Morreu o professor e ensaísta Óscar
Lopes
“O ensaísta e
crítico literário, Óscar Lopes, professor jubilado da Faculdade de Letras do
Porto, morreu esta sexta-feira, aos 95 anos.
Considerado
como um dos grandes historiadores da literatura portuguesa, é o autor, com
António José Saraiva, de História da Literatura Portuguesa e de A Busca do
Sentido. Nasceu em 1917, o ano da revolução bolchevique e da aparição da
Senhora de Fátima, no seio de uma família católica, monárquica e conservadora.
Da infância, guardou, para sempre, o “espectáculo” medonho da pobreza, das
gentes de Leça e Matosinhos. Aos 12 anos, leu A Ilustre Casa de Ramires e, desde então, Eça é a sua figura
tutelar.
Chegou à
política conspirando com Vitorino Magalhães Godinho e o grupo dos socialistas
liderado por António Macedo. Apesar dos comunistas desconfiarem dele, foi pelo
seu próprio pé que pediu, em 1944, para entrar no PCP. Crítico — “desde cedo o
estalinismo começou-me a fazer doenças de pele, havia brutalidades imensas” —,
mantém-se fiel aos ideais comunistas, continua
a acreditar na revolução comunista ao mesmo tempo que persiste em tentar
perceber e o que é linguagem: “O que é falar? Ainda hoje me preocupa. Se
quiser, é a minha religião.”
Aos 19 anos, mudou-se para Lisboa, para estudar Filologia Clássica, na Faculdade de Letras,
formação complementada mais tarde em Coimbra, com cadeiras de
Histórico-Filosóficas. Os seus primeiros primeiros textos foram sobre música e
para um pequeno jornal de Sintra. Óscar Lopes era um amante de música e chegou
mesmo a fazer o curso do Conservatório de Música do Porto.
Autor de uma
vasta e importante obra no domínio da Linguística, em que se destaca a
Gramática Simbólica do Português, o ensaísta chegou tarde à docência na
Faculdade de Letras do Porto devido à sua filiação política, tendo mesmo
chegado a ser preso duas vezes durante o Estado Novo.
Antes de
leccionar na universidade, foi um muito respeitado e acarinhado professor de
liceu, lembra Isabel Pires de Lima, catedrática da Faculdade de Letras do Porto
e sua amiga. “É uma perda imensa”, disse ao PÚBLICO a ex-ministra da Cultura,
que entrou para a docência universitária no mesmo ano de o ensaísta, 1974. “Era
uma das pessoas mais disponíveis que conheci. Certamente um dos maiores
intelectuais portugueses do século XX. De sempre.”
A sua extensa bibliografia inclui dezenas de
ensaios, estudos e críticas sobre literatura, linguística e cultura
portuguesas.
Colaborou
ainda em algumas das mais importantes revistas literárias portuguesas, como a
Colóquio/Letras e a Seara Nova.
Óscar Lopes foi
condecorado em 2006 pelo Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, com a
Grã-Cruz da Ordem da Liberdade.
Ainda ao
PÚBLICO, numa entrevista que deu a Carlos Câmara Leme, em 1999, dizia que a
ideia da História da Literatura
Portuguesa partiu de António José Saraiva, em finais dos anos 40: “Tivemos
aí uns três anos para meditar. A primeira edição saiu em 1953, já o Saraiva
estava em Paris e carteávamo-nos para acertar as coisas”.
Em jovem
chegou a escrever poesia e mais tarde tentou o romance. Era irmão de Mécia de
Sena, a viúva do escritor Jorge de Sena.
O corpo de Óscar Lopes estará até sábado, hoje, na Associação de Jornalistas
e Homens de Letras do Porto, frente ao Café Garça Real, na Praça de D.João I.
Às 15h haverá uma breve cerimónia, após a qual o corpo seguirá para o Cemitério
de Matosinhos, onde será cremado às 16h30.”Público e outros
Algumas obras de Óscar
Lopes:Os Sinais e os Sentidos: Literatura Portuguesa do Século XX(1986), Entre Fialho e Nemésio: Estudos de
Literatura Portuguesa Contemporânea (1987) e A Busca de Sentido. Questões de
Literatura Portuguesa (1994).
A morte de Óscar Lopes... deixa-nos no patamar de uma nova Era, tão incerta, tão problemática, como o tempo em que este grande português nasceu, em 1917... O mundo europeu tentava sair de uma guerra fratricida, de que saiu decorrido mais um ano... E mal sonhava, então, que passados 20 anos iria entrar noutra Guerra muito pior, na companhia de Hitler! A insustentável manutenção do Euro, como moeda europeia, poderá fazer regressarmos a uma Europa de divergências profundas, de convulsões inevitáveis. Creiamos, que não.
ResponderEliminar