Recordámos, ontem, neste blog , o poeta Sebastião da Gama . Retomamos o tema para acrescentar alguns poemas e apresentar um registo videográfico sobre a Serra da Arrábida, paraíso natural que deu sonho e inspiração a este singular poeta.
VERSOS PARA EU DIZER DE JOELHOS
(«... Daqui, donde mais livre se caminha.» FREI AGOSTINHO)
Ó meu país do Sol!
Pressentimento
da claridade celeste!
Ó fonte de Pureza!
Ó minha
Serra toda pintada de Esperança
e debruada de azul!
Reveladora maga
dos meus cinco sentidos, criadora
de aqueles que eu não tinha e tenho agora!
(...)
Ó Serra aonde a cor
é luz extasiada!;
aonde a Primavera, quando chega,
já se encontra a si própria a esperar-se!
Ó minha amante sempre virgem
e sempre desejosa do meu corpo!
Ó palavra de Deus a exprimir-se
pelas bocas ingénuas das estevas!
(...)
- Eu não quero cantar-te, minha Amante,
Minha Mãe, minha Irmã, minha Senhora;
eu só quero entender-te toda a vida
como te entendo, Serra! nesta hora.
Sebastião da Gama, in Serra-Mãe, 1945, Edições Ática, Lisboa
Como a Luz, como a Sombra, como a Vaga,
como a Noite ...
Foi assim que ela veio. Subtilmente
me enredou na volúpia misteriosa
das suas falas mansas quase mudas .
Não mais teve sentido o meu relógio.
Eram folhas no Outono as folhas brancas
do calendário.
Afogado e perdido sem remédio,
só me ficou de fora a mão direita
para deixar escritos estes versos
como a Noite ...
Foi assim que ela veio. Subtilmente
me enredou na volúpia misteriosa
das suas falas mansas quase mudas .
Não mais teve sentido o meu relógio.
Eram folhas no Outono as folhas brancas
do calendário.
Afogado e perdido sem remédio,
só me ficou de fora a mão direita
para deixar escritos estes versos
Sebastião da Gama , Itinerário Paralelo, 1967,Edições Ática, Lisboa
Pelo Sonho é que vamos ...
Pelo sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos, não chegamos?...
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.
Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia a dia.
Chegamos? Não chegamos?
Partimos. Vamos. Somos.
Sebastião da Gama, Pelo Sonho é que Vamos (1953),Edições Ática, Lisboa
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| Pintura de João Vaz para a poesia de Sebastião da Gama |
Pelo Sonho é que vamos ...
Pelo sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos, não chegamos?...
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.
Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia a dia.
Chegamos? Não chegamos?
Partimos. Vamos. Somos.
Sebastião da Gama, Pelo Sonho é que Vamos (1953),Edições Ática, Lisboa
Porque estamos no mês de Maio apresentamos o registo " Arrábida Património Mundial- Pinturas de Maio", um modo diferente de descobrir a Serra da Arrábida em toda a sua magnânima beleza.
O autor do filme publicou as seguintes informações sob o seu registo: "O Parque Natural da Arrábida está situado na Península de Setúbal, em Portugal e foi apresentada a proposta de candidatura a Património Mundial da Humanidade, em 2013, fundamentada nos valores naturais, na paisagem, na geologia, na fauna e flora, nos seus habitats e biodiversidade, nos valores culturais, na arqueologia, no património edificado e o património cultural imaterial.
Este é o meu contributo (parte dois) para preservar este local cuja beleza é indescritível."
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