Flash Mob no metro de Copenhaga .Morning Mood de Grieg arranca sorrisos aos passageiros. Começar o dia com música , mesmo inesperada , é um convite à alegria.
"A coisa mais indispensável a um homem é reconhecer o uso que deve fazer do seu próprio conhecimento" Platão
terça-feira, 31 de março de 2015
segunda-feira, 30 de março de 2015
O Testamento de Vieira da Silva
Vieira
da Silva, "A
cidade suspensa",1952 -Óleo sobre tela,
Musée des Beaux-ArtsLille, França
|
O Testamento de Vieira da Silva
Eu lego aos meus amigos
Um azul cerúleo para voar alto.
Um azul cobalto para a felicidade.
Um azul ultramarino para estimular o espírito.
Um vermelhão para o sangue circular alegremente.
Um verde musgo para apaziguar os nervos.
Um amarelo ouro: riqueza.
Um violeta cobalto para o sonho.
Um garança para deixar ouvir o violoncelo.
Um amarelo barife: ficção científica e brilho; resplendor.
Um ocre amarelo para aceitar a terra.
Um verde veronese para a memória da primavera.
Um anil para poder afinar o espírito com a tempestade.
Um laranja para exercitar a visão de um limoeiro ao longe.
Um amarelo limão para o encanto.
Um branco puro: pureza.
Terra de siena natural: a transmutação do ouro.
Um preto sumptuoso para ver Ticiano.
Um terra de sombra natural para aceitar melhor a melancolia negra.
Um terra de siena queimada para o sentimento de duração.
Vieira da Silva
Eu lego aos meus amigos
Um azul cerúleo para voar alto.
Um azul cobalto para a felicidade.
Um azul ultramarino para estimular o espírito.
Um vermelhão para o sangue circular alegremente.
Um verde musgo para apaziguar os nervos.
Um amarelo ouro: riqueza.
Um violeta cobalto para o sonho.
Um garança para deixar ouvir o violoncelo.
Um amarelo barife: ficção científica e brilho; resplendor.
Um ocre amarelo para aceitar a terra.
Um verde veronese para a memória da primavera.
Um anil para poder afinar o espírito com a tempestade.
Um laranja para exercitar a visão de um limoeiro ao longe.
Um amarelo limão para o encanto.
Um branco puro: pureza.
Terra de siena natural: a transmutação do ouro.
Um preto sumptuoso para ver Ticiano.
Um terra de sombra natural para aceitar melhor a melancolia negra.
Um terra de siena queimada para o sentimento de duração.
Vieira da Silva
domingo, 29 de março de 2015
Ao Domingo Há Música
"O cinema é um modo divino de contar a vida."
Federico Fellini
"É nos cinemas que se realiza o único mistério totalmente moderno."
André Breton
Há um fascínio na imagem cinematográfica que nos toca e nos arrebata. Diz-se que fazer cinema é fazer Arte, por isso a designação de Sétima Arte.
Todos nós guardámos intacta a recordação de vários filmes que vimos ao longo da vida. A música é uma parte integrante da imagem e frequentemente a legenda mais importante.
Recuámos no tempo e inventariámos algumas bandas sonoras famosas que marcaram e que são quase o cartão de visita do filme.
Federico Fellini
"É nos cinemas que se realiza o único mistério totalmente moderno."
André Breton
Há um fascínio na imagem cinematográfica que nos toca e nos arrebata. Diz-se que fazer cinema é fazer Arte, por isso a designação de Sétima Arte.
Todos nós guardámos intacta a recordação de vários filmes que vimos ao longo da vida. A música é uma parte integrante da imagem e frequentemente a legenda mais importante.
Recuámos no tempo e inventariámos algumas bandas sonoras famosas que marcaram e que são quase o cartão de visita do filme.
sábado, 28 de março de 2015
Somos uma difícil unidade
Só as tuas mãos trazem os frutos
Só as tuas
mãos trazem os frutos.
Só elas
despem a mágoa
destes
olhos, e dos choupos,
carregados
de sombra e rasos de água.
Só elas
são
estrelas
penduradas nos meus dedos.
– Ó mãos
da minha alma,
flores
abertas aos meus segredos.
Eugénio de Andrade, in "As mãos e os frutos", 1948
quinta-feira, 26 de março de 2015
Das Memórias do Cárcere de Camilo
Estátua de Camilo Castelo Branco e de Ana Plácido |
Camilo Castelo Branco esteve preso mais de um ano na cadeia da Relação do Porto, aguardando julgamento por causa do seu relacionamento amoroso com uma mulher casada, Ana Plácido, ela própria também levada para o cárcere.
"Dizem os registos que ninguém queria julgar Camilo por dormir com mulher alheia e a "espinhosa missão" acabou por ser confiada ao pai do escritor Eça de Queirós que despachou uma absolvição por falta de provas, "deixando o povo feliz e contente".
Quanto a José do Telhado o registo diz diferentemente : "Condeno o réu José Teixeira da Silva da freguesia de Caíde de Rei, comarca de Lousada, na pena de trabalhos públicos por toda a vida na Costa Ocidental de África e no pagamento de custas", assim determinou o tribunal."
Resgatou-se uma passagem das Memórias do Cárcere de Camilo Castelo Branco no início da estadia na prisão que se transcreve, seguida de um excerto da Síntese Histórica da Cadeia da Relação do Porto onde são referidas as passagens deste nosso grande escritor e do salteador José do Telhado.
