Nobel da Literatura,
Bolaño e Cortázar inéditos nas novidades de Fevereiro
O mais recente romance do Nobel da Literatura 2021, a estreia em Portugal de Kay Dick, inéditos de Bolaño e Cortázar, e novidades de Itamar Vieira Júnior, Isabel Rio Novo e Manuel Vilas são destaques das editoras para Fevereiro.
A Cavalo de Ferro vai lançar, já no início do mês, “Vidas seguintes”, o mais recente romance de Abdulrazak Gurnah, vencedor do Prémio Nobel da Literatura em 2021, que entrelaça história e ficção, para construir uma narrativa lúcida e trágica sobre África, o legado colonial e as atrocidades da guerra, bem como as infinitas contradições da natureza humana.
A mesma chancela publica também um inédito até à data em Portugal de Julio Cortázar, “Um Certo Lucas”, coleção de pequenas ficções, sobre os seus pianistas favoritos, sobre os costumes de determinadas famílias argentinas ou o fim de uma história de amor.
A Elsinore, chancela do mesmo grupo, publicará “A cláusula familiar”, de Jonas Hassen Khemiri, romance vencedor do Prémio Médicis 2021 e finalista do National Book Award 2021, que traça um retrato divertido e doloroso das relações familiares nas sociedades modernas e multiétnicas, nas quais o desejo de individualismo se conjuga com os valores ancestrais de identidade e pertença.
A mesma chancela publica “Para acabar de vez com Eddie Bellegeule”, o aclamado primeiro romance de Édouard Louis, autor de quem a Elsinore já publicou “Quem Matou o Meu Pai” — obra adaptada a teatro, com encenação do belga Ivo van Hove e que esteve em exibição, em 2021, no Teatro Nacional D. Maria II, no âmbito do Festival de Almada — e “História da Violência”.
Para o próximo mês, a Alfaguara traz como novidade a publicação de um novo romance de Manuel Vilas, “Os beijos”, uma história de amor no meio de uma crise mundial, em que uma mulher e um homem tentam regressar ao amor e ao erotismo, “esse lugar misterioso onde os seres humanos procuram o sentido mais profundo da vida”, descreve a editora.
O grupo Almedina publica, na chancela Minotauro, “Raiva”, de Sergio Bizzio, considerado um dos melhores romances latino-americanos da última década, adaptado ao cinema, com produção de Guillermo del Toro.
Trata-se da história de um operário da construção civil que, farto de sofrer humilhações, se esconde na mansão onde a namorada trabalha como empregada doméstica, depois de, no calor de uma discussão, cometer um assassinato, passando aí a viver incógnito, como um fantasma.
Um história simples de paixão entre dois trabalhadores de classe baixa, que redunda no relato das humilhações que ambos têm de suportar por parte daqueles que se julgam mais poderosos: ele responderá à violência com violência; ela, com submissão e mentiras, segundo a editora.
A Porto Editora aposta forte na ficção nacional, propondo “Um Cão Deitado à Fossa”, vencedor do Prémio Cidade de Almada 2018, que agora se publica, e que constituiu o segundo título de Carla Pais no catálogo da Porto Editora, depois de “Mea Culpa”.
Depois de, em 2020, ter publicado “Tropel”, Manuel Jorge Marmelo regressa com o romance “A Última Curva do Caminho”, um manifesto em defesa da lentidão e da liberdade individual, com um enredo marcado pelo processo de envelhecimento, pela doença, pela solidão e pela perplexidade diante da inevitabilidade da morte.
Outra novidade nesta editora é a novela gráfica “O Crespos”, de Adolfo Luxúria Canibal, uma metáfora sobre a invisibilidade e a solidão na sociedade contemporânea, com ilustrações de José Carlos Costa.
No ano e no mês em que faz 100 anos, “Ulisses”, a obra-prima de James Joyce e um dos mais importantes romances do século XX, conhece uma nova edição pela Livros do Brasil.
“Ulisses” é publicado no mês em que se assinalam também os 140 anos de nascimento de James Joyce (2 de fevereiro de 1882) e narra um só dia na vida de Leopold Bloom, inspirando-se na “Odisseia”, de Homero.
Entre as novidades da Quetzal inclui-se aquela que é a primeira coletânea de contos do escritor chileno Roberto Bolaño, “Chamadas Telefónicas”, e novos romances de Álvaro Laborinho Lúcio, “As Sombras de Uma Azinheira”, e de Patrícia Müller, “A Rainha e a Bastarda”.
A mesma editora vai publicar “Eles”, de Kay Dick (1915-2001), escritora e jornalista inglesa, nunca antes publicada em Portugal.
Com prefácio da escritora Carmen Maria Machado, este livro, publicado originalmente em 1977, consiste numa série de sequências de sonho, e ganhou o prémio de literatura do Sudeste das Artes, tendo sido descrito como “uma obra-prima distópica perdida”, pela revista The Paris Review, em 2020.
Quanto às apostas da D. Quixote, uma das novidades é “Doramar ou a Odisseia”, novo livro de contos de Itamar Vieira Junior, o escritor brasileiro que em 2018 venceu o Prémio Leya e, em 2020, o Jabuti e Oceanos, pelo romance “Torto arado”.
Trata-se de um conjunto de histórias herdeiras da tradição literária brasileira, mas simultaneamente contemporâneas no tratamento de questões como a destruição da floresta, a exploração dos mais fracos, a construção de muros entre países, as lutas pelos direitos humanos.
