quarta-feira, 31 de julho de 2013

Pode acontecer a qualquer um



Despejadas diante de um edifício vazio ocupado pelo movimento Corralia Utopia,
onde encontraram refúgio. Sevilha, 30 de Maio de 2013
Espanha: Sou a despejada que fala (2/3)
Até 2008, Cristina Fallaras viveu uma vida estável, trabalhando como escritora e vice-directora de um jornal. Então, grávida de oito meses, foi demitida e deslizou para o estatuto de mãe desempregada e sem domicílio fixo. Um percurso tragicamente banal, na Espanha em crise. Eis o seu testemunho.
Por Cristina Fallarás
Escrevi "Pode acontecer a qualquer um". Escrevi "Os meus filhos vivem abaixo da linha da pobreza". E a 25 de Janeiro de 2012, no jornal El Mundo, também escrevi "Estou para alugar".
"Mulher branca, de 43 anos de idade, jornalista, escritora e editora. Altura – 1,69 m, 60 kg, ruiva descorada, olhos azuis. Estudos universitários, vinte e cinco anos de experiência em jornalismo em quatro jornais espanhóis, quatro estações de rádio e três cadeias de televisão. Seis livros publicados, incluindo quatro romances. Três foram premiados. Experiência na organização de redacções, equipas de trabalho, campanhas de comunicação, criação de páginas web e récitas de Gil de Biedma. Capacidade de escrever ou falar sobre literatura, política, economia, culinária, sexo, violência, edição, família e suas dificuldades, desemprego, crime, sindicalismo e penas, no sentido mais amplo.
Está para alugar para: pensar, cuidar de uma casa, mesmo que a missão inclua apanha de couves. Escrever todos os tipos de textos, de ficção ou não, correspondência incluída, mesmo que implique renunciar à respectiva assinatura, se for solicitado [...]. Passear animais ou pessoas, de preferência pessoas. Este serviço inclui a conversa. Projectar acções de obediência ou desobediência, públicas ou privadas.
"Qualquer serviço que não esteja incluído na lista e que faça falta será amavelmente considerado e respondido. Dá pelo nome de Cristina. Preços a negociar. Se interessado, é favor contactar cristinasealquila@gmail.com. Para relações sexuais, sexo oral, strip-tease ou similares, é favor abster-se."
Nua e aterrorizada, mas: é preciso falar. Falar do medo, formular a angústia, narrar a culpa.
Tive respostas. A maioria das respostas, apesar das indicações, com pedidos de serviços sexuais, por vezes muito imaginativos. Mas quase ninguém levou a sério a minha oferta. No entanto, era verdadeira, como tudo o que escrevo e publico no diário. Era tão verdadeira como o corte da electricidade previsto para o mês seguinte; tão verdadeira como as moedas contadas para comprar o leite dos pequenos almoços. Mas essas coisas, é preciso tê-las vivido para as entender, para estar consciente delas. Pensava que estava consciente e, no entanto, o aviso de despejo que me mandou o senhorio teve o efeito de um bloco de gelo que caiu como um peso morto activando uma mola, deixando uma sensação de culpa. Nua e aterrorizada, mas: é preciso falar. Falar do medo, formular a angústia, narrar a culpa.
A negação
Chamo-me Cristina Fallaras, a desalojada que fala. Exactamente quatro anos antes da minha decisão de falar, numa manhã morna de Novembro, às 10 horas da manhã, precisamente na segunda-feira 17 de Novembro de 2008, o director do jornal onde eu era directora-adjunta [ADN, um diário gratuito espanhol, pertencente ao grupo Planeta, que deixou de ser publicado em Dezembro de 2011] despediu-me. Grávida de oito meses. Naquela época, a Espanha tinha 2,5 milhões de desempregados – achávamos que era um horror, o que é risível, hoje – e os presságios mais perspicazes previam que a crise larvar se prolongaria até 2010, talvez até ao início de 2011. Absurdo, respondíamos em coro, uma crise não pode durar tanto tempo! O governo de José Luis Rodríguez Zapatero falava de "brotos verdes", de que já tínhamos batido no fundo e que tudo começava a florescer novamente. Pouco depois, o socialista injectaria milhares de milhões de euros nos bancos espanhóis. Dinheiro público.
Foi aí que começou o meu despejo. Pela minha demissão. E com que frivolidade se tomam estas decisões. Em Novembro de 2012, o jornal El País despediu 129 jornalistas. Lembro-me de pensar: carne para despejo, venham daí, cá para baixo, arranja-se espaço. Como veterana – em 2008, os despedidos foram cerca de 800 mil -, sei quais são os passos que se seguem.
A saber: primeira etapa. Tenho bastante valor, sou uma grande profissional. Tenho a minha indemnização, uma boa quantia, e tenho o subsídio de desemprego. Pelo menos por um ano e meio. Respiro fundo durante dois meses, para descansar e engolir o sapo. Esta etapa dura pouco menos de um ano.
Segunda etapa. Está a acabar-se o subsídio, não devíamos ter feito aquela viagem. Vamos mudar as marcas de sabonete, de roupa, de comida. Prioridade para as crianças: que não se apercebam de nada. Tenho que montar qualquer coisa, uma empresa de consultoria, um pequeno negócio, uma agência de comunicação. Vou investir o que resta da minha indemnização para garantir o futuro da família. Estupores de políticos. A segunda etapa abrange todo o segundo ano.
A descida
Preciso de comprimidos. Se me cruzo com um político na rua, torço-lhe o pescoço.
Terceira etapa. Meninos, este ano não há férias. Amor, acabou-se o carro. Bolas, o subsídio de desemprego durou muito pouco. Agora, só as marcas mais baratas, e arroz a granel para os adultos, nada de roupas. A pequena empresa ainda não deu nada, como poderia ser rentável em poucos meses? E se afinal não sou assim tão boa profissional? E porque é que o meu companheiro não arranja trabalho? Se calhar não se está a empenhar muito. Preciso de comprimidos. Se me cruzo com um político na rua, torço-lhe o pescoço. Ou ao empregado do meu banco. Se me voltam a telefonar por causa do atraso da prestação, rebento. Preciso de comprimidos. A terceira etapa compreende os primeiros dois terços do terceiro ano.
Quarta etapa. Preciso de comprimidos mais fortes. Está tudo com meses de atraso: mensalidade da casa, água, gás. O banco já não me responde. Querido, a carne é para as crianças, eu com uma massa fico bem. É da minha vista ou estou a envelhecer como um raio! Ninguém nos telefona já. Vou ao supermercado; entretém a caixa enquanto escondo pasta de dentes e lâminas de barbear dentro do casaco. A quarta etapa termina com o despejo. O que resta de ti, agora, é apenas estatística.”  Libération Paris,  Presseurop, 30 /07/2013
Continua.
Este artigo foi publicado pela primeira vez em espanhol a 12 de Dezembro de 2012, na revista digital argentina Anfibia.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Os homens não passam

