A corrupção e a
bolsa de valores em Proust
Por Carlos Russo
Junior*
"O pai de Proust
entendia que ele, Marcel, poderia morrer na miséria, tanto por seus gastos sem
controle, quanto pela fixação que possuía em jogos, como os da Bolsa de
Valores. Por volta de 1912, Marcel
Proust chegou a perder uma fortuna de quase 800 mil francos.
“De algum modo, o jogo
com as acções me atrai, como também atraía meu pai. De tal sorte que eu, todas
as manhãs, perdão, assim que desperto, acompanho pelos jornais o vai-e-vem das
apostas, e, inclusive, possuo amigos em algumas corporações que me aconselham
quando vender e quando comprar.”
“As sociedades anónimas são como entes impessoais cuja vitalidade depende da cotação de suas acções na Bolsa, o que na verdade nada mais é que um grande jogo em que
uns ganham e outros perdem, em que oportunidades se transformam em desgraças e
o burguês, que aí aplica seu capital, tem que possuir o ânimo, a volúpia e a
vertigem de um jogador, para, na maior partes das vezes ao acaso, ganhar ou
perder.”
O narrador, Marcel,
seguindo determinados conselhos de Norpois e ansioso por aumentar o seu
património para manter o luxo de Albertine, aposta a herança que recebera da
avó nos títulos de sociedades inglesas e dá-se conta ao receber em Veneza a
carta de seu corretor na Bolsa, que sua fortuna fora reduzida: que pagando comissões
e resgatando o que lhe restara, agora possuía apenas um quinto de sua fortuna
inicial.
Numa carta a seu
amigo Daudet, Proust confessa um segredo familiar: “Meu pai, o Dr. Adrien
Proust, se não me engano por volta de 1892, perdeu quase um ano dos ganhos de
seu trabalho como médico por aplicar suas economias na Companhia de um Canal
Marítimo, o do Panamá.”
A quebra desta empresa
foi um dos maiores escândalos do final de século IXX, pois ao falir levou
consigo as economias de milhares de franceses. O escândalo foi tão grande, que
ocasionou uma “débâcle”na República. Mais de cem deputados, senadores,
ministros e ex-ministros estavam envolvidos com as trapaças e desonestidades da
empresa.
O ex-Primeiro-Ministro,
o sr. Barthou, chegou ao ponto de aconselhar os seus eleitores na eleição
seguinte: “Olhem e vejam de que lado estão os maiores ladrões”. E isto foi dito
por ele na defesa dos republicanos!
“Em Busca do Tempo
Perdido”, o Director dos Correios e futuro Ministro, sr. Bontemps, é denominado
de “panamista” no próprio gabinete, graças às fraudes da Companhia do Panamá,
da qual participara.
A falência desta
empresa arrastou consigo a boa fama de pessoas como Ferdinand de Lesseps- o construtor do Canal de
Suez- assim como o bom nome de Gustave
Eiffel, o grande responsável pela monumental torre e símbolo francês."
*Colaborador de
Diálogos do Sul
Sobre a Revista Diálogos do Sul
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