domingo, 31 de outubro de 2010

O novo livro de António Lobo Antunes

"Sôbolos Rios Que Vão"
Sinopse
Entre os últimos dias de Março e os primeiros de Abril de 2007, depois de uma operação grave, o narrador, entre as dores e a confusão provocada pela anestesia e pelos medicamentos, recupera fragmentos da sua vida e das pessoas que a atravessaram: os pais e os avós, a vila da sua infância, a natureza da serra os amores e desamores. Como um rio que corre, vamos vivendo com ele as humilhações da doença, a proximidade da morte, e o chamamento da vida.
Autor: António Lobo Antunes
Páginas: 200 pág.
Ano de Edição: 2010

José Gil apresentou  o  novo livro de Lobo Antunes . O filósofo  classificou  o mais recente romance de António Lobo Antunes, "Sôbolos Rios Que Vão", como "um grande livro, com muitos aspectos insólitos e inéditos na escrita do autor".
"É uma obra torrencial e uma das mais belas de Lobo Antunes", disse José Gil, no Museu da Água, em Lisboa, na sessão de apresentação do livro, editado pela Dom Quixote, que contou com a presença do autor.
Ler +: José Gil apresentou novo livro de Lobo Antunes - Artes - DN
            Lobo Antunes: "De repente, percebi que sou mortal"

A voz do silêncio para ouvir neste Domingo

"La Voce del Silenzio" , o silêncio cantado pela voz admirável de Andrea Bocelli . Escutá-lo é um prazer ímpar e libertador que tem a marca da intemporalidade neste tempo tão agitado e ruidoso.



La Voce del Silenzio  ( Letra de Mogol e Paolo Limiti  e música de Elio Isola, 1968)
Volevo stare un po' da solo
per pensare tu lo sai,
e ho sentito nel silenzio
una voce dentro me
e tornan vive troppe cose
che credevo morte ormai.....
e chi ho tanto amato

dal mare del silenzio
ritorna come un'ombra
nei miei occhi, e quello che mi manca

nel mare del silenzio
ritorna come un'ombra
mi manca sai molto di pi?

ci sono cose in un silenzio
che non aspettavo mai
vorrei una voce,

e improvvisamente
ti accorgi che il silenzio
ha il volto delle cose che hai
perduto
e io ti sento amore
ti sento nel mio cuore
stai riprendendo il posto che
tu non avevi perso mai
che non avevi perso mai
che non avevi perso mai

volevo stare un po' da solo
per pensare tu lo sai

ma ci son cose in un silenzio
che non m'aspettavo mai
vorrei una voce

e improvvisamente
ti accorgi che il silenzio
ha il volto delle cose che hai
perduto
e io ti sento amore
ti sento nel mio cuore
stai riprendendo il posto che
tu non avevi perso mai
che non avevi
perso mai
che non avevi
perso mai.


sábado, 30 de outubro de 2010

O mau tempo português



E depois de tanta água, surge uma  inundação mediática para anunciar o veredicto final, assinado a dois, como mostra a fotografia , qual "recuerdo" do inesquecível infortúnio que acomete Portugal há longos anos.
São os tempos de um Portugal afundado.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

O país dos milhões

Após conversações mediaticamente divulgadas , as delegações mandatadas pelo Governo e pelo PSD interromperam os encontros por causa de cerca de  200 milhões de euros, quantia considerada irrisória por parte dos sociais-democratas e pelos analistas políticos. Num país, cuja  população atinge os 10 milhões , falar  em milhões não  transforma  Portugal num país de milionários. Todos os dias, num labor incansável, a  miséria e a pobreza de rédea  totalmente solta   vão batendo às portas,  por esse país fora.
Assim,  como pode ser irrisória  uma verba destas  que pode  alterar radicalmente a condição social de muitos portugueses ? Claro que há aqui qualquer coisa que nos escapa. Possivelmente, estes milhões são irrisórios porque  não podem ser vistos  apenas como um todo autónomo. O  Ministro das Finanças foi peremptório. Não os pode dispensar , mais ainda,  pertencem-lhe  como parte integrante de um erário que, por direito, lhe foi doado.
Ora, o que nos é doado, é doado. Pertence-nos. Quem o quiser, a ele não tem acesso.  E reside, aqui,  a explicação para este desentendimento e para esta guerra de milhões. Os portugueses, NÓS, já doámos e  vamos continuar a doar ao Governo , representado pelo  Ministro das Finanças, milhares de milhares de milhões de euros . Retirar qualquer insignificância de milhões de euros a tantos  milhares de milhões previstos é proibido e catastrófico. A  casa dos   representantes do povo , a Assembleia da República, cujo orçamento tem o mesmo valor, apenas cerca de 200 milhões de Euros, poderia fechar.  A presidência do Conselho seria obrigada a restringir  as dezenas de milhões orçamentadas para a manutenção do seu Gabinete,  sujeitando-se a uma dolorosa e  sacrificada sobrevivência . E outros exemplos de catástrofe iminente poderiam ser enumerados, numa sequência de implosões proibidas.
E, então, como ficaria este país sem esta gente ilustre? Se fosse poeta  responderia:  mais livre e mais feliz.
Não o sou e, por isso, acabo de ter conhecimento de que as conversações foram retomadas e de que  a guerra dos milhões  termina por ordem de quem mais ordena. Quem será?  Não é o vento certamente e NÓS também não.

