segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Essencial é o diálogo

O que pensa Francisco: 5. sobre a Política"
Por Anselmo Borges
"O Papa Francisco não é ingénuo em relação aos políticos e ao poder, sobretudo nas mãos de medíocres. Ainda cardeal de Buenos Aires, contava uma piada. "Uma pessoa aparecia a correr a pedir socorro. Quem o perseguia? Um assassino? Um ladrão? Não..., um medíocre com poder. É verdade: pobres dos que estão sob o domínio do medíocre. Quando um medíocre acredita e lhe dão um pouco de poder, pobres dos que estão sob a sua alçada. O meu pai dizia-me sempre: "Cumprimenta as pessoas quando fores subindo, porque irás encontrá-las quando vieres a descer. Não duvides"."
No entanto, somos todos animais políticos. Já Papa, respondeu a uma pergunta sobre a formação dos jovens: "Envolver-se na política é uma obrigação para o cristão. Enquanto cristãos não podemos lavar as mãos como Pilatos. Temos de nos meter na política, porque a política é uma das formas mais altas da caridade, pois procura o bem comum. Os leigos cristãos devem trabalhar na política. A política está muito suja, mas eu pergunto: "Está suja porquê?" Porque os cristãos não se meteram nela com espírito evangélico? É uma pergunta que eu faço. É fácil dizer que a culpa é dos outros... Mas eu, o que é que faço? Isto é um dever! Trabalhar para o bem comum é um dever para um cristão."
Então, o que se passa para que a política se tenha tornado suja? Os políticos pensam mais nos seus interesses e nos dos partidos do que no bem comum. E "todos temos tendência para ser subornáveis". Quando um agente da polícia manda parar um automobilista por excesso de velocidade, "é provável que a primeira frase a ouvir--se seja esta: "Como podemos resolver o assunto?" Faz parte da nossa natureza, temos de lutar contra esta tendência para a recomendação, para a cunha, para nos porem em primeiro lugar na lista." E há a tendência para "o pecado do carreirismo". E há a desinformação: "Hoje, cada órgão de comunicação social monta algo diferente com dois ou três dados: desinforma." E hoje importa mais a imagem do que as propostas políticas: "Já Platão dizia, em A República, que a retórica está para a política como a cosmética para a saúde." Isto é "um pecado contra a cidadania". Vivemos numa sociedade de sofistas, na qual as pessoas gostam de ser enganadas por discursos belos e falazes.
O cardeal acrescentava que a sua família materna é do lado radical e lembrava as conversas do avô, carpinteiro, com o senhor Elpidio, vendedor de anilinas. Afinal, tratava-se de Elpidio González, que fora vice-presidente da nação. "Ficou-me gravada a imagem desse antigo vice--presidente que ganhava a vida como vendedor. É uma imagem de honestidade."
É preciso trazer a ética para a política: urge reabilitá-la. Precisamente porque "o amor social se expressa na actividade política para o bem comum", é "necessário reverter o seu desprestígio". Essencial é o diálogo: "Diálogo, diálogo, diálogo." O poder tem a sua legitimação última no serviço do bem comum.
E a Igreja? Deve anunciar e promover os valores e denunciar as injustiças e a violação dos direitos humanos: aí, o padre ou o bispo estão "a profetizar, a exortar, a catequizar a partir do púlpito". Isto é política com maiúscula. "O religioso tem a obrigação de definir os valores, as linhas de comportamento, da educação." "O risco que os padres e os bispos devem evitar é o de caírem no clericalismo, que é uma posição viciada do religioso." "A Igreja defende a autonomia das questões humanas", não lhe competindo, por exemplo, pronunciar-se sobre como o médico deve fazer uma operação. Na política, é preciso respeitar uma "laicidade saudável", que respeite as diferentes competências. "O que não é bom é um laicismo militante, que toma uma posição contra a Transcendência ou exige que o religioso não saia da sacristia. A Igreja transmite os valores, e eles que façam o resto."Religião e política estão ao serviço da comunidade. O religioso serve as dimensões humanas para o encontro com Deus e a plenitude da pessoa e, assim, "não é errado a religião dialogar com o poder político; o problema é quando se associa a ele para fazer negócios por baixo da mesa". Ora, tem havido de tudo." Anselmo Borges em Artigo de Opinião, publicado no DN, em  21/09/2013

domingo, 29 de setembro de 2013

Ao Domingo Há Música

"Se a palavra desistiu de ser um apelo
e sabe que não é mais que um fogo-fátuo
é porque a sua fragilidade ainda cintila
como um princípio que em si mesmo se consuma"

António Ramos Rosa, in "Se a Palavra desistiu de ser um apelo", "As Palavras", Ed. Campo das Letras

Numa semana em que desapareceram dois grandes poetas, o colombiano Álvaro Mutis e o português e algarvio António Ramos Rosa, a Música deste Domingo leva-nos também ao talento de um grande artista português  desaparecido  precocemente.
"O pianista e compositor Bernardo Sassetti  morreu aos 41 anos, em Maio de 2012. Segundo a família, que confirmou a morte , Bernardo Sassetti estava a fotografar numa falésia, no Guincho, e caiu. Bernardo Sassetti nasceu a 24 de Junho de 1970, filho mais novo de Sidónio de Freitas Branco Pais e de Maria de Lourdes da Costa de Sousa de Macedo Sassetti. Era bisneto de Sidónio Pais. Iniciou os estudos de piano clássico aos nove anos, tendo frequentado também a Academia dos Amadores de Música. Em 1987, iniciou-se profissionalmente no jazz, estudando com músicos como Zé Eduardo, Horace Parlan e Sir Roland Hanna, e tocando com o quarteto de Carlos Martins e o Moreiras Jazztet.
"O Bernardo [Sassetti] era uma personalidade, um iluminado, com grande energia, muito acima das coisas materiais", disse Pedro Costa da Clean Feed, acrescentando: "Com ele nunca falei de dinheiro".
"Foi a pessoa mais generosa que eu conheci", sublinhou emocionado o editor discográfico.
"Ele tinha um grande compromisso com a música, um perfeccionista, músico excepcional porque autêntico", afirmou.
"O Bernardo [Sassetti] trouxe uma lufada de ar fresco porque ele era o que tocava, e ficava admirado quando as pessoas lhe diziam que a sua música era triste porque era tão bela, quando era de uma grande alegria e iluminada", afirmou.
O editor referiu a paixão de Sassetti pela fotografia, tendo sido autor das capas de todos os seus álbuns editados pela Clean Feed."
A intemporalidade de uma  obra atinge-se quando ultrapassa a finitude da vida. A Poesia de António Ramos Rosa e a Música de Bernardo Sassetti continuarão a iluminar os nossos dias.

Bernardo Sassetti compôs e interpretou a banda sonora de "Uma coisa em forma de assim", um espectáculo da Companhia Nacional de Bailado, estreado em 2011. Clara Andermatt, Francisco Camacho, Benvindo Fonseca, Rui Lopes Graça, Rui Horta, Paulo Ribeiro, Olga Roriz, Madalena Victorino e Vasco Wellenkamp foram os co-criadores da peça.

