terça-feira, 31 de outubro de 2017

Uma noite no Museu

Museu de Cusco: minha noite na cama de Bolívar 
Por Manoel de Andrade
         “ No dia 10 de Janeiro de 1970 tomei um trem para Cusco. Em Juliaca embarcou um mochileiro e sentou-se à minha frente e passamos a trocar nossas memórias de caminhantes. Era argentino, estava conhecendo o Vale Sagrado a caminho de Cusco, onde chegámos ao anoitecer. Ele não conhecia a cidade, estava com pouco dinheiro e me propus ajudá-lo. Eu planejava dormir numa peça aos fundos  do Museu Histórico, como fazia antes de viajar para Lima, em Novembro. Trazia um bom dinheiro com a venda dos meus livretos em Arequipa e em Puno, mas não queria gastá-lo com hotel.  Sabia  que meu amigo Enrique Macias, o “Kiko”, já voltara de Arequipa e me aguardava. Como já disse anteriomente, Enrique Macias era o administrador do Museu Histórico de Cusco, cujo tio era o director e,  como meses atrás eu e o equatoriano Simón Pachano dormíramos um tempo naquela peça do Museu, fui procurá-lo, como combinámos, mas também para pedir abrigo para o meu companheiro de viagem. Encontrámos o “Kiko” na casa de seu tio e ele saiu connosco em direcção ao Museu. No caminho, nos disse que aquela peça onde eu já dormira estava ocupada com tralhas da instituição, mas que ele encontraria um lugar onde pudéssemos passar aquela noite. Abriu o museu e levou-nos por algumas salas em busca de um lugar para passarmos a noite. Finalmente, conduziu-nos para a parte nobre do museu, onde se encontravam as peças mais importantes da história de Cusco e nos disse:
       --- Vocês dormirão esta noite na cama onde dormiu Simón Bolívar, quando passou por aqui. Eu já sabia que aquela era a cama de Bolívar porque tudo ali me era familiar. Fiquei um pouco surpreendido com a cumplicidade que nascia entre nós três, afinal aquilo poderia se tornar um escândalo nacional e sul-americano: dois mochileiros suados, com a roupa do corpo, depois de uma longa viagem de trem, dormir na cama do grande caudilho e herói da independência hispano-americana. O argentino estava achando aquilo inacreditável e dizendo que dormir na cama de Bolívar seria a sua maior aventura desde que saira da Argentina. Eu abri minha mochila, tirei um pequeno cobertor e estendi com reverência sobre o colchão, para não macularmos com nossas transpirações, a história e o lugar onde dormiu um dia o Libertador da América. Que estranha honra nos aprontava o destino. Iríamos passar a noite dormindo naquela ampla sala da casa onde, também, quatrocentos anos atrás, vivera o grande Garcilazo de La Vega, chamado o Príncipe dos escritores do Novo Mundo. Não sei se pensei em tudo isso naqueles momentos. Estávamos cansados e quando deitámos naquele colchão duro só acordámos pela manhã com as palavras atropeladas do “Kiko” dizendo que levantássemos imediatamente, pois um funcionário do museu chegara antes dele a já abrira a porta para os turistas que caminhavam entre as salas. Foi a conta exacta de enfiarmos os sapatos, pôr as mochilas nas costas, enquanto as vozes se aproximavam. Saímos disfarçando o olhar diante dos quadros, ante a surpresa dos turistas pois que sabiam eram os primeiros a entrar naquele salão. Na verdade senti-me constrangido pela imagem da instituição, mas o argentino segurava o riso. Afastámo-nos discretamente, cabelos despenteados, cara de sono,  ainda meios zonzos pelo súbito despertamento e sob os olhares de dois homens e três mulheres de meia idade que nos olhavam insistentemente, embora não ousassem imaginar, suponho, que havíamos dormido naquele local. Mas todo aquele momento mágico ficou preso ao seu próprio encanto e este facto somente foi contado, na época, em carta para meus familiares e está sendo publicamente relevado  agora, nestas páginas. O argentino sumiu nos dias seguintes rumo a Pisac e a Machu Picchu, e eu me ajeitei, dormindo no chão, entre móveis e caixas que ocupavam a peça ao fundo do museu.
Se o gesto fraterno de Enrique Macias foi, para mim, apenas uma circunstancial aventura ou se foi um ultraje à memória de Bolívar, deixo o facto ao juízo dos meus leitores, mas não creio que nosso acto seja tão ultrajante à memória de Cusco como foram as concessões ao comércio elitizado, à instalação de boutiques de luxo  e ao turismo de aparências que promoveu Alberto Fujimori em seu governo, maculando as tradições comerciais indígenas e a imagem cultural do Centro Histórico da cidade. " Manoel de Andrade, in « NOS RASTROS DA UTOPIA, uma memória crítica da AMÉRICA LATINA, nos anos 70», Editora Escrituras, S. Paulo, Brasil, Março de 2014

Manoel de Andrade, poeta brasileiro, foi uma das vítimas da Ditadura no Brasil. Exilado, percorreu cerca de dezassete países da América Latina, apregoando os seu ideais libertários e recitando os seus poemas. Desse tempo, saiu um registo de um longo rememorar que nos transporta à época onde a utopia iluminava os trilhos da esperança num novo Mundo. « NOS RASTROS DA UTOPIA, uma memória crítica da AMÉRICA LATINA, nos anos 70»
Para Manoel de Andrade ,este livro de Memórias é, acima de tudo, a longa crónica de um poeta que sonhou com o impossível, e cruzou tantas fronteiras, acreditando que pudesse mudar o mundo com seus versos. É também um convite a viajar por caminhos e por um tempo fascinantes, em que o sonho e a esperança comandavam os rumos da História. Um tempo em que se repartia a vocação solidária de um mundo melhor. Eis porque este livro é o quinhão da utopia que me resta.»

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Desobediência Civil

" Sempre que os juristas tentam justificar a desobediência civil com fundamentos morais e legais constroem a sua argumentação sobre a imagem ou do objector  de consciência ou do homem  que testa  a constitucionalidade de um texto legal. O problema é que a situação do participante na desobediência civil não tem qualquer analogia com nenhum deles pela simples razão de que ele não existe nunca como individuo isolado; só pode funcionar e sobreviver como membro de um grupo. Isto raramente é admitido e, mesmo nas raras circunstâncias em que o  é , só marginalmente é mencionado;  " a desobediência civil praticada por um indivíduo não tem probabilidade de ter muito efeito. O indivíduo será olhado como um excêntrico mais interessante de observar do que de suprimir. A desobediência civil significativa, portanto, será praticada por um certo número de pessoas que têm uma comunidade de interesses." Hannah Arendth, in Desobediência Civil, Ed. Relógio D'Água, Janeiro de 2017

domingo, 29 de outubro de 2017

Ao Domingo Há Música

"A música não exprime nunca o fenómeno, mas unicamente a essência íntima de todo o fenómeno, numa palavra  a própria  vontade. Portanto não exprime  uma alegria especial ou definida, certas  tristezas, certa dor,  certo medo,  certo transporte, certo prazer, certa serenidade  de espírito, mas a própria alegria, a tristeza, a dor , o medo, os transportes, o prazer, a serenidade de espírito; exprime-lhes a essência abstracta, sabemos compreendê-la perfeitamente."
                                            Artur Schopenhauer, Dores do Mundo


