domingo, 21 de julho de 2019

Ao Domingo Há Música

Era uma vez uma estrela,
Toda a brilhar e a tremer.

E um lago por baixo dela.

E um poeta que sonhava,
Deixando a noite correr.

Aquela estrela pensava:

«Descer! descer
«Àquele espelho profundo
«Em que me vejo mais bela!
«Ir ter a não sei que mundo...»

Pensava o lago:

«Subir!
«Subir até atingir
«Aquela chama que vela
«Naquela curva do céu
«Que a guarda viva, mas eu
«Só morta sei reflectir...
«Ter viva essa flor de lava!
«Não reflectir, - mas sim ter...»

E o poeta que sonhava
Deixava a noite correr.
José Régio, Colheita da Tarde

No último número de uma revista literária francesa, apresentava-se uma selecção de 60 livros   e alguma  música  para o verão. O autor  levantava a questão se  seria correcto  ou apropriado designar-se  para o verão ou de  verão , como a canção de Boris Vian, " Tubes de l'été".  Considerando que talvez fosse  mais apropriado deixar de insistir na correspondência entre objecto e estação, optou   por seleccionar  música e livros para o verão. Abracei, de imediato, essa opção. Eliminava uma visão redutora destas duas grandes manifestações de Arte. Nem a Música  nem  a Literatura são pertença do verão ou de uma outra qualquer estação.
Entretanto, sem pretender  cair no desafio , dei por mim a cogitar  que existem músicas que nos trazem uma mais intensa felicidade e  uma mais profunda  melodiosa fruição,  quando  escutadas numa cálida noite de verão. Tocam-nos  de um outro jeito, como um verdadeiro elixir . E  tal como o poeta sonhando,  deixamos  a noite correr.
O verão está aí. Fomos   no rasto de   dois bons exemplos para uma eufónica noite estival.
Eis a voz grandiosa de Montserrat Caballe interpretando o magnífico tema de Vangelis, Like a dream.

E a  singular voz de Leonard Cohen, na sempre  belíssima canção Dance me to the End of Love.

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