Portugal apresentou a candidatura do Fado a Património Cultural Imaterial da Humanidade. Em resposta , foi divulgado, durante a semana que findou, o apoio da UNESCO afirmando que o género musical português é um dos fortes vencedores. O comité de peritos da UNESCO recomendou que o Fado conste na Lista Representativa, como um dos patrimónios culturais da humanidade. Elogiou a típica música portuguesa como "um género de grande versatilidade poética e musical" com "um forte sentimento de pertença e ligação a Lisboa".
Além de não apresentarem qualquer restrição à aprovação da candidatura, os peritos intitularam o fado como uma das sete melhores referências a concurso. No seu relatório, os especialistas elogiam a candidatura portuguesa e apontam-na como um exemplo de boas práticas a seguir por outros países na preparação de novas candidaturas.
O Comité Inter-Governamental da Convenção da UNESCO vai proceder à votação entre os dias 22 e 29 de Novembro, em Bali na Indonésia.
E porque nesta semana andaram no ar os acordes do fado , vamos recordar a intérprete que melhor o simboliza. Ela confunde-se com o ritmo quebrado, com o trinado repetido e prolongado do lamento sentido, do sussuro ardente, da alegria encoberta , do amor descontente, da saudade do futuro que nele se celebram. Ela é Amália Rodrigues. Cantou-o e glorificou-o durante uma vida inteira.
Escutemo-la em "Abandono", também conhecido como o Fado de Peniche pelas referências tão explícitas a esse Forte prisão. Fado que foi considerado um hino aos presos políticos que lá se encontravam vilmente enclausurados, vítimas da Ditadura. " Abandono" foi escrito para Amália e veio a ser proibido pela censura .
Além de não apresentarem qualquer restrição à aprovação da candidatura, os peritos intitularam o fado como uma das sete melhores referências a concurso. No seu relatório, os especialistas elogiam a candidatura portuguesa e apontam-na como um exemplo de boas práticas a seguir por outros países na preparação de novas candidaturas.
O Comité Inter-Governamental da Convenção da UNESCO vai proceder à votação entre os dias 22 e 29 de Novembro, em Bali na Indonésia.
E porque nesta semana andaram no ar os acordes do fado , vamos recordar a intérprete que melhor o simboliza. Ela confunde-se com o ritmo quebrado, com o trinado repetido e prolongado do lamento sentido, do sussuro ardente, da alegria encoberta , do amor descontente, da saudade do futuro que nele se celebram. Ela é Amália Rodrigues. Cantou-o e glorificou-o durante uma vida inteira.
Escutemo-la em "Abandono", também conhecido como o Fado de Peniche pelas referências tão explícitas a esse Forte prisão. Fado que foi considerado um hino aos presos políticos que lá se encontravam vilmente enclausurados, vítimas da Ditadura. " Abandono" foi escrito para Amália e veio a ser proibido pela censura .
O poema é de David Mourão Ferreira e a música de Alain Oulman.
ABANDONO
Por teu livre pensamento
foram-te longe encerrar.
Tão longe que o meu lamento
não te consegue alcançar.
E apenas ouves o vento.
E apenas ouves o mar.
Levaram-te a meio da noite:
a treva tudo cobria.
Foi de noite, numa noite
de todas a mais sombria.
Foi de noite, foi de noite,
e nunca mais se fez dia.
Ai dessa noite o veneno
persiste em me envenenar.
Ouço apenas o silêncio
que ficou em teu lugar
Ao menos ouves o vento!
Ao menos ouves o mar!
Poema de David Mourão Ferreira
Música de Alain Oulman
E mais Amália celebrando a poesia num "Fado Português"
Fado Português
O fado nasceu um dia,
Quando o vento mal bulia
E o céu o mar prolongava,
Na amurada dum veleiro,
No peito dum marinheiro
Que, estando triste, cantava,
Que, estando triste, cantava.