Numa entrevista a Maria João Seixas, Bernardo Sassetti descrevia-se como "um terrestre que caminha de uma forma muito aérea, muito suspensa, à procura de qualquer coisa, sobretudo na música, que ainda não sabe muito bem o que é.
"E isso inquieta-me o espírito. Sempre. Vivo com esta inquietação vinte e quatro horas por dia", afirmou na altura o músico.

"Promessas" do  Álbum Índigo,  de Setembro  de 2003,  traduz essa inquietação.


sábado, 28 de setembro de 2013

Decisão, Desejo e Acção


"A decisão é, na verdade, o que de mais próprio concerne a excelência e é melhor do que as próprias acções no que respeita à avaliação dos carácteres humanos. A decisão parece, pois, ser voluntária. Decidir e agir voluntariamente não é, contudo, a mesma coisa, pois, a acção voluntária é um fenómeno mais abrangente. É por essa razão que ainda que tanto as crianças como os outros seres vivos possam participar na acção voluntária, não podem, contudo, participar na decisão. Também dizemos que as acções voluntárias dão-se subitamente, mas não assim de acordo com uma decisão.
Os que dizem que a decisão é um desejo, ou uma afeição, ou um anseio, ou uma certa opinião, não parecem dizê-lo correctamente, porque os animais irracionais não tomam parte nela. Por outro lado, quem não tem autodomínio age cedendo ao desejo, e, desse modo, não age de acordo com uma decisão. Finalmente, quem tem autodomínio age, ao tomar uma decisão, mas não age, ao sentir um desejo.
Um desejo pode opor-se a uma decisão, mas já não poderá opor-se a um outro desejo. O desejo tem em vista o que é agradável e o que é desagradável. A decisão, contudo, não é feita em vista do desagradável nem do agradável." Aristóteles, in “Ética a Nicómaco”, Ed. Quetzal
Sinopse:
Ética a Nicómaco é composto por dez livros, no qual Aristóteles trata da felicidade como projecto essencial do ser humano. Das virtudes, da sensatez, do que se pode e do que se deve fazer. Trata da possibilidade de se existir de acordo com as escolhas que fazemos. De se ser autónomo, de viver com gosto. Trata da procura do prazer pelo prazer - e do prazer pela honra. Da justiça. Das formas de vida que levam à felicidade. Da procura do amor. É um livro fundamental para a cultura do ocidente.

Alterações climáticas,um alarme para o Mundo



Relatório científico da ONU sobre as alterações climáticas
"No seu quinto relatório de avaliação, apresentado em Estocolmo, os especialistas deste painel Intergovernamental das Nações Unidas  para as Alterações Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) apresentam vários cenários possíveis, tendo em conta milhares de investigações realizadas nos últimos anos.
O relatório confirma, "ainda com mais certeza, que as alterações climáticas se devem à actividade humana", disse na apresentação do documento o secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial, Michel Jarraud.
Numa mensagem gravada e emitida no início da conferência de imprensa, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, disse: "O aquecimento é real. Agora temos de agir".
O extenso documento foi elaborado por mais de 800 cientistas de todo o mundo e beneficiou dos avanços científicos conseguidos nos modelos climáticos durante os últimos anos, bem como de uma maior compreensão sobre as alterações climáticas do que os relatórios anteriores (o primeiro saiu em 1990). Eis as suas cinco principais conclusões:
1. INFLUÊNCIA HUMANA - É clara e há 95% de certeza de ser dominante no aumento das temperaturas desde meados do século XX. Há uma incerteza quanto à sua contribuição para as alterações registadas nos ciclones tropicais e nas secas, mas há uma evidência quanto à sua contribuição para o aumento da concentração de gases com efeito de estufa na atmosfera, o aquecimento registado na atmosfera e nos oceanos, as mudanças nos ciclos da água e dos gelos, ou a subida do nível do mar.
2. GASES COM EFEITO DE ESTUFA - As concentrações de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera atingiram níveis sem precedentes nos últimos 800 mil anos e o uso de combustíveis fósseis é responsável por 40% do aumento destas concentrações desde a Revolução Industrial (1750).
3. TEMPERATURAS - Vão subir entre 0,3 graus e 4,8 graus centígrados até 2100, comparando com a média do período de 1985-2000, sendo previsível que este aumento ultrapasse os dois graus centígrados, nível crítico a partir do qual o impacto de eventos extremos como secas, ondas de calor, inundações ou furacões poderá ser catastrófico. A estabilização das temperaturas nos últimos 15 anos não altera as tendências da evolução do clima a longo prazo, que devem ser calculadas para períodos iguais ou superiores a 30 anos. Há 90% de certeza de que o número de dias e noites quentes aumentou globalmente nos últimos anos, tal como o número e duração das ondas de calor na Europa, Ásia e Austrália. As secas tornaram-se também mais frequentes e intensas na região do Mediterrâneo e na África Ocidental.
4. OCEANOS - O nível do mar subiu 20 centímetros nos últimos cem anos e vai continuar a subir entre 26 e 82 centímetros até 2100, mas não há um consenso entre a comunidade científica quanto aos cenários de subidas mais elevadas, porque não se sabe com precisão a que ritmo os glaciares e as placas de gelo do Ártico e da Antárctida vão derreter. É muito provável que a Corrente do Golfo, que transporta água mais quente para as costas da Europa Ocidental, venha a enfraquecer ao longo do século XXI. Entretanto, os oceanos absorveram 30% das emissões de CO2 geradas pela actividade humana, o que provocou a sua acidificação, com consequências nefastas para a biodiversidade marinha.
5. GELO - No Ártico, os gelos têm diminuído em área e em espessura nos últimos 20 anos e as temperaturas da água do mar são as mais elevadas desde há 1450 anos. A redução dos gelos na Antárctica também tem acontecido e os glaciares estão a recuar na maioria das regiões do Planeta. Ao mesmo tempo, a cobertura de neve no Hemisfério Norte caiu 11% por década desde 1967. Por outro lado, há 66% de hipóteses de o oceano Ártico vir a estar completamente livre de gelo no verão de 2050." SIC e Expresso

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Liberdade

Liberdade está inscrita na Declaração Universal dos  Direitos fundamentais da Humanidade. Muito se tem dito, escrito , reflectido  sobre o conceito de Liberdade. Mas  Liberdade  não  é apenas  um  conceito, um direito,  um  dever , uma  obrigação  de/para. A Liberdade vive-se, respira-se, sente-se , alimenta-se  para  alimentar.  Ser  livre  é   viver  com   significado porque  " jamais o homem poderá ser aquele que lava as mãos sem sujar a água onde as lava."
Neste momento, em Portugal, além da crise  vive-se  um  período de campanha de  eleições autárquicas. Neste  espaço, as  promessas  eleitorais  não  têm   eco,  mas  acodem  muitas leituras feitas com as reflexões sobre o tema que possibilita a vivência democrática: Liberdade. 
Um  poeta   espanhol,  um   filósofo  francês,  um  romancista   checo  e  um  crítico-- ensaísta-filósofo português deram-nos este valioso contributo: 
DOR
Calo-me, espero
até que a minha paixão
e a minha poesia e a minha esperança
sejam como aquela que anda pela rua;
até que possa ver com os olhos fechados
a dor que já vejo com os olhos abertos. 
Antonio Gamoneda, in " Oração Fria", Assírio&Alvim

