sábado, 21 de janeiro de 2017

A vida humana

"A vida humana não passa de um sonho. Mais de uma pessoa já pensou nisso. Pois essa impressão também me acompanha por toda a parte. Quando vejo os estreitos limites onde se acham encerradas as faculdades activas e investigadoras do homem, e como todo o nosso trabalho visa apenas a satisfazer as  nossas necessidades, as quais, por sua vez, não têm outro objectivo que prolongar a nossa mesquinha existência; quando verifico que o nosso espírito só pode encontrar tranquilidade, quanto a certos pontos das nossas pesquisas, por meio de uma resignação povoada de sonhos, como um presidiário que adornasse de figuras multicoloridas e luminosas perspectivas as paredes da sua cela… tudo isso, Wilhelm, me faz emudecer. Concentro-me e encontro um mundo em mim mesmo! Mas, também aí, é um mundo de pressentimentos e desejos obscuros e não de imagens nítidas e forças vivas. Tudo flutua vagamente nos meus sentidos, e assim, sorrindo e sonhando, prossigo na minha viagem através do mundo." 
Johann Wolfgang von Goethe, in "Os sofrimentos do Jovem Werther",L&PM Editores
" Se a criação é obra do amor , seriam a aniquilação , a morte, obra do ódio? Traz-nos à vida  o amor,  e destrói-nos o ódio? Ou é viável imaginar a possibilidade de também a morte ser obra do amor?
Algumas perguntas de difícil solução. Beckett, em Molloy: " Que raio magicava Deus antes da criação?" ( Paráfrase de Santo Agostinho). Valéry  : " A isso resumimos todas as questões?"  Depois: " O que faz Deus para lá da Criação?"
Imre Kertész, in " Um Outro, Crónica de uma Metamorfose", Editorial Presença, p. 41

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