terça-feira, 31 de maio de 2011

Sobre a Poesia VI

"O poema é feito de palavras necessárias e insubstituíveis" Octavio Paz
OCTAVIO PAZ (1914—1998) foi escritor , poeta, ensaísta , conferecentista, tradutor e diplomata. Nasceu no México e recebeu o Prémio Nobel de Literatura em 1991. É autor de uma vasta e importante obra em prosa ("El Laberinto de la Soledad", "El Arco y la Lira", "El Mono Gramático", "Los Hijos del Limo", "Sor Juana Inés de la Cruz", "las Trampas de la Fe", etc.) e de muitos livros de poesia tais como "Piedra de Sol", "Salamandra", "Blanco", "Vuelta", "Árbol Adentro".
"No assombro ante o Outro e os outros está a poesia" é o lugar atribuido pelo poeta Octavio Paz à POESIA, num mundo onde grandes transformações ocorrem e os saberes se confrontam.
Nesta 6ª edição de "Sobre a Poesia" ficam as palavras deste nome grande da Literatura universal.
"O conhecimento poético é o único que nos resta diante do progressivo aniquilamento da visão religiosa ou perante a dispersão do conhecimento científico. Os grandes sistemas filosóficos desapareceram. A filosofia analítica encontra-se num “impasse”, daí que filósofos como Robert Nozik tentem encontrar uma via de saída. Quanto à fenomenologia e seus herdeiros: não há ninguém depois de Sartre. Seus sucessores são comentaristas de Heidegger, como Foucault e Derrida. E que dizer do marxismo? Converteu-se numa escolástica universitária nos países capitalistas do Ocidente, especialmente nos Estados Unidos (a moda já passou na Europa), enquanto no Leste é uma aborrecida ideologia estatal. Nas grandes religiões, a visão poética foi e é central; o mesmo devo dizer dos sistemas filosóficos do passado. Por isso, creio que o que pode dar um pouco de frescor espiritual a nossas vidas é o conhecimento poético. Não digo que a poesia possa substituir a religião ou a filosofia: digo que é a origem da religião e da filosofia.No assombro ante o Outro e os outros está a poesia : foi e é o gérmen, a semente primeira. Regressar a ela será regressar à origem.
Uma relação análoga à que existe entre poesia e filosofia aparece entre a poesia e o mito. A poesia tem sido criadora de mitos, e foram os poetas os que converteram os mitos informes em poemas e obras-de-arte. Essa função da poesia não desapareceu em nossa época. A poesia tem rejuvenescido os mitos – Eliot num extremo e, no outro, Joyce, para falar tão somente de poetas de língua inglesa, ainda que também se possa citar Rilke, Apollinaire e outros. (...) Antes de tudo: os mitos são realidades. O são de uma dupla maneira: em primeiro termo, por terem vida própria e, em seguida, por estarem, por expressarem, quase sempre de uma maneira metafórica e cifrada, dada situação e que corresponde a todo o grupo social. Por exemplo: a bomba atómica reintroduziu na consciência moderna o antigo mito da extinção do Universo. A nossa sociedade não é a primeira que teme o desaparecimento do mundo num grande cataclismo. Recorde os astecas, os estóicos ou os cristãos do Ano Mil. Em quase todas as religiões figura uma revelação – um apocalipse – relativa ao fim do mundo. Esse fim pode ser definitivo, como no cristianismo ou no islão, ou cíclico, como no budismo e entre os estóicos. O assombroso é que a sociedade do progresso e da ciência, precisamente por meio da ciência e do progresso, tenha descoberto, por sua vez, a velha imagem da destruição cósmica. A diferença com o passado não é menos reveladora que a semelhança: para os antigos, a catástrofe confirmaria a verdade da revelação, enquanto que para os modernos a explosão nuclear nega as suposições de nosso mundo: a razão, o progresso, a ciência. Também é assombroso que os poetas tenham dito sempre o que agora descobrem os psicólogos e os sociólogos: a presença da violência mortífera, agarrada às dobras da alma humana ou nas entranhas da sociedade. Voltamos a sentir como os antigos, mesmo que pensemos de uma maneira distinta. Isso quer dizer que na nossa imagem do fim do mundo há uma fraude: foi uma visão religiosa e agora é uma possibilidade filha da ciência moderna e da violência ancestral do animal humano."
Octavio Paz

ENTRE O QUE VEJO E O QUE DIGO...
A Roman Jakobson
                            1
Entre o que vejo e o que digo,
entre o que digo e o que calo,
entre o que calo e o que sonho,
entre o que sonho e o que esqueço,
a poesia.
Desliza
entre o sim e o não:
diz
o que calo,
cala
o que digo,
sonha
o que esqueço.
Não é um dizer:
é um fazer.
É um fazer
que é um dizer.
A poesia
se diz e se ouve:
é real.
E, apenas digo
é real,
se dissipa.
Será assim mais real?