As heroínas destas histórias são maioritariamente mulheres obrigadas a lutar contra a adversidade, mas também estão presentes aqueles que regra geral não têm voz, como os escravos levados de África ou os índios empurrados para fora das suas terras.
Outro destaque da D. Quixote é o novo romance de “Isabel Rio Novo, “Madalena”, vencedor do prémio literário João Gaspar Simões, sobre uma mulher em tratamentos contra um tumor, que descobre e examina o espólio dos bisavós: um romance sobre a família e a construção do eu, muito mais do que uma narrativa sobre a doença.
Pela mão da D. Quixote, chega também “Canción”, novo livro do guatemalteco Eduardo Halfon, de quem a editora publicou no ano passado “Luto”, romance sobre uma história de familia de uma personagem chamada Eduardo Halfon — que pode ou não ser o autor —, e que arrebatou o Prémio do Melhor Livro Estrangeiro (França), o Prémio Edward Lewis Wallant (EUA), o Prémio Internacional do Livro Latino (EUA) e o Prémio das Livrarias de Navarra (Espanha).
Com “Canción” o autor regressa a esse universo literário que criou, para se embrenhar na brutal e complexa história recente do seu país, na qual se torna cada vez mais difícil distinguir vítimas de verdugos.
A Tinta-da-China vai publicar em fevereiro “A Liberdade dos Futuros”, de Jorge Pinto, um livro sobre democracia, liberdade e ecologia, “Mortal e Rosa”, “livro maior” de Francisco Umbral sobre a morte do próprio filho e a sacralidade da infância, bem como “José Saramago: A escrita infinita”, ensaios em diálogo com a obra de Saramago no ano do centenário, com organização de Carlos Nogueira, diretor científico da Cátedra José Saramago da Universidade de Vigo.
Pela editorial Presença chega “A Breve Vida das Flores”, de Valérie Perrin, um livro que venceu os Prémios Maison de la Presse e Prix des Lecteurs e foi o livro mais vendido do ano em Itália.
O clássico feminista “Malina”, da escritora austríaca Ingeborg Bachmann, chega pela Antígona, em nova edição, por altura do 51.º aniversário da sua publicação original, com tradução de Helena Topa e posfácio de Elfriede Jelinek, Nobel da Literatura.
Adaptado ao cinema por Werner Schroeter, em 1991, com guião de Elfriede Jelinek, e Isabelle Hupert como protagonista, “Malina” trata de um triângulo amoroso numa Viena decadente.
É uma viagem aos limites da linguagem e da loucura de uma mulher, mas, sobretudo, um retrato existencial lúcido e poderoso.
“Malina” é o único romance de Ingeborg Bachmann, pensado como primeiro volume de uma trilogia que ficou interrompida pela morte da autora.
Frederico Pedreira lança um novo livro pela Relógio d’Água, “Um Virar de Costas Sedutor”, dois anos depois de “A Lição do Sonâmbulo”, publicado pela Companhia das Ilhas, distinguido com os prémios literários da União Europeia e da Fundação Eça de Queirós em 2021.” Agência Lusa (É desta que leio isto), 29.01.2022
A Editora Relógio d’Água publica em Fevereiro:
1 — Jogos de Azar, de José Cardoso Pires (Prefácio de Afonso Reis Cabral)
2 — Um Virar de Costas Sedutor, de Frederico Pedreira
3 — Eles, de Kay Dick
4 — A Loja de Antiguidades, de Charles Dickens
5 — Herbarium, de Emily Dickinson
6 — O Novo Sábado Começa à Sexta-Feira, de Pedro Gomes
7 — Paralização, de Adam Tooze
8 — Diário do Escritor, de Fiódor Dostoievski
9 — O Spleen de Paris, de Charles Baudelaire
2 — Um Virar de Costas Sedutor, de Frederico Pedreira
3 — Eles, de Kay Dick
5 — Herbarium, de Emily Dickinson
7 — Paralização, de Adam Tooze
8 — Diário do Escritor, de Fiódor Dostoievski
9 — O Spleen de Paris, de Charles Baudelaire
Revista Colóquio/Letras nº 208 – Fundação Calouste Gulbenkian
Set – Dez 2021
Mário Cláudio
"Mário Cláudio, o autor em destaque neste número, ganhou uma dimensão que o coloca, justamente, entre aqueles que, a partir das últimas décadas do século XX, mantêm uma temática em permanente renovação.
A relação estreita com o Norte interior que formou a sua sensibilidade — numa região onde nasceram outros grandes nomes como Teixeira de Pascoaes e Agustina Bessa-Luís — e o diálogo com figuras da cultura portuguesa e europeia, tanto erudita como popular, são constantes numa obra que questiona muitos aspetos da escrita e da própria subjetividade do ser literário.
Tais interrogações resultaram num notável livro supostamente autobiográfico e, a partir do problema da autenticidade ou não da personalidade autoral, levaram-no a encontrar em Tiago Veiga (que também colabora neste número) um alter ego cujo estatuto poderíamos associar ao que Bernardo Soares teve para Fernando Pessoa.
Questões suscitadas pela obra de Mário Cláudio encontram em Vítor Aguiar e Silva — o grande teórico da literatura e estudioso de Camões, cujo enigma biográfico é objeto de um dos romances do escritor — aproximações críticas que nos ajudam a entender o seu contexto criativo.
A leitura dos estudos aqui publicados poderá, sem dúvida, contribuir para compreender o papel de ambos na descoberta permanente daquilo que é o centro desta revista: a literatura e a cultura portuguesas no mundo de hoje."
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