Pequenas definições à falta
de maiores
de
Millôr Fernandes
Chama-se de
civilização esse lento processo pelo qual a humanidade acaba concordando com os
loucos.
Amizade é
aquilo que uma mulher tem por outra quando ambas detestam uma terceira.
Chama-se de
subtileza essa faculdade que nos permite ofender uma pessoa com tempo para ir
embora antes que ela possa reagir.
Médico é um
sujeito que aplica drogas que mal conhece a organismos que nem conhece.
Chama-se
psicanalista uma espécie de médico que está sempre mais perto da doença do que
da cura.
Chama-se
défice isso que uma pessoa tem quando tem menos do que quando não tinha coisa
nenhuma.
Chama-se de
chato o sujeito que tem um uísque numa das mãos e a nossa lapela na outra.
A universidade
é um local onde a ignorância é levada a suas extremas consequências.
Chama-se
celebridade um débil mental que foi à televisão.
O pobre
trabalha para comer. O rico trabalha para comer fora.
Círculo é uma
linha que resolve ir dar uma volta.
Pontual é
alguém que resolveu esperar muito.
Solteiro é uma
espécie de rato que pensa poder comer o queijo sem cair na ratoeira.
NOTA: Hoje ficamo-nos por aqui. Se quiserem mais, digam. Millôr Fernandes
é inesgotável. Ele, refilão sem mácula, foi o homem que disse isto: “o que as
pessoas não aceitam são pequenas coisas, o facto de eu nunca ter querido poder,
de não ter aparecido na TV Globo, afinal alguém tem de ter recato neste país.”
Eugénio Lisboa, 18.08.2023
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