I
Memórias do Cárcere
"Antes de contar como passei a primeira noite de cárcere, perdi-me logo, como, em divagações, que o leitor, já afeito com o meu génio, aceita com benevolência.
Às nove horas da noite, os guardas correram os ferrolhos, e rodaram a chave da pesada porta do meu cubículo, a qual rangia estrondosamente nos gonzos.
Estava sozinho. Sentei-me a esta mesma banca, e nesta mesma cadeira. Estavam aqui defronte de mim alguns livros. Recordo-me de Shakespeare, Plutarco, Sénancour, Bartolomeu dos Mártires, e uma Tentativa sobre a Arte de Ser Feliz por J. Droz. Folheei-os todos, e de todos me fugia o espírito para entrar no coração, e sair de lá em ânsias do inferno que lá ia.
À força de contenção de alma consegui ler e meditar algumas páginas da Arte de Ser Feliz. Em que local eu buscava a árvore dos bons frutos! É este um livro de filosofia racional que preparou o ânimo de seu autor para mais seguras e levantadas crenças na filosofia de Jesus Cristo.
Fez-me bem esta leitura. Principiei logo a pôr em português as vinte páginas que lera, com o intento de fazer publicar o livro inteiro em folhetins.
Fui às três horas da manhã procurar no sono a restauração das forças corporais, que as do espírito, até esta hora, nunca as senti indignas da ousadia com que ele se arremessou a perigosas batalhas com o mundo."
Camilo Castelo Branco, in Memórias do Cárcere, volume I, 2.ª edição, Casa da Viúva Moré – Editora, Porto, 1864,
Camilo Castelo Branco, in Memórias do Cárcere, volume I, 2.ª edição, Casa da Viúva Moré – Editora, Porto, 1864,
A Cadeia da Relação do Porto
"Do lado Nascente do Jardim da Cordoaria, deparamos com a monumentalidade granítica do pesado colosso que é o edifício da Cadeia da Relação. Foi mandado construir por João de Almeida e Melo, iniciando-se as obras em 1765, no reinado de D. José. A conclusão ocorreu em 1796, já quando havia tomado conta do governo D. João VI, como regente, por força da irremediável psicose que havia atingido sua mãe, D. Maria I, em 1791.
(...) A Cadeia da Relação, justificando o nome, serviu de cárcere até à inauguração da actual cadeia de Custóias, em 1974, após a Revolução de Abril. Os presos eram distribuídos pelos diversos pisos, conforme a sua posição social, um pouco à guisa do inferno de Dante. Nos andares de cima, os mais categorizados, ali se situando os catorze "quartos de malta" (celas individuais). Nos "quintos dos infernos", no rés-do-chão, os mais pobres, a ralé, onde os detidos se amontoavam em amplos salões com piso de pedra, as enxovias, com catres imundos em redor, os quais, durante o dia, eram levantados por meio de dobradiças, ficando empinados junto às paredes. Essas celas comuns eram conhecidas pelos nomes de Santo António e de Santa Ana, as destinadas a homens, de Santa Teresa para mulheres, de Santa Rita para menores, de S. Victor e o Segredo para castigos. Havia uma oficina denominada Senhor de Matosinhos. A imundice das enxovias tinha o cimento dos anos e das sucessivas gerações de presos. O cheiro das latrinas era nauseabundo. O ambiente soturno e triste, o que levou D. Pedro V a exclamar, após uma visita, em 1861: "É preciso arrasar tudo isto!".Nos seus soturnos ergástulos albergou muitos presos, alguns célebres: José do Telhado, Camilo Castelo Branco (cela n.º 12). Nesta mesma cela esteve preso o desembargador Gravito, antes de ser enforcado, juntamente com mais nove liberais, em forca instalada na actual Praça da Liberdade, por decisão dos miguelistas. Mais tarde, esteve ali também detido o banqueiro Roriz. Obras recentes preservaram-na. Ana Plácido, então amante de Camilo, esteve instalada num corredor porque não havia celas para senhoras de sociedade. O Duque de Terceira permaneceu, durante algum tempo, na cela n.º 8. O médico que envenenou familiares, Urbino de Freitas, ocupou a n.º 13. João Chagas, por via do seu republicanismo, estava detido nesta cadeia quando eclodiu a abortada revolta de 31 de Janeiro. Os processos relativos a Camilo, Urbino de Feitas e Zé do Telhado, encontram-se no pequeno museu judiciário instalado no Palácio da Justiça do Porto, onde também funciona, actualmente, o Tribunal da Relação, que já tinha saído da Cadeia para se albergar na Rua Formosa, onde, depois, funcionou o Arquivo de Identificação e, agora, está a sede da Liga os Combatentes.É interessante supor Camilo Castelo Branco, de imaginação flamejante, a resmungar na sua cela n.º 12, como leão enjaulado, por ter cometido crime que, agora, já nem o é: relações sexuais com mulher casada. Só o adultério da mulher era punido. O homem casado podia impunemente relacionar-se com mulher que não fosse casada. Sendo-o, como era Ana Plácido, então poderia ser punido, com pena grave, extensível a ambos. Aguardaram, durante mais de um ano, presos o julgamento em que o júri não considerou provados os factos e, por isso, foi proferida sentença absolutória. No cárcere, Camilo continuou a escrever e, no silêncio do último piso, onde se situava a cela com janela para nascente - é a que se situa mesmo por baixo do ângulo esquerdo, de quem está virado para ele, do frontão -, o que mais o irritava era o barulhar ritmado e invariável dos passos do carcereiro sobre as tábuas rangentes do sobrado. De noite, nas