ESTUDO 157

Minha poesia é ríspida.
Não há maneira de nublá-la. É ríspida.
Estas lições não aprendi com o vento.
Sou homem.
O vento
permaneça nas alfombras,
nas frondes. Eu, sou homem.
E sinto dores, fomes, injustiças.
Não sou o vento que tange árias dúcteis
nos eucaliptos: sou um homem;
e vejo os homens de banda.
Não aprendi com o vento estas lições.
O vento é o vento, eu
sou um soluço.
É ríspida minha poesia.
Não aprendi com o vento, mas com os homens.
E os homens não passam – os homens doem.

Estudo 204

Vejo o vento que sopra nas árvores
e estou aqui.
Há uma sensação de paz antiga
no vento que sopra nas árvores.

(Vou plantar esperanças no quintal
e decidir o que farei com a vida -
com esta e com a outra.)

Estou aqui e o mundo está aqui.
Olho as folhas movendo-se nas árvores
e alguma coisa silenciando no coração.
António Brasileiro,  membro da Academia de Letras da Bahia (ALB), in " Poemas Reunidos", Ed. Selo Letras da Bahia, 2005

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Não queiras saber de mim

Mariza e Rui Veloso, dois grandes nomes da Música Portuguesa, interpretando uma canção do próprio Rui Veloso. 
Quando a tristeza bate, por vezes, fica-se assim.



Não queiras saber de mim

Não queiras saber de mim
Esta noite não estou cá
Quando a tristeza bate
Pior do que eu não há
Fico fora de combate
Como se chegasse ao fim
Fico abaixo do tapete
Afundado no serrim
Não queiras saber de mim
Porque eu estou que não me entendo
Dança tu que eu fico assim
Hoje não me recomendo
Mas tu pões esse vestido
E voas até ao topo
E fumas do meu cigarro
E bebes do meu copo
Mas nem isso faz sentido
Só agrava o meu estado
Quanto mais brilha a tua luz
Mais eu fico apagado
Dança tu que eu fico assim
Porque eu estou que não me entendo
Não queiras saber de mim
Hoje não me recomendo
Amanhã eu sei já passa
Mas agora estou assim
Hoje perdi toda a graça
Não queiras saber de mim
Rui Veloso

domingo, 28 de julho de 2013

Ao Domingo Há Música

"Nas artes , na música, apreendemos múltiplas forças de significação, múltiplas figurações de sentido. A significação inexaurível da música, o modo como desafia a tradução ou a paráfrase, imprime a sua marca." George Steiner, in " A Poesia  do Pensamento", Relógio d'Água Ed.
 
Do Álbum "Genius Loves Company"  de 2004, em que Ray Charles canta com excelentes cantores, retirou-se a canção " Sorry seems to be  the hardest word". Ray Charles e Elton John, num dueto perfeito, souberam  emprestar à composição  uma especial  sonoridade,  transformando-a num novo sucesso que se repete  sempre que se escuta.


sábado, 27 de julho de 2013

Da Cultura e dos Livros


 
Playa pública – playa privada’, de Roberto Huarcaya
A Casa da América Latina e o Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto Universitário de Lisboa (CIES-IUL) apresentam a 6ª edição do Curso de Verão América Latina Hoje, sobre a actualidade da América Latina. O curso, que decorre entre 2 e 6 de Setembro, será composto por módulos teóricos e práticos, destinando-se a investigadores, estudantes universitários, professores, jornalistas, diplomatas e demais interessados nesta temática. No final será atribuído um certificado de participação.
Coordenação científica: Beatriz Padilla (CIES-IUL e Universidade do Minho) e Maria Xavier (CAL)
Peça do mês de Julho