2

Idéia palpável,
palavra
impalpável:
a poesia
vai e vem
entre o que é
e o que não é.
Tece reflexos
e os destece.
A poesia
semeia olhos na página,
semeia palavras nos olhos.
Os olhos falam,
as palavras olham,
os olhares pensam.
Ouvir
os pensamentos,
ver
o que dizemos,
tocar
o corpo da idéia.
Os olhos
se fecham,
as palavras se abrem.
                                     OCTAVIO PAZ

segunda-feira, 30 de maio de 2011

E se o Universo fosse infinito?


“ Investigador taiwanês desenvolve modelo alternativo à teoria do Big Bang.
A teoria do Big Bang é tão extensa como o fenómeno a que se refere. No entanto, o investigador Wun-Yi Shu, da Universidade Nacional de Tsinghua ,em Taiwan, sugere um novo modelo para explicar o Universo.
O cientista indica que não existiu uma origem nem vai existir um final. Segundo esta teoria do infinito, que sugere que a massa, o espaço e o tempo se relacionam de forma diferente da que é considerada pelos cientistas. No estudo, publicado na arXiv.org 
a grande explosão nunca terá chegado a existir.
Shu explica que o novo modelo responde a uma nova perspectiva sobre alguns conceitos básicos da astrofísica, como tempo, o espaço, a massa e a longitude. Na sua proposta, bastante complexa, o tempo e o espaço podem converter-se um no outro, e a velocidade da luz é o factor de conversão entre ambos.
Como o Universo está em expansão, o tempo transforma-se em espaço e a massa em longitude. À medida que o Universo se contrai, ocorre o contrário.
A proposta de Shu tem quatro características distintas. A primeira é que a velocidade da luz e a gravitação não são constantes, mas variam com a evolução do Universo. Em segundo, o tempo não tem principio nem fim, isto é, nunca terá ocorrido o Big Bang nem o Big Crunch (uma teoria que antecipa que o Universo está a fechar-se aos poucos e a comprimir até que todos os elementos voltem ao ponto original, destruindo toda a matéria num único ponto de energia). Ponto três: a secção espacial do Universo é de três dimensões curvada numa quarta, o que descarta uma geometria plana ou hiperbolóide, e por último, existem fases de aceleração e desaceleração.
Força misteriosa
A ideia, além de complexa pode parecer arriscada, mas Shu assegura que as suas informações encaixam perfeitamente com as observações realizadas pelos astrónomos na Terra.
Para entender o funcionamento do Cosmo, a sua teoria não necessita da energia negra, uma misteriosa força, que compõe 74 por cento do Universo e cuja existência é discutida por alguns investigadores.
No entanto, tem um ponto fraco: as suas ideias não podem explicar a existência do fundo cósmico de microondas, que supõe a evidência mais sólida dos restos do Big Bang.” In Ciência Hoje

domingo, 29 de maio de 2011

Música para um último Domingo de Maio

Yasmin Levy é a  voz diferente  que  revitalizou os acordes antigos do flamenco e o transportou  em diáspora. O lamento sai em cântico traduzido numa litania de sons que nos toca e comove.  " La alegria" et "Naci an Alamo" ficam para ouvir e fruir.

La alegria
Yo bebo y bebo y bebo para olvidarte
yo duermo y duermo y duermo para no pensar
maldito mundo
vivir para pagar por el pecado de amarte
maldita tu
sueltame

Te digo que vida no tengo
y es por tu culpa
las noches igual que los días
de soledad
oh Dio mio
Ayúdame para matar este amor
que está en mi corazón
Bendito Dio sálvame

Solo caminando en el camino de este mundo
y no tengo más fuerza para luchar
pensaba que amarte fue el remedio del dolor
pero el dolor se hizo grande más y más
te dejo para siempre vida mia no te olvides
que soy hombre que existe para ti
y el cante de mi vida te regalo para siempre
hasta que llegue el día del morir



Naci an Alamo

No tengo lugar
Y no tengo paisaje
Yo menos tengo patria

Con mis dedos hago el fuego
Con mi corazon te canto
Las cuerdas de mi corazon lloran


Naci en Alamo
Naci en Alamo
No tengo lugar
Y no tengo paisaje
Yo menos tengo patria

Con mis dedos hago el fuego
Con mi corazon te canto
Las cuerdas de mi corazon lloran


Naci en Alamo
Naci en Alamo
No tengo lugar
Y no tengo paisaje
Yo menos tengo patria

sábado, 28 de maio de 2011

Serralves em festa

A FESTA em Serralves começa HOJE. O maior Festival Português de expressão artística.Quarenta horas seguidas de música, dança, teatro, novo circo, cinema, exposições, instalações e outras performances.