Sobre a mentira política

A mentira política é como a poluição. Quando se vive com ela, deixa de se sentir. A mentira  política envenena-nos, mas impregna também os outros. Torna-se uma fórmula de delicadeza, torna-se o saber viver. Quando explode em tragédia, é demasiado tarde.
PIERRE DAIX 

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Este é tempo de partido


Este é tempo de partido,
tempo de homens partidos [...]
O poeta
declina de toda responsabilidade
na marcha do mundo capitalista
e com suas palavras, intuições, símbolos e outras armas
promete ajudar
a destruí-lo
como uma pedreira, uma floresta,
um verme.

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE,  in " Antologia Poética"

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A Canção Inicial


Paulo de Carvalho em " E depois do Adeus ",  a canção que foi senha na noite do 24 de Abril de 1974 para marcar o início da Revolução de Abril. A música é de José Calvário e a letra de José Niza.
Quão longe vai esse tempo e quanta esperança nele depositámos. As questões à volta do OE mostram a vacuidade que invadiu  a política portuguesa. Muitos dos ideais que pretendiam construir um Portugal novo, solidário, livre e humanista  foram esquecidos e preteridos em função de um liberalismo económico selvagem , castrador  e  voraz. A miserabilidade é-nos imposta e o estado social que  Abril apregoou está moribundo. Portugal é um mosaico de anacronismos políticos  esvaziado de um projecto nacional em que o governo exclui o próprio cidadão que o elegeu. A ganância e o fátuo desejo de protagonismo pessoal e partidário substituiu a causa pública. Da res publica chegou-se a coisificação individual e ao primado do interesse de quem governa , de quem se move no corredor do poder em total detrimento do benefício dos governados, do país.
Meu pobre, pobre Portugal, que fizeste às promessas desse Abril redentor?


O OE em Cartoon

Bartoon,  in  Jornal "Público "de  14/10/2010

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Fomos enganados


"Viemos aqui a pedido do meu amigo José Sócrates, um bom homem. Num momento difícil para Portugal, viemos dar-lhe as duas mãos". - declarou, no Domingo (25/10/2010),  Hugo Chavez, à chegada a Portugal.
E nós, ingénuos e sonhadores,  estavamos convictos de  que dar as duas mãos , seria agarrar o amigo e levá-lo  para as terras de Simon Bolívar num jacto fabricado ao jeito do capital socialista. Após  o encontro com o também amigo (comum) Kadafi, acreditavamos  que Chavez  viria irredutivelmente  buscar o tão  prezado bom homem .  Num momento difícil era a solução adequada que se impunha. Afinal, esta amizade confinou-se  ao gesto magnânimo  de " largar" uns "troquitos" e deixá-lo cá , entre nós,  a enterrar-nos  no pântano da lama que juntou.
Esperemos que Kadafi se comova e, numa atitude  altruista de verdadeira solidariedade,  corrija a avareza de Chavez, abrindo de imediato  no seu governo uma vaga de Alta Assessoria para este qualificado  amigo Sócrates , o Português. 
Que  mais  infortúnio não nos venha , já que  precária é a amizade entre estas ilustres figuras.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Sobre o carácter relacional do poder