Bon Iver, em   Michicant. Uma canção sobre o medo , a infância e a mudança das estações  que evidencia a soberba  amplitude vocálica de  Bon Iver e o singular virtuosimo  de Michael Lewis, no saxofone. Uma magnífica primeira actuação da tourneé mundial de "Cercle" , na Sydney Opera House  , no Vivid LIVE festival, 2016.
Bon Iverem  22 ( (OVER S∞∞N) no  Rock the Garden, 2017.

sábado, 28 de outubro de 2017

Picasso e Lautrec

Exposición Lautrec-Picasso, en el museo Thyssen de Madrid.  
Picasso-Lautrec, a la luz del aguardiente
Picasso es un genio diabólico que se sirvió de la inspiración de otros artistas para escalar la cima del arte
Por Manuel Vicent
"Ignoro si existen pruebas de laboratorio capaces de descubrir las reacciones anímicas que producen las obras de arte. En este caso, si a un esteta muy refinado le colocaran unos sensores en las sienes y en el pecho conectados a un aparato programado para detectar las emociones estéticas y a continuación le mostraran un cuadro de Picasso, no resultaría extraño que en algún punto muy sensible del cerebro de este espectador se produjera una descarga negativa con una primera reacción de repulsa. La obra de Picasso raramente genera una sensación placentera, no despierta en el espectador el deseo de convertirse en una de sus figuras.
Sucede lo contrario con Matisse, un pintor tan goloso y habitable. ¿A quien no le gustaría sumarse a su rueda de cuerpos desnudos que danzan al son de un caramillo de pastor o vivir en una de sus cálidas alcobas de luz color tortilla en las que se ve el mar entre cortinas o acompañarle en su viaje al profundo sur de palmeras y huríes recostadas en los divanes o participar en la alegría de vivir entre muchachas campestres que se desperezan sobre la hierba? Picasso es un pintor admirado, pero no amado. En cierto modo es un genio diabólico, creador de formas, que se sirvió de la inspiración de otros artistas para escalar la cima del arte hasta conseguir su destrucción.
“Esconded a vuestras mujeres”, avisaba algún amigo ante la llegada del seductor Petronio a una fiesta romana. Lo mismo decían de Picasso sus colegas cuando los visitaba en su estudio. Matisse, Braque y Juan Gris solían esconder sus últimos trabajos, porque sabían que se podía apropiar de sus secretos. Ved aquí a Juan Gris en el Bateau Lavoir de Montmartre, alimentado con sopa de huesos de aceitunas tomándose con una seriedad y rigor absolutos su trabajo. A Picasso le bastaba con mirar de soslayo por encima del hombro el cuadro que estaba realizando su amigo con el cartabón para absorber como un mago su contenido y convertirlo luego en una obra propia llena de libertad, humor y descarada soltura sin esfuerzo alguno.
Pablo Picasso ya conocía la pintura de Toulouse Lautrec cuando en 1904, después de dos viajes preliminares, a los 23 años se instaló definitivamente en París, ataviado de joven bohemio con pipa y chambergo. Picasso en Barcelona había sido asiduo de la taberna de Els Quatre Gats, donde Ramón Casas e Isidro Nonell le habían hablado y ponderado el trabajo de ese aristócrata de aspecto deforme, nacido en Albi, en 1864, de cabeza grande, con apenas metro y medio de estatura debido a las piernas atrofiadas por dos caídas del caballo cuya figura se había convertido en un icono emblemático de aquel mundo de cafés cantantes, cabarets, prostíbulos, salas de baile, circos y teatros de Montmartre.
Lautrec seguía el consejo escatológico de Ingres: “Dibuja un buen perfil y cágate dentro”. Bajo la luz pegajosa que exhalaba el vapor del aguardiente en los tugurios, Lautrec había tomado imágenes en directo con el pulso nervioso de aquellas criaturas a quienes la historia, como a él mismo en su divertida perversión, había arrojado al estercolero social y se habían acogido a los últimos placeres malditos.
Pablo Picasso, desde Montmartre, se abatió sobre esa estética y entró a saco en la misma galería de personajes cuando Lautrec ya había muerto a los 37 años. Llegado a este punto, si uno visita la exposición en el Museo Thyssen donde se muestran los cuadros de la época azul de Picasso superpuestos a la obra de Lautrec, cabe preguntarse cuál de estos dos formidables artistas es el verdadero creador, a quién pertenecen en propiedad intelectual estas criaturas desesperadas, en qué cuadros hay más técnica, más verdad, más compasión. Es una cuestión muy difícil de dilucidar. En Lautrec hay dolor y vicio, él mismo era una de esas figuras ebrias y malditas, un señorito calavera, que formaba parte del paisaje nocturno. Picasso solo era un artista superdotado, un profesional que levantó acta de una miseria ajena.
En 1906 se celebró en París la exposición retrospectiva de Cezànne. En ella, Picasso descubrió que Cezànne, al modular las figuras por planos con espátula, había desestructurado la materia. El cubismo había empezado y Picasso libre, diabólico y feliz llevó esta destrucción hasta las últimas consecuencias, empezando por el rostro de sus amantes. No es ilícito pensar que Picasso pudo sentir un supremo gozo creativo a la hora de descuartizar a las mujeres, reinventar sus cuerpos y extorsionar su expresión para hacerlas completamente suyas creándolas de nuevo a su antojo. “Cuando un cuerpo de mujer no cabe en el cuadro, se le cortan las piernas y se ponen al lado de las orejas”, decía Picasso. Los sensores en las sienes y en el corazón de un esteta refinado podrían detectar esta verdad: Picasso será siempre un revulsivo. Manuel Vicent , Babellia, El País, 27.10.2017

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Curiosidades

Curiosidades dos Estados Unidos que até os americanos desconhecem
Por José Cabrita Saraiva
"Sabe de onde vem a palavra dólar? Por que Henry Ford chamou T ao seu famoso automóvel? Como eram os primeiros hambúrgueres? O comum dos americanos também não. Mas Bill Bryson, o mais popular dos eruditos, explica-nos estas e outras curiosidades em Made in America, que acaba de ser editado em Portugal pela Bertrand.
Autor, viajante e antigo jornalista, Bill Bryson é uma figura altamente popular nos Estados Unidos. Vendeu milhões de livros, detém 11 doutoramentos honoris causa e até já foi representado no cinema pelo actor Robert Redford. A sua obra mais conhecida, Breve História de Quase Tudo (ed. Bretrand), propõe uma viagem pela história do planeta e da ciência - Bryson escreveu-a porque achava que os manuais escolares deixavam de fora as partes mais interessantes.
Agora, a Bertrand acaba de publicar em Portugal o seu livro Made in America (originalmente publicado nos EUA em 1994), onde o autor procura, através da etimologia das palavras, iluminar aspectos mais ou menos obscuros de diferentes facetas da sociedade norte-americana - até as aparentemente mais prosaicas ou insignificantes. Destas páginas divertidas e eruditas, escolhemos dez excertos do livro de Bryson que formam um caleidoscópio sobre a história e a cultura dos Estados Unidos.