Prémio Europeu Helena Vaz da Silva
"O Prémio Europeu Helena Vaz da Silva para a divulgação do Património Cultural, instituído pela Europa Nostra, pelo Centro Nacional de Cultura e pelo Clube Português de Imprensa, foi atribuído, pela primeira vez, ao escritor italiano Claudio Magris, que se distinguiu, conforme a acta do Júri internacional reunido em Lisboa, como autor de “uma obra notável sobre a identidade europeia, como realidade diversa que se deve preservar enquanto património material e imaterial”.
Ao receber a notícia, Claudio Magris escreveu numa carta enviada ao Centro Nacional de Cultura “Desejo expressar a minha mais profunda gratidão por este grande, generoso e totalmente inesperado reconhecimento que me chega de um país que sempre esteve presente na minha fantasia, nos meus interesses, no meu imaginário”.
Ao anunciar o premiado, Guilherme d`Oliveira Martins, Presidente do júri, salienta que «a relação entre a Europa Central e o Mediterrâneo corresponde a uma exigência de uma identidade aberta e plural» e que o conhecimento que Claudio Magris  tem da Europa «enquanto espaço de diálogo e de intercâmbio cultural é muito perceptível, especialmente na sua obra sobre o Danúbio, mas igualmente em toda a sua rica produção literária».
O Júri «teve em conta a dimensão europeia dos concorrentes, ao mesmo tempo, numa perspectiva humanista e universal deste Prémio», atendendo ao seu objectivo principal, que respeita «o papel da comunicação no que concerne à sensibilização do património cultural junto do grande público».
Ao atribuir o Prémio Europeu Helena Vaz da Silva a Claudio Magris, o Júri foi também sensível «aos esforços continuados de Olivér Kovács e Ozgen Acar, o primeiro pela mobilização dos cidadãos a favor do Património da Hungria, e o segundo pela luta internacional contra o tráfico ilegal de tesouros do Património com origem na Turquia », tendo deliberado atribuir-lhes uma Menção Especial.
De acordo com o Regulamento, o Prémio Europeu Helena Vaz da Silva será atribuído anualmente a um cidadão europeu que, ao longo da sua carreira, se tenha distinguido pela sua actividade de divulgação, defesa e promoção do Património Cultural Europeu, nomeadamente, através de obras literárias, artigos, crónicas, fotos, séries documentais, filmes e programas de rádio e/ou de televisão publicados ou emitidos nos diversos “media”.
O Júri do Prémio Europeu Helena Vaz da Silva para a Divulgação do Património Cultural esteve reunido no Centro Nacional de Cultura no passado dia 21 de Junho, com a presença de Antonio Foscari, Francisco Pinto Balsemão, Irina Subotic, João David Nunes, José María Ballester et Piet Jaspaert e sob a presidência de Guilherme d’Oliveira Martins.
O Prémio é anunciado, simultaneamente, em várias capitais europeias e entregue, em Outubro, durante uma cerimónia que terá lugar na Fundação Calouste Gulbenkian.
Claudio Magris - académico, publicista e escritor, nascido em Trieste em 1939, diplomado pela Universidade de Turim, titular da Cadeira Europeia do Colégio de França e professor honorário da Universidade de Copenhaga -, tem-se dedicado à defesa permanente do Património Europeu. Os seus livros contribuíram para o conhecimento literário da cultura europeia e para o conceito de Mitteleuropa, tendo já sido apontado como um dos candidatos favoritos ao Prémio Nobel.
Professor de literatura alemã e tradutor, colabora regularmente para o jornal italiano “Corriere della Sera”. Escreveu vários livros de ensaio e ficção, entre os quais “O mito habsbúrgico na literatura austríaca moderna”, “Atrás das palavras”, “Microcosmos” - este vencedor do Prémio Strega, de 1997 -, e “A história não acabou”.
Em 2004, recebeu o Prémio Príncipe de Astúrias, de Letras, com o seu livro mais icónico, “Danúbio”, um romance classificado na categoria de literatura de viagens - já traduzido e editado em Portugal -, cujo tema principal é uma incursão e um pretexto para explorar e dissertar sobre a cultura centro-europeia, ou seja, a Mitteleuropa.
As candidaturas ao Prémio 2014 devem ser propostas até ao dia 31 de Dezembro de 2013 pelas entidades promotoras do Prémio - Europa Nostra, Centro Nacional de Cultura e Clube Português de Imprensa" CNC
 
Com entrada livre, o Festival ao Largo conta com a participação de músicos, cantores, bailarinos, maestros e coreógrafos de renome nacional e internacional, que têm proporcionado ao público momentos inesquecíveis. Esta edição propõe um passeio, acompanhado pela Orquestra Sinfónica Portuguesa, pelo universo de compositores como Bizet, Astor Piazzolla, Gershwin ou Ravel. O ponto alto será O Lago dos Cisnes de Tchaikovsky, pela Companhia Nacional de Bailado, cabendo a Fernando Duarte, bailarino principal e ensaiador da Companhia, a reconstrução coreográfica. A sexta edição será marcada também por um espectáculo de Ópera em versão concerto sobre Candide, obra de Leonard Bernstein, um concerto coral sinfónico onde pontificam Verdi e Wagner e um concerto sinfónico que abrange, entre outros, a Carmen Suite de Georges Bizet, a abertura de Die Meistersinger von Nürnberg, de Richard Wagner ou Bolero, de Maurice Ravel.


