TÃO
BELOS PENSAMENTOS!
TÃO POUCA APRENDIZAGEM!
por Eugénio Lisboa
TÃO POUCA APRENDIZAGEM!
por Eugénio Lisboa
Tudo o que o homem aprendeu com a História
é que não aprendeu nada.
Albert Einstein
“Que pena as nossas
escolas ensinarem tudo menos um pouco de sabedoria de viver! Que pena os
estudantes abandonarem as escolas, com um punhado de certezas duvidosas e uma
quase incapacidade de pensar. Que pena a filosofia ser uma filha bastarda do
nosso ensino e os nossos jovens não terem o prazer e o proveito de fruir tanto
pensamento cintilante e tão elegantemente formulado, que os incitasse a uma
saudável rebeldia, quando os que decidem o fazem tão mal! Se os estudantes
fossem expostos, neste mundo de conflitos insensatos e suicidas, às nobres
palavras de Platão (“Só os mortos conhecem o fim da guerra”), ou de Sólon (“A igualdade
não gera guerras”), ou de Cícero (“Prefiro a paz mais injusta à mais justa das
guerras”), ou do grande Spinoza, que nós perdemos, dando-o à Holanda (“Paz não
é a ausência de guerra; é uma virtude, um estado mental, uma disposição para a
benevolência, confiança e justiça”). Reparem: “disposição para a benevolência,
confiança e justiça”. Não serão melhores instrumentos para se resolverem
discórdias, do que o infame poder destrutivo de tanques de guerra, canhões potentes,
mísseis estupidamente sofisticados, países destruídos, crianças mortas e
mutiladas ou mulheres enviuvadas e velhos desamparados no meio de ruínas?
Haverá, num homem como Putine, demagogo, insensível, iletrado, boçal, alguma
migalha mínima de sabedoria que o possa redimir? Será ele mentalmente adulto?
Como reagiria ele a esta verificação devastadora do grande Melville, o autor de
Moby Dick: “Todas as guerras são
infantis e desencadeadas por crianças”? Crianças, sim, em termos de crescimento
mental, mas de corpo de adulto, insuficientemente oxigenado, no topo. Não faria
alguma impressão benfazeja, não criaria algum saudável desassossego visitar a
sabedoria de tantos grandes homens que tanto enriqueceram o nosso património
intelectual e emocional? Homens como Thomas Mann (“A guerra é a saída cobarde
para os problemas da paz”) ou como o autor dessa pérola imortal – O Pequeno Príncipe – (“A guerra é uma
doença, como o tifo”), ou como George Orwell (“… o objectivo de travar uma
guerra é sempre estar em melhor posição para travar outra guerra”), ou como
Gandhi (“Olho por olho e o mundo acabará cego”), ou como Karl Marx, que Putine,
pelos vistos, não frequentou (“O povo que subjuga outro povo forja as suas
próprias cadeias”), ou o eloquentíssimo e bem humorado John Lennon (“Lutar pela
paz é como fazer amor pela virgindade”) ou, já agora, como Jean-Paul Sartre,
que não estimo particularmente, mas que disse esta coisa muito verdadeira:
“Quando se conhecem os pormenores da vitória, é difícil distingui-la da
derrota”. Mas a pérola das pérolas veio-nos, paradoxalmente de Audie Murphy, o
soldado americano mais condecorado da segunda guerra mundial: “Nenhum soldado
sobrevive realmente a uma guerra”. E terminarei este acervo de sabedoria, com o
muito corajoso e subversivo conselho do cientista, explorador polar,
aventureiro e político norueguês, que recebeu, em 1922, o Prémio Nobel da Paz:
“A guerra acabará quando os homens se recusarem a lutar.” Já os tem havido,
como o grande Gandhi e seus seguidores ou o escritor francês Jean Giono, que
pagou com a prisão o seu pacifismo irredutível ou o hoje famoso soldado
americano, Slovick que, na segunda guerra mundial, preferiu morrer à frente de
um pelotão de execução a disparar um tiro. Foi, aliás, o único soldado
americano executado por “deserção em frente do inimigo”, embora muitos milhares
de outros tenham sido julgados pelo mesmo “crime”.
O problema é que não
estou muito certo de que haja muitos governos, democráticos ou não, que achem
muito aconselhável os alunos visitarem empenhadamente as mais acutilantes pérolas
de sabedoria que, contra a guerra, se escreveram. Talvez um dia lá cheguemos,
quando a guerra puder ser considerada um crime, punido por uma lei
internacional e for internacionalmente intervencionado o país que se atrever a
dar início a uma. Utópico? Eu sei: os seres humanos sempre acharam difícil
fazer as coisas mais lógicas e mais simples. O enviesado ganha sempre. E a
estupidez sempre teve mais crédito do que a inteligência.”
Eugénio Lisboa, 28.03.2022
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