A 8ª edição do Serralves em Festa realiza-se hoje, 28 de Maio, e a 29 de Maio, durante 40 horas consecutivas. Este é o maior festival de expressão artística contemporânea em Portugal e um dos maiores da Europa, com actividades para todas as idades, para todas as famílias e para a família toda. São centenas de eventos a decorrer nos vários espaços de Serralves e também em alguns pontos da Baixa do Porto e no Aeroporto Francisco Sá Carneiro. O Serralves em Festa é já ponto de passagem obrigatório para dezenas de milhares de pessoas.
Das 8h da manhã de sábado, 28 de Maio, até às 24h de Domingo, 29 de Maio, Serralves recebe mais de 240 eventos, com actividades pensadas para todas as idades. Estão representadas as áreas da Performance, Música (Improvisada, Pop Rock, Electrónica, Experimental, Jazz, DJs), Dança Contemporânea, Acrobacia, Circo Contemporâneo , Circo de Objectos Sonoros, Teatro (Teatro de Rua, Teatro para Infância e Juventude, Teatro de Marionetas) Cinema, Vídeo, Instalação, Fotografia, Visitas Orientadas, Exposições, Workshops e actividades para Crianças e Famílias.
Leia mais: site oficial.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Panfleto contra a paisagem I

Vogo nas ondas
com uma nereida ao pescoço
a segredar-me de frio
na espuma da voz do mar:

«Esquece, esquece o desânimo do mundo
no sopro da minha pele
onde adormecem tufões
nas algas de polvo e enleio.

«Dá-me os teus pulsos
para algemá-los de frio.
Dá-me o teu coração
para pesá-lo de refúgio.
Dá-me as tuas lágrimas
para a sede dos espelhos.
Dá-me a tua boca
para sorri-la de enfeite.
Dá-me os teus cabelos
para afagá-los de mãos iluminadas.
Dá-me os teus olhos
para pintá-los de violino.
Dá-me o teu peito
para espreguiçar-me mulher nos teus braços.
Dá-me...»

Basta, nereida verde
de corpo de espuma frio
todo em ondas de embalar!
Sou firme como o não dum homem
e não há sereia ou mulher
que me tente de traição.

Sou firme como o não dum homem
e não há ninguém no mundo
que me arranque com cetins
ou garras de sangrar sóis
este Remorso Militante
que trago na pele e nos gritos
como a minha arma inútil de combate!

José Gomes Ferreira,in " Poesia I", Lisboa, Portugália Editora, 1969

quarta-feira, 25 de maio de 2011

EUGÉNIO LISBOA

"Os homens verdadeiramente grandes estão muito próximos dos outros pela mesma simplicidade que os afasta até ao infinito. Porque os homens verdadeiramente grandes conservam, na sua relação com as coisas profundas e difíceis com as quais estabelecem sua intimidade, as mesmas atitudes que têm com toda a gente; são ao mesmo tempo familiares, delicados e verdadeiros."
Paul Valéry