A PALAVRA
"Enfim, temos de ponderar a palavra antes que seja pronunciada, o fundo de silêncio que não cessa de a cercar  sem  o qual ela não  teria significado, ou mesmo pôr  a descoberto os fios de silêncio em que ela está enredada."
Maurice Merleau-Ponty, in "Sinais", Editora Minotauro, 1962
VELHICE. " O velho sábio observava os jovens barulhentos e compreendeu subitamente que era o único naquela sala a possuir o privilégio da liberdade porque era velho; é apenas quando é velho que o homem pode ignorar a opinião do rebanho, a opinião do público e do futuro. Está só com a sua morte próxima e a morte não tem olhos  nem ouvidos, ele não tem  necessidade de lhe agradar; pode fazer e dizer tudo o que lhe agrada fazer e dizer. " ( La Vie est Ailleurs). Milan Kundera, in  "Sessenta e Sete Palavras,  A Arte do Romance" , Publ. Dom Quixote
HETERODOXIA e LIBERDADE
" Ora, a liberdade não está ligada obrigatoriamente a um conteúdo determinado. Não é livre o homem que pensa isto e não pensa aquilo ou o que faz cadeiras em lugar de fabricar caixas de fósforos. É livre o homem que sustenta com não importa que conteúdo um tipo de relação, o qual  a sua consciência reconhece como não contrário ao exercício da sua vontade. Em sentido absoluto  nenhum homem é livre pois a consciência é permanentemente  consciência de mundo, acção sempre inscrita num horizonte inalienável e jamais o homem poderá ser aquele que lava as mãos sem sujar a água onde as lava. Mas a liberdade nós a definimos relativamente , dentro de um horizonte humanizado, no interior das suas possibilidades. Nesse sentido a liberdade é definida pela auto-transparência, pelo sentimento de uma proximidade entre o nosso ser e o nosso fazer, cuja expressão-limite e a única pura é o próprio amor.  O homem do amor é sempre um homem livre. 
Ora, nada impede um ortodoxo de ser um homem de um tal amor. Ao contrário , tudo o impele a sê-lo e na realidade não será  um autêntico ortodoxo se não for o homem desse amor  a uma verdade. Quem quer  salvar a sua alma perdê-la-á. O amor é sempre esta perda e esta salvação, todo e qualquer amor desde o mais simples amor de homem e mulher ao amor de Deus.
Todos os caminhos são bons e o homem livre neles se o amor conduz a eles e eles ao amor. À heterodoxia de conteúdo expectante e neutro, a esta partida para as estrelas para de lá pesar em balanças invisíveis as verdades humanas, convém substituir uma heterodoxia da humanidade, do simples fervor humano de contribuir com amigos e inimigos para a luta inacabada e talvez inacabável da cidade da paz possível. Dizer não àqueles que já não vêem a salvação senão no recurso à universal violência, insensata e cósmica para salvar um mundo que não merece ser salvo por tal preço e talvez por nenhum preço; dizer sim ao próximo em sua imediata aflição e estender à nossa volta, se a coragem e o fervor não nos faltarem, o espírito da comunidade de destino humano, tal me parece hoje ser o conteúdo de uma liberdade actuante e viva."
Eduardo Lourenço, in " Obras Completas I, Heterodoxias- 1ª Parte",Edição da  Fundação Calouste  Gulbenkian, 2012

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Sons para recordar

Nem sempre o tempo permite  ouvir e fruir a música, mas a saudade  obriga-se, por vezes, a retomar os sons que se esconderam nas pregas dos dias. 
Eis uma lista de grandes cantores que tem a marca do tempo: 

As vozes inconfundíveis de Barry White e Gloria Gaynor  em " You are The First, My Last , My Everything" uma  famosa canção que mora no tempo.


Numa excelente interpretação, TINA TURNER e STING chegam com a antiga e leve canção, "ON SILENT WINGS". 



Do Brasil, o talento de duas grandes cantoras , Maria Bethânia e Gal Costa  em " Sonho Meu".  Vozes maiores da Música Brasileira numa melodia intemporal.



Charles Roger Pomfret Hodgson , o célebre músico e compositor britânico,  co-fundador da lendária banda "Supertramp" , traz  os sons peculiares que sempre a distinguiu em " LOVERS IN THE WIND"  do Álbum a solo de 1984  "IN THE EYE OF THE STORM".


E para rememorar  cantores que desapareceram precocemente, a inolvidável voz da inconformista  Janis Joplin, em " A Woman Left Lonely", um dos grandes sucessos do seu acervo discográfico.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Prémios Literários 2013


