sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

O medo


O medo 
por Bertrand Russell
(...) Uma das consequências do medo é a submissão aos chefes. Todo o grupo social que tenha um vivo sentimento de medo, volta-se instintivamente para um chefe que julga digno  da sua confiança. Este às vezes  é bom,  outras vezes é mau , mas o mecanismo do instinto é o mesmo  nos dois casos. Um movimento idêntico fez com que a Inglaterra se voltasse para Churchill em 1940 e os alemães para Hitler  na época de grande  crise. No momento do perigo, a submissão a um chefe é muitas vezes necessária. É evidentemente bom, num naufrágio, que se obedeça ao capitão. Mas uma  tal submissão comporta perigos inevitáveis  que a tornam  lamentável, quando o medo que a  inspira não é necessário. Rouba o gosto da responsabilidade  individual  e o hábito de pensar por si mesmo. Se o chefe  que se escolhe não possui uma elevação de espírito excepcional,  sacrificará cedo ou tarde , os seus partidários  aos seus interesses pessoais , o que faziam  quase invariavelmente  os tiranos gregos. E como o seu poder assentava apenas num medo geral e difuso, ele não cuidava  de o dissipar , mas pelo contrário, encorajava  os seus concidadãos  a crerem-se  cercados de inimigos.   Daí a "caça às bruxas" no interior  e as guerras no exterior. Toda esta cadeia trágica resulta do medo que o homem sente pelo seu semelhante."
Bertrand Russell, in (Cap. XVII, O medo) de A Última Oportunidade do Homem,  Guimarães Editores, Lisboa, 1955 , p 215 

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