De manhã temendo que me achasses feia,
acordei tremendo deitada na areia,
mas logo os teus olhos disseram que não
e o sol penetrou no meu coração.
acordei tremendo deitada na areia,
mas logo os teus olhos disseram que não
e o sol penetrou no meu coração.
David Mourão-Ferreira
Os nossos poetas são cantados por vozes que dão sonoridade às palavras, preservando o ritmo que as enforma e emprestando-lhes a melodia que exigem. Há um enorme registo de várias canções que faz parte da nossa memória musical. Neste Domingo de Maio, mês de muitos poetas, apresentamos algumas dessas canções.
A voz de Amélia Muge cantando um poema de António Ramos Rosa, " Entre o deserto e o deserto" .
Do Álbum" Não sou daqui" de 2007, as palavras do poeta António Ramos Rosa, com música de Amélia Muge, arranjo de António José Martins. A produção é de Amélia Muge/António José Martins , acompanhada por José Peixoto (guitarra acústica), Yuri Daniel (contrabaixo e baixo eléctrico), Catarina Anacleto (violoncelo), Filipe Raposo (piano e acordeão), José Manuel David (sopros) e Carlos Mil-Homens (cajón).
Entre o deserto e o deserto
Entre o deserto e o deserto
Entre o deserto e o deserto
numa viagem sem destino
procuras a água e o vinho
nenhuma pista nenhum signo
vivo de pouco ou de nada
sem nunca ter um lugar
sempre a insónia mais branca
e a sede de um novo ar
escurece já o olvido
e é noite quando amanhece
nenhum barco traz aquela
por quem a escrita se tece
talvez esteja perdido
como um náufrago na areia
talvez me reste a canção
e o vento que desenleia
Entre o deserto e o deserto
Entre o deserto e o deserto
numa viagem sem destino
procuras a água e o vinho
nenhuma pista nenhum signo
vivo de pouco ou de nada
sem nunca ter um lugar
sempre a insónia mais branca
e a sede de um novo ar
escurece já o olvido
e é noite quando amanhece
nenhum barco traz aquela
por quem a escrita se tece
talvez esteja perdido
como um náufrago na areia
talvez me reste a canção
e o vento que desenleia
Entre o deserto e o deserto
Entre o deserto e o deserto
António Ramos Rosa
" A verdade do Poeta", poema de Jorge Mendonça na voz de Dulce Pontes que gravou vários temas deste poeta no álbum “O coração tem três portas” . Sobre o poeta, a cantora afirma: "Este é um tema muito autêntico, de uma grande verdade e em que homenageio um querido amigo".
"Jorge Mendonça nasceu na ilha de São Miguel, Açores, em 22 de Junho de 1947 e faleceu a 03 de Agosto de 2004. Poeta, escreveu um único livro "Fragmentos". Fragmentos daquilo que escreveu sobre si, sobre as pessoas que amava, daquilo que era, daquilo que não foi e gostaria de ter sido e daquilo que nunca será. "Por isso, eu sou esta ilha que há em mim e que em ilha me transforma", dizia o poeta.
A
Verdade do Poeta
É de sonho que se tece
a verdade do poeta
e a poesia acontece
quando o poeta se esquece
de acordar na hora certa
Com o corpo adormecido
e a alma bem desperta
a vida faz mais sentido
e murmura ao ouvido
do sonho a palavra certa
E depois é só trocar
por palavras sentimentos
e as emoções, enganar
e fazê-las confessar
os verdadeiros intentos
Sonhar é fazer sorrir
a lágrima mais dolorosa
e os pesadelos, despir
para depois os vestir
de mil sonhos cor-de-rosa
É fazer o sol brilhar
na noite mais tenebrosa
por a tristeza a cantar
e devolver ao olhar
aquela luz preciosa
É roubar ao pôr-do-dol
um raio de luz derradeiro
e fazer dele um farol
que ilumine o mundo inteiro.