MuraKami favorito para o Nobel 2013
"Segundo a casa de apostas Ladbrokes, o escritor japonês tem 1 em 3 hipóteses de vencer o Nobel. António Lobo Antunes é o único português na lista, embora muito longe do topo.Já depois de no passado ter sido apontado como o principal favorito, Haruki Murakami volta a destacar-se na corrida ao Prémio Nobel da Literatura, que deverá ser anunciado em Outubro (a data não foi ainda divulgada). O escritor japonês surge em primeiro na casa de apostas Ladbrokes, seguido da norte-americana Joyce Carol Oates. Apesar de nem sempre antecipar a escolha da Academia Sueca, que a esta altura ainda não sabe quem será o premiado, o mercado das apostas é um indicador a ter em conta. Aponta, pelo menos, os que maior probabilidade têm a partir de uma lista de cem nomes favoritos. No ano passado, Murakami já ocupava o topo da referida lista, mas o Nobel acabou por ser entregue ao chinês Mo Yan, o n.º 2. Haruki Murakami, autor de Kafka à Beira-Mar e 1Q84 (edição Casa das Letras), surge como favorito numa altura em que o seu novo livro, Colorless Tsukuru Tazaki and His Years of Pilgrimage, está a ser traduzido para inglês, devendo chegar às lojas no próximo ano. No Japão a obra foi editada em Abril e provocou uma grande correria às livrarias, o que levou a que a editora japonesa optasse por duplicar a tiragem de 500 mil exemplares para um milhão. De acordo com a Ladbrokes, Murakami, 64 anos, tem uma hipótese em três de levar para casa o prémio da prestigiada academia sueca, o mais ambicionado no mundo por qualquer escritor. Logo a seguir surge a escritora Joyce Carol Oates, com uma em seis. Seguem-se o húngaro Peter Nádas "uma em sete), o poeta sul coreano Ko Un (uma em dez) e a canadiana Alice Munro (uma em 12).
O top dez é completado com o poeta sírio Adonis, que este sábado esteve na Gulbenkian, no âmbito do ciclo Grandes Lições, do Programa Próximo Futuro. Considerado o maior poeta árabe vivo, Adonis, que em 2011 foi o favorito nestas apostas depois da Primavera Árabe, acabando por perder para o poeta sueco Tomas Tranströmer, está agora em sexto com a hipótese de ganhar o prémio de uma em 14. Seguem-se o norte-americano Philip Roth e o israelita Amos Oz com uma em 16, o norte-americano Thomas Pynchon e o queniano Ngugi Wa Thiog'o com uma em 20.
Na lista, à semelhança de outros anos, surge apenas um português: António Lobo Antunes. No entanto, as probabilidades do escritor vencer são menores do que no ano passado. Na lista da Ladbrokes Lobo Antunes surge agora o com uma hipótese em 100, quando em 2012 a probabilidade era de uma em 25.
Mas há ainda mais dois autores de língua portuguesa nesta lista, um repetente, que é o poeta brasileiro Ferreira Gullar, e o moçambicano Mia Couto, um estreante na lista dos favoritos. Ambos têm as mesmas probabilidades de Lobo Antunes.
Em breve saberemos se as apostas se confirmam. Desde 1901, foram já premiados com o Nobel da Literatura 109 escritores, dos quais apenas 12 eram mulheres." Público,22/09/13
Finalistas do Man Booker 2013
"O autor irlândes concorre com O Testamento de Maria, editado em Portugal pela Bertrand. Entre os seis nomes da short list há dois repetentes (Tóibín é um deles) e, pela primeira vez, um autor do Zimbabué.
A short list do prémio Man Booker de Ficção 2013 foi anunciada esta terça-feira e nela estão obras dos escritores NoViolet Bulawayo, Eleanor Catton, Jim Crace, Jhumpa Lahiri, Ruth Ozeki e Colm Tóibín. Dia 15 de Outubro será conhecido o vencedor daquele que é o mais importante prémio literário britânico, e que ganhará 50 mil libras (cerca de 58 mil euros).
Nesta lista estão os títulos We Need New Names, de NoViolet Bulawayo; The Lowland, de Jhumpa Lahiri; A Tale for the Time Being, de Ruth Ozeki; The Luminaries, de Eleanor Catton, que terá apenas 28 anos quando for anunciado o vencedor, sendo por isso a mais nova da lista; Harvest, de Jim Crace, que já tinha aparecido na short list deste prémio em 1997 pelo livro Quarentena (Gradiva); e ainda O Testamento de Maria, de Colm Tóibín (já editado em Portugal pela Bertrand), escritor que aparece nos finalistas a este prémio pela terceira vez, depois da experiência de 1999, com O navio-farol de Blackwater (D. Quixote), e de 2004, com O Mestre (D. Quixote).
A long list de 13 romances anunciada em Julho mostrava diversidade nas nacionalidades dos autores escolhidos, mas também na forma, nos temas e épocas das ficções, segundo o escritor de viagens e presidente do júri, Robert MacFarlane. Nesta short list de seis romances e respectivos autores continua a existir variedade quanto a origens geográficas: Eleanor Catton é neozelandesa, Jim Crace e Jhumpa Lahiri são britânicos, Ruth Ozeki vem do Canadá, Colm Tóibín, da Irlanda, e NoViolet Bulawayo é a primeira autora do Zimbabué a entrar na short list do prémio Man Booker de Ficção.
“Esta short list demonstra a vitalidade e o alcance do romance contemporâneo no seu melhor. Globais nas suas preocupações e ambiciosos nas suas técnicas, estes títulos lembram-nos as possibilidades e o poder do romance”, disse o presidente do júri na conferência de imprensa de apresentação dos seis finalistas"Público, 10/09/13
Finalistas do Prémio Literário Fernando Namora 2013
"Os escritores Afonso Cruz, Ana Cristina Silva, José Eduardo Agualusa, Julieta Monginho e Rui Nunes são os finalistas do prémio literário Fernando Namora 2013, cujo vencedor será conhecido a 12 de Outubro.A 16ª edição conta com cinco finalistas: «Jesus Cristo bebia cerveja», de Afonso Cruz, «O rei do monte Brasil», romance histórico de Ana Cristina Silva, «Teoria geral do esquecimento», do escritor angolano José Eduardo Agualusa, «Metade maior», de Julieta Monginho, e «Barro», de Rui Nunes.
Todos os romances foram publicados em 2012.
O júri do prémio Fernando Namora é presidido pelo escritor Vasco Graça Moura e integra ainda Guilherme D`Oliveira Martins, José Manuel Mendes, Manuel Frias Martins, Maria Carlos Loureiro, Maria Alzira Seixo, Liberto Cruz, Nuno Lima de Carvalho e Dinis de Abreu.
O prémio literário Fernando Namora foi criado em 1987 e já distinguiu autores como Paulo Castilho, Gonçalo M. Tavares, Miguel Real, Nuno Júdice, António Lobo Antunes, Teolinda Gersão, Maria Isabel Barreno e Urbano Tavares Rodrigues.
O prémio literário, criado pela Estoril Sol, tem um valor monetário de 15.000 euros."Lusa

Prémio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura
"Nome da vencedora foi divulgado na cerimónia de abertura da 15.ª Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo em que participam autores portugueses. A escritora Lídia Jorge estava entre os finalistas.A escritora brasileira Ana Maria Machado é a vencedora da 8.ª edição do Prémio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura com o romance Infâmia . O anúncio foi feito no Brasil, a 27 de Agosto, na abertura da 15.ª Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo.
O prémio no valor de 150 mil reais (47 mil euros) é atribuído de dois em dois anos ao melhor romance em língua portuguesa publicado no Brasil nesse período. Atribuído pela Universidade de Passo Fundo, no estado do Rio Grande do Sul, é um dos prémios literários com mais notoriedade no Brasil, existe desde 1999 e o vencedor da última edição foi João Almino, com o romance Cidade livre.
Entre os finalistas candidatos ao prémio este ano estavam a portuguesa Lídia Jorge (A noite das mulheres cantoras, Leya) e os brasileiros Daniel Galera (Barba ensopada de sangue, Companhia das Letras); Luiz Ruffato (Domingos sem Deus, Record); Paulo Scott (Habitante irreal, Alfaguara); Alberto Martins (Lívia e o cemitério africano, editora 34); Ricardo Lísias (O céu dos suicidas, Alfaguara); Noemi Jaffe (O que os cegos estão sonhando?, editora 34); João Gilberto Noll (Solidão continental, Record) e Eliane Brum (Uma duas, Leya).
Ana Maria Machado nasceu em 1941 e é autora de livros para crianças e adultos. Infâmia (editado no Brasil pela Alfaguara) tem duas histórias paralelas: a de um embaixador na reforma, Manuel Serafim Soares de Vilhena, que vê a sua vida alterada depois do desaparecimento de uns documentos antigos; e de Jorge, o fisioterapeuta do embaixador. As narrativas dos dois protagonistas baseiam-se em factos reais. Este livro já tinha estado entre os finalistas da edição do Prémio Jabuti do ano passado.
O Prémio Passo Fundo Zaffari & Bourbon, criado pela Prefeitura Municipal de Passo Fundo, está ligado às Jornadas Literárias que se realizam há mais de 32 anos numa parceria entre a autarquia e a universidade. A 15.ª edição, coordenada pela professora Tania Rösing, tinha como tema Leituras jovens do mundo , realizou-se de 7 a 31 de Agosto e  levou a Passo Fundo 101 escritores e intelectuais de 11 nacionalidades.
Os escritores brasileiros Ignácio de Loyola Brandão, José Castello e Marcelino Freire estiveram entre os convidados destas jornadas." Adaptação do Artigo de  Isabel Coutinho, Público,28/08/13