Dólar - a moeda da Boémia
«Dollar vem de joachimstaler, moeda cunhada pela primeira vez na cidade de Joachimstal, na Boémia, em 1519 e que depois se espalhou pela Europa com o nome de daler, thaler e táler. No contexto americano, dollar foi registado pela primeira vez em 1683. Dime, ou disme, como estava escrito nas primeiras moedas, é uma corruptela do francês dixième, e deveria ser pronunciada ‘díme’, embora, ao que se julga, quase ninguém o fizesse».

Franklin e a arte do engate
«A vida de Franklin é um exemplo de diligência incansável. Inventou uma infinidade de objectos úteis e ajudou a criar o primeiro corpo de bombeiros voluntários dos Estados Unidos, a primeira companhia de seguros contra incêndios (a Hand-in-Hand), uma das primeiras bibliotecas de Filadélfia […]. E, no meio de tudo isto, ainda conseguiu arranjar tempo - mesmo muito tempo - para prosseguir a sua maior paixão, embora a menos celebrada: to roger (engatar) toda e qualquer mulher que lhe passasse pela frente».

O primeiro livro escrito à máquina
«Mark Twain foi a primeira pessoa a escrever um livro numa máquina de escrever, a typemachine, como ele insistia em chamar-lhe. Orgulhou-se disso numa nota autobiográfica, dizendo que tinha sido As Aventuras de Tom Sawyer, mas a memória traiu-o. Foi A Vida no Mississípi».

Alfabeto Ford
«Ainda na primeira metade da década [1910-1920], a América detinha 85 por cento da produção de carros em todo o mundo […].
Grande parte do mérito de tudo isto pode ser atribuído a uma única pessoa, Henry Ford, e a um veículo estranhamente chamado modelo T. Ford usou sempre iniciais para os primeiros carros, mas de uma maneira decididamente fortuita. Por razões, ao que parece, que ninguém registou, resolveu desprezar sequências completas do alfabeto. Os seus primeiros modelos foram o A, B, C, F, K, N, R e o S, antes de finalmente produzir, no dia 1 de Outubro de 1908, o seu primeiro carro universal, o modelo T».

O nascimento do computador
«A palavra [computador] existe em inglês desde 1646, mas inicialmente era usada apenas na expressão on who computes (‘aquele que computa’). O nome foi dado em 1872 a um tipo de máquina de somar e finalmente, em 1940, computer adquiriu o significado de máquina desenhada para efectuar cálculos electrónicos complicados e intrincados. A primeira destas máquinas a ser assim denominada foi a Eletronic Numeral Integrator and Computer (ou ENIAC), construída em 1945. […] Nos Estados Unidos, em 1956, não havia mais de uma dúzia de computadores. […] Mesmo em 1976, ano em que a Apple Computer foi fundada, havia pouco mais de 50 mil computadores no mundo. Uma década depois, esse era o número de computadores fabricados diariamente». 

O inventor do centro comercial
«O responsável pela concepção e design do moderno centro comercial não foi um americano, mas o vienense Victor Gruen, que chegou à América fugido do Anschluss [anexação] austríaco em 1938, apenas com oito dólares no bolso. Em doze anos, tornou-se um dos mais bem-sucedidos arquitectos urbanos dos Estados Unidos. Ironicamente, a intenção de Gruen não era a criação de um novo e mais eficiente modo de vender, mas recriar na América a atmosfera relaxada dos cafés de sociedade existentes nos centros urbanos de muitas sociedades europeias. Os shopping centers - ou shopping towns, como ele preferia chamar-lhes - seriam locais onde toda a vizinhança se reuniria, pontos de fuga da comunidade onde as pessoas pudessem passear e encontrar-se com amigos, tomar um café ou comer um gelado, e apenas ocasionalmente fazer compras».

As origens do hambúrguer
«Existem indícios que apontam para já haver um Hamburg steak na ementa do restaurante Delmonico’s, em 1836 ou 1837. A primeira aparição incontestada foi registada no Boston Journal de 16 de Fevereiro de 1884, onde se lê: ‘Pega-se numa galinha e coze-se. Quando estiver fria, corta-se tal como se faz com a carne para fazer um Hamburg steak’. Como acontece muitas vezes com as primeiras citações, o contexto torna que por esta altura o prato já era bem conhecido. Infelizmente, indica também que era um prato diferente do que conhecemos hoje, que levava carne cortada em bocados em vez de carne moída, e que era servido frio».

Lóbis e lobistas
«Também em Albany [estado de Nova Iorque] surgiu na mesma altura [década de 1820] o termo muito necessário lobbyist, significando alguém que se passeava no lobby (‘átrio’) do Capitólio, a tentar meter ‘cunhas’ aos legisladores que iam passando. (Passeavam-se no lobby porque lhes era proibido entrar nas câmaras legislativas)».

A bibliotecária que baptizou a estatueta dourada
«Nenhum comentário ao léxico hollywoodiano ficaria completo sem a menção por passageira que seja, aos Óscares e à maneira como estas famosas estatuetas douradas obtiveram o seu nome. Poucos termos utilizados em qualquer área criativa engendraram explicações etimológicas mais variadas. Talvez a mais plausível de todas seja a que segundo Margaret Herrick, bibliotecária da Academy of Motion Pictures Arts and Sciences, terá dito quando viu o protótipo: ‘Oh, faz-me lembrar o meu tio Oscar!’».

A frase mal citada que entrou para a História
«De acordo com o historiador Richard Hanser, [o astronauta Neil] Armstrong ficou espantado e desiludido quando, ao regressar ao seu planeta de origem, verificou que tinha sido mal citado em todo o lado [nos títulos dos jornais]. O que tinha dito fora: That’s one smal step for a man, one giant leap for mankind (‘É um pequeno passo para um homem [ele próprio] e um passo gigante para a humanidade’). O artigo indefinido [‘um’] perdera-se na transmissão».José Cabrita Saraiva,Jornal i  07/10/2017

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

O nosso Universo

O Big Bang não foi o início do universo
"Pensar que o Universo e tudo o que nele existe nasceu no momento do Big Bang é “um dos maiores erros”, segundo o astrofísico e escritor científico Ethan Siegel.
O Universo e tudo o que nele existe, nasceu no momento do Big Bang. Esta é uma imagem “atractiva” que explica muito do que vemos.
Mas, por azar, também é incorrecta, e os “cientistas já o sabem há quase 40 anos”, sustenta um artigo para a Forbes do astrofísico e escritor científico Ethan Siegel, que qualifica o Big Bang como “um dos maiores equívocos de sempre”.
Segundo recorda Siegel, a ideia original sugere que o universo surgiu de um estado quente e denso e, neste momento, encontra-se em expansão e a esfriar.
Se “continuarmos a extrapolar” até ao passado, o universo tornar-se-ia “mais quente, denso e compacto”, até chegar a um momento em que “a densidade e a temperatura se elevam a valores infinitos, onde toda a matéria e energia no universo estão concentradas num único ponto: uma singularidade”.
O autor do artigo sustenta que essa singularidade – onde as leis da física se rompem – também é “o ponto final”, que representa a origem do espaço e do tempo.
No entanto, há enigmas que a teoria do Big Bang não consegue explicar, como por exemplo, o facto de o universo ter a mesma temperatura em todos os seus extremos, mesmo que não tenham tido tempo de se comunicar entre si desde o início.
Em 1979, o cientista americano Alan Guth propôs uma alternativa à “singularidade” do Big Bang: a teoria da inflação cósmica, que consistia na existência de uma fase média de expansão exponencial anterior ao Big Bang, e que poderia resolver todos estes problemas.
Neste estado cósmico, as flutuações quânticas continuariam a existir, e ao expandir-se no espaço, estender-se-iam pelo universo, criando regiões com densidades de energia ligeiramente superiores ou ligeiramente inferiores da média, explica Siegel.