Há pessoas que nos marcam e outras ficam de fora da  memória,  não  merecendo  qualquer referência laudatória. E se nos marcam é porque delas sobreleva uma imagem que nos tocou pela grandeza que difundiam e pela simplicidade verdadeiramente genuína que emanavam quando nos abordavam.
Ao longo da minha vida, conheci algumas dessas pessoas. Eugénio Lisboa faz parte desse círculo de gente maior que nunca esquecerei.
Conheci-o em 1996, como Presidente da Comissão Nacional da Unesco e ,apesar de ser um artífice da escrita que já há muito me deleitava e enriquecia, foi como responsável por essa Instituição em Portugal, que descobri a sua imensa capacidade de organização, de gestão e de motivação para as causas culturais e sociais.
EUGÉNIO LISBOA nasceu em Lourenço Marques , em 25 de Maio de 1930. É um crítico literário notável que se afirmou com independência e uma singularidade extraordinária. Poeta, ensaísta, escritor, diplomata, professor,Doutor Honoris Causa pela Universidade de Nottingham, do Reino Unido (1988) e pela Universidade de Aveiro (2002), oficial da Ordem do Infante D. Henrique é detentor de uma jovialidade natural e de uma simplicidade que só os homens verdadeiramente grandes possuem. A facilidade de acesso ao seu contacto traduz a riqueza com que valoriza o outro e a sua relação com o mundo.
Numa entrevista concedida  á Revista "Artes e Letras", Porto, em 2010,  Eugénio Lisboa respondeu a algumas questões que lhe foram postas. Transcreve-se um pequeno excerto porque retrata a sua agudeza de espírito e o seu pensamento :
AeL – As suas experiências cosmopolitas modelaram de alguma forma o seu pensamento?E.L. – Tenho, de facto, viajado muito e, sobretudo, vivido longamente em latitudes e longitudes diversas: tenho 38 anos de Moçambique, onde nasci, 17 de Inglaterra, 23 de Lisboa, um ano de África do Sul e um ano de Suécia. Isto ajuda poderosamente a um alargamento de perspectivas. Mas o cosmopolitismo não depende só – ou fundamentalmente – disto: está dentro de nós. Adolescente, em Moçambique, fui francês com Voltaire, Balzac, Stendhal, Anatole France ou Roger Martin du Gard, inglês, com Dickens, Charlotte Brontë, Wilde, D. H. Lawrence, Conrad ou Huxley, alemão, com Thomas Mann, italiano com Pirandello e D’Annunzio, romeno, com Panait Istrati, americano, com Mark Twain, Hemingway, Faulkner, Saroyan ou Steinbeck, russo, com Tolstoi, Dostoiewsky, Turguenev, Tcheckov ou Sologub. A filosofia, na adolescência, levou-me a Atenas, a Paris ou a Londres (e a mais de uma cidade na Alemanha e na Suíça...) Estive em Paris, sem estar em Paris e em Londres sem estar em Londres. O provincianismo é um estado de espírito e não uma consequência da geografia. Viajar ajuda mas não é tudo. Os lisboetas que olhavam de alto para a presença, porque esta se fazia em Coimbra, sofriam de provincianismo interior, aquele que de facto estreita perspectivas. Eugénio de Andrade não precisou, para nada, de viver em Lisboa, para ser o grande poeta que foi: bastou-lhe o Porto. Há provincianos em Nova Iorque e cosmopolitas em remotas terras do interior. Quando, em 1947, vim de Lourenço Marques para Lisboa, para cursar engenharia, eu, africano do cabo do mundo, achei que a maior parte dos meus colegas de curso era mentalmente e inacreditavelmente provinciana.
AeL – O que releva da sua experiência de Conselheiro Cultural?
E.L. – O gosto de fazer coisas e, também, o gosto de fazer coisas com alguém. E promover a cultura portuguesa, em Inglaterra, era, a um tempo, dificílimo e excitante. Os ingleses são exigentes, competitivos e rigorosos na negociação. Em Londres a competição é feroz. Podemos ter um grande produto a mostrar, mas é preciso publicitá-lo intensamente e isso custa dinheiro. Somos um país pobre, mas somos, sobretudo, um país em que os poderes políticos não gostam de gastar dinheiro com a cultura nem com os seus agentes que são, por regra, incómodos. É uma vergonha que o orçamento para a cultura ande ainda pelos mesquinhos 0,5% ou menos. E é uma vergonha para todos os partidos que têm estado no poder. Nisto, acabam sempre por ter a última palavra os detestáveis ministros das finanças, que percebem pouco de finanças e rigorosamente nada de cultura. Portugal não tem muito que lhe ajude a promover uma forte imagem: se despreza a cultura, despreza uma das mais poderosas influências subliminares que se conhecem. Ortega y Gasset escreveu, sobre isto, páginas admiráveis, que os nossos políticos evidentemente não leram. Ainda assim, promovi, em Londres, a tradução de clássicos antigos e modernos e a reedição de traduções já feitas mas esgotadas. Com o auxílio do meu amigo L. C. Taylor (director, ao tempo, da Gulbenkian, em Londres), fizemos uma boa sementeira editorial de que muito nos orgulhamos. Além de muitas outras actividades ligadas ao teatro, à pintura, à música, etc. Paralelamente à actividade propriamente profissional, viver em Londres 17 anos é um privilégio que só não publicito mais para não irritar os deuses
"AeL – Acha que as políticas editoriais têm um papel saudável na promoção cultural? E a comunicação social?
E.L. – Não sei bem a que se refere com “políticas editoriais”. Das editoras particulares? Quanto a isto, devia haver uma lei anti-trust, que impedisse que um grande grupo financeiro, que nada se interessa por livros, devorasse quase todo o mercado produtor e distribuidor de livros. O que se passa é quase obsceno. E mete medo. Entrar em quase 90% das livrarias causa náuseas: é o reino do mono-estilo, com a promoção sistemática e despudorada do que há de pior: o pimba, o piroso, o sensacionalão, o grande “best-seller” de lá de fora e de cá de dentro. O chover no molhado: promover, a grandes custos, o que por natureza da sua própria mediocridade já está promovido. Os grandes heróis dos editores e dos livreiros são os senhores-da-televisão-que-também-escrevem-livros e que despertam a concupiscência dos jovens e não tão jovens que sofrem de iliteracia aguda e por isso gostam de comprar os livros daqueles senhores e senhoras que aparecem muito no “petit écran”. A promoção via “petit écran” é, quanto a mim, um abuso de confiança. A comunicação social – televisão, jornais vários – faz como Deus é servido, quando Deus fica mal servido (roubo esta perfídia ao Pessoa – é para isso que servem os clássicos).
Eugénio Lisboa completa, hoje, 81 anos.Continua a cativar-nos com o seu dinamismo e a sua escrita prodigiosa.
Ao Presidente, ao poeta , ao professor, ao crítico, ao ensaista , ao homem afável, clarividente e valoroso apresento a minha homenagem .
Parabéns Engenheiro Eugénio Lisboa.