Portuguesas vencem a crise nos EUA

Obama discursou no dia 16 de setembro com as duas irmãs portuguesas atrás. 
Fotografia © REUTERS/Kevin Lamarque
Barack Obama destaca empresa portuguesa
"A empresa M. Luís Construction, das irmãs portuguesas Cidália e Natália Luís, foi considerada um exemplo das medidas de combate à crise que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, implementou durante o seu primeiro mandato.No recente discurso de Barack Obama que assinalou os cinco anos da falência do Lehman Brothers e o início da crise, as duas irmãs estavam atrás do Presidente.
"Conhecemo-lo momentos antes do discurso, na Casa Branca. Estávamos num corredor quando ele abriu a porta e nos cumprimentou. Não estávamos à espera. Íamos caindo", lembra Cidália.
As irmãs foram depois convidadas para entrar na Sala Oval, junto com os outros convidados que estiveram presentes no discurso, como uma professora, um aluno ou um empresário na área da restauração.
"Ele comentou que a sala era mais pequena do que se esperava, mas que o seu contrato acabava dentro de três anos e que estava à espera de um espaço maior", lembra Cidália.
"No caminho para o discurso, ele foi sempre a falar connosco. Naquela manhã, tinha acontecido o tiroteio em Washington, mas ele fez-nos acreditar que, naquele momento, éramos o mais importante que ele tinha para tratar."
Cidália, de 45 anos, e Natália, de 41, nasceram no Pombal e estão desde 2008 à frente da empresa que os pais, Manuel Luís e Albertina Luís, começaram há 28 anos no Maryland.
"Eu e a minha irmã ficámos à frente da empresa quando a crise começou", recordou Cidália Luís à agência Lusa. "Foi a pior altura. De um momento para o outro, deixámos de ter clientes. Os bancos deixaram de conceder crédito. Em 2008 tínhamos 400 trabalhadores e, dois anos depois, estávamos com 150."
Em Setembro de 2010, no entanto, Obama assinou o Small Business Jobs Act, uma legislação que criou o State Small Business Credit Initiative (SSBCI) e atribuiu 1.5 mil milhões de dólares (1.1 mil milhões de euros) a pequenas e médias empresas.
Em 2010, em plena crise económica, as empresárias portuguesas recorreram a este mecanismo para comprar uma fábrica de cimento e expandir o negócio para novas áreas.
"Nos Estados Unidos, somos a única empresa familiar gerida por mulheres dona de uma fábrica de cimento", garante Cidália.
"Foi graças aos apoios que recebemos que conseguimos sobreviver. As garantias que o estado deu junto dos bancos foram fundamentais. Hoje, já temos 250 funcionários e calculamos que, indirectamente, criamos quatro vezes mais. Todo o ambiente económico é diferente. Vamos continuar a crescer."
Já antes do discurso de segunda-feira, o secretário do Tesouro, Jacob J. Lew, tinha escolhido a M. Luís Construction para iniciar a semana que dedicou às pequenas e medias empresas no mês de Junho.
"Desde essa altura que ficámos em contacto com a Secretaria do Tesouro. A nossa história acabou por chegar à Casa Branca e, quatro dias antes do discurso, ligaram-nos a fazer o convite", explica Cidália.
Os pais, que estavam de férias em Portugal até Outubro, embarcaram de imediato para os Estados Unidos.
"Eles tinham de estar presentes. Não é todos os dias que conhecemos o presidente dos Estados Unidos. É o reconhecimento de todo o trabalho que tiveram e da decisão que tomaram há mais de 30 anos", diz Cidália." DN, 22/09/13

terça-feira, 24 de setembro de 2013

A evidência discreta



São figuras reais? Penso que não
e serão talvez um reflexo de seres que eu conheci
Mas tal como as vejo têm uma presença profunda
algumas de uma beleza fulgurante
mas discreta
na trémula penumbra ou aura que as envolve
Não sei se sou eu que as suscito
ou convoco
mas a sua aparição é como um botão que rapidamente desabrocha
e eu apenas posso tentar mudar a imagem
para que outra lhe suceda ou fixá-la para que mais nenhum se lhe siga

Quer sejam figuras de mortos ou de vivos
quer sejam imagens do meu desejo ou do meu tremor
elas possuem um ritmo fremente
na iluminação dos rostos
e no silêncio de secreta tranquilidade

Não posso recusá-las
Aceito-as
mas não sei o que significam
embora talvez o seu secreto sentido
seja uma relação entre a beleza e a morte
ou talvez nada mais
que o fulgor esparso de tantas figuras
que por acaso ou não eu encontrei
mas não sei explicar a profunda beleza
de alguns destes rostos
que me fixam e para quem eu não sei quem sou

Nós não andamos à volta de um mistério
Não perdemos tempo com o que irreparavelmente se esconde
ou não se esconde
mas é a nulidade de ser como se fosse
Nós queremos estender o braço para um rosto
que não está formado
e é tão aéreo
como três ramos de árvore

Esse rosto é o alvo da mão nua
mas é ela que deslizando nas linhas do ar
o delineia primeiro como uma folha
depois como o peito de um pássaro
e finalmente como uma pluma de fogo e outra de água

Está finalmente aceso
com a delicadeza
da água
com a lascívia
do fogo
e não te vendo ainda
é a evidência discreta
sobre a pedra

António Ramos Rosa In "Deambulações Oblíquas", Quetzal Editores, Lisboa, 2001

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

António Ramos Rosa

NÃO POSSO ADIAR O AMOR
.
Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas

Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio

Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação

Não posso adiar o coração
António Ramos Rosa, in 
 "Viagem Através de uma Nebulosa", Edições Ática
 Deambulações Oblíquas
É porque nos decepcionamos
que procuramos a perfeição
O símbolo é o arco que abarca a totalidade
e por ele nós podemos alcançar
o que está do outro lado dela
A transcendência do que não vemos
a outra face do todo
é uma perspectiva simbólica
inerente à imediata presença
da face que estamos vendo
Assim o que vemos e o que não vemos
no objecto que estamos olhando
é a coisa em si que o animal não apreende
Não somos nunca o que está diante e separado
o que representa e o representado
em separada oposição
de ideia e objecto
de consciência e corpo
O que em nós está separado
em espírito e em corpo
está ao mesmo tempo unido
numa tensão oblíqua
que nos insere no mundo
E como seres simbólicos
e como seres-no-mundo
somos o que já somos
somos o que ainda não somos
 António Ramos Rosa,in " Deambulações Oblíquas", Quetzal Editores, Lisboa, 2001

Ao longo da existência deste espaço, fomos publicando a poesia de António Ramos Rosa. Poesia grande de um poeta maior que deste chão algarvio partiu para Lisboa, em 1962 e hoje, reparte para não mais voltar. Professor , tradutor, crítico literário, ensaísta, pintor, era o nosso poeta vivo mais premiado.  Desde galardões nacionais a internacionais,  onde se incluem o Grande Prémio da Associação Portuguesa de Escritores (1989), Prémio Pessoa (1988),  Prémio Bienal da Poesia de Liège (1991), Prémio de Poeta europeu ( 1991) , António Ramos Rosa deixou uma obra volumosa e variada em que ressalta a extrema destreza no manejo do expressar poético.
Ao poeta e ao homem a nossa homenagem. A sua poesia estará sempre aqui.