Quando esta fase do universo chegasse ao fim, essa energia converter-se-ia em matéria e radiação, criando o estado quente e denso, ou seja, o Big Bang.
Para comprovar a ideia, era necessário medir essas flutuações do brilho excedente do Big Bang e encontrar um padrão particular consistente com as previsões da inflação. Nos anos 1990, 2000 e de novo em 2010, os cientistas “mediram essas flutuações ao detalhe” e encontraram “exactamente isso”, assinala Siegel.
A conclusão era “incontornável”: o Big Bang “definitivamente ocorreu”, mas só depois da fase da inflação cósmica. O que ocorreu antes – ou se a inflação era eterna no passado – “continua como uma questão aberta”, mas uma coisa é certa: de acordo com o cientistas, “o Big Bang não é o começo do Universo“.Zap,Setembro de 2017
Cientistas encontram algo “inexplicável” em Marte: gelo
"Cientistas descobriram em Marte algo praticamente impossível de existir: água em estado sólido perto da linha do equador de Marte.
Ao analisar imagens de arquivo de Marte da NASA, uma equipa de cientistas liderada por Jack Wilson, da Universidade Johns Hopkins (EUA), descobriu indícios de hidratação significativa – possivelmente, de água em estado sólido – perto da linha do equador do Planeta Vermelho. Segundo estimativa da NASA, não deveria existir água nessa região.
Na análise, os investigadores decidiram processar novamente os dados recolhidos entre 2002 e 2009 pelo espectrómetro de neutrões instalado a bordo da sonda espacial Mars Odyssey.
A equipa melhorou consideravelmente a qualidade das imagens, reduzindo as partes opacas e obtendo imagens mais nítidas da superfície de Marte.
A equipa descobriu inesperadamente grandes quantidades de hidrogénio, que em altas latitudes é sinal de gelo enterrado, na zona de formação Medusae Fossae. Mas a ciência não consegue explicar como água congelada poderia ser preservada nessa zona.
A teoria principal é que a mescla de gelo e pó, provenientes de áreas polares, pode ter realizado um ciclo através da atmosfera quando a inclinação axial de Marte era maior do que a actual.
NASA / JPL - Cal Tech / Univ. de Arizona
“Hidrogénio equivalente à água” (azul escuro) em algumas partes 
da região da linha do equador de Marte
Ao mesmo tempo, Wilson destaca que isso deveria ter ocorrido há milhões de anos e que qualquer fracção de gelo depositada na zona deveria ter desaparecido há muito tempo.
“Isso continua um mistério digno de estudo adicional, e Marte continua a surpreender-nos”, concluiu Wilson.
A NASA destaca que a presença de água em estado sólido perto da linha do equador de Marte representa grande interesse para as expedições futuras a Marte, pois astronautas poderiam utilizá-la como fonte de água ou para a produção de combustível de hidrogénio." Sputnik News, 4 Outubro, 2017

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Pelos direitos humanos e a dignidade de todas as pessoas

“O mundo enfrenta desafios graves. Um aumento dos conflitos e das desigualdades. Condições meteorológicas extremas e elevados níveis de intolerância. Ameaças à nossa segurança, incluindo no plano das armas nucleares”, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, na mensagem para o Dia da ONU, marcado neste 24 de Outubro.

Interlúdio Musical

Lisa Gerrard, em One Perfect Sunrise.

