Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas. (…)”
Carlos Drummond de Andrade, in “Confidência do itabirano”
O mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) fez poesia e prosa. Escreveu sonetos e aforismos. Arriscou-se nos poemas-piadas e se glorificou nas crónicas jornalísticas. Rabiscou aquilo que via — e aquilo que imaginava também. Semeou o modernismo na Semana de Arte de 1922 e, anos mais tarde, lutou pelo surgimento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Sabia o valor da memória e sentia necessidade de preservá-la. Drummond povoou seus textos com assuntos que vão do político e notório ao mais íntimo e pessoal. Falou de guerras e amores, de pequenas cidades e grandes metrópoles, de amigos perdidos e inimigos conquistados. Tímido, fez confissões eróticas e cuspiu fogo. Sempre com palavras, sem nunca perder a elegância. Por isso — e por muito mais — ele ganha uma data para ser só sua. No que depender de seus admiradores, a partir deste ano, o 31 de Outubro (quando se comemora seu nascimento) passa a ser o Dia D, só de Drummond, e será sempre recheado de eventos em torno de sua obra — algo como acontece na Irlanda com o Bloomsday, dedicado ao escritor James Joyce (1882-1941).Diário de Pernanbuco
Lutar com Palavras
"Lutar com palavras é a luta mais vã. Enquanto lutamos mal rompe a manhã. São muitas, eu pouco. Algumas, tão fortes como o javali. Não me julgo louco. Se o fosse, teria poder de encantá-las. Mas lúcido e frio, apareço e tento apanhar algumas para meu sustento num dia de vida. Deixam-se enlaçar, tontas à carícia e súbito fogem e não há ameaça e nem há sevícia que as traga de novo ao centro da praça."
Carlos Drummond de Andrade, in “Poesia Completa”
Carlos Drummond de Andrade, in “Poesia Completa”
A Palavra
Já não quero dicionários
consultados em vão.
Quero só a palavra
que nunca estará neles
nem se pode inventar.
Que resumiria o mundo
e o substituiria.
Mais sol do que o sol,
dentro da qual vivêssemos
todos em comunhão,
mudos,
saboreando-a.
Carlos Drummond de Andrade, in “A Paixão Medida”
consultados em vão.
Quero só a palavra
que nunca estará neles
nem se pode inventar.
Que resumiria o mundo
e o substituiria.
Mais sol do que o sol,
dentro da qual vivêssemos
todos em comunhão,
mudos,
saboreando-a.
Carlos Drummond de Andrade, in “A Paixão Medida”
Em Portugal, Casa Fernando Pessoa assinala aniversário Drummond de Andrade"
O aniversário do poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade é assinalado hoje, em Lisboa, na Casa Fernando Pessoa, com o «Dia D», inteiramente dedicado ao escritor, numa associação ao Instituto Moreira Salles, do Brasil, que lançou a iniciativa.
O aniversário do poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade é assinalado hoje, em Lisboa, na Casa Fernando Pessoa, com o «Dia D», inteiramente dedicado ao escritor, numa associação ao Instituto Moreira Salles, do Brasil, que lançou a iniciativa.
A estreia mundial do documentário «Consideração do Poema», sobre o escritor, prevista para as 18:30, culmina a jornada iniciada às 10:00, com a projeção do filme «No Meio do Caminho», feito a partir da leitura do poema homónimo de Drummond de Andrade em diferentes línguas, segundo a programação anunciada pela Casa Fernando Pessoa.
«Consideração do Poema» estabelece um panorama sobre a obra de Drummond de Andrade, a partir de leituras feitas por figuras da cultura brasileira, como o escritor e compositor Chico Buarque, os músicos Caetano Veloso e Adriana Calcanhotto, as atrizes Fernanda Torres e Marília Pera, o filósofo e poeta Antonio Cícero e o escritor Milton Hatoum."in Diário Digital / Lusa
Leitura do poema "No meio do caminho" de Carlos Drummond de Andrade
Carlos!... E também, Drummond de Andrade!... Um poeta muito especial, tremendamente irónico, crítico, que adorava resumir tudo quanto tinha para escrever ou dizer em poucas, pouquíssimas palavras... Ria-se de tudo e de tanto, de quase todos, de si mesmo, ria-se da vida viradeira, da vida vidinha vivida por tantos, vidinha que muitos levavam às escondidas, enriquecendo as suas poupanças brutalmente, ao lado de quem morria de fome. Carlos!... Não é possível olhar, dizer a tua poesia, sem nos apercebermos quanto tu, quanto tu - como homem - valias!... Quanto este cidadão brasileiro pesava, quanto de genial e imaginativo ele possuía. É louvável lembramo-nos dele, imaginá-lo outra vez, querê-lo vivo, caminhante, "distraído" (se é que alguma vez o esteve?!...), ao pé de nós, de nós todos!... Genial, despretensioso, muito metido com ele próprio... A sua tristeza, a sua depressão começou com a morte da sua querida companheira. A partir desse momento, a filha viu o pai começar a declinar, a "ensurdecer" para as balelas e parvoíces do mundo, a desligar-se de uma "vida" que já não lhe interessava. Mesmo para além desse funesto dia, publicou ainda excelente poesia sempre muito crítica, e sempre extremamente irónica, cáustica, mordaz, a par de uma indecifrável e suave poesia lírica que não, que nunca abandonou totalmente. Para conhecimento de todos, aqui fica exarado. Carlos Drummond de Andrade sentia uma ternura muito grande, imensa, por tudo o que era português. Um grande amigo de Portugal, podem crer! - V. P.
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