No Chile, o cubismo virou apologia a Cuba
"A coisa mais indispensável a um homem é reconhecer o uso que deve fazer do seu próprio conhecimento" Platão
quarta-feira, 30 de setembro de 2020
As tenebrosas fogueiras do medo
No Chile, o cubismo virou apologia a Cuba
terça-feira, 29 de setembro de 2020
Setembro
Ilustração: Susa Monteiro |
segunda-feira, 28 de setembro de 2020
Da minha janela, vê-se a Poesia
Meu país desgraçado!…
E no entanto há Sol a cada canto
e não há Mar tão lindo noutro lado.
Nem há Céu mais alegre do que o nosso,
nem pássaros, nem águas…
Meu país desgraçado!…
Porque fatal engano?
Que malévolos crimes
teus direitos de berço violaram?
Meu Povo
de cabeça pendida, mãos caídas,
de olhos sem fé
— busca, dentro de ti, fora de ti, aonde
a causa da miséria se te esconde.
E em nome dos direitos
que te deram a terra, o Sol, o Mar,
fere-a sem dó
com o lume do teu antigo olhar.
Alevanta-te, Povo!
Ah!, visses tu, nos olhos das mulheres,
a calada censura
que te reclama filhos mais robustos!
Povo anémico e triste,
meu Pedro Sem sem forças, sem haveres!
— olha a censura muda das mulheres!
Vai-te de novo ao Mar!
Reganha tuas barcas, tuas forças
e o direito de amar e fecundar
Sebastião da Gama, in Cabo da Boa Esperança, Lisboa: Portugália Editora, 1947
Pureza
Vem toda nuaou, se o não consentir o teu pudor,
vestida de vermelho.
Teus tules brancos,
o azul, que desmaia,
de tuas sedas finas,
guarda-os p’ra outros dias.
P’ra quando, Amor!,
merecer a pureza do azul…
Sebastião da Gama, in Cabo da Boa Esperança, Lisboa: Portugália Editora, 1947
Nunca o Mar me quis ter nas suas ondas
enrolado e perdido.
Sou o Poeta das manhãs fecundas:
vivo me quer o Mar, para cantá-las
Ó Mar, onde se acaba
tudo que é vão!
Ó Mar feito do nada dos regatos
e dos rios efémeros!
Saibam minhas manhãs a maresia!
Haja ranger de cordas de navios
e searas de limos e de peixes,
haja a violência harmónica das ondas
nas manhãs que dão cor aos meus poemas!
Tudo fala verdade ao pé do Mar.
Mesmo as nuvens são velas que se rompem,
castigadas de um Sol que é vento puro
e que tem o direito de passar.
Andam gaivotas tontas à deriva
(acenos da ternura da Manhã…).
Tinem, nos estaleiros, marteladas.
E os motores monótonos, os gritos
dos homens e das aves, o inquieto
verbo do Mar, nas rochas espalmado
a todos os minutos, desde há séculos,
tudo revela a esplêndida verdade
de ao pé do Mar, em tudo que é do Mar,
a Vida estar desperta.
É o ar da Manhã, hálito alegre
do Mar, que enfuna as velas orgulhosas
desta canção poético-marítima.
Religiosamente aqui desfio
meu rosário de vagas.
Canção inútil!
Clarim que anunciou a Madrugada
depois de a Madrugada ter florido…
Fosse mais bela a vida e mais sincera…
Como eu lhe quero, mesmo assim!
Tanto lhe dei de mim
que já é menos acre do que fora.
Ah! bem me parece que o Amor melhora
quanto a graça de Deus não fez bonito.
Há lá coisa mais linda que um grito
quando foi o Amor que o pôs cá fora!...
Deixa ser o meu gesto uma grinalda
Nos teus cabelos, Vida!
Deixa que o meu olhar enflore teus olhos.
Adeus, adeus teus dedos ásperos!
Adeus teu rictus doloroso!
- Vida, quem é a minha namorada?
Nasci para ser ignorante
mas os parentes teimaram
(e dali não arrancaram)
em fazer de mim estudante.
Que remédio? Obedeci.
Há já três lustros que estudo.
Aprender, aprendi tudo,
mas tudo desaprendi.
Perdi o nome às Estrelas,
aos nossos rios e aos de fora.
Confundo fauna com flora.
Atrapalham-me as parcelas.
Mas passo dias inteiros
a ver um rio passar.
Com aves e ondas do Mar
tenho amores verdadeiros.
