quarta-feira, 4 de março de 2015

Proust e a Bolsa

proust
A corrupção e a bolsa de valores em Proust
Por Carlos Russo Junior*
"O pai de Proust entendia que ele, Marcel, poderia morrer na miséria, tanto por seus gastos sem controle, quanto pela fixação que possuía em jogos, como os da Bolsa de Valores. Por volta de 1912, Marcel Proust chegou a perder uma fortuna de quase 800 mil francos.
“De algum modo, o jogo com as acções me atrai, como também atraía meu pai. De tal sorte que eu, todas as manhãs, perdão, assim que desperto, acompanho pelos jornais o vai-e-vem das apostas, e, inclusive, possuo amigos em algumas corporações que me aconselham quando vender e quando comprar.”
“As sociedades anónimas são como entes impessoais cuja vitalidade depende da cotação de suas acções na Bolsa, o que na verdade nada mais é que um grande jogo em que uns ganham e outros perdem, em que oportunidades se transformam em desgraças e o burguês, que aí aplica seu capital, tem que possuir o ânimo, a volúpia e a vertigem de um jogador, para, na maior partes das vezes ao acaso, ganhar ou perder.”
O narrador, Marcel, seguindo determinados conselhos de Norpois e ansioso por aumentar o seu património para manter o luxo de Albertine, aposta a herança que recebera da avó nos títulos de sociedades inglesas e dá-se conta ao receber em Veneza a carta de seu corretor na Bolsa, que sua fortuna fora reduzida: que pagando comissões e resgatando o que lhe restara, agora possuía apenas um quinto de sua fortuna inicial.
Numa carta a seu amigo Daudet, Proust confessa um segredo familiar: “Meu pai, o Dr. Adrien Proust, se não me engano por volta de 1892, perdeu quase um ano dos ganhos de seu trabalho como médico por aplicar suas economias na Companhia de um Canal Marítimo, o do Panamá.”
A quebra desta empresa foi um dos maiores escândalos do final de século IXX, pois ao falir levou consigo as economias de milhares de franceses. O escândalo foi tão grande, que ocasionou uma “débâcle”na República. Mais de cem deputados, senadores, ministros e ex-ministros estavam envolvidos com as trapaças e desonestidades da empresa.
O ex-Primeiro-Ministro, o sr. Barthou, chegou ao ponto de aconselhar os seus eleitores na eleição seguinte: “Olhem e vejam de que lado estão os maiores ladrões”. E isto foi dito por ele na defesa dos republicanos!
“Em Busca do Tempo Perdido”, o Director dos Correios e futuro Ministro, sr. Bontemps, é denominado de “panamista” no próprio gabinete, graças às fraudes da Companhia do Panamá, da qual participara.
A falência desta empresa arrastou consigo a boa fama de pessoas como Ferdinand de Lesseps- o construtor do Canal de Suez- assim como o bom nome de Gustave Eiffel, o grande responsável pela monumental torre e símbolo francês."
*Colaborador de Diálogos do Sul
Sobre a Revista Diálogos do Sul
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