A Música das Cores
Ao Ângelo
A pintura; às vezes, sabe ser
uma forma de música: sugere,
no fluxo imparável do acontecer,
que a vida pode não acabar. Fere
o centro de nós mesmos. Amacia
e dissolve tensões que a vida impura,
em tantos momentos, cega, nos cria.
Como a música, é boa a pintura.
Eugénio Lisboa
Matéria Intensa
Lisboa, Instituto Camões, 1999


Algumas obras de Eugénio Lisboa:
José Régio
Crónica dos Anos da Peste
José Régio: A Obra e o Homem
José Régio: Uma literatura Viva
As Vinte e Cinco Notas do Texto
José Régio ou a Confissão Relutante
Objectivo Celebrado
Matéria Intensa
O Ilimitável Oceano
 Indícios de Oiro I
Indícios de Oiro II
Ler Régio
Essencial sobre José Régio

terça-feira, 24 de maio de 2011

O Mundo em Notícias


Primeiro "e-G8" discute futuro da Internet
“O primeiro fórum "e-G8", um encontro de dezenas de empresários, investigadores e jornalistas ligados às novas tecnologias para discutir o futuro do digital, arranca hoje em Paris no meio de alguma polémica.
Até quarta-feira, o objetivo do encontro convocado pelo Presidente francês, Nicolas Sarkozy, é "esclarecer e alimentar as discussões dos chefes de Estado e de Governo dos países do G8 com a visão de atores da rede em relação à importância e impacto da Internet na sociedade e na economia", explica o comunicado do evento.
"A Internet é um setor de atividade económica essencial para o crescimento das economias mundiais, quer através de empresas que não existiam há dez anos quer por via das empresas tradicionais que desenvolveram atividades 'online'", escreve Sarkozy na mensagem de boas-vindas aos participantes.
A ideia da conferência é reunir um conjunto de propostas para apresentar aos líderes do G8, que se reúnem quinta e sexta-feira em Deauville, em França.
Da agenda do "e-G8" constam temas como o impacto sobre o crescimento da Internet, o respeito pela privacidade e propriedade intelectual ou o desenvolvimento de redes.
Um conjunto de 14 organizações ligadas aos direitos dos utilizadores digitais criou uma plataforma de protesto contra o "e-G8", que acusam de ser um passo no sentido de "controlar e censurar a Internet".
" (Sarkozy)convocou líderes mundiais para uma cúpula em busca de uma 'Internet civilizada', conceito emprestado do governo chinês", escreve o grupo na página do protesto, a que chamou de "G8 vs. Internet".
Por seu lado, um dos oradores do evento, Jeff Jarvis, professor na City University de Nova Iorque, publicou um texto no seu blogue em que apela a um "juramento de Hipócrates para a Internet", enquanto plataforma criada para ser "aberta, livre e distribuída", que "deve manter-se assim".
"A pena é que esta reunião sobre o futuro da Internet e do seu crescimento tenha sido convocada por um chefe de Estado e não por nós, as pessoas da 'net'", escreve Jarvis.
Entre os dois mil convidados encontram-se diversos nomes sonantes do panorama das novas tecnologias, incluindo o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, o 'executive chairman' da Google, Eric Schmidt, e o responsável pela Amazon, Jeffrey Bezos.
Os discursos de destaque hoje vão estar a cargo do presidente francês, do presidente executivo da News Corporation, Rupert Murdoch, e do fundador do Groupon, Andrew Mason.
O segundo dia do encontro vai ser aberto pela comissária europeia para a agenda digital, Neelie Kroes, e encerra com uma conversa com o criador do Facebook.”SIC

EUA consideram que a lavagem de dinheiro é um crime "preocupante" em Portugal
"Os EUA consideram que a lavagem de dinheiro é um crime "preocupante" em Portugal, de acordo com um relatório do departamento de Estado, revela hoje o Diário de Notícias. O documento aconselha um controlo mais apertado e novas medidas de combate ao crime.
O relatório do Gabinete para o Controlo Internacional de Narcóticos alerta para a ligação entre lavagem de dinheiro, tráfico de droga e terrorismo e deixa claro que Portugal é um pais preocupante e legalmente vulnerável.
Em causa estão várias questões como a rigidez do sigilo bancário, falhas na criminalização da lavagem de dinheiro para todos os crimes graves, a fraca regulação bancária, a descoordenação sobre transacções suspeitas, uma postura condescendente com a corrupção e a existência de offshores.
De acordo como DN, Portugal tem praticamente todas as vulnerabilidades que o departamento de Estado da administração de Obama considera preocupantes.
Por estas e outras razões, Portugal integra uma lista de 70 países e encontra-se no segundo nível de ameaça, juntamente com países como a Bélgica e a Irlanda.
No primeiro nível estão, entre outros, Espanha, França, Alemanha e Grécia, definidos pelas autoridades norte-americanas como países cujas instituições financeiras estão envolvidas em elevadas transacções financeiras provenientes de tráfico internacional de droga.
O documento, concluído em Março, aconselha estes países a criarem regimes legais anti-lavagem de dinheiro.
As conclusões resultam da reunião com as autoridades norte-americanas e as agências que combatem a lavagem de dinheiro em todo o mundo e do balanço de medidas dos governos." SIC