longas lucubrações, convenceu-se de que o marido enganado, Pinheiro Alves, teria subornado um outro preso para o matar. Confidenciou esse temor a outro preso que também ali se mantinha, José do Telhado. Este sossegou-o, dizendo-lhe: "- Esteja descansado. Se aqui alguém tentasse contra a sua vida, três dias e três noites não chegariam para enterrar os mortos". Talvez a aura romântica que se havia de formar à volta do célebre salteador, emergisse também do reconhecimento do escritor pela protecção dispensada. Camilo encerrou o seu livro "Memórias do Cárcere", desabafando: "Fecham-se as memórias. Eu devia ter dito porque estive preso um ano e dezasseis dias. Não disse, nem digo, porque verdadeiramente ainda não sei por que foi." Claro que sabia. O que poderia não entender era o rigor dos preconceitos vitorianos da época, aos quais, afinal, surpreendentemente, o Tribunal se não vergou.José Teixeira da Silva (Zé do Telhado) nasceu em 1816, provavelmente no lugar do Telhado, do concelho de Penafiel. Alistou-se nos Lanceiros da Rainha D. Maria II, tomando parte em vários combates, ascendendo distintamente ao posto de sargento. Obedeceu às ordens de Saldanha na Revolta dos Marechais, em 12 de Julho de 1837, que colocou no poder o marquês Sá da Bandeira. Na Revolução de 1846, acompanhou o então Visconde Sá da Bandeira a Valpaços, e em boa hora para aquele, pois lhe salvou a vida. Recebeu a Torre-e-Espada, ordem honorífica criada por D. Afonso V destinada a distinguir elementos das forças armadas, tendo os seus possuidores honras militares e precedência a todas as outras ordens daquelas forças, em igualdade de grau. Terminada a guerra após a Convenção de Gramido, tentou obter um modesto emprego no Depósito do Tabaco, instituição economicamente importante para o norte, nomeadamente para o Porto e que o grande jurista e liberal, membro do Sinédrio, Ferreira Borges salvara da gula dos franceses comandados por Junot. Não lhe deram o emprego. Desiludido, voltou para casa onde o esperavam a mulher e cinco filhos à beira da miséria. Acabou numa falperra à semelhança de um irmão, do pai e do avô Sodiano, distribuindo generosamente o produto dos roubos. Foi julgado por isso e por assassínio de três pessoas, cometidos pelos seus capangas: um padre, um criado da Casa do Carrapatelo e um correligionário que, num assalto fôra ferido, ficando incapaz de fugir. Foi deportado para Angola onde morreu cheio de prestígio entre os indígenas, no Malongo ou em Xissa, em 1875.
Nas tranquibérnias políticas do tempo de D. Maria II, após a sangrenta guerra civil que opôs liberais e miguelistas, as várias tendências políticas hostilizavam-se permanentemente e os governos caíam como fruta madura. Bastava o Marechal Saldanha tomar a iniciativa de um golpe militar, e logo mais um governo devia constituir-se em substituição de outro que tombara. Foi a época da Setembrada, da Belenzada, da Revolta dos Marechais, da Maria da Fonte, da Patuleia. Foi na sequência do este movimento, a influenciar o Porto, que o prestigiado duque de Terceira, de seu nome completo, António José de Sousa e Meneses Severim de Noronha, foi enviado para esta cidade, na esperança de que a força do seu enorme prestígio acalmasse os ânimos. Em vez disso, foi preso, por pouco tempo, embora, quando exercia as funções de lugar-tenente da Rainha. A prisão foi ordenada e efectuada pelo patuleico José da Silva Passos que, com todo o respeito, teve a coragem de pedir que se considerasse preso, ao que ele obedeceu prontamente e deu entrada tranquilamente na Cadeia.O velho edifício, depois de muito e ingloriamente se haver discutido acerca do seu destino, saiu do âmbito do Ministério da Justiça, de onde nunca deveria ter saído, por coerência histórica e lealdade à tradição. É hoje a sede do Instituto Português da Fotografia e local de realização de actividades culturais. As enxovias têm espectaculares condições acústicas."
Porto, Novembro de 1998
Porto, Novembro de 1998
(O texto de síntese histórica do Tribunal da Relação do Porto é da autoria do Sr. Conselheiro José Pereira da Graça),Tribunal da Relação do Porto.
"As Memórias do Cárcere de Camilo Castelo Branco são como que o emocionante historial dos antecedentes da sua entrega à prisão (“Discurso preliminar” e o empolgante relato da experiência carcerária, ao lado da “amante querida”: a terrível sensação de isolamento […]; a leitura e a escrita como salvatério; as visitas de camaradas e amigos; os estímulos de solidariedade, e, sobretudo, a presença e convivência com a estranhíssima humanidade que o rodeava (falsários, salteadores, assassinos, prostitutas — gente vária que, por esta ou aquela razão, infringira os códigos sociais vigentes), povoando um universo espúrio, num ambiente húmido e sombrio de ódios recalcados, a resguardo de muralhas espessas, que o rei D. Pedro V, depois de sair de lá, da primeira vez que lá esteve, dissera: “Isto precisa de ser completamente arrazado”. […]in Cabral, Alexandre — Dicionário de Camilo Castelo Branco. Lisboa: Caminho, 1988
Cinco minutos de cinema
"Em apenas cinco minutos e 26 segundos, Jacob T. Swinney conseguiu resumir 55 filmes. Como? Colocou lado a lado os primeiros e últimos segundos das várias películas. O resultado é mágico.
