Meu galope é em frente
Direis que não é poesia
e a mim que importa?
Eu canto porque a voz nasce e tem de libertar-se.
Eu grito porque respondo
Eu grito porque respondo
às
lanças que nos espetam
e
aos braços que me chamam
E porque, dia e noite, minhas mãos e meus olhos,
por estranhas telegrafias,
dos cantos mais ignotos
por estranhas telegrafias,
dos cantos mais ignotos
e
das ilhas perdidas
e dos campos esquecidos
e
dos lagos remotos,
e
dos montes,
recebem longas mensagens e comunicações:
para
que grite e cante.
O meu grito e meu canto é a voz de milhões.
Por isso que me importa?
Eu canto e cantarei o que tiver a cantar
e grito e gritarei o que tiver a gritar
e falo e falarei o que tiver a falar.
Direis que não é poesia
E
a mim que importa
se eu estou aqui apenas para escancarar a porta
e
derrubar os muros?
E a mim que importa
Se vós sois afinal o que hei de ultrapassar
e esmigalhar
em
nome
de
todos os futuros?
Eu sigo e seguirei
como um doido ou um anjo,
obstinado e heroico a caminho de nós
em
palavras e ações
Por todos os vendavais
e
temporais
e
multidões
nos cantos mais ignotos
e nas ilhas perdidas
e nos campos esquecidos
e nas ilhas perdidas
e nos campos esquecidos
e
nos lagos remotos
e
nos montes
—
por terra, mar, e ar.
Direis que não é poesia
e
a mim que importa!
Convosco ou não, meu galope é em frente.
Pertenço a outra raça, a outro mundo, a outra gente.
É andar! É andar!
(1942)
Mário Dionísio, (1916-1993),in Poesia Completa, colecção PLURAL, Imprensa Nacional-Casa da Moeda
Pertenço a outra raça, a outro mundo, a outra gente.
É andar! É andar!
(1942)
Mário Dionísio, (1916-1993),in Poesia Completa, colecção PLURAL, Imprensa Nacional-Casa da Moeda
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