 Nos dias 26, 27, 28 de Julho às 22h, a Companhia Nacional de Bailado apresenta o Lago dos Cisnes, com Coreografia de Fernando Duarte segundo Marius Petipa e Lev Ivanov, Música de Piotr Ilitch Tchaikovski, Libreto original de Vladimir Begitchev, Vasili Geltzer,Filme de Edgar Pêra, Figurinos de José António Tenente e Desenho de luz de Nuno Meira.
A Felicidade em Albert Camus", obra de Marcello Duarte Mathias originalmente editada em 1975 (no Brasil), e reeditada em Portugal em 1978, vai ter nova edição com a chancela Dom Quixote.
  O livro, que em 1978 recebeu o Prémio de Ensaio da Academia das Ciências de Lisboa, está já à venda.
 Esta nova edição deste ensaio coincide com a celebração do centenário do nascimento de Albert Camus (1913-1960), Prémio Nobel da Literatura em 1957 e autor de obras como O Estrangeiro e A Peste.
Uma nova edição de "Emigrantes", de Ferreira de Castro com  o texto autobiográfico, «Pequena História de Emigrantes» foi lançado pela Editora Cavalo de Ferro.
«Com "Emigrantes" surgiu em Portugal, essencialmente sem antecedentes, uma expressão precursora do romance moderno de inspiração populista e de sugestão ético-social que viria a tomar forma mundialmente representativa em escritores de poderosa expressão – entre os quais se poderá apontar como exemplos flagrantes John Steinbeck e Jorge Amado – e em que se renovava, com idêntica força da universalidade no seu poder de comunicação de massa, a lição perenemente fecunda de Zola e de Gorki.»
120 anos do nascimento de Almada Negreiros (1893-1970)
 Apresenta-se, com esta mostra que assinala os 120 anos do nascimento de Almada Negreiros (1893-1970), um espólio heterogéneo, disperso e largamente desconhecido. Mostram-se peças provenientes de três colecções de referência: a dos herdeiros de Almada Negreiros, a da Biblioteca Nacional de Portugal e a do Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian. Delineada cronologicamente em função do próprio espaço, a exposição pretende, mais do que traçar uma visão diacrónica do percurso artístico de Almada, revelar a Unidade de uma criação múltipla.
Exposição na Sala da Referência, Biblioteca Nacional de Portugal, Campo Grande, 83, 1749-081 Lisboa,( Entrada Livre) de 27 Jun a 5 Out/2013.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Do Chile

