador
"La orden de romper relaciones diplomáticas y cerrar las respectivas embajadas en Washington y La Habana llegó el 3 de enero de 1961 con el deseo expreso, al menos de la parte norteamericana, de que la situación se solucionara pronto. “Es mi esperanza y mi convicción de que en un futuro no demasiado distante será posible volver a encontrar el reflejo de nuestra histórica amistad en relaciones normales de todo tipo”, dijo el presidente estadounidense Dwight Eisenhower al anunciar que había decidido cortar los lazos políticos con el Gobierno del “dictador” Fidel Castro.
A las 00:01 de la madrugada de este lunes 20 de julio -pese a todas las diferencias, Washington y La Habana han seguido compartiendo huso horario- finalmente Cuba y Estados Unidos han dado ese paso largamente dilatado. Eso sí, han tenido que pasar 54 años, seis meses y 17 días, además de 11 presidentes estadounidenses (aunque solo dos cubanos, Fidel y Raúl Castro), para que se cumpliera la “esperanza” de Eisenhower.
La reapertura de embajadas es el gesto más simbólico de los seis meses de intensas negociaciones para iniciar el proceso de normalización de relaciones que siguieron al anuncio de los presidentes Barack Obama y Raúl Castro, el 17 de diciembre, que habían decidido dar un giro radical a las relaciones hostiles que marcaron la política bilateral y regional del último medio siglo.
No es sin embargo el fin de un proceso que las dos partes han reconocido será largo y tortuoso. Tanto Washington como La Habana tienen una larga lista de reclamos y demandas -empezando por el fin del embargo estadounidense que exige Cuba o la mejora de la situación de derechos humanos que quiere ver EE UU- que prometen ocupar a sus más altos diplomáticos por un tiempo que nadie se atreve a precisar.
Pero las dos partes coinciden en que esta segunda fase de negociaciones será más fácil con el restablecimiento de relaciones diplomáticas ahora cumplido.
Llegar a este punto tampoco ha sido sencillo. La ruptura de relaciones, algo que se venía cocinando desde la llegada al poder de Fidel Castro en 1959, culminó con la demanda de Cuba de que la embajada estadounidense en La Habana limitara el número de personal a 11, el mismo número que tenía la legación diplomática cubana en Washington. En el telegrama urgente que envió el entonces encargado de negocios estadounidense en Cuba al Departamento de Estado, Daniel Braddock, informando de la maniobra cubana, el diplomático citaba a Castro diciendo que “el 90 % de los funcionarios son, de todos modos, espías”. Braddock opinaba que la embajada de EE UU no podía continuar funcionando de manera efectiva con tan poco personal y recomendaba la ruptura de relaciones que acabó aprobando Eisenhower.
El número de personal diplomático, su capacidad de movimiento y sus actividades han vuelto a ser uno de los puntos más difíciles de la negociación para la reapertura de embajadas medio siglo más tarde. Pese a las restricciones impuestas, la Sección de Intereses de EE UU en Cuba ha sido desde su apertura en 1977 -bajo el presidente demócrata Jimmy Carter- una de las legaciones diplomáticas más grandes de la isla, con un personal que ronda los 300 funcionarios, 50 de ellos diplomáticos estadounidenses. El personal diplomático cubano en Washington no llega a la decena. Tras las cuatro rondas de negociaciones de alto nivel celebradas en las dos capitales desde enero, se llegó a un acuerdo que Washington ha declarado “satisfactorio”. La principal demanda norteamericana era que su personal diplomático pudiera moverse más allá de La Habana para contactar con la población cubana sin necesidad de solicitar cada vez un permiso a las autoridades cubanas (los cubanos tenían que hacer lo mismo para salir de Washington). Finalmente, los diplomáticos solo deberán “notificar” sus salidas, algo con lo que EE UU dice poder vivir y que compara a la situación con otros países con los que mantiene relaciones diplomáticas pese a profundas diferencias políticas.
Aunque tanto la hasta ahora Sección de Intereses de EE UU en La Habana como su par cubana en Washington son ya, desde este lunes, “embajadas” a pleno rendimiento y funcionamiento, la ceremonia oficial de apertura solo tendrá lugar en la legación diplomática cubana en la capital estadounidens. Washington todavía no ha fijado la fecha para su celebración, también al más alto nivel diplomático, en su embajada situada en pleno Malecón de La Habana.
El ministro de Relaciones Exteriores cubano, Bruno Rodríguez, hará un poco más de historia este lunes al convertirse en el primer canciller de la isla que visita oficialmente Washington desde 1959. Participará junto a una gran delegación -hay 500 invitados- en la ceremonia de izada de bandera ante la fachada cubana, donde además desvelará el cartel -escondido los últimos días tras una cortinilla roja- que por fin identifica a la legación como “embajada”. Después, Rodríguez se reunirá con su par estadounidense, el secretario de Estado John Kerry, en el Departamento de Estado, otro hito en el proceso de restablecimiento de relaciones. En ese edificio estará ya también desplegada, por primera vez desde 1961, una bandera cubana junto con todas las demás de los países con los que EE UU mantiene relaciones diplomáticas." El País