sexta-feira, 29 de maio de 2015

Maria Bethânia

Tambor de todos os ritmos
Tempo, tempo, tempo, tempo
Entro num acordo contigo
Tempo, tempo, tempo, tempo

Maria Bethânia está em Portugal para apresentar um espectáculo construído de melodiosas memórias que fizeram dela uma das  vozes eleitas do Brasil. Ouvir Maria Bethânia é perder-nos num mundo harmonioso de grandes poetas e de talentosos compositores. Esta voz inconfundível dá-lhes forma e sonoridade. 
Apresenta-se o  DVD Tempo, Tempo, Tempo, Tempo que regista a comemoração dos 40 anos de carreira da cantora. "Além de canções imortais de Vinícius de Moraes, Bethânia recria os compositores mais marcantes da sua trajectória, como Chico Buarque e Caetano Veloso, num repertório definitivo na voz da mais influente intérprete da música brasileira."


Maria Bethânia, um auto-retrato em ouro e cinza
Por Nuno Pacheco, Público, 28/05/2015 - 21:07
"Na primeira noite no Coliseu de Lisboa, 27 de Maio, Maria Bethânia trouxe do passado apenas o que lhe interessava para o futuro. Um espectáculo envolvente e exemplar.
Não foi, como ela avisara, uma sessão comemorativa. Mas Abraçar e Agradecer (título glosado de uma canção, Agradecer e Abraçar que ela gravou em 1999 nesse notável disco que é A Força que Nunca Seca) funciona como uma espécie de manifesto-espelho.
Bethânia no lugar de Alice entre um passado reconhecível, onde da memória já muito se fez cinza, e um presente que ela vai construindo a partir do que, de tudo isso, nela se sedimentou a ouro na teatralidade da sua voz. Uma voz que se mantém clara, robusta, expressiva, síntese de uma forma ímpar de cantar.
Não por acaso, as canções a que recorreu são, todas elas, pedaços reconhecíveis desse memorial de afirmação pessoal (pelo seu próprio percurso) e colectiva (pelo esteio familiar e pela força da matriz da Bahia): Eterno em mim, Dona do dom, Nossos momentos, Começaria tudo outra vez, Gostoso demais, Bela mocidade, Alegria (com que ela fecha, por vezes alguns espectáculos), Todos os lugares, podiam titular capítulos da sua própria vida. Assim como a presença de temas escolhidos de Caetano Veloso, Chico Buarque, Tom Jobim, Dorival Caymmi, Roberto Carlos e Gonzaga Jr. assinala e demonstra a teia de laços criativos que desde sempre lhe foi fundamental.
A primeira parte, que começou precisamente com Eterno em mim, foi mais fluída, talvez pela maior presença de temas reconhecíveis. Como se o passado se consumisse, breve. Ainda assim, da força imbatível de Gîtâ (Raul Seixas) à melancólica beleza de Dindi (de Jobim) o percurso foi modelar, encadeando-se as canções em continuidade lógica. O crescendo que uniu Voz de mágoa à festiva Alegria, tendo pelo meio a popularíssima Gostoso demais (uma justíssima lembrança de Dominguinhos) e Bela mocidade, é um dos melhores exemplos dessa notável teia. Outro é a sequência Tatuagem, Meu amor é marinheiro (com o poema de Manuel Alegre intacto no final: “Coração que nasce livre/ não se pode acorrentar”), Todos os lugares e Rosa-dos-ventos.
A segunda parte, depois de um breve interlúdio em que os músicos mesclaram em rapsódia temas de Chico ou Caetano, como Até ao fim e O quereres, foi mais intensa e visceral. Bethânia atirou-se aos elementos, água e terra em particular, e compôs um quadro actual, vivo e iridescente, com temas decantados da memória e outros de criação recente, assinados por compositores e músicos a quem ela recorreu agora, numa busca de novidade: Roque Ferreira (presença marcante no seu mais recente disco de estúdio, Meus Quintais), Leandro Fregonesi, Paulo Dafilim, Chico Lobo, Flávia Wenceslau. Sim, ouviram-se Viramundo (a abrir), Tudo de novo, Motriz ou Oração de mãe menininha de Dorival Caymmi, mas também criações mais recentes como Folia de reis, Eu a viola e Deus, Criação, Casa de caboclo, Alguma voz, Xavante ou Povos do Brasil. Pelo meio, fragmentos de textos, poemas. Clarice Lispector: “Recebe em teus braços o meu pecado de pensar”. Ou Pessoa na voz de Álvaro de Campos: “Quanto fui, quanto não fui, tudo isso eu sou.” Na sala, repleta, fez-se sentir o reflexo desta viagem plena de brasilidade e fulgor. Quando Bethânia cantou Eu te desejo amor foi aplaudida de pé, longamente, como se tivesse terminado ali o espectáculo. Tributo ou equívoco, depois do costumeiro (e emotivo) “obrigada, senhores”, ela cantou ainda, surpreendentemente, Non, je ne regrette rien (de Piaf) e Silêncio.
E voltou, por duas vezes mais, exausta e feliz, com Gonzaga Jr: O que é, o que é e Explode coração. Numa homenagem “espontaneamente” organizada, centenas de pessoas ergueram um dístico (distribuído antes) onde se lia: “Obrigado Bethânia”. Ela agradeceu, nós agradecemos. Ficámos quites. Ou não. Porque o muito que ela nos deu e dará, bem medido, não tem preço."
Alinhamento do espectáculo:
Eterno em mim / Dona do dom / Gîtâ / A tua presença morena / Nossos momentos / Começaria tudo outra vez / Voz de mágoa / Gostoso demais / Bela mocidade / Alegria / Você não sabe / Dindi / Tatuagem / Meu amor é marinheiro / Todos os lugares / Rosa-dos-ventos
Interlúdio musical
Viramundo / Tudo de novo / Doce / Oração de mãe menininha / Eu e água / Agradecer e abraçar / Vento de lá / Folia de reis / Mãe Maria / Eu a viola e Deus / Criação / Casa de caboclo / Alguma voz / Xavante / Povos do Brasil / Motriz / Viver na fazenda / Eu te desejo amor / Non, je ne regrette rien / Silêncio
BIS 1
O que é, o que é
BIS 2
Explode coração


Maria Bethânia, em O que é o que é ? (Noite LuziDia)

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