Setembro, atrás da cordilheira
por Frederico Fullgraf
"Em setembro, ainda faz frio nestes descampados, a menos de setenta quilómetros da Cordilheira. Em dias de céu varrido de nuvens, caminhando umas cinco quadras desde minha casa, consigo divisar a cratera nevada do Antuco, o vulcão mais próximo. Então minha coluna vertebral sofre as dentadas prazerosas de um frenesi, que recordo como experiência de minha infância, quando um evento jubiloso e há muito esperado se anunciava pela intuição; neste caso, a escalada dos 2.500m do “baixinho”, Antuco, que não demorará. Será meu treinamento de fôlego e aclimatação? Tenho encontro marcado com o deserto de Atacama, na fronteira com Salta, onde me aguardam o Socompa e o Llullaillaco, ambos com 6.000 e 6.700m de altitude. Ali perto está a cova do meu personagem, o “alemão morto”.
Um nativo me disse que começa a esquentar somente em novembro, “entonces llega el verano”, como se não mais existisse a primavera. Entendo como generalizada a percepção perdida das velhas estações do ano como experiência elementar dos ciclos da vida, com suas lentas transições de temperatura, transmutação da vegetação e da luz. 
As alterações climáticas são um fenómeno planetário. A perda da memória também.
Chama atenção a profusão de chaminés nos telhados das casas, todos de lata, os telhados e as chaminés. Apenas excepcionalmente vê-se, aqui e acolá, em casas de apelo burguês, algumas telhas francesas ou coifas, jamais, porém, chaminés de tijolos, como as que conhecemos a leste da Cordilheira.
As casas são construções sofríveis, ora comoventes, ora risíveis caixas de fósforo. Seu acabamento frágil evoca o pitoresco estilo fueguino das casas de Ushuaia, com paredes e telhados de lata, espécie de perpetuação das cabanas dos caçadores de lobos marinhos e baleias, no literal fim do mundo, daqui ainda muito distante, geograficamente, mas assaz influente esteticamente. O hábito esdrúxulo do uso de metal para isolamento térmico é tão descabeçado como os telhados de Rio Branco, capital do Acre, que se vê antes do pouso do avião. Lá, alcançam temperatura para frigir ovos, aqui substituem a geladeira quase supérflua, devido ao rude clima invernal em seis meses do ano. No território da anedota, a conspiração panamericana de algum produtor de telhados de zinco contra toda sorte de arquitetura sustentável se impõe como teoria provável. Do Acre à Terra do Fogo reina a insustentável paródia do viver.
A propósito do fim do mundo: muito antes da chegada dos conquistadores espanhóis, os povos do Altiplano peruano chamavam estas paragens de “Chili”, porque a partir do norte era difícil alcançá-las por terra ou por mar. Chili queria dizer, "onde a terra acaba".
Da minha casa, os moradores anteriores levaram a estufa. Demorei alguns dias para entender que estufas não fazem parte do inventário fixo de uma residência. Estufas compra-se, instala-se e, algum dia, leva-se com a mudança. Por isso, sobre o vazio deixado pela estufa levada, um toco de chaminé, que em sentido inverso some telhado afora, aguarda a nova estufa. Melhor dizendo: eu e chaminé a aguardamos, o queixo batendo de frio.
Alternando com alguns dias luzidios, o frio úmido que se instalou na casa lambe-me os ossos, sensação angustiante nunca dantes experimentada. Minha companheira emprestou-me um estufa à querosene. Quando acaba o combustível, tenho que caminhar umas vinte quadras até o posto de gasolina mais próximo, para reabastecer-me.
Já fazia noite enquanto eu caminhava rumo ao posto. A iluminação que caía dos postes recortava sofrivelmente as sombras do casario baixo e lúgubre à beira da calçada.
Era a noite de 11 de setembro. Pela janela sem cortinas e venezianas, de uma casa pobre, escorria uma luz descorada sobre a calçada, convidando-me a parar. Com olhar indiscreto e envergonhado, distingui uma oficina de móveis. Algumas ferramentas descansavam sobre peças inacabas; do marceneiro, contudo, nenhum sinal.
Oficinas de carpintaria e marcenaria soem ter conotações bíblicas, talvez aquele cenário oferecido pela janela sobre a calçada evocasse imagens da forçada educação religiosa recebida em minha infância que, por ter sido obrigatória e autoritária, tivera efeito contrário, fazendo-me contemplar ao longo da vida com justificada reserva aquele escultor galileu de cruzes de madeira e salvador da Humanidade. Quem sabe Bertolt Brecht, ao cobrar em um de seus poemas, “onde pernoitaram os operários egípcios, depois de concluírem a obra da última pirâmide?”, tenha oferecido um entendimento mais correto, a dimensão histórica e materialista dos ofícios e seus protagonistas, a que dignifica aos que dão forma ao mundo com suas mãos e ferramentas, desenhando palácios, erguendo muralhas, esculpindo móveis - que fosse a estante para o único livro que naquela noite fria resgatava a memória do dia maldito, que partiu em duas a história do país “onde a terra acaba”!
Meu pensamento espontâneo dialogava com a oficina, perguntando-lhe, o que aquele pobre marceneiro sentira toda vez que, há quase quarenta anos, o calendário anunciava um novo 11 de setembro. Se montava cadeiras e mochos por encomenda do inimigo, nas quais – ele sabia – seria amarrado e torturado um vizinho subitamente desaparecido, ou se, ao contrário, incitado pelo violento protesto de Judas, o subversivo, com cada ferida que seu formão abria no lenho virgem, dava forma aos seus pensamentos, esculpia sua esperança.
Aquele moveleiro também sentia que, desde 11 de setembro de 2001, quando desabavam as torres de Nova York, uma estranha orquestração tenta habituar o mundo a assistir das arquibancadas à celebração do “9/11” como efeméride do atentado ao coração do império? Ano após ano, borrando, apagando mais um pouco a memória do 11 de setembro de 1973, ocorrido em Santiago, preparado pelo mesmo império, com conspirações, dinheiro e armas, contra o governo eleito de um médico idealista, que desejava libertar seu país do jugo de colónia fornecedora de commodities minerais – primeiro o salitre, depois o cobre - e sempieterna devedora da banca internacional?
Na capa de El Mercúrio de 11 de setembro, nenhuma referência à data fatídica. Incrédulo e impaciente, folheio o jornal para frente e para trás – e nada! Mas então, escondido no canto esquerdo inferior da terceira página, o único comentário, constrangido, à data, escrito com pena liberal, conclui: “Los verdaderos derrotados son los que quedan sin un lugar en la historia. Y fueron ellos los combatientes… En cambio los del ´si´, perdieron el plebiscito, pero siguieron administrando grandes cuotas de poder – y lo hacen hasta hoy”.
“Lo que pasó en aquel entonces no me afecta, nací despues del 1973, eso pertenece al pasado…”, responde-me uma jovem vizinha com desdém, no qual ecoa certa preguiça para espantar as brumas do esquecimento. Sua resposta sincera soa representativa, nas ruas, nas feiras, nas rádios e na TV, nenhuma palavra, ruído, canção que destoem do silêncio – um silêncio quase fantasmal, não fosse uma senhora da alta classe média, que luta nos tribunais para que a Avenida 11 de Setembro, assim carimbada pelos golpistas, volte a chamar-se Avenida Providencia, como é conhecida e sempre será lembrada. Silêncio de sepultura, não fossem também alguns jovens de Santiago, cuja agenda do “11” é a catarse, o protesto desorganizado, frequentemente expressado com paus e pedras. Às quais voltam a impor-se no dia seguinte os berros dos brokers da bolsa de valores, com aquele esgar neurótico estampado em suas faces, ou o editorial de El Mercúrio, cobrando maior rigor na repressão aos manifestantes.
Então deparo-me com a estória de uma mulher.
Há trinta anos, em Calama, no extremo norte do país e, por coincidência, à beira de meu caminho, rumo à Salta, Violeta Berríos revolve a areia do deserto, em busca de mais alguma vértebra, um estilhaço de fêmur – um dente que fosse! – de seu amado, Mario, fuzilado em outubro de 1973, durante a passagem de uma sinistra caravana.
No Maghreb, as caravanas beduínas transportavam o sal desde os portos do Chifre da África, e eram festejadas em todos os oásis onde aportavam para descansar. No Atacama, a caravana do Gal. Sergio Arellano Stark aproximara-se por terra e pelo ar, cuspindo chumbo. Entrou para a História como a “Caravana da Morte”, fuzilando vinte e seis jovens mineiros, estudantes e jornalistas, apenas em Calama. Os algozes não chegaram com ordem judicial de prisão, não interrogaram suas vítimas: desembarcaram, abrindo fogo. Em seguida, dispersaram os cadáveres mutilados, esquartejados, pelos quatro pontos cardeais, para que servissem de carniça aos chacais – tamanho o ódio daquele senhor general, cujo sobrenome em alemão significa “forte”.
Desde então, vinte e seis mulheres chafurdam na areia do deserto em busca de alguma articulação que combine com o osso que, após exame de perícia, guardam em suas casas como relíquia de seus amados – filhos, pais, maridos, namorados - que algum dia desejam sepultar com dignidade.
São as “colectadoras de huesos” do Atacama, cuja escatologia é um teimoso e comovente culto à memória – fresta nos grãos de areia do deserto, por onde espreita a indelével História." Frederico Füllgraf
Frederico Fullgraf, cineasta, escritor, ambientalista , jornalista, é um respeitável intelectual" brasileiro com várias obras publicadas. Edita o Blog Füllgrafianas que considera "um diário de bordo da cultura na era do espanto".