Tornado deixa mais de 100 mortos no Missouri
Ventos de mais de 300 km/h atingiram Joplin no domingo à noite, destruindo um terço da cidade e deixando pessoas soterradas
"Um dos tornados mais violentos dos últimos 60 anos devastou a cidade de Joplin, no Missouri, matando ao menos 116 pessoas. Outras centenas ficaram feridas e muitos sobreviventes e corpos ainda estavam presos sob os escombros quase um dia depois da passagem dos ventos de mais de 300 km/h.
Cerca de 2 mil casas, supermercados, escolas, lojas e prédios foram destruídos. Carros chegaram a ser suspensos no ar e caminhões derrubados quando o tornado, de mais de um quilómetro de largura, atravessou a pequena cidade, de 50 mil habitantes. Um dos problemas, segundo meteorologistas, foi o tornado ter se concentrado sobre Joplin, se movimentando muito lentamente.
O tornado de domingo é o mais recente de uma série que atingiu Estados do sul e do norte dos EUA nos últimos meses, provocando a morte de ao menos 340 pessoas e prejuízos estimados em cerca de US$ 2 bilhões. Em viagem à Irlanda, o presidente Barack Obama, apresentou em um comunicado "condolências aos afectados pelo tornado no Missouri" e acrescentou que a Fema (agência de gerenciamento de emergência dos EUA) "estava trabalhando nos esforços de salvamento". O órgão tem sido alvo de críticas desde a passagem do furacão Katrina, há seis anos.
Os ventos atingiram a cidade na noite de domingo, quando muitos dos 50 mil habitantes ainda jantavam. A área de restaurantes da cidade foi uma das mais danificadas e corpos estavam espalhados pelas ruas ontem. Mais de um terço de Joplin foi destruído pelos ventos. Ao menos cinco famílias foram resgatadas dos escombros.
As buscas por sobreviventes têm sido prejudicadas pelas tempestades que ainda atingem esta região dos Estados Unidos. A comunicação é outro obstáculo, com 17 torres de celular destruídas. Linhas telefónicas fixas também não funcionavam e mais da metade da população estava sem energia eléctrica. Por causa de explosões de gás, havia focos de incêndio espalhados por toda Joplin.
"Acreditamos que muitas pessoas estão vivas sob os escombros e estamos tentando resgatá-los de todas as formas possíveis", disse Jay Nixon, governador do Missouri, em entrevista à rede de TV CNN. Um hospital com 180 pacientes foi destruído pelos ventos. Autoridades disseram que algumas imagens de raio X foram encontradas a mais de 100 quilómetros de distância do local.
Não há informações sobre quantas pessoas internadas no hospital sobreviveram. A maior parte dos pacientes tinha sido transferida para outras instalações médicas ao redor de Joplin. Os habitantes estavam sendo alocados em abrigos de emergência. Até mesmo o comandante do Corpo de Bombeiros da cidade viu sua casa ser destruída pelo tornado.
Graças a um esquema de alerta, feito por meio de 25 sirenes, muitos habitantes conseguiram escapar quando foram avisados cerca de 20 minutos antes de o tornado chegar a Joplin.
"O problema é que muitas pessoas não foram capazes de conseguir abrigo a tempo. O barulho da tempestade foi tão alto que eles não ouviram as sirenes tocando", disse o governador.
"Foi um terror, fiquei com muito medo. Preciso agradecer por ter saído viva", disse uma sobrevivente. "/ COM AP in “ Estadão”