Os culpados escapam sempre
por Baptita Bastos

O Orçamento, aquilo que dele conhecemos, impõe-nos a obediência total a uma tremenda iniquidade. Falemos de servidão, afinal o que as circunstâncias favorecem: não podemos desobedecer porque o imposto de submissão, engendrado pelo Governo PS, abate-se sobre nós, e responsabiliza-nos sob a fórmula de "o interesse nacional". Expressão cuja lógica é a de comprometer toda a gente menos aqueles que, rigorosamente, são os culpados. O clamor de protestos que se escuta por aqui e por ali conduz-nos ao carácter relacional do poder. E induz-nos a reflectir sobre a sua natureza. No caso português, sobre a monstruosidade das suas aberrações.
A crise do sistema prolonga a argumentação deste Governo que não soube prever as condições históricas, nas quais o capitalismo se movia, e oculta as suas derivas e as suas incompetências com uma retórica "balsâmica". Ouve-se o primeiro-ministro e não se consegue descortinar onde está o "normal" e o "patológico". Mas também não distinguimos os objectivos de Passos Coelho, com o carácter das suas ofensivas sociais e a qualidade da democracia que diz defender. Que raio de democracia é esta, a de Passos, e aquela sob cujo paradigma temos vivido?
A encruzilhada na qual o País convenciona a sua perplexidade é bem pior do que a questão económico-financeira. É a ausência de alternativa. O Governo estrebucha. O PSD não serve. O rotativismo resultou neste imbróglio onde inexiste a racionalidade política, e as excrescências do improviso e as técnicas impositivas (para não dizer: repressivas) se sobrepõem aos próprios conceitos de democracia. Quando vinte por cento da população vivem abaixo do limiar da pobreza, e cerca de 600 mil portugueses estão desempregados; quando a nossa mocidade vai embora e licenciados ganham a vida nas caixas registadoras de supermercados, está estabelecida uma desapropriação social horrorosa. Goste-se ou não, foi-nos imposta uma forma de sociedade totalitária, sob a capa de "democracia de superfície". Nem o PS nem o PSD contrariaram a perda de valores e de padrões, comum à hierarquização do dinheiro que a nova ordem económica incutiu e estimulou.
As nossas sociedades actuais ainda dispõem das virtualidades, intrínsecas à ética republicana e à moral democrática? Em Portugal, muitos que beneficiaram da ruptura do 25 de Abril não são aqueles que pela liberdade se bateram e inúmeros perigos correram. Não há um destes, um sequer, que tenha três e quatro reformas; ou que receba, mensalmente, 3500 escudos (moeda antiga) de pensão vitalícia e actualizada, por seis meses de funções numa poderosa instituição bancária pública.
Vê-se a dificuldade da questão. Mas alguma coisa tem de ser feita. Os bárbaros estão às portas de Bizâncio.

Artigo de Opinião de Baptista Bastos, publicado no DN de 20 de Outubro de 2010

domingo, 24 de outubro de 2010

A tragédia continua no Haiti

Após a destruição provocada pelo sismo brutal , o Haiti ainda sobre ruínas, fragilizado e vulnerável , é invadido por epidemias para as quais não tem capacidade para resisitir. Cerca de duas centenas já sucumbiram à cólera e alguns milhares estão infectados. A tragédia da doença instalou-se.
O mundo nem sempre cumpre as promessas que divulga em tempo mediático . O esquecimento apaga rapidamente o altruismo pontual. E se palavras leva-as o vento, no Haiti a miséria  continua.

sábado, 23 de outubro de 2010

Cesária Évora

A voz inconfundível de Cesária Évora interpretando "Saudade", um dos seus maiores sucessos.

O mundo é grande




O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.



Carlos Drummond de Andrade in “Amar se Aprende Amando”, Editora Record, 2001

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

A Manipulação linguística



" O emprego deliberado da linguagem para fomentar a confusão das consciências e a ocultação da realidade é o que se entende por manipulação. (...) No contexto de confusão e submissão das consciências , a manipulação entende-se como a comunicação de alguns, ao serviço da dominação sobre os demais.
Manipula-se quando se produzem deliberadamente mensagens que não têm a ver com a realidade social.
O uso manipulador da linguagem é tão antigo quanto a dominação de uns seres humanos sobre outros. Todos os dominantes sejam feiticeiros, religiosos, políticos, económicos, intelectuais ou de quaisquer outras naturezas, utilizaram as palavras para confundir, aterrorizar, ocultar e manter a ignorância sobre as autênticas relações de dominação e exploração.
Daí a necessidade de desenvolver um pensamento crítico, independente. Esse princípio integra também a essência da educação.Na linguagem da educação, como na da economia, na da comunicação social, da política , etc., predominam as terminologias  utilizadas deliberadamente para confundir , para intoxicar as mentes. "

Vicente Romano, " A Intoxicação Linguística ", Editora Deriva

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Chuva



Para ouvir

O " Arquivo Íntimo" de Nelson Mandela

“ Conversations with Myself “  é um livro recheado de revelações sobre um dos homens que marcou definitivamente a história de África e do mundo nestes últimos séculos. Com prefácio de Barack Obama, foi lançado mundialmente a 12  deste mês e será publicado pela  Objectiva,  em Portugal, a 8 de Novembro, com o título “ Arquivo Íntimo “.
"(Estes) arquivos contêm vestígios da minha vida e a daqueles que comigo viveram. Qualquer pessoa que tenha explorado o mundo dos arquivos saberá que encerra tesouros, surpresas, caminhos cruzados, becos sem saída, lembretes dolorosos e perguntas sem resposta", escreveu  Mandiba, o antigo Presidente sul-africano, numa resenha para a apresentação do livro. 
O símbolo da generosidade e da partilha humana tenta desconstruir neste livro autobiográfico o mito de homem superior que foi endeusado. Retrata-se como um ser humano vulnerável, digno mas frágil como qualquer outro homem.
"Quando era jovem... reunia em mim todas as fraquezas, todos os erros e faltas de discrição de um rapaz do campo [...]. Confiei na arrogância como forma de esconder as minhas fraquezas. [...] Uma questão que me preocupava seriamente na prisão era a falsa imagem que eu, sem qualquer intenção, projectava para o mundo exterior; a de ser encarado como um santo. Nunca fui um santo, nem mesmo na acepção terrena de um santo como um pecador que não cessa de se esforçar." 
Barack Obama, no Prefácio que abre este livro, sublima as confissões de Mandela ao afirmar: "Como todos nós, [Mandela] também tem as suas falhas. Mas são precisamente essas imperfeições que deverão inspirar todos e cada um de nós. [...] Todos nós travamos batalhas grandes e pequenas, pessoais e políticas - para ultrapassar o medo e as dúvidas [...]." 
" Arquivo Íntimo " constituirá indubitavelmente uma boa leitura para quem quiser descobrir este  singular homem, diverso, diferente e a sua visão do mundo.