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Uma revelação

A palmeira de Nguézi
"No lugar de Nguézi há uma palmeira sagrada, dizem que nascida antes do mundo. Do colmo pende um único fruto, de aparência estranha e que nunca pode ser olhado. Porque, segundo a lenda, os olhos que ali apontem se enchem de estrelas mais que as que poeiram a própria noite.
A razão dessa palmeira, vertida sobre as águas do rio, se transcreve aqui. Nem tudo se explica, para que se compreenda melhor. Para ver a gente necessita transparência, mas se tudo fosse transparente todos seríamos cegos. Ficará a saber-se: em tempos de apocalipse o histórico se converte em religioso. E vice-versa. A crença da palmeira sagrada nasceu de um facto tropeçando num acontecimento.
Estava o mundo numa tarde, dessas de lamber o tempo. Na varanda se dispunha Tonico Canhoto. Quem o visse parecia ele estava na simples disposição de estar, sereno e demorado em existir. Para o Canhoto era sempre o mesmo: o tempo, nestes dias, está muito depressa. Convém a gente se resguardar.
Mas, por dentro, o nosso varandeante se abatia a abismos. Talvez era a monotonia do campo, esse morre-morre de esperar e ficar à espera. Talvez era esse o motivo de seu esmorecimento.
- “Pai, há-de haver acontecimento, o senhor vai ver.
- “Vocês não entendem, filhos. Eu não careço de acontecimentos, não. Eu pretendo é uma revelação”.
Uma revelação? A outra filha se aproximou e tentou um consolo. E lhe perguntou: já ele olhara quanta árvore, quanta extensão pelos aís foras?
- “Se não vejo? Vejo o mato todo, em volta. Está tudo morto, tudo seco.
- “Engano seu: o mato não está seco. Apenas vazou o verde, apenas engordou o amarelo.
- “Conversa afiada”.
Os filhos desistiram. A Canhoto lhe custava simplesmente existir. Morrer é fácil, difícil é existir-se morto, simplesmente havido, quieto e inestudável. E mais, aliás, menos nada. Tonico ficara assim desde que sua mulher Razia desaparecera, ida sabe-se com quem, desconhece-se para onde. Fora há uns anos, mas a ferida era ainda maior que a cicatriz. Quando sucedeu, nesse tempo em que tudo era tudo, Canhoto anunciou aos numerosos filhos:
- “Vossa mãe, meus filhos. Vossa mãe, ela faleceu”.
Todos sabiam que era mentira. Ela tinha desistido de constar, tentada em mulherar-se em outros lugares. Deixado o marido em órfã viuvez, desconsolado.
Tinha-se passado tempo, os miúdos cresceram, se graúdaram e se graduaram em pais e mães. O que sobrava agora eram netos. Naquela tarde, fazia anos que a avó saíra. Falecera, como dizia o avô Canhoto. A família se juntava, como era costume.
A netaria espalhava algazarras e a alegria barulhava pela varanda. Mas, o velho Tonico Canhoto se debruçava triste sobre a paliçada. Em seu magro corpo já não cabia mais angústia. Os filhos tentaram distrair a tentação dessa tristeza. Em vão. O homem já havia se decidido que a sua vida era sem depois. Nada enfeitava a sua esperança. Todos calaram quando ele anunciou:
- “Vou daqui ao rio”.
Todos lhe adivinharam o intento: ele se iria deixar tombar, encher-se de líquido até se ensopar como se o dele corpo fosse roupa, ido na corrente, nem corpo nem alma.
Ainda o tentaram desvanecer. Mas o velho tinha dado de testa naquela decisão.
E assim se ergueu, perante a numerosa família, todos assistindo o ancião se afastar' converso em bruma. Chegado à margem, levantou os braços e assim, imóvel como pau de vela, as roupas lhe começaram a cair, desabadas por forças nenhumas, só por via de seu magro peso. A sua gente o viu nu, completamente. Constaram, no momento, que seu corpo se mantinha de músculo e lustro, a idade se concentrara apenas em sua cabeça. Ficou um tempo nessa espécie de despedida, Cristo sem crucifixo. Ou simples esquecido talvez do passo próximo?
Nesse entretempo, o lugar se apoclipsou. A terra, em desfecho de estrondos, se estremeceu. Em basaltos e baixos, esguichos de água fervente e fogos de martifício, estrelas rebentavam como borbulhas na superfície do rio. A casa, junto com seu tecto, insubstanciou-se e ruiu, chão no chão. Os familiares todos se sepultaram, sem espirro nem respiro, apagados, apaguados.
Sobrou quem? O velho Canhoto, próprio. Ele vira a terra se rachar por baixo dos pés, as duas metadas se abrirem como lábios. Nessa greta ele se afundou, pronto a ser engolido, trevoso e súbito. Mas no momento em que seu corpo perdia o pé, a terra se volveu a fechar, ajustada ao corpo. Ficou-lhe só a cabeça de fora. Tudo o resto estava encravado em pedra, rocha, raiz, sobra do mundo. Mexer um dedo, dedículo que fosse, lhe era impossível. O velho rodou a cabeça para avistar em volta. Nada, nem rio nem árvore, nem gente. Só chão, poeira, remoinhos de folhas mortas.
- “Deus me proíbe?”
Chorou. Sem tristeza, só para arrefecer o rosto, deixar a carícia da água lhe premiar a boca. O sol nasceu, esmoreceu, se ocasionou. E dia. E noite. E fome. E sede. Já nem lágrima lhe sobrava. O velho Canhoto que sempre fora acusado de não ter essa parte de si vivia agora exclusivamente de sua cabeça. O resto, já nem lhe restava. Todo ele aprendera a ciência de ser raiz, o orgânico sem organismo. De noite, um cacimbito. De dia, as grainhas de uma ventania. Assim ele se mantinha, feito único receptáculo onda a vida ainda se entesourava.
Foi quando, no fundo do sem-fim, uma andorinha riscou o céu. Feita de conta um desenho torto, um rabisco tonto de um menino, no brevíssimo instante do arrependimento e da borracha. A avezinha, transmeteórica, como uma foice negra ceifou os ares. Voava mais rápido que vivia? Estranhamente, a andorinha pousou na cabeça do velho. Fincou as patas, unhando-lhe a testa, sujando-lhe o cabelo.
O passarito piou, rodopiou e, por fim, meteu o bico nos lábios secos do velho. Lhe dava, se imagine, uma naco de água, qualquerzita migalha. O bico beijou o lábio, o lábio bicou o pássaro: dúzias de vezes, repetidas. O velho perguntou, lábios rasos de silêncio:
- “É você, Razia?”
A ave toda a noite debicou o pescoço de Canhoto. Dizem que, desse mesmo pescoço, ascendeu a matéria do colmo, dos cabelos brotou a folhagem, dos olhos nasceu a florescência. Tudo em jeito de árvore, palmeira e sagrada.
Mia Couto, em Contos do nascer da Terra,Editorial Caminho

domingo, 22 de outubro de 2017

Ao Domingo Há Música


Felizmente que sei
Cantar sem pressa
Que sei recomeçar…
Que sei que há uma promessa
No acto de cantar…
             Miguel Torga

Retirados do poema "Esperança" , estes versos de Miguel Torga implicam um recomeço . Nestes dias de tanta tragédia , a promessa de um novo renascer é urgente. Que se materialize e que neste cantar dos dias se ouça e sinta a voz da redenção.

Damien Rice  & Cantus  Domus , numa extraordinária interpretação de  It Takes a lot To Know a Man, no Michelberger Music, Berlim 2016.

It takes a lot to give,
To ask for help, to be yourself
To know and love what you...

It takes a lot to be, to touch, to feel
The slow reveal of what your body needs...
                         Damien Rice