segunda-feira, 23 de maio de 2011

As intempéries naturais e eleitorais

Espaço aéreo islandês encerrado por fumo e cinzas do vulcão Grimsvotn
O espaço aéreo islandês foi temporariamente encerrado na manhã de ontem devido à erupção do vulcão Grimsvotn, o mais activo da Islândia, anunciou a autoridade aeroportuária daquele país.
Os principais aeroportos internacionais da Islândia foram encerrados ontem às 08:30 locais (09:30 em Lisboa) devido a nuvem de cinzas e fumo que já atinge uma altitude de mais 15 quilómetros.
O encerramento do espaço aéreo islandês deverá continuar em vigor "pelo menos nas próximas horas", anunciou a porta-voz da autoridade aeroportuária islandesa (ISAVIA), Hjordis Gudmundsdottir, citada pelas agências.
De acordo com esta responsável, será feito um novo ponto de situação as 12:00 locais (mais uma hora em Lisboa).
Apesar do encerramento do espaço aéreo islandês, a ISAVIA e cientistas acreditam que a erupção do Grimsvotn não irá provocar o caos nos transportes aéreos tal como aconteceu em 2010 com as erupções do Eyjafjallajokul.
A nuvem de cinzas e fumo já cobre uma boa parte da Islândia, mas não se dirige à Europa, explicou Hjordis Gudmundsdottir.
Relatos de residentes na zona do vulcão descrevem colunas de fumo que podem ser vistas de vários locais da região sul da Islândia, e o Instituto Meteorológico local já confirmou a atividade do vulcão.
Localizado no glaciar Vatnajokull, o vulcão Grimsvotn registou as maiores erupções em 1922, 1933, 1934, 1938, 1945, 1954, 1983, 1998 e em 2004, sendo que a maioria das erupções prolongou-se entre uma e três semanas.
No ano passado, a nuvem de fumo e cinzas do vulcão Eyjafjallajokul levou ao encerramento do espaço aéreo europeu durante cinco dias e afectou milhões de passageiros.Lusa


PS faz desaparecer imigrantes da campanha depois do escândalo
As dezenas de imigrantes paquistaneses e indianos que têm agitado bandeiras, dado apertos de mão ao secretário-geral do Partido Socialista nos últimos dias e enchido salas de comício não compareceram ontem na campanha do PS em Campo Maior. A direcção de campanha garantiu ao i que se trata de uma "estrutura voluntária que não é controlada" e que poderá não voltar a aparecer. O desaparecimento destes apoiantes -comerciantes do Martim Moniz, em Lisboa, e trabalhadores da construção civil que estiveram com José Sócrates em Beja, Coimbra e no comício de Évora de sábado - acontece depois de os órgãos de comunicação social, atraídos pelos turbantes, terem começado a fazer perguntas.
"Sócrates é muito boa pessoa, tratou de dar nacionalidade, tratou de tudo", disse ao i um dos indianos presentes no comício de Sábado em Évora, onde foram poucos os alentejanos a encher a sala e visível a população de turbantes. A campanha garante que os imigrantes "se ofereceram em Lisboa como voluntários para acompanhar a comitiva socialista". Ainda assim, há entre os viajantes casos de fome e garantias de que a presença nos comícios é trocada pela certeza de uma refeição quente.
Ontem, o tema foi abordado indirectamente pelo candidato centrista. "Não é preciso trazer gente de fora, nem em transporte colectivo organizado pelo partido. A gente está aqui porque quer e porque está a pensar seriamente votar CDS", afirmou Paulo Portas em Ponte Lima. Nas redes sociais, também houve ecos. Nogueira Leite, conselheiro económico do PSD, ironizou, dizendo que o alegado apoio dos imigrantes nos comícios socialistas em troca de refeições era um exemplo do Estado social que Sócrates defendia.
Publicitado o caso, desapareceram, primeiro, alguns turbantes - substituídos por chapéus de campanha do PS. Depois, sumiram-se os imigrantes, muitos que mal articulavam uma palavra em português e que não podiam votar nas eleições legislativas de 5 de Junho por não terem nacionalidade portuguesa. A duvida fica: se foram transportados de Lisboa para o Alentejo no autocarro socialista como é que regressaram a casa?
Nos últimos dias, José Sócrates tem tentado encostar o PSD à direita, numa tentativa de captar votos ao centro. Uma estratégia seguida desde o início da campanha oficial. O secretário-geral socialista agitou o fantasma do regresso aos tempos da ditadura, se o PSD vencer as eleições. "O que ele querem é que haja uma educação para pobres e outra para ricos como havia antes do 25 de Abril", disse o candidato em Elvas, depois de já ter dito em Ourém que o país "teve uma ditadura que nunca apostou na educação", reservada nesses tempos "às elites".
A intenção dos socialistas é a de distanciar o projecto de Passos Coelho da social-democracia e colá-lo o mais possível à direita. Nas muitas referências feitas ao PSD nos primeiros dois dias de campanha, Sócrates critica o projecto de revisão constitucional e as alterações que o programa de Passos preconiza para o Estado social. "O modelo social europeu não é só património dos socialistas, é também dos social-democratas e da doutrina social da igreja católica", afirmou Sócrates, num almoço, no sábado, em Ourém, acusando Passos Coelho de ter "um preconceito social".
O discurso do PS não foge muito do guião definido para esta campanha e passa essencialmente por ataques ao PSD e pela defesa do Estado social, principalmente em áreas como a educação a saúde e o trabalho. "Lutaremos contra o aventureirismo privatizador da direita nas funções sociais do Estado", disse Pedro Marques, cabeça-de-lista por Portalegre, em Elvas.
Os ataques a Passos Coelho não são só feitos pelo secretário-geral do PS e vários socialistas têm realçado o facto de o presidente do PSD não ter experiência de governo. "Não tem experiência, nem equipa", disse o ministro da Agricultura, António Serrano, num almoço em Ourém no Sábado. Umas horas depois em Évora foi Capoulas Santos a acusar Passos Coelho de ter enviado o seu "putativo ministro das Finanças para o exílio no Brasil". Em declarações ao i, o ex-director de campanha de Sócrates para a liderança do PS disse que Catroga "tem muito poucas condições" para integrar um governo de coligação, se o PS vencer as eleições e fizer uma aliança com os sociais-democratas, e classificou como "um susto" a "entourage" de Passos Coelho.
A presença de Sócrates nas arruadas é contida e o PS aposta sobretudo nos almoços e nos comícios ao fim do dia. Em Campo Maior - terra com uma forte influência do comendador Rui Nabeiro, dono da Delta Cafés - o PS conseguiu, até agora, a melhor arruada. Os imigrantes indianos e paquistaneses foram substituídos ontem na rua pelos trabalhadores das empresas do grande magnata do café - o principal empregador da região. O secretário-geral do PS não tem escapado a algumas críticas dos populares, que se insurgem contra a situação a que o país chegou e, como dizia um habitante de Évora, contra "os luxos gastos em campanha". Os socialistas já garantiram que vão gastar menos do que o habitual, mas não abdicaram - como os partidos de direita - dos outdoors, embora só tenham colocado um cartaz em cada distrito. Jornal I