Um agradável momento musical

 Tina Turner e Barry White  num extraordinário dueto, em "Wildest  Dream" (Pictorial).

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

O caminho



Nem sempre caminhamos para onde queremos, mas a escolha do nosso caminho pertence-nos.
Imperfeito, difícil, tosco é, muitas vezes, o caminho da LIBERDADE. Encontrá-lo e percorrê-lo é  um imperativo primeiro e primordial.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

OE, a condenação dos inocentes


O Orçamento do Estado entregue pelo Governo à Assembleia da República prevê tudo, excepto a segurança de ser eficaz e, por tal, de se bastar a si próprio como medida maior e única para 2011. Na sua essência tem diluída a composição do  ADN deste nosso desgovernado Governo e para fatalidade maior  vai tentar injectá-la no país. Assim, a contaminação está prevista e de inocentes passaremos todos a culpados, aliás situação que está promulgada desde que o Presidente do Conselho se escusou de qualquer responsabilidade no estado desta nação. Somos  refém de um génio narcísico que anuncia  agir em prol da salvação nacional, como se a Nação lhe pertencesse e fosse , por tal, seu senhor e dono. Nem Maquiavel previu tanto.
O labiríntico caminho que Portugal tem percorrido abortou num atalho que sem saída veda o acesso ao discernimento e apenas se orienta pelas  exigências dos mercados internacionais.  A nação deixou de estar no centro da governação. Passamos a ser o cordeiro no patíbulo pronto e sempre prestes ao sacrifício.
 É preciso desmontar, desconstruir esta falácia que a estrutura governamental tem montada e mostrar a verdadeira realidade que nos espera. Não se está a defender o  futuro de Portugal e muito menos se releva o estado social.  O governo está a degolá-lo ininterruptamente e com ele todos nós.
Até quando vigorará este OE? Quando virá o PEC III ou  um novo Orçamento Rectificativo? E a manipulação dos números continuará imparável, enquanto o cordeiro continua no patíbulo forçado a outro, outro  e outro sacrifício.
Eis, então, que é tempo de saber onde estão as vozes deste País? Que fazeis além do vão  ruido em libelos condenatórios? Por que razão aceitar a exclusão, a inevitabilidade da pobreza, a ocultação da  verdade ?
A História não se escreve com o  silêncio dos inocentes.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

"Vissi d'arte", a música em lamento

Angela Gheorghiu  interpretando magistralmente  a aria  "Vissi d'arte" da ópera "Tosca" de Giacomo Puccini que estreou em Roma, a 14 de Janeiro de 1900. É uma ópera em 3 actos com libreto de Luigi Illica e Giuseppe Giacosa.
Esta aria pertence ao II Acto quando Floria Tosca ( cantora de ópera) é  assediada por Scarpia ( Chefe da Polícia de Roma) que pretende saber o paradeiro do prisioneiro político Cesare Angelotti (ex-cônsul, ) que  se evadira da prisão. Scarpia ordena a tortura de  Mario Cavaradossi ( pintor), amante de Tosca,  porque ambos  conhecem Angelotti. Esta escuta os gritos do seu  amante, não resiste e confessa. Após ter visto Mario violentado  e quando já fora retirado para ser executado, Tosca rejeita as invectivas de  Scarpia e destroçada  canta Vissi d'arte, vissi d'amore (Eu vivi para a arte, eu vivi para o amor). Um cântico dramático e densamente emotivo que se impõe como um dos momentos mais belos desta ópera.