sábado, 21 de outubro de 2017

O romance da desilusão

Milton Hatoum: “O Brasil vive um eterno romance de desilusão”
O escritor se prepara para lançar o primeiro volume de uma trilogia que fala sobre a ditadura militar
Por André de Oliveira
"Em A Noite da Espera, Hatoum conta a história de Martim, um adolescente paulistano que se muda para Brasília com o pai, que acaba de atravessar uma separação traumática e misteriosa com a sua mãe no fim dos anos 1960. Já em Paris, dez anos depois, o protagonista revisita aqueles anos tentando reconstruir, a partir de memórias, reminiscências e cartas, os anos turbulentos que passou na capital. Assim, a narrativa não é construída por um discurso linear na terceira pessoa, mas conduzida por fragmentos de textos repletos de vazios, interrupções e reflexões. A escolha formal do escritor conversa com a cidade e com o próprio Martim, que se ressente da ausência da mãe, não compreende o momento político do país e descobre um mundo novo a partir do contacto com um grupo de amigos aspirantes a artistas e intelectuais
E esse é um do principais méritos deste primeiro volume da trilogia A Noite da Espera – que Hatoum lança nove anos depois da publicação de seu último romance, Órfãos do Eldorado –, recriar a sensação de isolamento, algo absurdo, que se tinha na Brasília sob a ditadura. Martim e seus amigos pertenciam a uma geração que, se não experimentou a estabilidade e a tranquilidade no Brasil, estava preparada para colher os frutos de um país cada vez mais moderno, livre e inventivo, “mas que foi brusca e brutalmente interrompido pelo golpe”. “A sensação que ficou era essa: a impossibilidade de dizer”.
“É o romance da desilusão no país que vive um eterno romance da desilusão”, diz Hatoum. Para ele, há um claro paralelismo entre o que a geração de Martim – e dele próprio – viveu e o que se vive agora. “O Brasil, parece ser sempre assim, caminha numa trajectória ascendente, com avanços sociais e, de repente, mergulha na desilusão, no desamparo”, continua o escritor. “Hoje, a geração de 1994 é, assim como a de Martim, a geração da desilusão. Eles viram o país avançando para chegar a um momento de ruptura brusca com um impeachment, um golpe parlamentar, que alterou a trajectória ascendente de estabilidade e conquistas”.
Escrevendo o romance faz cerca de sete anos, o escritor não poderia saber o clima turbulento que o lançamento do primeiro livro encontraria, mas diz não se espantar. “Voltamos, novamente, ao ‘pequenino fascismo tupiniquim’ de que Graciliano Ramos falava em Memórias do Cárcere [escrito nos anos 1930 durante a prisão do escritor na ditadura Vargas]. De outro modo, por que a performance de um actor nu seria associada à pedofilia?”, indaga. “Só mentes muito obscuras podem fazer essa associação. É uma sociedade que odeia a arte, porque odeia a liberdade. Que se cala ante o assassinato de homossexuais e é favorável a leis que dificultam a fiscalização do trabalho escravo. Eu me pergunto qual é o projecto dessas pessoas. Onde elas querem chegar com isso? Mas não me surpreende. Foi isso ontem, é isso hoje, no Brasil e na América Latina”.Ao longo dos três livros (Hatoum ainda está trabalhando, sem data para lançamento, nos próximos volumes, que se passarão em São Paulo e Paris), Martim vai passando da ingenuidade adolescente para a vida adulta. E, possivelmente, do exílio dentro de seu próprio país em Brasília – fugido de seus traumas pessoais e um pouco alheio ao que acontecia ao seu redor – para a condição de exilado real na fria Europa. Segundo o escritor, sem o seu protagonista não haveria romance de formação e, ademais, ele é o representante da maioria. “Os jovens eram como ele, não como os amigos mais combativos e politizados que ele fez em Brasília. Ele é um ingénuo, imagina uma vida uma casinha caiçara enquanto o Brasil implode”.
Em A Noite da Espera, o trauma da ruptura familiar e o sonho idílico de Martim vêm antes da preocupação política, mas nem uma coisa nem outra são capazes de mantê-lo a salvo do autoritarismo – assim como também acontece com a utopia da capital modelo. Numa passagem do romance, o personagem rema despreocupadamente no lago Paranoá, que circunda toda a cidade, até que, cansado, adormece. É acordado por militares que o levam preso quando seu bote toca a margem do Palácio da Alvorada, residência presidencial – embora o seu único “crime” fosse estar perdido flutuando na água. Martim é toda uma geração: condenada por calhar de ser jovem em 1968, poucos meses antes do Ato Institucional nº5, antes sala da proliferação dos porões e paus-de-arara dos militares." André de Oliveira, El País-Brasil, 21.10.2017

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Capricho Sentimental


Madredeus: Beatriz Nunes - Voz | Ana Isabel Dias - Harpa | Pedro Ayres Magalhães - Guitarra Clássica | Carlos Maria Trindade - Teclas | Luís Clode - Violoncelo
MúsicasLuz Rosa Poente - letra e música de Carlos Maria Trindade | Ouve as Ondas do Mar - letra e música de Pedro Ayres Magalhães | Existimos no Céu - letra e música de Pedro Ayres Magalhães | A Espiral - letra e música de Pedro Ayres Magalhães | Sei Lá - letra e música de Pedro Ayres Magalhães | Águas Passadas - letra e música de Carlos Maria Trindade.
Arranjos de Harpa e Violoncelo dos dois autores para as suas composições e arranjos de cada um para o seu próprio instrumento em todos os temas.
Gravado entre Março e Abril do ano de 2015, no Saafran Studio, no Montijo.
Engenheiros de som foram António Pinheiro da Silva e Luciano Barros.
Edição nos Estúdios VBM com Pedro Ayres e Luciano Barros.
Misturas e Masterização com Pedro Ayres e António Pinheiro.
Direcção Musical e Produção de Pedro Ayres Magalhães
Todas as canções publicadas para todo o mundo por SPA / SACEM
℗ &; © 2015 Éter, Gestão de Carreiras Artísticas Limitada.
Distribuido em Portugal por Sony Music Entertainment Portugal Ltda.
realização e montagem / José F. Pinheiro
fotografia e câmara / Hugo Folgado
câmara / Luís Graciano
focus puller / Silvia Diogo
maquilhagem / Erica Porru
assistente de imagem e iluminação / Diogo Leiria
assistente de realização / Jesus Roque
correcção de cor / Hugo Folgado

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

George Saunders , vencedor do Man Booker Prize 2017

George Saunders
George Saunders é o vencedor do Man Booker Prize 2017
"Lincoln no Bardo", o primeiro romance de George Saunders, é grande vencedor do Man Booker Prize. Saunders é o segundo norte-americano a ganhar o galardão inglês.
Lincoln no Bardo, o primeiro romance de George Saunders, é o vencedor da edição deste ano do Man Booker Prize, um dos mais importantes prémios literários de língua inglesa. Saunders torna-se assim no segundo norte-americano a levar para casa o galardão, no valor de 50 mil libras (56 mil euros), depois de este ter sido atribuído no ano passado a Paul Beatty, autor de The Sellout (O Vendido). Beatty foi o primeiro escritor de nacionalidade norte-americana a receber o prémio.
Num vídeo divulgado através das redes sociais, Baroness Lola Young, presidente do júri deste ano, explicou que o vencedor se destaca dos outros cinco finalistas “pela sua inovação” e “pela forma como foi escrito”. “Um dos jurados referiu-se a ele como fogo-de-artíficio que ilumina o céu e nos faz repensar a maneira como encarávamos coisas como a morte e o luto e nos faz reconciliar com a nossa própria e com a mortalidade dos outros, principalmente daqueles que amamos“, referiu ainda Baroness Lola Young.

