Contemplando um morto
“Estar morto” não faz qualquer sentido,
porque só “está” quem vivo está
e quando se “está”, após ter vivido,
já se não está, visto que não há lá.
E não só não está, como não “descansa”,
visto que descansar é só de vivos:
os mortos não descansam nem se cansam,
muito menos se tornam assertivos.
O morto é o nada com um rosto,
é só ter desistido e mais nada.
Com rosto, fica o nada mais composto,
mas é, à mesma, o fim da jornada.
O nada custa tanto a perceber:
sei o que é ser, mas o que é não ser?
15.03.2022
Eugénio Lisboa
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