Ai, que lindeza tamanha,
Meu chão, meu monte, meu vale,
De folhas, flores, frutas de oiro,
Vê se vês terras de Espanha,
Areias de Portugal,
Olhar ceguinho de choro.
Na boca dum marinheiro
Do frágil barco veleiro,
Morrendo a canção magoada,
Diz o pungir dos desejos
Do lábio a queimar de beijos
Que beija o ar, e mais nada,
Que beija o ar, e mais nada.
Mãe, adeus. adeus, Maria.
Guarda bem no teu sentido
Que aqui te faço uma jura:
Que ou te levo à sacristia,
Ou foi Deus que foi servido
Dar-me no mar sepultura.
Ai, que lindeza tamanha,
Meu chão, meu monte, meu vale,
De folhas, flores, frutas de oiro,
Vê se vês terras de Espanha,
Areias de Portugal,
Olhar ceguinho de choro.
Quando o vento mal bulia
E o céu o mar prolongava,
Na amurada dum veleiro,
No peito dum marinheiro
Que, estando triste, cantava,
Que, estando triste, cantava.
Ai, que lindeza tamanha,
Meu chão, meu monte, meu vale,
De folhas, flores, frutas de oiro,
Vê se vês terras de Espanha,
Areias de Portugal,
Olhar ceguinho de choro.
Na boca dum marinheiro
Do frágil barco veleiro,
Morrendo a canção magoada,
Diz o pungir dos desejos
Do lábio a queimar de beijos
Que beija o ar, e mais nada,
Que beija o ar, e mais nada.
Mãe, adeus. adeus, Maria.
Guarda bem no teu sentido
Que aqui te faço uma jura:
Que ou te levo à sacristia,
Ou foi Deus que foi servido
Dar-me no mar sepultura.
Ai, que lindeza tamanha,
Meu chão, meu monte, meu vale,
De folhas, flores, frutas de oiro,
Vê se vês terras de Espanha,
Areias de Portugal,
Olhar ceguinho de choro.
Poema de José Régio
Música de Alain Oulman
Alain Oulman compôs inúmeras músicas para os fados de Amália... Umas músicas vingaram, tal como os fados com que acasalaram, e tomaram corpo e fama por esse mundo. Outras, mesmo com muito mérito, ficaram na penumbra... Oulman já não está entre nós... Tal como Amália, despediu-se cedo. Mas, merece que o recordemos, já que contribuiu para sucessivos êxitos da inolvidável fadista que ajudou a tornar Portugal mais conhecido no mundo. No que toca às letras dos mesmos fados, desde o David Mourão-Ferreira, ao José Régio, a Camões, passando pelo Pedro Homem de Melo e por muitos outros..., Amália soube agradecer-lhes, publicamente em muitos espectáculos. A voz de Amália é, tornou-se inconfundível!... De ascendência humilde, Amália Rodrigues elevou o Fado Português bem alto,divulgando-o por todo o mundo, e emprestando-lhe dignidade, prestígio,e singularidade, embora o fado seja essencialmente uma canção de uma muito bela capital europeia, Lisboa. Quanto a nós, o fado nunca se poderá considerar uma canção nacional, cantada em cada canto do país, aldeia a vila, rua a rua, canto a canto, casa a casa, como o Estado Novo de Salazar o pretendeu transformar! Salazar chamava à cantadeira "aquela criaturinha"..., quando começou a recebê- la em São Bento. Sorria-lhe... e parece que gostava de recebê-la... Todavia o Ditador nunca apreciou o fado! Mas, o Fado lisboeta continua, continuará a representar a alma portuguesa no que ela tem de exaltação, de tragicidade, de infortúnio, de melopeia, de solidão, de tristeza, desamparo, de desavindos e irrecuperáveis amores. Porém, nós - portugueses - gostamos dele, do fado, porque somos um pouco disto tudo, à mistura. É sempre bom e da maior justiça recordar Amália Rodrigues, especialmente pelo seu sempre generoso coração. Nunca deixou de ser simples, condoída, popular. Uma grande mulher portuguesa!... - V. P.
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