"Vissi d'arte"

Vissi d’arte, vissi d’amore,
non feci mai male ad anima viva!
Con man furtiva
quante miserie conobbi aiutai.
Sempre con fè sincera
la mia preghiera
ai santi tabernacoli salì.
Sempre con fè sincera
diedi fiori agl’altar.
Nell’ora del dolore
perché, perché, Signore,
perché me ne rimuneri così?
Diedi gioielli della Madonna al manto,
e diedi il canto agli astri, al ciel,
che ne ridean più belli.
Nell’ora del dolor
perché, perché, Signor,
ah, perché me ne rimuneri così?

domingo, 17 de outubro de 2010

A espécie humana


" Se tivesse de fazer o inventário da espécie humana, eu diria que ela é composta por dois tipos contrários: os imbecis que se crêem génios e os génios que se crêem imbecis. "

Jean Guitton, in " Cartas Abertas ", Editorial Notícias

" Mas a mais bela de todas  as dúvidas acontece quando os frágeis e desencantados erguem a sua cabeça e deixam de acreditar  nos seus opressores."

B. Brecht , in " Elogio da Dúvida"

"Ser diferente não equivale a ser outro - ou seja, não equivale a possuir essa curiosa qualidade de «alteridade», comum a tudo o que existe e que, para a filosofia medieval, é uma das quatro características básicas e universais que transcendem todas as qualidades particulares. A alteridade é, sem dúvida, um aspecto importante da pluralidade; é a razão pela qual todas as nossas definições são distinções e o motivo pelo qual não podemos dizer o que uma coisa é sem a distinguir de outra.
Na sua forma mais abstracta, a alteridade está apenas presente na mera multiplicação de objectos inorgânicos, ao passo que toda a vida orgânica já exibe variações e diferenças, inclusive entre indivíduos da mesma espécie. Só o homem, porém, é capaz de exprimir essa diferença e distinguir-se; só ele é capaz de se comunicar a si próprio e não apenas comunicar alguma coisa - como sede, fome, afecto, hostilidade ou medo. No homem, a alteridade, que ele tem em comum com tudo o que existe, e a distinção, que ele partilha com tudo o que vive, tornam-se singularidades e a pluralidade humana é a paradoxal pluralidade dos seres singulares. "

Hannah Arendt, in " A Condição Humana", São Paulo , Universitária, 1987

sábado, 16 de outubro de 2010

Cântico Negro



"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí

José Régio, in  " Poemas de Deus e do Diabo", Portugália  1955

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

"I need a dollar" , a actualidade do desespero em música

                       (...)
"I had a job but the boss man let me go
He said
I'm sorry but I won't be needing your help no more
I said
Please mister boss man I need this job more than you know
But he gave me my last paycheck and he sent me on out the door"
                           (...)
Quanta verdade traduzem estas palavras que Aloe Blacc lança  em " I need a dollar". Não foi a fama que o apanhou nesta canção, mas a miséria real que tem grassado pelo mundo e cresce e irá crescer assustadora e impiedosamente também em Portugal  que a validou e apropriou, catapultando-a para um sucesso estrondoso.
No "Ipsilon" de 7/10/2010 , José Bonifácio escreveu o seguinte: "I need a dollar" é um retrato do desespero do povo que ao contar os tostões no bolso descobre que até o bolso está roto. Foi a canção que mudou tudo para Aloe Blacc. Senhoras e senhores, eis o ex-rapper que descobriu o poder político da canção. E não é só uma. "Good Things", o álbum, está cheio de coisas extraordinárias. E politizadas, como antes era apanágio da soul.
A actualidade do momento e a musicalidade que enforma o poema merece a fruição desta audição.




I need a dollar

I need a dollar dollar, a dollar is what I need
hey hey
Well I need a dollar dollar, a dollar is what I need
hey hey
And I said I need dollar dollar, a dollar is what I need
And if I share with you my story would you share your dollar with me

Bad times are comin and I reap what I don't sow
hey hey
Well let me tell you somthin all that glitters ain't gold
hey hey
It's been a long old trouble long old troublesome road
And I'm looking for somebody come and help me carry this load

Bridge:
I need a dollar dollar, a dollar is what I need
hey hey
Well I need a dollar dollar, a dollar is what I need
Well I don't know if I'm walking on solid ground
Cause everything around me is falling down
And all I want - is for someone - to help me

I had a job but the boss man let me go
He said
I'm sorry but I won't be needing your help no more
I said
Please mister boss man I need this job more than you know
But he gave me my last paycheck and he sent me on out the door

Bridge:
Well I need a dollar dollar, a dollar is what I need
hey hey
Said I need a dollar dollar, a dollar is what I need
hey hey
And I need a dollar dollar, a dollar is what I need
And if I share with you my story would you share your dollar with me
Well i don't know if i'm walking on solid ground
Cause everything around me is crumbling down
And all I want is for someone to help me

What in the world am I gonna to do tomorrow
is there someone whose dollar that I can borrow
Who can help me take away my sorrow
Maybe its inside the bottle
Maybe its inside the bottle
I had some good old buddy his names is whiskey and wine
hey hey
And for my good old buddy i spent my last dime
hey hey
My wine is good to me it helps me pass the time
and my good old buddy whiskey keeps me warmer than the sunshine
Hey Hey
Your mom of mayhem just a child has got his own
Hey Hey
if god has plans for me i hope it aint - written in stone
Hey Hey
because i've been working working myself down to the bone
and i swear on grandpas grave I'll be paid when i come home
Hey Hey

