sábado, 19 de julho de 2014

A Moldura Dos Tempos


A MOLDURA DOS TEMPOS
                                     
                                Manoel de Andrade

Cada dia é um devir inquietante,
um enredo que anuncia a tempestade
e a bonança...?
ah! a bonança  é um barco num medonho temporal!

Uma egrégora maligna comanda o turbilhão,
é a frequência subliminar que domina o mundo,
a combustão da história,
o trágico espasmo da vida,
o tumulto e a fúria linchando as derradeiras utopias.

Na moldura dos tempos cada alma revela o seu retrato,
entre a incredulidade dos “sábios”  e a fé de uma criança,
transita a expectativa dos homens...
São dias sem bandeiras,
quando a verdade se envergonha da “justiça”,
as togas e os mandatos acumpliciados na ambição,
os crimes  lavados na corte dos “eleitos”
e os vilões absolvidos nesse palco de trapaças.
Até quando assistiremos a esse fatídico cenário?
Quem apagará as luzes dessa medonha ribalta?
Até quando, Senhor, suportaremos tanta ignomínia?
Nessa república de escândalos,
a corrupção gargalha da história.
Nos palanques da ilusão,
máfias partidárias e alianças promíscuas
maquiam seus patéticos contendores.
É um ritual insuportável,
onde o poder trama as suas dinastias,
as ideologias são negociadas
e nas tribunas se mascara a hipocrisia.
Eis o reduto oficial dos futuros saqueadores,
festejando sua agenda eleitoral em sórdidos banquetes,
ante a súplica inconsolável no olhar dos miseráveis.

Não quero o esquecimento,
não aceito o silêncio,
sou a acusação e a profecia
vivo num tempo de iniquidades e presságios,
numa pátria humilhada pela impunidade,
comandada por homens sujos e soturnos
e eis porque hoje meu canto surge assim crispado,
testemunhando o impasse e esperando novos dias.                                        
Sei  que não se engana a posteridade,
que nessa nau dos insensatos toda perfídia será nominada,
todas as máscaras cairão.
Sei também que um lento alvorecer anunciará o amanhã,
e que a fé e a decência viverão muito além desse holocausto.
Mas até quando, Senhor, combateremos esse combate?
Há uma “música” sinistra e constante,
martelando, sem limites, em toda parte,
e eu e tantos outros não toleramos essa assuada.
Canto para os homens honrados e para os cultores da beleza
e vos peço perdão por tanto desencanto, 
por  vos dar meu verso sombrio e indignado,                                                                                                                 
e esse febril retrato da esperança.  
                              
                                       Curitiba, 04 de julho de 2014

Manoel de Andrade, poeta brasileiro

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