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Na janela do poema

Raiz de Orvalho

Sou agora menos eu
e os sonhos
que sonhara ter
em outros leitos despertaram

Quem me dera acontecer
essa morte
de que não se morre
e para um outro fruto
me tentar seiva ascendendo
porque perdi a audácia
do meu próprio destino
soltei ânsia
do meu próprio delírio
e agora sinto
tudo o que os outros sentem
sofro do que eles não sofrem
anoiteço na sua lonjura
e vivendo na vida
que deles desertou
ofereço o mar
que em mim se abre
à viagem mil vezes adiada

De quando em quando
me perco
na procura a raiz do orvalho
e se de mim me desencontro
foi porque de todos os homens
se tornaram todas as coisas
como se todas elas fossem
o eco as mãos
a casa dos gestos
como se todas as coisas
me olhassem
com os olhos de todos os homens

Assim me debruço
na janela do poema
escolho a minha própria neblina
e permito-me ouvir
o leve respirar dos objectos
sepultados em silêncio
e eu invento o que escrevo
escrevendo para me inventar
e tudo me adormece
porque tudo desperta
a secreta voz da infância

Amam-me demasiado
as cosias de que me lembro
e eu entrego-me
como se me furtasse
à sonolenta carícia
desse corpo que faço nascer
dos versos
a que livremente me condeno


Mia Couto, in “Raiz de Orvalho" (1983),Ed. Caminho

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Sou apenas a imagem do que fui