Bridge:
Well I need a dollar dollar, a dollar is what I need
hey hey
Said need a dollar dollar, a dollar is what I need
hey hey
Well I need a dollar dollar, a dollar is what I need hey hey
And if I share with you my story would you share your dollar with me
come on share your dollar with me
go ahead share your dollar with me
come on share your dollar give me your dollar
share your dollar with me
come on share your dollar with me

Do Album  " Good Things"

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Em França, a luta continua


A manifestação que ocorreu, ontem, em França, foi considerada a  maior dos últimos meses. A afirmação foi unânime: veio do governo francês e dos Sindicatos. Acredita-se que cerca de 3,5 milhões de manifestantes encheram as ruas de França. Os estudantes juntaram-se à greve e fizeram-se representar nesta  luta que consideram também pertencer-lhes.
O aumento da  idade da reforma tem feito parar a França, embora  o Governo persista na sua aplicação. A determinação e a capacidade de união  sempre caracterizaram a acção dos  sindicatos franceses para enfrentar as  medidas hostis que são impostas aos trabalhadores que representam.  
Em  França, o povo acredita na força da sua voz. Em Portugal, desejamos, veementemente, que se comece a ouvir a voz de todos nós.

Da ficção à realidade , Jules Verne e o Vai-vem Fénix

Jules Verne publicou em 1864, o livro de ficção " Voyage au centre de la Terre" que narra uma viagem ao fundo da terra cuja entrada se faz por um vulcão, o Sneffels, na Islândia. O Dr. Lidenbrok e o sobrinho Axel descem ao centro da terra com a ajuda de um guia islandês, Hans, iniciando uma longa viagem , deslumbrante e acidentada,  que só termina quando são expelidos para a superfície, na Sicília, pela erupção de um outro vulcão , Stromboli.
No Chile , a realidade supera a ficção: Os 33 mineiros, soterrados pelo duro e desprotegido trabalho numa mina, estão a ser salvos do fundo da terra por um engenho fabricado pelo homem. É o Vai-vem Fénix que, durante a noite,  iniciou o resgate, tendo já colocado à superfície quatro homens.
Esperemos que o Chile e o mundo aprendam e protejam melhor quem trabalha,  já que o faz  ( muitas vezes  e apenas) para sobreviver, obrigando-se, continuadamente ,  a arriscar a vida pela incúria e ganância de quem os contrata e explora.
Ficam as imagens da SIC que retratam  os primeiros  momentos do resgate.


terça-feira, 12 de outubro de 2010

O vencedor do Man Booker Prize

Howard Jacobson acaba de ser declarado o vencedor do "Man  Booker Prize", um dos mais prestigiados prémios literários de língua inglesa, no valor de £ 50,000, com o romance " The finkler Question" , publicado pela Bloomsbury.  Jacobson concorria pela terceira vez ao prémio, pelo que ironizou  sobre esse facto quando discursava, após a nomeação.
O romance que lhe deu a vitória explora a condição de ser judeu no mundo hodierno, retratando o amor, a perda e a amizade entre os homens.

A propósito do Nobel da Paz

Cravo & ferradura


Cartoon Bandeira,  publicado no  DN de 9/10/2010
  
Segundo  o DN Globo, «o líder espiritual tibetano, Dalai Lama,  afirmou que o Governo chinês "não aprecia, de todo, qualquer opinião diferente."
Em declarações à agência japonesa Kyodo, o Nobel da Paz de 1989 acusou "certos defensores de uma linha dura" de estarem presos a uma forma de pensar "retrógrada". Para o Dalai Lama, a construção de uma sociedade aberta é "a única maneira de salvar todo o povo da China".
O líder tibetano felicitou na sexta-feira Liu Xiaobo, o primeiro cidadão chinês a receber o galardão da Paz. O Dalai Lama vê a decisão do Comité Nobel norueguês como o "reconhecimento internacional das vozes crescentes do povo chinês" que exigem "reformas políticas, jurídicas e constitucionais".
Segundo a TV norueguesa NRK, a China cancelou ontem um encontro ministerial marcado para hoje entre responsáveis chineses e noruegueses sobre pescas. Uma decisão que é vista como reacção à atribuição do prémio.
Televisões, rádios, jornais, internet e telemóveis têm sido alvo da máquina de censura gerida pelo Departamento de Propaganda chinês. Todas as mensagens escritas que contêm o nome de Liu Xiaobo estão a ser bloqueadas.»
Entretanto, a mulher de Xiaobo foi colocada em prisão domiciliária após a visita ao marido para lhe anunciar a atribuição do prémio .
Por cá, em Portugal, o PCP emitiu um comunicado para lamentar esta atribuição porque a considera um atentado à dignidade da China, uma intromissão na sua política, subvertendo  a essência real deste galardão, quase reforçando "as pressões políticas e económicas " dos Estados Unidos da América sobre este país.
Assim vai o Mundo. Assim vai Portugal.