Muitos noticiaram a morte de António Ramos Rosa. Eis um recorte do Público: 
"Autor de uma das obras poéticas mais extensas e marcantes da poesia portuguesa contemporânea, António Ramos Rosa morreu esta segunda-feira aos 88 anos.
Morreu esta segunda-feira em Lisboa, aos 88 anos, o poeta e ensaísta António Ramos Rosa, um dos nomes cimeiros da literatura portuguesa contemporânea, autor de quase uma centena de títulos, de O Grito Claro (1958), a sua célebre obra de estreia, até Em Torno do Imponderável, um belo livro de poemas breves publicado em 2012. Exemplo de uma entrega radical à escrita, como talvez não haja outro na poesia portuguesa contemporânea, Ramos Rosa morreu por volta das 13h30 desta segunda-feira, em consequência de uma infecção respiratória, em Lisboa, no Hospital Egas Moniz.
Além da sua vastíssima obra poética, escreveu livros de ensaios que marcaram sucessivas gerações de leitores de poesia, como Poesia, Liberdade Livre (1962) ou A Poesia Moderna e a Interrogação do Real (1979), traduziu muitos poetas e prosadores estrangeiros, sobretudo de língua francesa, e organizou uma importante antologia de poetas portugueses contemporâneos (a quarta e última série das Líricas Portuguesas). Era ainda um dotado desenhador.
Prémio Pessoa em 1988, António Ramos Rosa, natural de Faro, recebeu ainda quase todos os mais relevantes prémios literários portugueses e vários prémios internacionais, quer como poeta, quer como tradutor.
Já muito fragilizado, o poeta, que estava hospitalizado desde quinta-feira, teve ainda forças para escrever esta manhã os nomes da sua mulher, a escritora Agripina Costa Marques, e da sua filha, Maria Filipe. E depois de Maria Filipe lhe ter sussurrado ao ouvido aquele que se tornou porventura o verso mais emblemático da sua obra – “Estou vivo e escrevo sol” –, o poeta, conta a filha, escreveu-o uma última vez, numa folha de papel.
Para Pedro Mexia, poeta e crítico, Ramos Rosa mostrou, nomeadamente através das revistas que dirigiu e da primeira fase da sua obra poética, “que era necessário superar a dicotomia fácil entre a poesia ‘social’ e a poesia ‘pura’, e que o trabalho sobre a linguagem não impedia o empenhamento cívico”. Como ensaísta, continua Mexia, Ramos Rosa esteve atento ao panorama europeu e mundial, de René Char a Roberto Juarroz, e aos autores portugueses das últimas décadas, incluindo os novos: “Descobri muitos poetas através de obras como Poesia, Liberdade Livre ou Incisões Oblíquas.
Autor "muitíssimo prolífico", "nunca se afastou do seu caminho pessoal, mesmo quando a abundância e a insistência numa 'poesia sobre a poesia' fizeram com que nos esquecêssemos da sua importância decisiva."

Morreu Álvaro Mutis


Amen
Que te acoja la muerte
con todos tus sueños intactos.
Al retorno de una furiosa adolescencia,
al comienzo de las vacaciones que nunca te dieron,
te distinguirá la muerte con su primer aviso.
Te abrirá los ojos a sus grandes aguas,
te iniciará en su constante brisa de otro mundo.
La muerte se confundirá con tus sueños
y en ellos reconocerá los signos
que antaño fuera dejando,
como un cazador que a su regreso
reconoce sus marcas en la brecha.
Álvaro Mutis



Morreu o escritor colombiano Álvaro Mutis
"O escritor colombiano Álvaro Mutis , que residia no México há mais de meio século, morreu, este domingo, na capital mexicana, indicaram fontes oficiais.
A morte do autor foi confirmada pelo Conselho Nacional para a Cultura e Artes do México.
Álvaro Mutis , 90 anos, Prémio Cervantes 2001, morreu num hospital da capital mexicana, de acordo com a imprensa local.
De acordo com a edição digital do diário El Universal, a viúva do escritor, Carmen Miracle, disse que o autor colombiano faleceu cerca das 16,20 horas (22,20 horas em Portugal continental), na sequência de um problema cardiorrespiratório.
O responsável do Conselho Nacional para a Cultura e Artes do México, Rafael Tovar, expressou, através de uma mensagem publicada na rede social Twitter, os seus pêsames à viúva de Álvaro Mutis , bem como a Gabriel Garcia Márquez pela morte de um dos seus melhores amigos.
Pouco depois de conhecida a notícia, Gabriel Garcia Márquez, que também reside no México, escreveu apenas uma palavra no Twitter: " Mutis ".
O velório do escritor tem lugar esta segunda-feira, a partir das 10 horas locais (16 horas em Portugal continental) na capital mexicana, indica a Efe.
Nascido em Bogotá em 1923, e estabelecido no México desde 1956, Álvaro Mutis era considerado um dos melhores poetas e narradores da sua geração e excepcional exponente do "realismo mágico".
Além do Prémio Cervantes (2001), Álvaro Mutis foi galardoado, entre outros, com o prémio Príncipe das Astúrias de Letras e com o da Rainha Sofia de Poesia (ambos em 1997), bem como com o Prémio Médicis para melhor romance estrangeiro em França ("A Neve do Almirante", 1988).
Filho de um diplomata, Álvaro Mutis , que passou grande parte da sua infância na Bélgica, publicou os primeiros poemas e críticas no diário El Espectador de Bogotá, tal como o seu compatriota Gabriel Garcia Marques."JN,23/09/13
Leia mais em  El Espectador, aqui.

domingo, 22 de setembro de 2013

Ao Domingo Há Música



" Os povos primitivos não conheciam a necessidade de dividir o tempo em filigranas. Para os antigos não existiam minutos ou segundos. Artistas como Stevenson ou Gauguin fugiram da Europa e aportaram em ilhas onde não havia relógios. Nem o carteiro nem o telefone apoquentavam Platão. Virgílio nunca precisou de correr para apanhar um comboio. Descartes perdeu-se em pensamentos nos canais de Amesterdão. Hoje, porém, os nossos movimentos são regidos por fracções exactas de tempo. Até mesmo a vigésima parte de um segundo começa a não mais ser irrelevante em certas áreas técnicas." Paul Valéry, in "A Busca da Inteligência", Ed. Gallimard

"Evening in the village" de  Béla Bartók  é uma excelente melodia para  desenhar  em sons o  espaço libertador da criatividade, sem que o jugo do tempo lhe roube harmonia. 

sábado, 21 de setembro de 2013

Do Amor: uma breve madrugada


Apresenta-se um texto em prosa, extraído de um livro de poesia de Eugénio de Andrade, que vem reafirmar  a riqueza   e a elegância com que este grande poeta maneja a palavra. O amor em celebração nas madrugadas da vida.