O esconderijo do homem triste
"Não sei o que me aconteceu para ficar tão triste.
Lembro-me de ter percorrido meio mundo à procura de imagens. Tinham-me dito: é no movimento incessante de quem viaja que encontrarás a imobilidade que desejas.
Mas eu não sabia para onde ir. Deambulei anos a fio, e nunca encontrei as imagens que queria. Gastei as parcas forças que tinha neste trabalho, até que um dia me perdi junto ao mar.
Resolvi construir, ali mesmo, uma casa.
Tencionava não sair mais daquele lugar onde me perdera. Imobilizar-me, viver e envelhecer dentro de quatro paredes nuas erguidas pelas minhas mãos. Morrer frente ao mar, sozinho, como num romance que lera havia anos. Esperar que a casa se esboroasse e me servisse, por fim, de túmulo.
Assim não aconteceu. Algum tempo depois, a casa transformou-se subitamente em prisão. E talvez tenha sido isso que me pôs, assim, triste para sempre. Custava-me a crer que aquilo que eu próprio construíra acabasse de me atraiçoar.
Assustei-me e fugi nessa mesma noite. Ignoro o que se passou com a casa. Não sei se ainda existe... o que sei é que a meio daquela fuga desesperada ocorreu-me o que me levaria, enfim, a encontrar o esconderijo para a minha imobilidade.
É desse lugar iluminado que, hoje, vos falo.
Fui ter com um fotógrafo meu amigo e pedi-lhe para me retratar. Ele acendeu um foco de luz. Sentei-me no centro dele. A máquina disparou sem cessar.
Gesticulei, abri os braços, mexi-me muito - como se soubesse que nunca mais o voltaria a fazer.
Quando o meu amigo mergulhou o papel fotográfico no revelador, eu também mergulhei. Mas devo ter desmaiado uns segundos, talvez minutos, porque ao retomar consciência senti as pernas e os braços dormentes - e todo o meu corpo estava mole.
Um véu de luz toldou-me a visão. Ceguei por instantes, mas não foi uma sensação desagradável. Depois, o corpo começou a ondear, a impregnar-se no papel e a coincidir com o retrato que o meu amigo fizera de mim.
Segundos mais tarde uma pinça metálica tirava-me do revelador. Senti, então, a frescura da água - e toda a superfície da folha de papel, o meu novo corpo, brilhou. Em seguida deixei-me entorpecer na temperatura tépida, voluptuosa, do fixador.
Tinha encontrado o esconderijo.
E aqui estou, diante de quem me visita e olha. Apesar de não ter deixado de ser um homem triste, adquiri a vantagem de estar sentado, e de já não precisar de fugir ou desejar seja o que for.
Mas o pior momento do dia é aquele em que nos separamos. Não consigo dormir. Fico noite fora com a minha solidão - e quem esteve a ver-me parte com o susto de continuar a existir.
Nenhum de nós é capaz de murmurar: fica comigo e toca-me. E a noite cai, de certeza, mais escura para quem parte.
Eu sou apenas a imagem do que fui. Não sinto nada.
Certa vez, um homem e uma mulher pararam diante de mim. Olharam-me muito tempo.
Aproximaram-se, afastaram-se, voltaram a aproximar-se do vidro que me protege. O nariz da mulher quase me tocou nos joelhos.
De repente, a mulher inclinou a cabeça, sobressaltou-se e disse:
- Zé, perdi o vidro do relógio.
O homem baixou-se e procurou-o. Quando o encontrou, deu-lho. Mas ela argumentou:
- A culpa foi tua. Eu não queria vir aqui.
O homem, muito sério, respondeu-lhe.
- Francamente, Fátima, não te toquei no pulso. Não mexi no tempo. Nunca mexo no tempo...
Outras vezes, quando não está ninguém a olhar para mim, ponho-me a cismar:
A luz é o meu túmulo.
Em tempos, os meus gestos tiveram o rigor da abelha que rouba o pólen à flor. Com esses gestos quis construir um espaço para o silêncio. Uma morada onde fosse possível ignorar o mundo, ou esquecê-lo.
De vez em quando, aceito ainda o mistério das palavras que me cercam e não coincidem, em nada, com a realidade. Eu só quis celebrar a vida. Encontrar o esconderijo onde fosse possível um derradeiro acto de paixão. O esconderijo onde pudesse, de novo, tocar teu rosto e recusar a aridez da calúnia.
Mas a luz é o meu túmulo.
A pouco e pouco incendiaram-se os negros profundos, o círculo luminoso aprisionou-me, e as mãos gesticularam sem sentido. O interior das paisagens guardou a tua ausência. E numa última visão a madrugada irrompeu do mar adormecido.
As mãos abriram-se novamente, quando o dia começou a devorar a nudez do corpo.
Comovido, perdi a voz.
Não podia chamar-te, lembro-me, por isso desatei a escrever o teu nome nas paredes da cidade. Tempo perdido. Já não podias ouvir-me nem ler-me. Foi quando desejei, com ardor, este esconderijo.
Aqui, pelo menos, respiro ar condicionado, e um foco de luz simula a eternidade dos dias.
Não há emoções, nem palavras ditas em voz alta. Não acontece nada, nem se ouve respiração alguma.
Quem me visita diz coisas fantásticas a meu respeito. Nunca confirmo nem desminto. Limito-me a ouvir e calo-me. Porque há coisas que devem correr com o tempo e, mais tarde ou mais cedo, nele se apagam.
É claro que também há coisas guardadas na minha memória de papel. Mas essas, já não tenho a certeza de que alguém as tenha dito ou eu as tenha, de facto, ouvido.
Por vezes ponho-me a sorrir, mas ninguém consegue ver que sorrio, porque o retrato que me esconde - como eu - está morto e desfocado.
E a luz é o nosso túmulo." Al Berto, “O Esconderijo do Homem Triste”, in VER,Círculo de Leitores, Lisboa, Verão 1992, N.º 19, pp. 74-75

segunda-feira, 22 de julho de 2013

O Mundo em Cartoon

Henricartoon


Bartoon, Público
Bartoon, Público

The daily cartoon, The Independent

The daily cartoon, The Independent

Daiquiri Caco Galhardo, Folha de S. Paulo


Le vignette d'ItaliaOggi

Laertvisão LIIIARTE, Folha de S. Paulo

Le vignette d'ItaliaOggi

Ranson, Le Parisien

Ranson, Le Parisien

domingo, 21 de julho de 2013

Ao Domingo Há Música


Música... Que sei eu de mim?
Que sei eu de haver ser ou estar?
Música... sei só que sem fim
Quero saber só de sonhar...

Música... Bem no que faz mal
À alma entregar-se a nada...
Mas quero ser animal
Da insuficiência enganada.