Birdman, O Padrinho II, Touro Enraivecido ou Melancolia são alguns dos filmes que Jacob T. Swinney — o autor deste vídeo viral — decidiu incluir nesta espécie de ensaio. Ao longo de apenas cinco minutos e meio, os primeiros e últimos frames de mais de 50 filmes são confrontados num díptico que, em alguns casos, é surpreendente. Veja-se o exemplo de Birdman: reparou neste pormenor quando viu o filme? E quanto a Gone Girl, assumiu que a imagem que fechava o filme era a mesma que o iniciava? Olhe que não.
Algumas destas imagens vão fazê-lo sorrir. Grande parte prova que nada é deixado ao acaso quando se trata de uma boa obra cinematográfica. Para o ajudar a guiar nesta viagem siga a lista dos filmes, ao segundo."Observador
The Master: 00:09
Brokeback Mountain: 00:15
No Country for Old Men: 00:23
Her: 00:27
Blue Valentine: 00:30
Birdman: 00:34
Black Swan: 00:41
Gone Girl: 00:47
Kill Bill Vol. 2: 00:53
Punch-Drunk Love: 00:59
Silver Linings Playbook: 01:06
Taxi Driver: 01:11
Shutter Island: 01:20
Children of Men: 01:27
We Need to Talk About Kevin: 01:33
Funny Games (2007): 01:41
Fight Club: 01:47
12 Years a Slave: 01:54
There Will be Blood: 01:59
The Godfather Part II: 02:05
Shame: 02:10
Never Let Me Go: 02:17
The Road: 02:21
Hunger: 02:27
Raging Bull: 02:31
Cabaret: 02:36
Before Sunrise: 02:42
Nebraska: 02:47
Frank: 02:54
Cast Away: 03:01
Somewhere: 03:06
Melancholia: 03:11
Morvern Callar: 03:18
Take this Waltz: 03:21
Buried: 03:25
Lord of War: 03:32
Cape Fear: 03:38
12 Monkeys: 03:45
The World According to Garp: 03:50
Saving Private Ryan: 03:57
Poetry: 04:02
Solaris (1972): 04:05
Dr. Strangelove: 04:11
The Astronaut Farmer: 04:16
The Piano: 04:21
Inception: 04:26
Boyhood: 04:31
Whiplash: 04:37
Cloud Atlas: 04:43
Under the Skin: 04:47
2001: A Space Odyssey: 04:51
Gravity: 04:57
The Searchers: 05:03
The Usual Suspects: 05:23
quarta-feira, 25 de março de 2015
Orpheu, Cinema, Arte e Literatura
À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!
Em febre e olhando os motores como a uma Natureza tropical -
Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força -
Canto, e canto o presente, e também o passado e o futuro,
Porque o presente é todo o passado e todo o futuro
E há Platão e Virgílio dentro das máquinas e das luzes eléctricas
Só porque houve outrora e foram humanos Virgílio e Platão,
E pedaços do Alexandre Magno do século talvez cinquenta,
Átomos que hão-de ir ter febre para o cérebro do Ésquilo do século cem,
Andam por estas correias de transmissão e por estes êmbolos e por estes volantes,
Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando,
Fazendo-me um acesso de carícias ao corpo numa só carícia à alma.
Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!
Ser completo como uma máquina!
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!
Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto,
Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento
A todos os perfumes de óleos e calores e carvões
Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!
Fraternidade com todas as dinâmicas!
Promíscua fúria de ser parte-agente
Do rodar férreo e cosmopolita
Dos comboios estrénuos,
Da faina transportadora-de-cargas dos navios,
Do giro lúbrico e lento dos guindastes,
Do tumulto disciplinado das fábricas,
E do quase-silêncio ciciante e monótono das correias de transmissão!
Horas europeias, produtoras, entaladas
Entre maquinismos e afazeres úteis!
Grandes cidades paradas nos cafés,
Nos cafés - oásis de inutilidades ruidosas
Onde se cristalizam e se precipitam
Os rumores e os gestos do Útil
E as rodas, e as rodas-dentadas e as chumaceiras do Progressivo!
Nova Minerva sem-alma dos cais e das gares!
Novos entusiasmos de estatura do Momento!
Quilhas de chapas de ferro sorrindo encostadas às docas,
Ou a seco, erguidas, nos planos-inclinados dos portos!
Actividade internacional, transatlântica, Canadian-Pacific!
Luzes e febris perdas de tempo nos bares, nos hotéis,
Nos Longchamps e nos Derbies e nos Ascots,
E Piccadillies e Avenues de L'Opéra que entram
Pela minh'alma dentro!
Hé-lá as ruas, hé-lá as praças, hé-lá-hô la foule!
Tudo o que passa, tudo o que pára às montras!
Comerciantes; vários; escrocs exageradamente bem-vestidos;
Membros evidentes de clubes aristocráticos;
Esquálidas figuras dúbias; chefes de família vagamente felizes
E paternais até na corrente de oiro que atravessa o colete
De algibeira a algibeira!
Tudo o que passa, tudo o que passa e nunca passa!
Presença demasiadamente acentuada das cocotes
Banalidade interessante (e quem sabe o quê por dentro?)
