Foi então que sobreveio o incêndio do Reichstag: o
parlamento foi extinto, Göring soltou as suas hordas , de uma penada o Estado
de direito foi suprimido na Alemanha. As pessoas, horrorizadas, ficaram a saber que havia campos de concentração em pleno período de
paz (…)Coisas dessas não podiam durar muito em pleno século XX. (...) O mundo começou a prestar atenção e, de início, recusou acreditar no inacreditável. Mas logo por esses dias tive oportunidade de ver os primeiros refugiados. Tinham atravessado as montanhas de Salzburgo durante a noite e passado a nado o rio que fazia fronteira. Esfomeados esfarrapados, perturbados, fixavam os olhos em nós; eles tinham sido os primeiros a fugir em pânico da desumanidade que se viria a espalhar por todo o globo.
Stefan
Zweig, in
"(Incipit Hitler) - O mundo de ontem, recordações de um europeu", Ed. Assírio&Alvim,
p.424
Ontem, 16 de Abril, festejou-se o dia mundial da voz. Há várias formas de dar relevância a esta celebração . Num tempo em que muitas vozes não têm voz, o Papa Francisco visitou os refugiados e permitiu que se soltassem as vozes de quem já não tem chão e procura tecto. Escutou-os. Oxalá todos os soubessem ouvir. Oxalá todos se juntassem à voz da razão. Oxalá o mundo acordasse. Oxalá!
E nós que, neste fado português, já nos refugiámos por esse mundo em demanda de novas terras, de novos caminhos, de novos tectos, de outra forma de vida que desse voz a um futuro diferente e digno. Há em nós muitos daqueles rostos que desejam apenas ter voz numa vida que lhes pertence.
Hoje, as vozes que chegam são vozes que também andaram pelo mundo. Levaram sonho, alegria, emoção, prazer , devaneio, esperança a todos aqueles que nunca deixarão de as aplaudir. São vozes intemporais que jamais serão esquecidas.
Há outras. Escolhi estas. O tempo nem sempre dá espaço para que as vozes cantem num só tempo.O Fado nasceu um dia,
quando o vento mal bulia
e o céu o mar prolongava,
na amurada dum veleiro,
no peito dum marinheiro
que, estando triste, cantava,
que, estando triste, cantava.
(...)
Ora eis que embora outro dia,
quando o vento nem bulia
e o céu o mar prolongava,
à proa de outro veleiro
velava outro marinheiro
que, estando triste, cantava,
que, estando triste, cantava.
(...)
Poema de José Régio
Música de Alain Oulman
Amália Rodrigues, a voz que sempre celebraremos, num dos fados mais belos da sua discografia: Fado Português . Fado que traz um poema de José Régio, um dos maiores poetas de sempre, e a música de um estudioso e apaixonado pela canto da Severa , Alain Oulman.
And so I face the final curtain
My friend, I'll say it clear
I'll state my case, of which I'm certain
I've lived a life that's full
I traveled each and ev'ry highway
And more, much more than this, I did it my way
Regrets, I've had a few
But then again, too few to mention
I did what I had to do and saw it through without exemption
I planned each charted course, each careful step along the byway
And more, much more than this, I did it my way
Frank Sinatra, The Voice, que encantou o mundo, em " My way".
Tony Bennett &Aretha Franklin , vozes maiores do mundo, em How Do You Keep The Music Playing. (C) 2012 Columbia Records
A grandiosa e imortal voz de Pavarotti, em " Nessun Dorma " da ópera "Turandot" de Giacomo Puccini.
O talento de Zeca Afonso, a voz que marcou um país, na mais famosa canção de resistência : Grândola, Vila Morena.
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