domingo, 22 de maio de 2011

Há Música ao Domingo

"Pelas praias do mar nos vamos
À procura da manhã clara"
canta
Zeca Afonso em " Filhos da Madrugada" . E porque se trata de um  desafio exortador para este tempo crísico, ouçamo-lo e soltemos as amarras.



Somos filhos da madrugada
Pelas praias do mar nos vamos
À procura de quem nos traga
Verde oliva de flor nos ramos
Navegamos de vaga em vaga
Não soubemos de dor nem mágoa
Pelas praias do mar nos vamos
À procura da manhã clara.

Lá do cimo de uma montanha
Acendemos uma fogueira
Para não se apagar a chama
Que dá vida na noite inteira
Mensageira pomba chamada
Companheira da madrugada
Quando a noite vier que venha
Lá do cimo de uma montanha

Onde o vento cortou amarras
Largaremos p'la noite fora
Onde há sempre uma boa estrela
Noite e dia ao romper da aurora
Vira a proa minha galera
Que a vitória já não espera
Fresca, brisa, moira encantada
Vira a proa da minha barca.

Zeca Afonso

sábado, 21 de maio de 2011

O Marinheiro e seu barco

    Para Daniela
Lembro-me de um tempo imenso,
de um menino de espumas e areia
do mar que tive em minha infância.
Depois a vida cresceu dentro de mim,
as tardes me acostumaram com os barcos partindo
e no meu pequeno peito nasceu um sonho de marinheiro.

Recordo que em mim tudo era barco
e que a existência chamava-me de todos os portos do mundo.
Recordo meus salgados olhos tatuados com invisíveis rotas
navegando errantes sobre o horizonte.

Sim, há coisas tristes na vida
como um sonho de criança
quando morre em nosso coração de homem.
E hoje,
quando vejo minha pátria naufragada
e meu povo reconstruir com sangue
seu barco despedaçado,
sinto que em mim renasce transformado
o mesmo sonho antigo;
então meu coração se banha com as águas amargas desses anos
e penso naquele transparente canto de pérolas e algas
que herdei de ondas remotas
em tudo que em mim ficou de verde e de imenso;
e sonho novamente com um visionário caminho para a vida,
com seus barcos de pão e de peixes
com gaivotas jovens
e sua brancura abrindo-se com o amanhecer.

E penso o meu tempo                                                            
com seus caminhos longos e difíceis
e o sinto com a esperança das águas nas nascentes
e seu deslumbramento da desembocadura.
E mais além
penso em um oceano com novas longitudes,
em uma bússola  de estrelas
guiando meu povo a uma aurora boreal.
E penso nesses povos antigos
que partiram um dia em busca de uma terra longínqua,
em busca de novos campos para suas sementes
e de um berço de sol para seus filhos.

Ah irmãos!
quantos mares desconhecidos nos esperam!
Quantos caminhos até chegar à nossa sonhada Canaã!

Sim... há coisas belas na vida...
como o homem com seu barco e seu destino
como a alma extraordinária dos camaradas
a ternura escondida em seus punhos
e seus gestos de vida e de amor.
E penso nesse porto ainda distante
no trigo maduro
na doçura das laranjas na próxima estação.
Penso em uma iluminada manhã
quando voltar a pisar o chão da pátria
e  abraçar minha filha bem amada.

Manoel de Andrade, in " Poemas para a Liberdade", Lima, Dezembro de 1969, Ed. Escrituras