Rebrilha sempre uma Estrela
por sobre o meu parapeito;
pois não sou eu que me deito
sem ter falado com ela.
Conheço mais de mil flores.
Elas conhecem-me a mim.
Só não sei como em latim
as crismaram os doutores.
No entanto sou promovido,
mal haja lugar aberto,
a mestre: julgam-me esperto,
inteligente e sabido.
O pior é se um director
espreita p'la fechadura:
lá se vai licenciatura
se ouve as lições do doutor.
Lá se vai o ordenado
de tuta-e-meia por mês.
Lá fico eu de uma vez
um Poeta desempregado.
Se me não lograr o fado
porém, com tais directores,
e de rios, aves e flores
somente for vigiado,
enquanto as aulas correrem
não sentirei calafrios,
que flores, aves e rios
ignorante é que me querem.
Sebastião da Gama, in Cabo da Boa Esperança, Lisboa: Portugália Editora, 1947
Sebastião da Gama ficou para a história pela sua dimensão humana, nomeadamente no convívio com os alunos, registado nas páginas do seu famoso Diário (iniciado em 1949). Literariamente, não esteve dependente de qualquer escola, afirmando-se pela sua temática (amor à natureza, ao ser humano) e pela candura muito pessoal que caracteriza os seus textos. Atingido pela tuberculose, que causaria a sua morte precoce, passou a residir no Portinho da Arrábida, com a panorâmica serra da Arrábida a alimentar o culto pela paisagem presente na sua obra. Foi, entretanto, instituído, com o seu nome, um Prémio Nacional de Poesia. Estreou-se com Serra Mãe, em 1945. Publicou ainda Loas a Nossa Senhora da Arrábida (1946, em colaboração com Miguel Caleiro), Cabo da Boa Esperança (1947) e Campo Aberto (1951). Após a sua morte, foram editados Pelo Sonho é que Vamos (1953), Diário (1958), Itinerário Paralelo (1967), O Segredo é Amar (1969) e Cartas I (1994)." escritas org.
domingo, 27 de setembro de 2020
Ao Domingo Há Música
sábado, 26 de setembro de 2020
João Pedro Grabato Dias
Termino com uma passagem da homenagem que lhe prestei nas minhas memórias: “Como poeta, como pintor, como fazedor, como criador, como intrépido desvendador de territórios ignotos, António Quadros foi um dos raros génios que tive o privilégio de conhecer, em vida. Não me apetece, neste caso, estar com cuidado a medir as palavras: disse “génio” e disse bem."
S. Pedro do Estoril, 19.08.2020
Eugénio Lisboa, em Crónica publicada no JL nº 1304, de 23 de Setembro a 6 de Outubro de 2020.
sexta-feira, 25 de setembro de 2020
A Arte segundo Camus
Albert Camus escreveu muito e magistralmemte. É possível construir um dicionário de ideias com muitas das reflexões que deixou nos seus livres. Houve quem o fizesse. Eis algumas sobre Arte:
ARTE/ FILOSOFIA: "Por que sou eu um artista e não um filósofo? É
porque penso segundo as palavras e não segundo as ideias."
("Cadernos")
ARTE/ FINALIDADE: "A finalidade da arte não é de legislar ou
reinar, mas em primeiro lugar, a de compreender. [...] Por isso o artista, ao
chegar ao fim do caminho, absolve em vez de condenar. Não é juiz, mas defensor.
É o advogado perpétuo da criatura viva. Porque está viva. Exorta
verdadeiramente ao amor ao próximo, que não é esse amor longínquo que degrada o
humanismo contemporâneo do catecismo de tribunal." ("Discursos da
Suécia")
ARTE: "A arte não é para mim um prazer solitário É uma maneira
de comover o maior número possível de homens, oferecendo-lhes uma imagem
privilegiada dos sofrimentos e alegrias comuns." ("Discursos da Suécia")
quinta-feira, 24 de setembro de 2020
As vozes do Outono
Mark é acompanhado por Roland Guerin (bass), Donald Edwards (drums), Jim Pryor (piano), e Diana Krall (vocals). Released in 1997. (Verve Records)
Early Autumn
When an early autumn walks the land and chills the breeze
And touches with her hand the summer trees
Perhaps you'll understand what memories I own
There's a dance pavilion in the rain all shuttered down
A winding country lane all russet brown
A frosty window pane shows me a town grown lonely
That spring of ours that started so April-hearted
Seemed made for just a boy and girl
I never dreamed, did you, any fall would come in view
So early, early
Darling, if you care, please, let me know
I'll meet you anywhere, I miss you so
Let's never have to share another early autumn
terça-feira, 22 de setembro de 2020
A ideia de Deus
segunda-feira, 21 de setembro de 2020
Deixa ficar comigo...
