Era uma vez uma estrela,
Toda a brilhar e a tremer.
E um lago por baixo dela.
E um poeta que sonhava,
Deixando a noite correr.
Aquela estrela pensava:
«Descer! descer
«Àquele espelho profundo
«Em que me vejo mais bela!
«Ir ter a não sei que mundo...»
Pensava o lago:
«Subir!
«Subir até atingir
«Aquela chama que vela
«Naquela curva do céu
«Que a guarda viva, mas eu
«Só morta sei reflectir...
«Ter viva essa flor de lava!
«Não reflectir, - mas sim ter...»
E o poeta que sonhava
Deixava a noite correr.
José Régio, Colheita da Tarde
Toda a brilhar e a tremer.
E um lago por baixo dela.
E um poeta que sonhava,
Deixando a noite correr.
Aquela estrela pensava:
«Descer! descer
«Àquele espelho profundo
«Em que me vejo mais bela!
«Ir ter a não sei que mundo...»
Pensava o lago:
«Subir!
«Subir até atingir
«Aquela chama que vela
«Naquela curva do céu
«Que a guarda viva, mas eu
«Só morta sei reflectir...
«Ter viva essa flor de lava!
«Não reflectir, - mas sim ter...»
E o poeta que sonhava
Deixava a noite correr.
José Régio, Colheita da Tarde
No último número de uma revista literária francesa, apresentava-se uma selecção de 60 livros e alguma música para o verão. O autor levantava a questão se seria correcto ou apropriado designar-se para o verão ou de verão , como a canção de Boris Vian, " Tubes de l'été". Considerando que talvez fosse mais apropriado deixar de insistir na correspondência entre objecto e estação, optou por seleccionar música e livros para o verão. Abracei, de imediato, essa opção. Eliminava uma visão redutora destas duas grandes manifestações de Arte. Nem a Música nem a Literatura são pertença do verão ou de uma outra qualquer estação.
Entretanto, sem pretender cair no desafio , dei por mim a cogitar que existem músicas que nos trazem uma mais intensa felicidade e uma mais profunda melodiosa fruição, quando escutadas numa cálida noite de verão. Tocam-nos de um outro jeito, como um verdadeiro elixir . E tal como o poeta sonhando, deixamos a noite correr.
O verão está aí. Fomos no rasto de dois bons exemplos para uma eufónica noite estival.
Eis a voz grandiosa de Montserrat Caballe interpretando o magnífico tema de Vangelis, Like a dream.
E a singular voz de Leonard Cohen, na sempre belíssima canção Dance me to the End of Love.
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