O dissidente chinês Liu Xiaobo e sua esposa, Liu Xia


segunda-feira, 11 de outubro de 2010

DEPOIS DA CHUVA


Abre a janela, e olha!
Tudo o que vires é teu.
A seiva que lutou em cada folha,
E a fé que teve medo e se perdeu.

Abre a janela, e colhe!
É o que quiser a tua mão atenta:
Água barrenta,
Água que molhe,
Água que mate a sede...

Abre a janela, quanto mais não seja
Para que haja um sorriso na parede!

Miguel Torga, in  "Diário", Coimbra, 8 de Março de 1949,  (Vols. I a IV) , Edição do "Circulo de Leitores"

domingo, 10 de outubro de 2010

Ao Domingo Há Música

"Secret Garden", uma agradável canção, interpretada pela  esplêndida e inconfundível voz de Bruce Springsteen, em 1995.

sábado, 9 de outubro de 2010

A China e o Prémio Nobel da Paz

Liu Xiaobo
"The Nobel Peace Prize 2010 was awarded to Liu Xiaobo "for his long and non-violent struggle for fundamental human rights in China".
Freedom of Speech in China
PEACE-Among the many people campaigning for human rights in China, Liu Xiaobo, the 2010 Nobel Peace Prize Laureate, has become the most visible symbol of the struggle. A long-term exponent of non-violent protest, he is currently serving an 11-year prison term."
In “The Official Web Site  of The Nobel Prize”, ( 8/10/2010)

Liu  Xiaobo, herói da revolta  de Tian'anmen , está preso desde 2008 na China por "incitar à subversão contra o Estado" ao elaborar, juntamente com outros intelectuais chineses, a “ Carta 08 “, um  manifesto político,  onde reivindicavam  o sufrágio universal e a instituição de  uma democracia. Xiaobo participou dos protestos de estudantes da Praça Tian'anmen em 1989 e foi indicado ao Nobel pelo político tcheco, Václav Havel.
 O Ministério dos Negócios Estrangeiros Chinês reagiu com violência e ameaças ao Comité Norueguês, argumentando que  "Liu Xiaobo é um criminoso condenado à prisão pela justiça chinesa. Os seus actos estão em completa contradição com o objectivo do Prémio Nobel da Paz,  pelo que a sua nomeação é uma “blasfémia” que afectará as relações futuras entre a China e a Noruega.
A China  tem uma tradição totalitária onde impera o pensamento único e a liberdade de expressão não existe. Já em 1989 , quando foi distinguido Dalai Lama com o mesmo  prémio,  a reacção do governo chinês foi intempestiva e ameaçadora.  Apesar de conviver com os países democráticos, a China continua a impor-se pelo crescente poder económico e estes a reverenciá-la, evitando alusões à perseguição que pratica entre muros, aprisionando aqueles que defendem os direitos humanos e a liberdade de expressão .
 O cinismo e o mercantilismo que marcam as relações internacionais propiciam a escalada de países ditatoriais que, sem pudor , lançam ao mundo admoestações baseadas na força que a exploração contínua do seu povo lhes franqueia através do crescimento económico.
As  ameaças constantes  à condição humana fazem com que  a sobrevivência do homem esteja em perigo,  agravada e facilitada pela podre organização que , nas últimas décadas, o mundo montou à volta de um capitalismo cego e sôfrego, onde o lugar de cada país se conquista apenas pelo capital que possui. Confrontar a China é renegar o capital chinês que tem sido utilizado por tantos “íntegros” e democráticos governos deste nosso mundo.
O Comité Norueguês demonstrou que as relações entre os povos se devem pautar pela lúcida intransigência com actos despóticos, pela valorização da essência do homem e pela dignificação de quem exige direito ao respeito pelo “o outro” que é , em si mesmo,  a imagem de todos nós.
Os meus agradecimentos a Liu Xiaobo e os meus aplausos para a  Noruega.