Das burguesinhas, mãe e filha geralmente,
Que andam na rua com um fim qualquer;
A graça feminil e falsa dos pederastas que passam, lentos;
E toda a gente simplesmente elegante que passeia e se mostra
E afinal tem alma lá dentro!
(Ah, como eu desejaria ser o souteneur disto tudo!)
A maravilhosa beleza das corrupções políticas,
Deliciosos escândalos financeiros e diplomáticos,
Agressões políticas nas ruas,
E de vez em quando o cometa dum regicídio
Que ilumina de Prodígio e Fanfarra os céus
Usuais e lúcidos da Civilização quotidiana!
Notícias desmentidas dos jornais,
Artigos políticos insinceramente sinceros,
Notícias passez à-la-caisse, grandes crimes -
Duas colunas deles passando para a segunda página!
O cheiro fresco a tinta de tipografia!
Os cartazes postos há pouco, molhados!
Vients-de-paraître amarelos como uma cinta branca!
Como eu vos amo a todos, a todos, a todos,
Como eu vos amo de todas as maneiras,
Com os olhos e com os ouvidos e com o olfacto
E com o tacto (o que palpar-vos representa para mim!)
E com a inteligência como uma antena que fazeis vibrar!
Ah, como todos os meus sentidos têm cio de vós!
Adubos, debulhadoras a vapor, progressos da agricultura!
Química agrícola, e o comércio quase uma ciência!
Ó mostruários dos caixeiros-viajantes,
Dos caixeiros-viajantes, cavaleiros-andantes da Indústria,
Prolongamentos humanos das fábricas e dos calmos escritórios!
Ó fazendas nas montras! Ó manequins! Ó últimos figurinos!
Ó artigos inúteis que toda a gente quer comprar!
Olá grandes armazéns com várias secções!
Olá anúncios eléctricos que vêm e estão e desaparecem!
Olá tudo com que hoje se constrói, com que hoje se é diferente de ontem!
Eh, cimento armado, beton de cimento, novos processos!
Progressos dos armamentos gloriosamente mortíferos!
Couraças, canhões, metralhadoras, submarinos, aeroplanos!
Amo-vos a todos, a tudo, como uma fera.
Amo-vos carnivoramente.
Pervertidamente e enroscando a minha vista
Em vós, ó coisas grandes, banais, úteis, inúteis,
Ó coisas todas modernas,
Ó minhas contemporâneas, forma actual e próxima
Do sistema imediato do Universo!
Nova Revelação metálica e dinâmica de Deus!
Ó fábricas, ó laboratórios, ó music-halls, ó Luna-Parks,
Ó couraçados, ó pontes, ó docas flutuantes -
Na minha mente turbulenta e encandescida
Possuo-vos como a uma mulher bela,
Completamente vos possuo como a uma mulher bela que não se ama,
Que se encontra casualmente e se acha interessantíssima.
Eh-lá-hô fachadas das grandes lojas!
Eh-lá-hô elevadores dos grandes edifícios!
Eh-lá-hô recomposições ministeriais!
Parlamentos, políticas, relatores de orçamentos,
Orçamentos falsificados!
(Um orçamento é tão natural como uma árvore
E um parlamento tão belo como uma borboleta).
Eh-lá o interesse por tudo na vida,
Porque tudo é a vida, desde os brilhantes nas montras
Até à noite ponte misteriosa entre os astros
E o mar antigo e solene, lavando as costas
E sendo misericordiosamente o mesmo
Que era quando Platão era realmente Platão
Na sua presença real e na sua carne com a alma dentro,
E falava com Aristóteles, que havia de não ser discípulo dele.
Eu podia morrer triturado por um motor
Com o sentimento de deliciosa entrega duma mulher possuída.
Atirem-me para dentro das fornalhas!
Metam-me debaixo dos comboios!
Espanquem-me a bordo de navios!
Masoquismo através de maquinismos!
Sadismo de não sei quê moderno e eu e barulho!
Up-lá hô jockey que ganhaste o Derby,
Morder entre dentes o teu cap de duas cores!
(Ser tão alto que não pudesse entrar por nenhuma porta!
Ah, olhar é em mim uma perversão sexual!)
Eh-lá, eh-lá, eh-lá, catedrais!
Deixai-me partir a cabeça de encontro às vossas esquinas.
E ser levado da rua cheio de sangue
Sem ninguém saber quem eu sou!
Ó tramways, funiculares, metropolitanos,
Roçai-vos por mim até ao espasmo!
Hilla! hilla! hilla-hô!
Dai-me gargalhadas em plena cara,
Ó automóveis apinhados de pândegos e de...,
Ó multidões quotidianas nem alegres nem tristes das ruas,
Rio multicolor anónimo e onde eu me posso banhar como quereria!
Ah, que vidas complexas, que coisas lá pelas casas de tudo isto!
Ah, saber-lhes as vidas a todos, as dificuldades de dinheiro,
As dissensões domésticas, os deboches que não se suspeitam,
Os pensamentos que cada um tem a sós consigo no seu quarto
E os gestos que faz quando ninguém pode ver!
Não saber tudo isto é ignorar tudo, ó raiva,
Ó raiva que como uma febre e um cio e uma fome
Me põe a magro o rosto e me agita às vezes as mãos
Em crispações absurdas em pleno meio das turbas
Nas ruas cheias de encontrões!