PARAÍSO
para que a luz do Sol me não constranja.
Numa taça de sombra estilhaçada,
deita sumo de lua e de laranja.
onde eu ouça o estertor de uma gaivota...
Crepite, em derredor, o mar de Agosto...
E o outro cheiro, o teu, à minha volta!
que acendas, para tudo ser perfeito,
à cabeceira a luz do teu joelho,
Podes partir. De nada mais preciso
para a minha ilusão do Paraíso.
David Mourão-Ferreira (1927 – 1996), in "Infinito Pessoal" , Guimarães editores, 1963
OS AMANTES SEM DINHEIRO
Tinham lendas e mitos
e frio no coração.
Tinham jardins onde a lua passeava
de mãos dadas com a água
e um anjo de pedra por irmão.
Tinham como toda a gente
o milagre de cada dia
escorrendo pelos telhados;
e olhos de oiro
onde ardiam
os sonhos mais tresmalhados.
à roda dos seus passos.
Mas a cada gesto que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
e deslumbrado penetrava nos espaços.
Eugénio de Andrade (1923 – 2005), in “Antologia Breve”, Editora Limiar – Outubro.1985
O BEIJOComo uma tampa azul cobrindo o Tejo.
Querela de aves, pios, escarcéu.
Ainda palpitante voa um beijo.
De algum quarto perdido no desejo?
De algum jovem amor que recebeu
Mandado de captura ou de despejo?
Vai batendo como a própria vida,
Um coração vermelho pelo ar.
De duas bocas que se juntam, loucas!
De inveja as gaivotas a gritar...
Alexandre O'Neill (1924 — 1986), in “'No Reino da Dinamarca' ,Editora Relógio D'Água
domingo, 20 de setembro de 2020
Ao Domingo Há Música
sábado, 19 de setembro de 2020
Ajuda-me a olhar!
sexta-feira, 18 de setembro de 2020
Os livros da rentrée
Sinopse
Quichote, de Salman Rushdie, publicado pela Editora Dom Quixote, está nas livrarias em Setembro.
Sinopse
"Inspirado pelo clássico de Cervantes, Sam DuChamp, um medíocre autor de livros de espionagem, cria Quichotte, um cortês e apatetado vendedor ambulante obcecado pela televisão que é vítima de uma paixão impossível por uma estrela de TV. Acompanhado pelo seu filho (imaginário) Sancho, Quichotte empreende uma picaresca busca pela América a fim de se mostrar digno da sua mão, arrostando valorosamente com os tragicómicos perigos de uma era em que Tudo-Pode-Acontecer. Entretanto, o seu criador, que vive uma crise de meia-idade, enfrenta igualmente os seus imperiosos desafios. Tal como Cervantes escreveu Dom Quixote para satirizar a cultura do seu tempo, Rushdie transporta o leitor numa desvairada corrida através de um país à beira do colapso moral e espiritual. E, com aquela magia narrativa que é a imagem de marca da obra de Rushdie, as vidas amplamente realizadas de DuChamp e Quichotte interpenetram-se numa busca profundamente humana do amor e num retrato perversamente divertido de uma época em que os factos são tantas vezes indistinguíveis da ficção. "
Na
Planície das Serpentes, de Paul Theroux, com chancela de Quetzal Editores. Em
Setembro nas livrarias.
Sinopse
1 — A Minha Luta: O Fim, de Karl Ove Knausgård
2 — A Quinta dos Animais: O Romance Gráfico, de George Orwell (Adaptado e Ilustrado por Odyr)
3 — Fogos, de Marguerite Yourcenar
4 — A Ciência de Interstellar, de Kip Thorne
5 — A Noite das Barricadas, de H. G. Cancela
6 — Sapatos de Corda, de Mónica Baldaque
7 — Peregrino e Estrangeiro: Ensaios, de Marguerite Yourcenar
8 — EstojoPoesia Édita e Inédita, de Miguel-Manso
9 — Mary Ventura e o Nono Reino, de Sylvia Plath
10 — O Sítio do Lugar Nenhum, de Norberto Morais
11 — Reino Transcendente, de Yaa Gyasi
12 — A Muralha, de Agustina Bessa-Luís
13 — O Almanaque do Céu e da Terra, de Cristina Carvalho