É de sonho que se tece
a verdade do poeta
e a poesia acontece
quando o poeta se esquece
de acordar na hora certa
Com o corpo adormecido
e a alma bem desperta
a vida faz mais sentido
e murmura ao ouvido
do sonho a palavra certa
E depois é só trocar
por palavras sentimentos
e as emoções, enganar
e fazê-las confessar
os verdadeiros intentos
Sonhar é fazer sorrir
a lágrima mais dolorosa
e os pesadelos, despir
para depois os vestir
de mil sonhos cor-de-rosa
É fazer o sol brilhar
na noite mais tenebrosa
por a tristeza a cantar
e devolver ao olhar
aquela luz preciosa
É roubar ao pôr-do-dol
um raio de luz derradeiro
e fazer dele um farol
que ilumine o mundo inteiro.
Jorge Mendonça
" Barco Negro", o belo poema de David Mourão-Ferreira na voz de Mariza. Trecho do show que gerou o DVD "Concerto em Lisboa", com a participação do Maestro Jaques Morelenbaum e a Sinfonietta de Lisboa.
BARCO NEGRO
De manhã temendo que me achasses feia,
acordei tremendo deitada na areia,
mas logo os teus olhos disseram que não
e o sol penetrou no meu coração.
acordei tremendo deitada na areia,
mas logo os teus olhos disseram que não
e o sol penetrou no meu coração.
Vi depois, numa rocha, uma cruz,
e o teu barco negro dançava na luz;
vi teu braço acenando, entre as velas já soltas.
Dizem as velhas da praia que não voltas...
São loucas! São loucas!
e o teu barco negro dançava na luz;
vi teu braço acenando, entre as velas já soltas.
Dizem as velhas da praia que não voltas...
São loucas! São loucas!
Eu sei, meu amor,
que nem chegaste a partir,
pois tudo em meu redor
me diz que estás sempre comigo.
que nem chegaste a partir,
pois tudo em meu redor
me diz que estás sempre comigo.
No vento que lança
areia nos vidros,
na água que canta,
no fogo mortiço,
no calor do leito,
nos bancos vazios,
dentro do meu peito
estás sempre comigo
areia nos vidros,
na água que canta,
no fogo mortiço,
no calor do leito,
nos bancos vazios,
dentro do meu peito
estás sempre comigo
David Mourão-Ferreira
" Amor não me engane", poema e música de José Afonso , extraído do Álbum "Venham Mais Cinco", 1973.
Poema de José Afonso
Que amor não me engana
Com a sua brandura
Se da antiga chama
Mal vive a amargura
Duma mancha negra
Duma pedra fria
Que amor não se entrega
Na noite vazia?
E as vozes embarcam
Num silêncio aflito
Quanto mais se apartam
Mais se ouve o seu grito
Muito à flor das àguas
Noite marinheira
Vem devagarinho
Para a minha beira
Em novas coutadas
Junta de uma hera
Nascem flores vermelhas
Pela Primavera
Assim tu souberas
Irmã cotovia
Dizer-me se esperas
Pelo nascer do dia"
José Afonso
Poema de José Afonso
Que amor não me engana
Com a sua brandura
Se da antiga chama
Mal vive a amargura
Duma mancha negra
Duma pedra fria
Que amor não se entrega
Na noite vazia?
E as vozes embarcam
Num silêncio aflito
Quanto mais se apartam
Mais se ouve o seu grito
Muito à flor das àguas
Noite marinheira
Vem devagarinho
Para a minha beira
Em novas coutadas
Junta de uma hera
Nascem flores vermelhas
Pela Primavera
Assim tu souberas
Irmã cotovia
Dizer-me se esperas
Pelo nascer do dia"
José Afonso
Carminho canta o magnífico poema "Da margem esquerda da vida" do poeta Reinaldo Ferreira, no Álbum " Canto", com música no tradicional Fado Menor do Porto de José Joaquim Cavalheiro Júnior. No Instrumental estão Luís Guerreiro na Guitarra Portuguesa, Diogo Clemente na Viola de Fado e Marino Freitas na Viola Baixo.
Da margem esquerda da vida
Da margem esquerda da
vida
Parte uma ponte que vai
Só até meio, perdida
Num halo vago, que atrai.
É pouco tudo o que eu
vejo,
Mas basta, por ser
metade,
P'ra que eu me afogue em
desejo
Aquém do mar da vontade.
Da outra margem, direita,
A ponte parte também.
Quem sabe se alguém ma
espreita?
Não a atravessa ninguém.
Reinaldo Ferreira
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