Ah, e a gente ordinária e suja, que parece sempre a mesma,
Que emprega palavrões como palavras usuais,
Cujos filhos roubam às portas das mercearias
E cujas filhas aos oito anos - e eu acho isto belo e amo-o! -
Masturbam homens de aspecto decente nos vãos de escada.
A gentalha que anda pelos andaimes e que vai para casa
Por vielas quase irreais de estreiteza e podridão.
Maravilhosamente gente humana que vive como os cães
Que está abaixo de todos os sistemas morais,
Para quem nenhuma religião foi feita,
Nenhuma arte criada,
Nenhuma política destinada para eles!
Como eu vos amo a todos, porque sois assim,
Nem imorais de tão baixos que sois, nem bons nem maus,
Inatingíveis por todos os progressos,
Fauna maravilhosa do fundo do mar da vida!
(Na nora do quintal da minha casa
O burro anda à roda, anda à roda,
E o mistério do mundo é do tamanho disto.
Limpa o suor com o braço, trabalhador descontente.
A luz do sol abafa o silêncio das esferas
E havemos todos de morrer,
Ó pinheirais sombrios ao crepúsculo,
Pinheirais onde a minha infância era outra coisa
Do que eu sou hoje...)
Mas, ah outra vez a raiva mecânica constante!
Outra vez a obsessão movimentada dos ónibus.
E outra vez a fúria de estar indo ao mesmo tempo dentro de todos os comboios
De todas as partes do mundo,
De estar dizendo adeus de bordo de todos os navios,
Que a estas horas estão levantando ferro ou afastando-se das docas.
Ó ferro, ó aço, ó alumínio, ó chapas de ferro ondulado!
Ó cais, ó portos, ó comboios, ó guindastes, ó rebocadores!
Eh-lá grandes desastres de comboios!
Eh-lá desabamentos de galerias de minas!
Eh-lá naufrágios deliciosos dos grandes transatlânticos!
Eh-lá-hô revoluções aqui, ali, acolá,
Alterações de constituições, guerras, tratados, invasões,
Ruído, injustiças, violências, e talvez para breve o fim,
A grande invasão dos bárbaros amarelos pela Europa,
E outro Sol no novo Horizonte!
Que importa tudo isto, mas que importa tudo isto
Ao fúlgido e rubro ruído contemporâneo,
Ao ruído cruel e delicioso da civilização de hoje?
Tudo isso apaga tudo, salvo o Momento,
O Momento de tronco nu e quente como um fogueiro,
O Momento estridentemente ruidoso e mecânico,
O Momento dinâmico passagem de todas as bacantes
Do ferro e do bronze e da bebedeira dos metais.
Eia comboios, eia pontes, eia hotéis à hora do jantar,
Eia aparelhos de todas as espécies, férreos, brutos, mínimos,
Instrumentos de precisão, aparelhos de triturar, de cavar,
Engenhos brocas, máquinas rotativas!
Eia! eia! eia!
Eia electricidade, nervos doentes da Matéria!
Eia telegrafia-sem-fios, simpatia metálica do Inconsciente!
Eia túneis, eia canais, Panamá, Kiel, Suez!
Eia todo o passado dentro do presente!
Eia todo o futuro já dentro de nós! eia!
Eia! eia! eia!
Frutos de ferro e útil da árvore-fábrica cosmopolita!
Eia! eia! eia! eia-hô-ô-ô!
Nem sei que existo para dentro. Giro, rodeio, engenho-me.
Engatam-me em todos os comboios.
Içam-me em todos os cais.
Giro dentro das hélices de todos os navios.
Eia! eia-hô! eia!
Eia! sou o calor mecânico e a electricidade!
Eia! e os rails e as casas de máquinas e a Europa!
Eia e hurrah por mim-tudo e tudo, máquinas a trabalhar, eia!
Galgar com tudo por cima de tudo! Hup-lá!
Hup-lá, hup-lá, hup-lá-hô, hup-lá!
Hé-la! He-hô! H-o-o-o-o!
Z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z!
Ah não ser eu toda a gente e toda a parte!
Àlvaro de Campos
Há cem anos, no dia 24 de Março da 1925, foi publicado o primeiro número da revista Orpheu que fechava com os últimos versos deste poema Ode Triunfal, de Álvaro de Campos, (heterónimo de Fernando Pessoa). A revista foi preenchida com colaboração de: Luís de Montalvor, "Introdução"; Mário de Sá-Carneiro, "Para os Indícios de Oiro" (poemas); Ronald de Carvalho, "Poemas"; Fernando Pessoa, "O Marinheiro" (drama estático); Alfredo Pedro Guisado, "Treze Sonetos"; José de Almada-Negreiros, "Frizos" (prosas); Côrtes-Rodrigues, "Poemas" e de Álvaro de Campos, "Opiário" e "Ode Triunfal".
Cinema Paraíso, um clássico, em cópia restaurada
"A 8 1/2 começa hoje com um dos filmes mais esperados do ano, O País das Maravilhas, de Alice Rohrwacher, vencedor do Grande Prémio do Júri de Cannes. Até dia 2 de Abril, no Cinema São Jorge e na Cinemateca
Uma festa de cinema que é um festival e mostra. Uma festa que é mesmo uma festa e um serviço público por uma cinematografia. A partir de hoje, Lisboa recebe a 8 1/2 Festa do Cinema Italiano pela oitava vez, mas talvez seja agora que tudo se consolida. Uma programação ambiciosa e, por fim, uma atenção mediática ao nível dos maiores festivais em Portugal e, pelo menos, da rival Festa do Cinema Francês.
