" A Europa foi e é percorrida a pé . Isto é fundamental. A cartografia da Europa é determinada pelas capacidades, pelos horizontes percepcionados dos pés humanos. Os homens e mulheres percorreram a pé os seus mapas, de lugarejo em lugarejo, de aldeia em aldeia, de cidade em cidade. O mais das vezes, as distâncias têm uma escala humana, podem ser dominadas pelo viajante que se desloque a pé , pelo peregrino até Compostela, pelo promeneur, seja ele solitaire ou gregário. Há extensões de terreno árido, proibitivo; há pântanos; os alpes elevam-se. Mas nada disto constitui um obstáculo intransponível. (...)
Este facto determina a existência de uma relação essencial entre a humanidade europeia e a sua paisagem. Metaforicamente, mas também materialmente , esta paisagem foi moldada, humanizada , por pés e mãos. Como em nenhuma outra parte do globo, as costas , os campos, as florestas e os montes da Europa, de la Coruña a S. Petersburgo, de Estocolmo a Messina , tomaram forma, não tanto devido ao tempo geológico como ao tempo histórico-humano.
Na ponta do glaciar está sentado Manfred (1). Chateaubriand fala com paixão dos promontórios rochosos. Os nossos acres , encontrem-se eles cobertos de neve ou no zénite amarelo do Verão, são aqueles vividos por Bruegel, Monet ou Van Gogh. Os bosques mais sombrios têm ninfas ou fadas, ogres literatos ou eremitas pitorescos. O viajante parece nunca estar completamente fora do alcance dos sinos da aldeia mais próxima. Desde tempos imemoriais , os rios têm vaus, vaus usados também pelos bois (2) , " Oxfords", e pontes sobre as quais dançar , como em Avinhão. As belezas da Europa são inextricavelmente inseparáveis da pátina do tempo humanizado.
(...) O génio da Europa é aquilo que William Blake teria chamado " a santidade do pormenor diminuto". É o génio da diversidade linguística, cultural e social, de um mosaico pródigo que muitas vezes percorre uma distância trivial, separado por vinte quilómetros, uma divisão entre mundos." Geoge Steiner, in " A ideia de Europa", Editora Gradiva, 2013, pp 28, 29, 49
(1) - Referência a "Manfred",poema dramático de Lord Byron. (N. da T.)
(2) - Em inglês , " vaus" e " bois" dizem-se , respectivamente , fords e oxen. Daí , oxford.(N. da T.)
Este facto determina a existência de uma relação essencial entre a humanidade europeia e a sua paisagem. Metaforicamente, mas também materialmente , esta paisagem foi moldada, humanizada , por pés e mãos. Como em nenhuma outra parte do globo, as costas , os campos, as florestas e os montes da Europa, de la Coruña a S. Petersburgo, de Estocolmo a Messina , tomaram forma, não tanto devido ao tempo geológico como ao tempo histórico-humano.
Na ponta do glaciar está sentado Manfred (1). Chateaubriand fala com paixão dos promontórios rochosos. Os nossos acres , encontrem-se eles cobertos de neve ou no zénite amarelo do Verão, são aqueles vividos por Bruegel, Monet ou Van Gogh. Os bosques mais sombrios têm ninfas ou fadas, ogres literatos ou eremitas pitorescos. O viajante parece nunca estar completamente fora do alcance dos sinos da aldeia mais próxima. Desde tempos imemoriais , os rios têm vaus, vaus usados também pelos bois (2) , " Oxfords", e pontes sobre as quais dançar , como em Avinhão. As belezas da Europa são inextricavelmente inseparáveis da pátina do tempo humanizado.
(...) O génio da Europa é aquilo que William Blake teria chamado " a santidade do pormenor diminuto". É o génio da diversidade linguística, cultural e social, de um mosaico pródigo que muitas vezes percorre uma distância trivial, separado por vinte quilómetros, uma divisão entre mundos." Geoge Steiner, in " A ideia de Europa", Editora Gradiva, 2013, pp 28, 29, 49
(1) - Referência a "Manfred",poema dramático de Lord Byron. (N. da T.)
(2) - Em inglês , " vaus" e " bois" dizem-se , respectivamente , fords e oxen. Daí , oxford.(N. da T.)
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