mas o que é a poesia?
Algumas respostas vagas
já foram dadas,
mas eu não sei e não sei, e a isto me agarro
como a um corrimão providencial."
Wislawa Szymborska,in “ Alguns gostam de Poesia”
Wislawa Szymborska, poeta polaca, morreu em Carcóvia no dia 1 de Fevereiro, com 88 anos. Com uma vasta obra poética, manteve sempre uma escrita original, peculiar , fora dos cânones das escolas literárias. Foi galardoada com o Prémio Nobel , em 1996, e no discurso que proferiu acabou por resumir o seu pensamento, o papel do poeta: " A inspiração, qualquer que seja a sua verdadeira natureza, nasce de um eterno " não sei". Um poeta , se é um verdadeiro poeta , deve também repetir para ele próprio: "eu não sei". Em cada novo poema , tenta responder, mas após cada ponto final, uma nova dúvida o invade; a convicção de que se trata uma vez mais de uma resposta provisória e absolutamente insuficiente. Então, recomeça, sempre, sempre."
Wislawa Szymborska ao observar o mundo mergulha até às raizes para, em seguida, sair e voar. E é nesse olhar lançado à distância, o olhar da altura , aquele que sobrevoa, onde reside o objecto de sedução da sua poesia, aquilo que encanta os seus leitores. Surpreender-se com tudo, era o único dever a que se impunha esta grande poeta, referência maior da Literatura polaca. Revisitá-la com frequência é também nosso dever já que nela e com ela nos é permitido olhar o mundo com os olhos da infância.
Em 1 de Dezembro de 1999 a revista francesa " Lire" publicou uma entrevista feita a Wislawa Szymborska da qual se transcreve um excerto referente a uma questão que possibilta aferir a acuidade e a profundidade do pensamento da poeta:
Comment imaginez-vous le prochain siècle?
J'espère qu'au siècle prochain, ce poème ne sera plus d'actualité:
La haine
Voyez combien elle reste efficace,
Combien elle se porte bien
En notre siècle, la haine.
Avec quel naturel elle prend les plus hauts obstacles.
Combien il lui est facile: sauter, saisir. [...]
Pouah! les autres sentiments
chétifs et avachis.Depuis quand la fraternité
attire-t-elle les foules?
A-t-on vu la miséricorde
prendre les autres de vitesse?
Le scrupule soulève combien de prosélytes?
Elle seule sait soulever, on ne la lui fait pas. [...]
On la dit aveugle. Elle?
Avec ses yeux de sniper?
Intrépide, elle regarde l'avenir en face.
Elle seule.
La haine
Voyez combien elle reste efficace,
Combien elle se porte bien
En notre siècle, la haine.
Avec quel naturel elle prend les plus hauts obstacles.
Combien il lui est facile: sauter, saisir. [...]
Pouah! les autres sentiments
chétifs et avachis.Depuis quand la fraternité
attire-t-elle les foules?
A-t-on vu la miséricorde
prendre les autres de vitesse?
Le scrupule soulève combien de prosélytes?
Elle seule sait soulever, on ne la lui fait pas. [...]
On la dit aveugle. Elle?
Avec ses yeux de sniper?
Intrépide, elle regarde l'avenir en face.
Elle seule.
( Fonte: Revista "Lire")
Em homenagem a Wislawa Szymborska, poeta polaca que acreditava no futuro... Como nós. Eis, no mês da sua morte, a grande, a eterna, a mesma questão... O que é a Poesia?... Transferir sentidos, coração e pensamento, gestos e sensações, sentimentos, para palavras, palavras, únicamente palavras, e trabalhá-las na oficina, na grande oficina da Poesia. Daí surgirá um arranjo original, tanto quanto possível, um poema, a poesia. (...."On la dit aveugle. Elle? / Avec ses yeux de sniper? / Intrépide, elle regarde l'avenir en face / Elle seule."......)
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