“Podemos ficar um bocadinho desconcertados com a forma como a história é apresentada, o formato e a forma como as personagens falam mas, assim que entramos nela, é como fazer parte de um carnaval com muitas, muitas personagens diferentes”, disse ainda a presidente do júri, composto também por Lila Azam Zanganeh, Sarah Hall, Tom Phillips e Colin Thubron.
“Vivemos tempos estranhos”
O anúncio foi feito ao início da noite desta terça-feira, durante uma cerimónia formal no Guildhal, em Londres, e o prémio entregue pela Duquesa de Cornwall, Camilla Parker Bowles. Dirigindo-se à audiência, Saunders admitiu sentir-se honrado com a atribuição do prémio, agradecendo à mulher, Paula, “uma amiga preciosa, visionária e uma heroína artística”. “Não sei se repararam, mas vivemos tempos estranhos”, disse ainda. “Portanto, a questão central é muito simples: respondemos ao medo com exclusão, projeções negativas e violência ou temos fé e damos nosso melhor para responder com amor e com fé na ideia de que o que parece diferente não é, mas somos nós num dia diferente?”
Referindo que “esta noite” se celebrou a cultura — “internacional, compassiva, ativista” –, George Saunders disse que tinha perante si uma “sala cheia de crentes no mundo, na beleza, na ambiguidade e que tentam ver o ponto de vista dos outros, mesmo que seja difícil”, citou o The Guardian.
Lincoln no Bardo, o primeiro romance de George Saunders
Nascido em 1958, no Texas, George Saunders começou a escrever relativamente tarde. Licenciado em engenharia geofísica pela Colorado School of Mines, começou por trabalhar como engenheiro e escritor técnico para a Radian International, em Nova Iorque. Foi só mais tarde, já nos anos 90, que se começou a dedicar à escrita. Estreou-se em 1996 com a coletânea de contos CivilWarLand in Bad Decline, o primeiro de muitos. Em 2000, publicou Pastoralia, aquele que é considerado o seu melhor livro. Ou melhor, era.
Professor de escrita criativa na Universidade de Syracuse, em Nova Iorque, tem também colaborado com vários órgãos de comunicação, como a revista New Yorker ou jornal The Guardian. As suas coletâneas de contos, novelas e trabalhos de não ficção, valeram-lhe ao longo dos anos inúmeros galardões, incluindo o PEN/Malamud Award, em 2013, ou o Folio Prize, no ano seguinte.
A sua última coletânea de contos, Dez de Dezembro, foi publicada em 2013 nos Estados Unidos da América e em 2016 em Portugal, pela Ítaca. Lincoln no Bardo, de 2017, foi a primeira tentativa do autor no romance. Considerado por muitos um dos livros mais aguardados do ano, recebeu críticas elogiosas de jornais como o The New York Times e de autores como Zadie Smith, também nomeada para o Booker Prize, Thomas Pynchon e Jonathan Franzen. Misturando ficção e não-ficção, Lincoln no Bardo passa-se depois da morte do filho de Abraham Lincoln, William Wallace Lincoln, e retrata a dor do presidente dos Estados Unidos da América que, de acordo com relatos da época, terá tido uma depressão. Imaginando que Willie, como William Lincoln era conhecido, ficou preso no bardo, uma espécie de limbo para os budistas tibetanos, Saunders criou um enredo onde os mortos parecem incapazes de aceitar a morte.
Além de ser o segundo romance norte-americano a vencer o Booker Prize, Lincoln no Brado, editado pela Bloomsbury Publishing (com tradução portuguesa da Relógio d’Água), é o terceiro vencedor consecutivo publicado por uma editora independente.
A lista dos seis finalistas do Man Booker Prize foi divulgada a 13 de setembro (CHRIS J RATCLIFFE/AFP/Getty Images)
Além de Saunders, estavam nomeados para o galardão os autores Paul Auster (Estados Unidos da América), com 4 3 2 1 (editado pela Faber & Faber, com tradução portuguesa da ASA), Emily Fridlund (Estados Unidos da América), com History of Wolves (editado pela Weidenfeld & Nicolson), Mohsin Hamid (Paquistão), com Exit West (editado pela Hamish Hamilton), Fiona Mozley (Reino Unido), com Elmet (editado pela JM Originals) e Ali Smith (Reino Unido), com Autumn (editado pela Hamish Hamilton, com tradução portuguesa da Elsinore).
Na altura, o júri descreveu os seis finalistas como “originais” e “inovadores”, e capazes de transmitir uma força única que faz com que seja impossível esquecê-los. “Os seis livros são extraordinários e acima de tudo ousados e adoro o que fazem com a literatura. Tentam empurrar os limites relativamente ao que significa um romance e o que um romance diz sobre o mundo atual”, apontou a crítica literária Lilam Azam Zanganeh.
No ano passado, o galardão foi atribuído The Sellout (editado este ano em Portugal pela Elsinore com o título O Vendido), de Paul Beatty. Beatty, foi o primeiro escritor norte-americano a receber o Man Booker Prize, algo que só foi possível depois de as regras terem sido alteradas em 2014. Nesta data, o Booker passou a estar acessível a escritores de qualquer nacionalidade cujas obras tenham sido escritas originalmente em inglês e publicadas por uma editora registada no Reino Unido."Rita Cipriano, Observador, 17.10.2017

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

A necessidade do amor


«Sofro a necessidade do amor, penso às vezes. E creio senti-la.
Sofro do amor sem partilha, decepcionado. Sofro de desânimo, de desejo, de desalento; sofro.
Aperta-me, comprime-me a secura dos outros. O seu egoísmo, a sua insociabilidade, ou a sua falsa, interesseira sociabilidade, a sua dureza, a sua aridez, a sua volubilidade! Sinto-me repelida por tudo isto.
E não serei... não serei...
Haveria jamais amor que me contentasse?
Correspondência para a minha pobreza e ânsia?
Mas conquistada ela - com o que não sonho - não me sentiria liberta para me deslocar sempre, em corpo e em espírito, em realidade e em desejos?»
Irene Lisboa,in Solidão II, Editorial Presença