 

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

O mundo em catástrofe


Imagens assustadoras da lama industrial que invadiu aldeias da Hungria e periga outros países  vizinhos através da contaminação do rio Danúbio. A incúria humana provoca tragédias ambientais de grande dimensão que espalham sofrimento, miséria   e morte normalmente àqueles em que a vulnerabilidade é maior.







quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Mario Vargas Llosa, o escritor laureado pelo Nobel da Literatura 2010

«The Nobel Prize in Literature 2010 was awarded to Mario Vargas Llosa "for his cartography of structures of power and his trenchant images of the individual's resistance, revolt, and defeat".»
in "The Offical Web Site of The Nobel Prize",  (7/10/2010)

É esta a informação que consta no site oficial do Prémio Nobel. O autor do extraordinário e prodigioso romance " Conversa na Catedral" que retrata um Perú corrupto, pobre, sem esperança sob a ditadura do General Manuel A. Odría, de 1948 a 1956, foi distinguido pelo seu grandioso engenho literário com o Prémio Nobel da Literatura.
Novamente, a Literatura Sul-Americana está no palco mundial. Mário Vargas Llosa representa-a com mérito através da  imensa  e valorosa produção literária.
Ao escritor que me tem proporcionado grandes e excelentes momentos de leitura,  apresento os meus aplausos de profundo regozijo.

As medidas de austeridade na Península Ibérica

José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa

José Luis Rodríguez Zapatero

As medidas de austeridade lançadas na Península Ibérica provocaram efeitos diferentes nos seus promotores governantes. Embora, tendo em comum o  mesmo  nome próprio, José, as suas personalidades evoluem de forma diversa perante a adversidade que acomete os seus países .
Assim , em Espanha,  José Zapatero, de tanto pensar, espalma-se "fino, fininho", enquanto que, em Portugal, José Sócrates, de  tanta responsabilidade e  optimismo,  fica "inchado , inchadinho".
Meu pobre, pobre Portugal,  só tu não paras de definhar, tornando-te cada vez mais "magro, magrinho".

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Para quem o Prémio Nobel da Literatura 2010?

No Blog,  “La République des Livres”,  Pierre  Assouline refere que o  escritor queniano,  Ngugi wa Thiong’o,  está na lista dos seleccionados  e será provavelmente o vencedor do Prémio Nobel de 2010.  Baseia-se numa informação divulgada por Michael Orthofer, critico literário, no  site The Literary Saloon.  Orthofer  é um  dos críticos mais atentos a tudo o que se publica e critica no mundo.  No ano passado, foi o primeiro a anunciar com muita antecedência  que seria Herta Muller a premiada.
Quanto  a Ngugi wa Thiong’o, nascido no Quénia , em 1938, tem toda a sua obra  ( romances, peças de teatro, ensaios , livros para crianças) escrita em   kikuyu e inglês, pelo que  é mais divulgada e conhecida no mundo anglófono. Muitas informações sobre a sua obra  e vida podem ser obtidas nesse site e no site do escritor.
Entretanto, o Secretário permanente da Academia Sueca  , Peter Englund, disse à Associated Press que a Academia  já decidiu quem será distinguido com o Prémio Nobel da Literatura 2010, mas o nome só será revelado , amanhã,  dia 07 de  Outubro. O anúncio está marcado para as 11,00, em Estocolmo. Peter Englund sublinhou que não há nenhuma agenda a cumprir, mas reconheceu que os decisores lidam com um problema de « preconceito inconsciente» e que lhes é mais fácil "estabelecer uma ligação com os  escritores europeus ". O poeta sírio Adonis, o romancista norte-americano Philip Roth e a escritora Joyce Carol Oates estão sempre entre os mais fortes palpites, embora este ano, o jornal britânico “ The Guardian” cite uma casa de apostas que dá boas hipóteses também ao poeta sueco Tomas Tranströmer e ao polaco Adam Zagajewski.
Quem será, sabê-lo-emos amanhã. Até lá.

Artigo elaborado em informações dos órgãos de comunicação escrita.

Deixa entrar no poema

Pintura de  Almada Negreiros
Porque dos mortos
se incumbem as estrelas
da guerra e da paz
basta para meu enredo

que de manhã a noite abra
o seu redil de sombras
uma delas me fareje
e se estenda a meus pés

e ali tose um caracol
suas verdes minúcias
levando às costas
a maciça cabriola.

Sebastião Alba, in " O Limite Diáfano ", 1996/2000,



«Uma palavra que está sempre na boca transforma-se em baba»
Provérbio Burundi

Deixa entrar no poema
alguns clichés.

Submetidos à experiência inefável,
sua carga (eléctrica?)
escoar-se-á.

Não há uma vala comum para as palavras
decaídas,
um dicionário no inferno;

mas deixa-as vir à tona
da claridade,
e nada lhes insufles. Vê:

não suportam a beleza
que as circunda, abismam-se
em seu ridículo.


Sebastião Alba, in " A Noite Dividida ", Assírio & Alvim, 1996

Sebastião Alba morreu atropelado, em 2000.
«Era um poeta e vivia na rua, como um mendigo, por opção, para não ser cúmplice. Tinha o nome nas enciclopédias mas os seus haveres eram um saco de plástico com papéis, um pão e uma garrafa de vinho, e um rádio a pilhas sempre sintonizado na Antena 2.»
Paulo Moura, in Público, 20 de Novembro de 2000