Modos
de morrer ou nem
todas as mortes são suaves ou gloriosas
por Eugénio Lisboa
“Depois de uma vida gloriosa, de poeta, dramaturgo,
romancista ou filósofo, seria de justiça uma boa morte, cheia de luz e serena
ou dramática beleza. Infelizmente, os deuses são, por vezes, estupidamente
brincalhões e acabam por não ter graça nenhuma. Vejamos só alguns dos muitos
exemplos que há. Dou também o exemplo de Mark Twain, por ser muito curioso,
embora, neste caso, o desejo do autor tenha sido satisfeito e tenha tido uma
morte muito interessante.
por Eugénio Lisboa
O poeta grego Anacreonte
morreu, engasgando-se numa semente de uva.
O poeta grego Terpander
encontrava-se a cantar uma das suas canções, quando alguém lhe atirou um figo,
que lhe foi entupir a traqueia. Morreu engasgado, o que é totalmente
desajustado a quem sempre viveu da palavra e para a palavra.
Luciano “O Blasfemo”
morreu à boca raivosa de uma matilha de cães, diz-se que devido à sua
irreverência religiosa.
O grande dramaturgo grego
Eurípedes também morreu retalhado por cães raivosos, embora haja quem opte por
outra versão: teria morrido às mãos de um colectivo de mulheres furiosas,
devido a uma das suas peças de teatro.
Heráclito teve uma morte
mal cheirosa, quando se cobriu com excremento de vaca, para se aquecer e secar.
O conhecido historiador
grego Políbio morreu aos 82 anos, por ter caído desastradamente de um cavalo.
O dramaturgo Menandro,
nadando no Pireu, teve um ataque de caimbras e morreu afogado.
O escritor romano
Lucrécio endoideceu por ter tomado um afrodisíaco e suicidou-se.
Depois de ter escrito um
tratado sobre os prazeres do palato, o poeta romano Quintus Ennius morreu de
gota.
O poeta chinês Li Po (c.
700 – 762) caiu de um barco e afogou-se, quando tentava beijar o reflexo da lua
na água.
O dramaturgo e poeta Ben
Jonson (1572 – 1637) disse que queria ser enterrado “de pé”. O rei James I
tomou-o à letra e Jonson encontra-se enterrado de é, na Abadia de Westminster.
Molière morreu poucas
horas depois de ter representado o papel de um hipocondríaco. Durante a peça,
cuspiu sangue, mas continuou galhardamente a representar. A peça era sua e
intitulava-se LE MALADE IMAGINAIRE.
O grande poeta russo
Alexandre Pushkine morreu, como se sabe, em duelo. Também morreu em duelo outro
poeta russo, Lermontov, que, inspirado por Pushkine, escrevera o poema SOBRE A
MORTE DE UM POETA.
O grande romancista
inglês, William Thackeray, autor, entre outros romances, de A FEIRA DAS VAIDADES,
morreu por ser glutão.
O grande ficcionista e humorista americano Mark Twain nasceu em 1835, ano em que apareceu o cometa Halley e morreu, tal como previra e desejara, quando o cometa reapareceu em 1910. Entretanto, escrevera: “Será o maior desapontamento da minha vida, se eu não me for embora com o cometa Halley. Tenho a certeza de que o Altíssimo disse: ‘Ora aqui estão dois irresponsáveis malucos: apareceram juntos, devem desaparecer juntos’.”
O poeta revolucionário
russo Sergei Esenin (1895 – 1925) cortou os pulsos,
escreveu um poema com o seu próprio sangue e, depois,
enforcou-se.”
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