Olhamos para o programa e acreditamos que o novo cinema italiano é uma realidade. É de Itália que surgem os novos nomes mais entusiasmantes para um mercado que não se compadece apenas pelos exemplos do cinema de arte e ensaio mais rude, mas mesmo aí também têm sido de Itália os títulos com mais rasto de culto. Uma fase do cinema italiano que garante diversidade e uma predisposição à renovação. Não é todos os dias que chegam a Portugal nomes como Alice Rohrwacher, a cineasta que venceu o Grand Prix de Cannes com O País das Maravilhas (filme de abertura), a actriz Alba Rohrwacher, no cartaz com dois filmes, precisamente O País das Maravilhas e Corações Inquietos, de Saverio Costanzo, também na capital. É com propriedade que se pode dizer que é de luxo este elenco." DN
Saiba mais:
"A Casa da América Latina convida a estar presente na inauguração da Man Booker International Prize 2015. que reúne treze das vinte e três fotografias presentes no poema Ar de Arestas, de Iacyr Anderson Freitas, livro que publicaram em parceria.
A inauguração será no dia 26 de Março, das 18h30 às 20h30, e contará com a participação dos músicos Luizinho Lopes e Bré."Mia Couto finalista do Man Booker International Prize 2015
«O escritor moçambicano é finalista de um dos mais importantes concursos do mundo literário, com um prémio de 81 500 euros. O primeiro a escrever em língua portuguesa.
A organização anunciou, hoje, os nomes dos dez finalistas do Man Booker International Prize 2015. Para além de Mia Couto (Moçambique), estão na corrida os escritores César Aira (Argentina), Hoda Barakat (Líbano), Maryse Condé (Guadalupe), Amitav Ghosh (Índia), Fanny Howe (Estados Unidos da América), Ibrahim al-Koni (Líbia), Lázló Krasznahorkai (Hungria), Alain Mabanckou (República do Congo) e Marlene van Niekerk (África do Sul).
Os nomes foram avançados pela presidente do júri, Marina Warner, numa conferência de imprensa realizada hoje, na Cidade do Cabo, na África do Sul. Nenhum dos escritores foi finalista de uma edição anterior e a proporção de escritores traduzidos em inglês nunca foi tão grande, atingindo uma percentagem de 80%. Esta é também a primeira vez que um escritor de língua portuguesa figura na lista de finalistas.
O júri do prémio Man Booker International é constituído por escritores e académicos. Este ano, de entre os jurados, destacam-se nomes como o de Nadeem Aslam, romancista, crítica e professora de Literatura Inglesa na Universidade de Oxford Elleke Boehmer; Edwin Frank, o diretor da revista New York Classics Series, e Wen-chin Ouyang, professor de Literatura Árabe Comparada na Universidade de Londres.
Instituído em 1969, o concurso literário é um dos mais importantes do mundo e já distinguiu vários escritores de renome, entres os quais William Golding, Salman Rushdie, Ian McEwan e Eleanor Catton
O anúncio do vencedor deste ano será revelado numa cerimónia a realizar no Museu Victoria and Albert, em Londres, a 19 de Maio.» Gazeta do Rossio
Morreu Herberto Helder
e a atenção começa a florir, quando sucede a noite
esplêndida e vasta.
Não sei o que dizer, quando longamente teus pulsos
se enchem de um brilho precioso
e estremeces como um pensamento chegado. Quando,
iniciado o campo, o centeio imaturo ondula tocado
pelo pressentir de um tempo distante,
e na terra crescida os homens entoam a vindima
— eu não sei como dizer-te que cem ideias,
dentro de mim, te procuram.
Quando as folhas da melancolia arrefecem com astros
ao lado do espaço
e o coração é uma semente inventada
em seu escuro fundo e em seu turbilhão de um dia,
tu arrebatas os caminhos da minha solidão
como se toda a casa ardesse pousada na noite.
— E então não sei o que dizer
junto à taça de pedra do teu tão jovem silêncio.
Quando as crianças acordam nas luas espantadas
que às vezes se despenham no meio do tempo
— não sei como dizer-te que a pureza,
dentro de mim, te procura.
Durante a primavera inteira aprendo
os trevos, a água sobrenatural, o leve e abstracto
correr do espaço —
e penso que vou dizer algo cheio de razão,
mas quando a sombra cai da curva sôfrega
dos meus lábios, sinto que me faltam
um girassol, uma pedra, uma ave — qualquer
coisa extraordinária.
Porque não sei como dizer-te sem milagres
que dentro de mim é o sol, o fruto,
a criança, a água, o deus, o leite, a mãe,
o amor,
que te procuram.
Herberto Helder, in «Tríptico», (publicado em A Colher na Boca, 1961), Poesia Toda, Lisboa, Assírio &Alvim, 1990
Morreu o poeta Herberto Helder
« " A Morte sem Mestre" o livro de inéditos ,publicado em Junho de 2014, já esgotado, foi o último título do poeta Herberto Helder, falecido aos 84 anos na segunda-feira na sua casa em Cascais.
« " A Morte sem Mestre" o livro de inéditos ,publicado em Junho de 2014, já esgotado, foi o último título do poeta Herberto Helder, falecido aos 84 anos na segunda-feira na sua casa em Cascais.
