O medo
por Bertrand Russell
(...) Uma das consequências do medo é a submissão aos chefes. Todo o grupo social que tenha um vivo sentimento de medo, volta-se instintivamente para um chefe que julga digno da sua confiança. Este às vezes é bom, outras vezes é mau , mas o mecanismo do instinto é o mesmo nos dois casos. Um movimento idêntico fez com que a Inglaterra se voltasse para Churchill em 1940 e os alemães para Hitler na época de grande crise. No momento do perigo, a submissão a um chefe é muitas vezes necessária. É evidentemente bom, num naufrágio, que se obedeça ao capitão. Mas uma tal submissão comporta perigos inevitáveis que a tornam lamentável, quando o medo que a inspira não é necessário. Rouba o gosto da responsabilidade individual e o hábito de pensar por si mesmo. Se o chefe que se escolhe não possui uma elevação de espírito excepcional, sacrificará cedo ou tarde , os seus partidários aos seus interesses pessoais , o que faziam quase invariavelmente os tiranos gregos. E como o seu poder assentava apenas num medo geral e difuso, ele não cuidava de o dissipar , mas pelo contrário, encorajava os seus concidadãos a crerem-se cercados de inimigos. Daí a "caça às bruxas" no interior e as guerras no exterior. Toda esta cadeia trágica resulta do medo que o homem sente pelo seu semelhante."
Bertrand Russell, in (Cap. XVII, O medo) de A Última Oportunidade do Homem, Guimarães Editores, Lisboa, 1955 , p 215
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