PRIMEIRAMENTE
"Acordo sem o contorno do teu rosto na minha almofada, sem o teu peito liso e claro como um dia de vento, e começo a erguer a madrugada apenas com as duas mãos que me deixaste, hesitante nos gestos, porque os meus olhos partiram nos teus .
E é assim que a noite chega, e dentro dela te procuro, encostado ao teu nome, pelas ruas álgidas onde tu não passas, a solidão aberta nos dedos como um cravo.
Meu amor, amor de uma breve madrugada de bandeiras, arranco a tua boca da minha e desfolho-a lentamente, até que outra boca - e sempre a tua boca - comece de novo a nascer na minha boca.
Que posso eu fazer senão escutar o coração inseguro dos pássaros, encostar a face ao rosto lunar dos bêbados e perguntar o que aconteceu."
Eugénio de Andrade, in  "As Palavras Interditas", Ed. Assírio & Alvim

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Do Amor: como uma trovoada

"Um Amor Feliz" de David Mourão-Ferreira foi editado em 1986 e considerado um dos grandes romances do Sec. XX. Foi Prémio de Narrativa do Pen Clube Português, Prémio D. Dinis da Fundação da Casa de Mateus, Prémio de Ficção Município de Lisboa e Grande Prémio de Romance da Associação Portuguesa de Escritores.
Neste romance, o amor surge adúltero, carnal e quase erótico entre  a senhora Y e um artista plástico, Fernão. Um caso de amor escaldante onde o poder da sedução impera logo nas primeiras páginas do romance. A maestria poética de David Mourão Ferreira ressalta na narração deste  Amor Feliz..
" Segredo-lhe estas palavras com a boca a subir-lhe das espáduas até à nuca, e da nuca até à concha do ouvido. Já perto de um mês  correu sobre o dia em que tão atrasada aqui chegou, trazendo o maillot branco, em vez do xaile  branco, dentro do saco do Hermès. Acabámos agora de ser, em cima desse divã, grutas e gritos abafados da mesma praia submersa ; raízes, ramos, folhas, frutos, da mesma árvore na horizontal.
Estamos ambos de pé, estamos ambos nus, diante do enorme espelho aí à largura dessa parede: e todo eu me escondo atrás do seu corpo, assim lhe mostrando como só o seu corpo ali merece reflectir-se. Acaricio-lhe e sopeso-lhe os seios, ora um ora outro, na palma da minha mão direita, enquanto com os dedos da mão esquerda lhe modelo o pescoço, o ombro, o flanco, o ventre, o deslumbrante nascimento das coxas, procurando suplicar-le, através destes gestos, que finalmente se orgulhe de umas linhas tão puras, de umas formas tão enxutas e tão harmoniosamente distribuídas. Mas os seus olhos apenas espiam, na superfície do espelho, o reflexo do meu rosto semioculto.
(...) Raízes, ramos, folhas, frutos. E a gruta; e o grito. Nem tratámos , desta vez, de sequer alcançar o divã. Bastou-nos , defronte do espelho, o escasso rectângulo desse tapete. E dificilmente percebo como conseguimos, no fim, içarmo-nos até à poltrona . Encontramo-nos, no entanto, muito mais despertos do que supúnhamos: sentimo-nos leves, límpidos, alados, lúcidos, como depois de uma trovoada." David Mourão-Ferreira, in " Um Amor Feliz", Editorial Presença, 1ª edição, Lisboa, 1986

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Do Amor: Um corpo

Escrever sobre o amor não corresponde a escrever com amor, mas só amando e tendo amado se encontram as palavras que retratam o amor na sua verdadeira essência.
Muitos escritores deixaram , ao longo do tempo , páginas admiráveis sobre o amor. Quer em poesia , quer  em prosa podemos encontrar magníficos exemplos. 
Em Portugal, há uma galeria de excelentes escritores que nos deslumbrou com a perfeição da cerimónia do amor. Páginas de beleza literária onde o amor é a palavra maior.
Transcrevemos já alguns excertos  de obras de Vergílio Ferreira e muita poesia de  David Mourão-Ferreira e de Eugénio de Andrade. Revisitámo-los e escolhemos apenas prosa construída numa escrita luminosa quase poética que  celebra, de forma sublime, o mistério do amor. Vamos apresentá-los em três dias consecutivos.
Hoje, o espaço é de  Vergílio Ferreira no romance " Em Nome da Terra", um hino grandioso ao amor que vai  para além da morte :
"(...)Um corpo apenas, material, verificável. Mortal. Mas o que sobrepus nele não se trespassa assim. É preciso atravessar o medo o deslumbramento o impossível. É preciso vencer o mistério – um corpo amado é tão misterioso. Meu corpo de ternura. Havemos de conquistá-lo até um dia. Até quando ele for insuportável de doçura. Devagar. Mas há a tua inquietação. A tua pressa ardência, deixa-me ter tempo de te criar. De te trazer toda às minhas mãos. De trazer até mim o teu olhar esquivo, os teus desencontros furtivos. A tua agilidade, o oculto de ti. O teu riso, a tua franja irrequieta. A rapidez de seres, a vitalidade desassossegada, a tua alegria agressiva. A intensidade de existires – devagar. Atravessar tudo até ao teu mito que está todo no teu corpo nu. Fica longe. Tanto. E então amámo-nos e tudo estava aí. Estava lá tudo ao mesmo tempo e eu estalava de agonia. E Deus olhava-nos e dizia está bem. Realizar Deus todo inteiro é difícil. Está bem. Tínhamos as galáxias do universo e havia ainda espaço. E isso era de endoidecer. Tínhamos em nós a sua expansão até ao rebentamento de nós. O desmesurado e incrível. Deus olhava o nosso esforço enorme e sorria por cumprirmos o seu poder. (...) Desaparecermos no não-ser, na perfeição. E olhar por fim o teu corpo morto, reconhecermo-nos na materialidade expulsa do paraíso. " Vergílio Ferreira, in “ Em Nome da Terra”, Quetzal, 10ª edição, 2009

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Eventos culturais em Setembro


Grandes liçõescom o poeta sírio Adonis e o escritor brasileiro Milton Hatoum na Fundação Calouste Gulbenkian, Sábado, 21 set 2013 | 15:00,Auditório 3,(com transmissão em directo online)
15h: Experiência e Linguagem
Conferência por Milton Hatoum: Como a experiência de um escritor é sedimentada na forma romanesca? Como se constrói a ponte entre a experiência e a linguagem?
16h15: Conversa sobre livros com Adonis e Milton Hatoum, seguida de debate e perguntas do público.
17h30: Apresentação de Grandes Lições - Volume 2. Este livro é publicado em parceria com a Tinta-da-China e reúne uma selecção de textos das conferências realizadas no âmbito do Programa Gulbenkian Próximo Futuro.
Watch live streaming video from fcglive at livestream.com
Milton Hatoum (Manaus, 1952) foi professor de literatura na Universidade Federal do Amazonas e professor visitante da Universidade da Califórnia (Berkeley). O seu primeiro romance (Relato de um certo oriente/1989) obteve o prémio Jabuti. Em 2000 publicou Dois irmãos, eleito o melhor romance brasileiro no período 1990-2005 em pesquisa feita pelos jornais Correio Braziliense e O Estado de Minas. Em 2005 publicou Cinzas do Norte (prémios Portugal Telecom e Jabuti e Grande Prémio da Crítica). Publicou também a novela Órfãos do Eldorado/2008, o livro de contos A cidade ilhada (2009) e o livro de crónicas Um solitário à espreita. Os seus livros já foram traduzidos em 14 línguas e publicados em 17 países. Actualmente mora em São Paulo e é colunista do jornal O Estado de S. Paulo. Em Portugal, os romances de Hatoum são publicados pela Cotovia.
Adonis (Lataquia, 1930) é um poeta e ensaísta sírio, com uma longa carreira literária no Líbano e em França, autor de mais de vinte livros em língua árabe. Nascido Ali Ahmad Said Esber, é considerado o máximo expoente da poesia árabe contemporânea sob o pseudónimo 'Adonis'. Estudou Filosofia na Universidade de Damasco e, em 1954, devido às suas actividades políticas como membro do Partido Socialista Sírio, foi acusado de subversão e preso por seis meses. No ano seguinte partiu para Beirute, onde se dedicou à publicação de periódicos e fundou, em colaboração com o crítico literário libanês Yusuf Al-Jal, a revista de poesia Schiir (Poesia). Em 1956 deixou a Síria e foi viver para o Líbano. Recebeu uma bolsa de estudos para estudar em Paris (1960-61) e adquiriu a cidadania libanesa. Em 1973 concluiu o doutoramento pela Universidade de St. Joseph e em 1977 recebeu, em sinal de reconhecimento do seu percurso literário, a "Corona de Oro" do Festival Struga Poetry Enings (Macedónia). Em 1980 emigrou para Paris para escapar à Guerra Civil Libanesa e, durante anos, foi professor de língua árabe na Sorbonne. Apesar de dominar a língua francesa e de também conhecer a língua inglesa, o poeta garante que só fala o árabe: "É em árabe que penso, falo e escrevo", costuma afirmar. Conhecido por combater o sionismo e as ditaduras árabes, defende uma poesia livre das 'amarras' das instituições políticas e das obrigações religiosas.