Música... Se eu pudesse ter,
Não o que penso ou desejo,
Mas o que não pude haver
E que até nem em sonhos vejo,

Se também eu pudesse fruir
Entre as algemas de aqui estar!
Não faz mal. Flui,
Para que eu deixe de pensar!
1934
Fernando Pessoa, in “Poesias Inéditas (1930-1935). (Nota prévia de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1955
 
A canção "With you I'm born again"  por Billy Preston e Syreeta Wright num dueto de Dezembro de  1979,  para fruir neste Domingo de 2013.
 


sábado, 20 de julho de 2013

Para ver e fazer no Porto ou em Lisboa

Contadores de histórias de vários países reunidos em festival no Porto
"Um Porto de contos" é o nome da iniciativa que tentará conjugar várias linguagens artísticas com a ancestral arte de contar histórias. Acontece de 26 a 28 de Julho, no Ateneu Comercial.
No centro da iniciativa, de entrada gratuita, estão os contos que poderão ser ouvidos em várias salas, mas haverá simultaneamente exposições de arte, a feira "Porto das Letras, Artes e Palavras", exposições fotográficas, visitas guiadas, artes plásticas, tertúlias, apresentação de livros, sessões de autógrafos, música e os" Contos Vadios".
A organização é da brasileira Clara Haddad e da sua Escola de Narração Itinerante, que escolheu a cidade do Porto para residir e que agora quer "abrir a outros públicos" a arte da narração oral.
Entre outros, está prevista a presença de Paula Carballeira e Charo Pita, de Espanha, de Fernanda Munhão e Lenice Gomes, do Brasil, e de André Boaventura e Vítor Fernandes, de Portugal.
Clara Haddad, que já havia organizado um evento similar em 2011, na Tertúlia Castelense, na Maia, evento que contou então com convidados do Peru, de Espanha e de Portugal, disse à Lusa "estar muito satisfeita" por poder concretizar "uma ideia que ficou guardada desde 2005", quando veio viver para a cidade.
A brasileira que começou por ser actriz, antes de se dedicar a contar histórias, apaixonou-se pela cidade numa vista ocasional e não desistiu enquanto não mudou para o Porto, onde tem desenvolvido várias atividades em torno da narração oral.
"Num mundo em que cada um vive com o seu computador, com o seu iPad e não olha muito para o outro, as histórias, como antigamente, representam a união das pessoas à volta da palavra", afirmou Clara Haddad que diz haver cada vez mais pessoas interessadas por esta arte ancestral.
"Toda a gente é capaz de contar histórias", sustenta Clara Haddad que entre as várias iniciativas de "Um Porto de contos" destaca os encontros com escritores e Contos Vadios, "uma iniciativa um pouco inspirada no fado vadio" em que "as pessoas fazem inscrições e partilham numa sala uma história que pode ser de vida ou ficcionada".
Como "aperitivo" o "Um Porto de contos" arranca com o "Entre contos e vinhos" que decorre nas caves da Croft e que é uma oportunidade para ouvir um conto narrado por Clara Haddad e a música do compositor brasileiro Cristiano Gouveia, enquanto se faz uma prova de vinhos do Porto.
A iniciativa decorre no dia 20 de Julho, hoje, a partir das 21 horas, com a entrada a custar 12 euros, permitindo provar de quatro vinhos diferentes." JN
Dias loooongos 

10 ideias para gozar o final da tarde na cidade      
"Onde ir e o que fazer, ao final da tarde? Entre concertos em museus e jardins, uma peça de teatro, uma prova de vinhos e beber um copo num terraço, a VISÃO Sete dá-lhe 10 ideias para aproveitar este verão em Lisboa."Inês Belo e Sandra Pinto
Leia AQUI:10 ideias para gozar o final da tarde na cidade
Experiência 
No Porto, o eléctrico é para petiscar e ouvir fado
Uma mercearia com o mesmo nome da histórica carreira de eléctrico - 22 - convida todos a conhecer o Porto, sobre carris e com música e petiscos à mistura
"O Linha 22 ganhou o nome da histórica carreira de eléctrico do Porto que passa à sua porta. Sabendo da possibilidade de alugar exemplares da frota do Museu do Carro Eléctrico, os sócios do café/mercearia pensaram em criar um passeio original para os seus clientes, todos os sábados, durante o qual pudessem servir alguns dos produtos que vendem. "Foi muito fácil de organizar e, com ajuda dos nossos parceiros, tornou-se mais económico", conta Carlos Gärtner, um dos sócios. À disposição, os passageiros terão um veículo restaurado, um veículo das primeiras décadas do século XX, ainda com os bancos de palhinha e os mecanismos originais. O percurso começará, precisamente, em frente do Linha 22 ( junto à Torre dos Clérigos), onde também é possível comprar os bilhetes.
 Praça da Batalha, Rua de Santa Catarina, Aliados, Carmo, Rua da Restauração, Rua do Ouro e Passeio Alegre são alguns dos lugares por onde o eléctrico circulará depois, permitindo a captação de imagens-postal do centro histórico e da beira-rio.
Aproveitando as passagens mais planas, serão servidos vinhos, espirituosos e de mesa, assim como alguns petiscos, tipicamente portugueses, dos pequenos produtores associados à mercearia. Durante a viagem, de cerca de 90 minutos, também haverá fados e guitarradas ou outras animações." Visão
LINHA 22
 R. dos Clérigos, 23 Porto
 T. 22 208 5123
 20 abr-30 Set, Sáb 17h
 €20 (mínimo de 10 pessoas), direito a desconto de 50% no bilhete para a Torre dos Clérigos e 10% em jantares no Linha 22

Os melhores terraços de Lisboa

Um roteiro à procura dos melhores terraços para comer, beber e, sobretudo, ver a cidade .
Ler mais: Os melhores terraços de Lisboa