A obra foi publicada na Porto Editora, que também no ano passado publicou a poesia completa em "Poemas completos", obra que segue a fixação empregue na edição anterior, "Ofício cantante", e inclui os esgotados "Servidões", foi considerado pela crítica literária como o livro do ano em 2013, e "A morte sem mestre".
Herberto Helder estreou-se literariamente em 1958 com a obra "O Amor em visita", à qual se seguiu, os títulos "A colher na boca", "Poemacto" e "Lugar", editados nos princípios da década de 1960.
O poeta madeirense começou a trabalhar para a Emissora Nacional como redactor do noticiário internacional e publicou, entretanto, "Os passos em Volta", obra reeditada pelo Porto Editora, em Janeiro último.
Em 1968, envolveu-se na publicação de "Filosofia na Alcova", do Marquês de Sade, que desencadeou um processo judicial no qual foi condenado, com pena suspensa, o que não impediu que fosse despedido da rádio oficial.
Neste mesmo ano publicou "Apresentação do Rosto", uma autobiografia, livro que foi apreendido pela Censura.
Em 1969 tornou-se director literário da Editorial Estampa, onde começou a publicar a obra completa de Almada Negreiros.
Depois de ter trabalhado como repórter de guerra em Angola, partiu para os Estados Unidos, em 1973, ano em que publicou "Poesia Toda", reunindo a sua produção poética até então, e fez uma tentativa falhada de publicar "Prosa Toda".
A Portugal, voltou só depois do 25 de Abril, já em 1975, para trabalhar na rádio e em revistas, como meio de sobrevivência, tendo sido editor da revista literária Nova, de que se publicaram apenas dois números.
Depois de publicar, nos anos seguintes, mais algumas obras, entre as quais "Cobra" (1977), "O Corpo, o Luxo, a Obra" (1978) e "Photomaton & Vox" (1979), remeteu-se ao silêncio.
Em 1977 enviou uma carta à revista Abril, endereçada a Eduardo Prado Coelho, na qual sobre si escreveu: "O que é citável de um livro, de um autor? Decerto a sua morte pode ser citável. E, sobretudo, o seu silêncio".
Por isso, pediu aos amigos que não falassem dele num documentário que António José de Almeida pretendia realizar para a RTP2, em 2007.
O documentário, "Meu Deus, faz com que eu seja sempre um poeta obscuro", acabou por ser feito, mas apenas adensou o mistério em torno da figura do poeta, já que 17 das 29 pessoas contactadas pela produção se recusaram a dar o seu testemunho.
Em 2008 publicou "A faca não corta o fogo -- Súmula & Inédita", sucedendo-se no ano seguinte "Ofício Cantante".
Segundo a Porto Editora, Herberto Helder é um "poeta maior que ficará entre a meia dúzia de nomes incontornáveis da poesia portuguesa do século XX".»DN
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terça-feira, 24 de março de 2015
Quando o mesmo não é igual
Quando uma canção é bela merece ser interpretada com talento e qualidade. Nem sempre o intérprete está preparado para o fazer . É, então, o atropelo para não dizer o esmagamento da obra. No entanto, a mesma canção pode brilhar em vozes diferenciadas e em tempos diferentes. A peculiaridade de cada voz veste a canção de nova roupagem ou de brilhante sonoridade.
Procurámos uma canção que evidenciasse esse efeito. "In the Wee Small Hours of the Morning" reúne essas características como objecto de grande sucesso em vozes talentosas, ao longo do tempo.
Apresentamos cinco versões desta canção por nomes grandes do panorama musical.
"In the Wee Small Hours of the Morning" foi composta em 1955 , por David Mann, com letra de Bob Hilliard. Frank Sinatra foi o cantor que a introduziu no Álbum In the Wee Small Hours de 1955.
A VIDA SECRETA DAS MÁQUINAS
“Poderá argumentar-se que boa parte da
música de Rodrigo Leão é contemplativa e que olha para o interior: da alma do
seu compositor, claro, e da alma humana, lidando com emoções, sentimentos,
questões universais que nos definem - o amor, a paixão, a vida... Mas um compositor,
sobretudo um criador irrequieto como Rodrigo Leão, anda permanentemente em
busca de desafios, de novas formas de expressão, de novas paisagens para
pintar. E é aí que entra A Vida Secreta das Máquinas. Este projecto nasceu numa viagem a Goa e os primeiros esboços foram feitos com gravações de velhos electrodomésticos captados com o iphone. E depois ganhou vida maior: no festival
Lisb On que decorreu no Parque Eduardo VII, passou pelas ideias que Rodrigo
dividiu em palco com Olafur Arnolds e tem uma primeira amostra num disco que a
revista Blitz trouxe até junto do seu público. Rodrigo Leão fala de um trabalho
mais ambiental e aponta os obras de Brian Eno ou David Sylvian como referencias
para as suas explorações que já se haviam de alguma forma manifestado também no
álbum A Montanha Mágica. Em palco, os seus teclados electrónicos serão
acompanhados por um quarteto de cordas, por Marco Alves em trombone e por João
Eleutério em guitarras e mais sintetizadores. Paisagens aventureiras que no CCB
marcarão o arranque de um ciclo de concertos que levará o título Classic Waves
e onde se explorará essa intersecção entre os universos electrónico e erudito. “Blitz
Quando: 2015-03-24 21:00:00
Local: Centro Cultural de Belém, Lisboa
Preço: 20-40€
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