terça-feira, 17 de outubro de 2017

O Nobel da Literatura de 2017

Nobel da Literatura
Depois de Dylan, de novo um escritor
Por Diogo Vaz Pinto ,06/10/2017
“Kasuo Ishiguro, o escritor inglês de origem nipónica, vence o mais prestigiado prémio literário e, depois de Bob Dylan, a Academia Sueca retoma a sobriedade
Quem quer que o Nobel da Literatura distinguisse este ano, o mais certo é que desse pelo seu momento de glória num ambiente de fim de festa: o cheiro a despegado, o chão a precisar de ser varrido e as janelas abertas de par em par de modo a desanuviar as coisas. Depois da atribuição do 113º Nobel a Bob Dylan, e ainda sob o efeito da ressaca da farra dos embevecidos fãs e do entusiasmo daqueles que, por uma vez, até sabiam de quem se estava falar; depois de toda a polémica e discussão, das críticas dos que tiveram alguma dificuldade em entender o propósito da Academia Sueca ao entrar no culto de um dos legados artísticos incontornáveis do século XX, um músico que vendeu milhões de álbuns em todo o mundo, provou ser um letrista de excepção, com letras enigmáticas e imbuídas de um imaginário cosido à mão e a partir de milhares de versos lidos na berma de mil caminhos, coube a Kasuo Ishiguro, um escritor inglês de origem nipónica, ocupar o lugar seguinte na lista. É tramado.
O Nobel da Literatura de 2017 foi atribuído a Ishiguro e aos seus “romances de grande força emocional, que revelam o abismo da nossa ilusória sensação de conforto em relação ao mundo”, anunciou ontem de manhã em Estocolmo a secretária permanente da Academia Sueca Sara Danius.
Com uma escrita “marcada por uma expressão cuidadosamente contida, independentemente dos acontecimentos que retrata”, o autor de 62 anos mudou-se aos cinco com a família do Japão para o Reino Unido, quando o pai foi aceite como investigador no National Institute of Oceanography, em Southampton. Educado numa escola de rapazes em Surrey, após ter-se licenciado em 1978 com uma especialização em língua inglesa e filosofia na Universidade de Kent, na Cantuária, trabalhou como assistente social nos bairros mais pobres de Londres. Em 1980 obteve um mestrado em escrita criativa pela Universidade de East Anglia e, três anos depois, foi incluído na lista de melhores jovens escritores britânicos organizada pela Granta, a par de Martin Amis, Ian McEwan e Salman Rushdie.
O comité do Nobel adiantou no Twitter que Ishiguro tem mostrado uma certa propensão para temas relacionados com a falibilidade da memória, o tempo e as ilusões que alimentamos para suportar a vida. Após o anúncio, Sara Danius deu uma curta entrevista difundida em directo em que sublinhou o facto de a Academia distinguir este ano “um escritor de grande integridade” que “desenvolveu um universo estético só seu”. “Kazuo Ishiguro está muito interessado em compreender o passado. Não para o redimir, mas para revelar o que temos de esquecer para sobrevivermos enquanto indivíduos e enquanto sociedade”. A porta-voz do júri confessou ainda que o seu romance preferido do autor é o recente “O Gigante Enterrado”, “uma verdadeira obra-prima que começa como uma comédia de costumes de P.G. Wodehouse e acaba num registo kafkiano”.
Num tom que já de si denuncia a queda da Academia por uma obra cuja originalidade nasce de um sortido de diversas influências, Danius indicou que, além de Kafka, Jane Austen é outra das referências mais notórias na escrita de Ishiguro, acrescentando que para obter a receita completa desta será preciso ainda “acrescentar um pedacinho de Marcel Proust e depois agitar, mas não muito”.
Em declarações à BBC, Ishiguro disse que a atribuição do prémio era “uma magnífica honra - acima de tudo porque significa que estou a seguir as pisadas dos maiores autores que já viveram”. Num comunicado divulgado posteriormente pelo seu editor, o escritor não deixou de encarar a responsabilidade do prémio, e escreve este lhe chega “num momento em que o mundo atravessa uma grande incerteza quanto aos seus valores, lideranças e segurança”. “Só espero que, ao receber esta honra imensa, possa, mesmo que de uma forma modesta, encorajar as forças que se posicionam do lado do bem e da paz neste momento”.
Depois da publicação do seu primeiro romance, “As Colinas de Nagasaki” (1982), Kazuo Ishiguro “tem sido um escritor a tempo inteiro”, sublinhou a Academia Sueca. Longe de ser um autor prolífico, os romances publicados ao longo de 35 anos adoptam muitas vezes uma narração na primeira pessoa, narradores não fiáveis, que frequentemente estão em negação face a verdades que o leitor vai descortinando aos poucos. À semelhança do que viria a acontecer na sua segunda obra, “Um Artista do Mundo Transitório” (1986), editada em Portugal pela Livro Aberto, o romance de estreia tem a sua acção na cidade onde o escritor nasceu (Nagasaki) em 1954, alguns anos depois da Segunda Guerra Mundial e da devastação provocada pela bomba atómica dos EUA.
Numa entrevista concedida ao “Público”, em 2005, Ishiguro falou de como o marcou ter nascido numa cidade onde as cicatrizes da guerra eram tão visíveis: “Acho que todos tememos uma coisa como a bomba atómica, só que eu nasci em Nagasáqui e aprendi o que isso quer dizer de uma maneira diferente da maioria das pessoas. A minha desconfiança na ciência e na capacidade que a sociedade humana tem para gerir as suas próprias descobertas está provavelmente enraizada nesse facto.”
Sara Danius descreveu o autor britânico como “alguém muito empenhado em compreender o passado”, mas apesar das marcas de Proust, garantiu que a sua escrita não pode ser ligada à busca de um tempo perdido, e que não lhe interessa redimir o passado, mas que tem explorado o que é preciso esquecer de modo a que possamos sobreviver antes de tudo como indivíduos ou enquanto sociedade”.
A porta-voz adiantou ainda que, depois das divisões e da polémica do ano passado, esperava que a escolha deste ano fizesse “o mundo feliz”. Mas apressou-se a garantir que a Academia teve apenas como critério a distinção de um “romancista que julgamos ser absolutamente brilhante”.
Entre os nove livros do autor, incluem-se “Os Despojos do Dia”, livro com o qual venceu o Booker Prize, em 1989 e que foi adaptado ao cinema em 1993 por James Ivory, com Anthony Hopkins e Emma Thompson como protagonistas. Outro livro que teve ampla projecção foi “Nunca me Deixes” (2005), um romance distópico adaptado ao cinema em 2010, contando com realização de Mark Romanek e adaptação do argumento por Alex Garland, com Carey Mulligan, Keira Knightley e Andrew Garfield nos principais papéis.
A Relógio D’Água publicou em 1989 “As Colinas de Nagasaki”. Desde então, a obra do autor tem sido dada a conhecer ao público português pela Gradiva, sendo “Nocturnos” (2009) e “O Gigante Enterrado” (2015) os dois livros mais recentes do autor.
Ishiguro escreveu também “Os Inconsolados” (1995, vencedor do Cheltenham Prize) e “Quando Éramos Órfãos” (2000, nomeado para o Booker Prize e para o Whitbread Prize). Entre as múltiplas distinções pela sua obra, conta com a nomeação como Chevalier de l’Ordre des Arts et des Lettres em França, no ano de 1998.
Depois do eco que o galardão teve no ano passado, com a atribuição a Dylan “por ter criado novas formas de expressão poética no quadro da grande tradição da música americana”, naquela que foi considerada a mais radical da história da Academia Sueca, Ishiguro é uma escolha que não supreende - ainda que o seu nome não figurasse entre os favoritos das principais casas de apostas - nem entusiasma. Apesar do quase unânime favor da crítica, está longe de ser um autor incontornável, e o mais provável é que, como aconteceu com Patrick Modiano (que venceu o prémio em 2014), depois de passar a momentânea febre do Nobel, o seu nome volte à segunda linha da literatura contemporânea.
A Academia pagou caro o preço de ter tentado colar-se a Dylan. Este mostrou-se um vencedor hesitante, esquivo. Foi descrito como “indelicado e arrogante” por Per Wastberg, um dos membros do júri, depois de se ter mantido incontactável durante dias a seguir ao anúncio, e é claro que também não compareceu à cerimónia de entrega do prémio em Estocolmo.
Este ano, a canadiana Margaret Atwood, o queniano Ngugi Wa Thiong’o e o japonês Haruki Murakami lideravam as apostas, com António Lobo Antunes a figurar uma vez mais na lista dos tradicionais candidatos ao prémio. Entretanto, as reacções foram chegando e Salman Rushdie, outro dos anuais candidatos ao Nobel, colocou a tónica certa ao felicitar o amigo, sem dar demasiado peso à distinção: “Muitos parabéns ao meu velho amigo Ish, cujo trabalho amo e admiro desde que li pela primeira vez ‘As Colinas de Nagasaki’. E ele também toca guitarra e escreve canções! Roll over Bob Dylan!”.
Por sua vez, Andrew Motion, poeta laureado do Reino Unido entre 1999 e 2009, deu sinais de arrebatamento e mostrou alguma familiaridade com a obra nas declarações que prestou ao “The Guardian”: “O imaginativo mundo de Ishiguro tem a grande virtude e o grande valor de ser ao mesmo tempo altamente individual e profundamente familiar - um mundo de espanto, isolamento, vigilância, ameaça e maravilhamento”.
“Como é que ele o consegue? Entre outras formas, ao basear as suas narrativas em princípios fundadores que combinam uma tão fastidiosa distâncias quanto igualmente vívidas indicações de intensidade emocional. É uma combinação tão extraordinária quanto fascinante, e é maravilhoso vê-la ser reconhecida pelo júri do Nobel”, disse Motion.” Diogo Vaz Pinto, em artigo publicado no Jornal i, em 6.10.2017