Manoel de Andrade
Cada dia é um devir inquietante,
um enredo que anuncia a tempestade
e a bonança...?
ah! a bonança é um barco num medonho temporal!
Uma egrégora maligna comanda o turbilhão,
é a frequência subliminar que domina o
mundo,
a combustão da história,
o trágico espasmo da vida,
o tumulto e a fúria linchando as
derradeiras utopias.
Na moldura dos tempos cada alma revela o
seu retrato,
entre a incredulidade dos “sábios” e a fé de uma criança,
transita a expectativa dos homens...
São dias sem bandeiras,
quando a verdade se envergonha da
“justiça”,
as togas e os mandatos acumpliciados na
ambição,
os crimes
lavados na corte dos “eleitos”
e os vilões absolvidos nesse palco de
trapaças.
Até quando assistiremos a esse fatídico cenário?
Quem apagará as luzes dessa medonha
ribalta?
Até quando, Senhor, suportaremos tanta
ignomínia?
Nessa república de escândalos,
a corrupção gargalha da história.
Nos palanques da ilusão,
máfias partidárias e alianças promíscuas
maquiam seus patéticos contendores.
É um ritual insuportável,
onde o poder trama as suas dinastias,
as ideologias são negociadas
e nas tribunas se mascara a hipocrisia.
Eis o reduto oficial dos futuros
saqueadores,
festejando sua agenda eleitoral em sórdidos
banquetes,
ante a súplica inconsolável no olhar dos
miseráveis.
Não quero o esquecimento,
não aceito o silêncio,
sou a acusação e a profecia
vivo num tempo de iniquidades e presságios,
numa pátria humilhada pela impunidade,
comandada por homens sujos e soturnos
e eis porque hoje meu canto surge assim
crispado,
testemunhando o impasse e esperando novos
dias.
Sei
que não se engana a posteridade,
que nessa nau dos insensatos toda perfídia
será nominada,
todas as máscaras cairão.
Sei também que um lento alvorecer anunciará
o amanhã,
e que a fé e a decência viverão muito além
desse holocausto.
Mas até quando, Senhor, combateremos esse
combate?
Há uma “música” sinistra e constante,
martelando, sem limites, em toda parte,
e eu e tantos outros não toleramos essa assuada.
Canto para os homens honrados e para os
cultores da beleza
e vos peço perdão por tanto
desencanto,
por
vos dar meu verso sombrio e indignado,
e esse febril retrato da esperança.
Curitiba, 04 de julho de 2014
Manoel de Andrade, poeta brasileiro
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