Iniciativa Gulbenkian Oceanos

Promover a valoração económica dos serviços prestados pelos ecossistemas marinhos e costeiros é a missão da Iniciativa Oceanos, que será apresentada publicamente a 27 de Setembro, na Fundação Gulbenkian.Quanto vale um clima ameno ou uma vista para o mar? E quanto vale podermos comer peixe fresco? Num país como Portugal, com uma tão vasta área marítima sob a sua alçada, a Iniciativa Gulbenkian Oceanos foi criada para ajudar a responder a estas perguntas, melhorando o conhecimento científico e a percepção pública e política dos benefícios que nos trazem os ecossistemas marinhos e costeiros.Ver Site

Aula Magna da Universidade de Lisboa

Do outro lado do Atlântico chegam sons que conferem às formas clássicas europeias uma paleta de cores quentes e intensidades próximas de ritmos feitos dança ou paixão. Mergulhando as suas raízes em diferentes terrenos culturais, a música erudita da América Latina foi ganhando assim uma visibilidade muito própria, com um discurso individual a que a Orquestra Metropolitana de Lisboa dá mais uma vez espaço. A Colômbia é o país em destaque no quarto concerto do ciclo À Descoberta da América, numa parceria que junta a Casa da América Latina, a Orquestra Metropolitana de Lisboa, a Universidade de Lisboa, a Câmara de Comércio e Indústria Luso-Colombiana e a Embaixada da Colômbia em Lisboa. O concerto, que terá direcção musical do prestigiado maestro colombiano Alejandro Posada, contará com os seguintes músicos: Nuno Silva (clarinete), Aaron Copland (Concerto para clarinete), Morales Pino (Fantasia sobre temas colombianos), Alejandro Tovar (Serenata em Málaga) e Alejandro Tovar (Serenata en Chocontà)."
Orquestra Gulbenkian na Basilica de Mafra
Último concerto que a Orquestra Gulbenkian realiza em colaboração com o Festival Cantabile, para a temporada Gulbenkian Música 13/14. O programa na Basílica de Mafra inclui obras de Mozart e Bach. Ver agenda

Novos Músicos, Concerto de Tango com entrada livre na Casa da América Latina
25 de Outubro,22h00
Rocío Keuroghlanian (voz) e Manuel Álvarez Ugarte (guitarra) encerram com um concerto de tango o ciclo de concertos Novos Músicos, que teve por finalidade dar visibilidade a músicos emergentes no panorama nacional e internacional, com projectos de raiz e inspiração latino-americana. 
Rocío Keuroghlanian nasceu em Buenos Aires em 1975. Na Argentina estudou canto lírico e em 2001 emigrou para França, onde prosseguiu os estudos musicais e iniciou uma carreira de cantora. Vive, desde 2009, em Lisboa, onde é professora de música para crianças no Liceu Charles Pierre. Em 2012 encontrou o seu caminho como cantora de tangos. Jovem senhora de uma voz profunda, encanta o público fazendo com que ao ouvi-la cada um descubra novas emoções
Manuel Álvarez Ugarte nasceu em Buenos Aires em 1975. Guitarrista, compositor e professor, tem obra editada na Argentina, nos Estados Unidos e em Espanha. Nas suas músicas estão presentes ritmos e formas da música popular argentina e latino-americana, bem como jazz, música académica e contemporânea.
Teresa Ramos e Pedro Tropa
"Abecedário, 40 anos da Ar.Co", uma festa em boa companhia
"Conhecer o centro de arte através de alunos e professores numa reunião de 170 peças, no MNAC, em LisboaFotografia, desenhos, pintura, cerâmica, escultura, ourivesaria, ilustração e até filmes. As artes manifestam-se em várias formas e sentidos em "Abecedário, 40 anos da Ar.Co", que é hoje inaugurado no Museu Nacional de Arte Contemporânea, em Lisboa. A largada faz--se no início dos anos 70, o destino é o novo milénio.
Na exposição encontra-se o Centro de Arte e Comunicação Visual em jeito de comemoração. Os 40 anos de vida foram pretexto para relembrar as caras, as histórias e as obras que por ali passaram. O Museu do Chiado acolhe a festa, que também conta um pedaço da história da arte contemporânea em Portugal. "A instituição é criada em 1973. Havia pouca escolha, estávamos em regime de ditadura, e o Ar.Co vem trazer uma lufada de ar fresco e tem mantido muito essa atitude experimental no seu ensino, que era uma coisa rara. A lógica é pluridisciplinar, há pintura, desenho, joalharia, cinema, cerâmica. Toda a estrutura gerou uma dinâmica muito própria que vale a pena ser conhecida", conta Paulo Henriques, comissário da mostra e também director do museu.
Ana Hatherly, Eduardo Nery, Noronha da Costa são alguns dos nomes que podem ser encontrados numa primeira fase em que são apresentados os professores mais emblemáticos do centro. Duarte Amaral Neto, Daniel Malhão, Eurico Lino do Vale, Joana Vasconcelos, Manuel Vilhena, João Queiroz, Pedro Calapez, Rui Chafes, Yara Kono. Uma longa lista onde professores e aprendizes se juntam num caminhar pelos corredores da escola: a viagem começa por atender à cronologia mas logo desata as amarras, que a arte encontra uma organização muito própria. A gente que por lá passou e as suas criações é que nos guiam pelo longo e pausado percurso. São 170 as peças para conhecer (grande parte inéditas), filmes incluídos. Alguns são excertos dos arquivos do centro e ainda há "Ribeiro" (1973), uma experiência em Super 8 de Ângelo de Sousa.
"Quarenta anos na história é um tempo brevíssimo, mas este foi um projecto de ensino que mostrou coerência ao longo dos tempos", continua o director. Através das quatro décadas é possível conhecer diferentes gerações de artistas e o "Abecedário" faz o contexto: os textos, em ordem alfabética, narram o percurso do centro, histórias para fazer companhia no passeio com o olhar.Exposição patente até dia 10 de Novembro. De terça-feira a domingo das 10h00 às 18h00. Entrada: 4 euros com visita à exposição permanente incluída." Maria Espírito Santo, em Jornal i ,18/Set./13