terça-feira, 19 de abril de 2016

A descoberta

"Quando soube, ao fim do dia, que o meu nome tinha sido aplaudido no Capitólio, nem por isso me senti feliz nessa noite,
E mais ainda, quando me embriaguei ou quando se cumpriram os meus planos, não me senti feliz,
Mas no dia em que me levantei bem cedo de perfeita saúde, descansado, a cantar, aspirando o ar amadurecido do Outono,
Quando a ocidente vi a lua cheia empalidecer e desaparecer com a luz da manhã,
Quando vagueei só pela praia, e nu entrei na água, rindo com as águas frias, e vi o Sol nascer,
E quando pensei que o meu querido amigo, o meu amante, vinha a caminho, oh, então senti-me feliz,
Oh, então, o ar que aspirava era mais fresco, e durante todo aquele dia o que comia satisfazia-me mais, e aquele belo dia foi maravilhoso,
E o dia seguinte surgiu com igual alegria, e no outro a seguir, à tarde, chegou o meu amigo,
E naquela noite, quando tudo estava em silêncio, ouvi o rolar lento e contínuo das águas invadindo as praias,
Ouvi o murmúrio sibilante desse líquido e das areias, como se em murmúrios me felicitassem,
Pois aquele que mais amo dormia junto de mim sob a mesma manta na noite fria,
No silêncio dos raios da Lua de Outono, o seu rosto inclinava-se para mim,
E o seu braço repousava levemente sobre o meu peito — e nessa noite fui feliz.
Walt Whitman, in "Folhas de Erva", trad. Maria de Lourdes Guimarães, Círculo de Leitores, Fevereiro de 2006, p. 114
 

(...) A superfície da terra é macia e deixa-se marcar pelos pés dos homens; o mesmo ocorre com os caminhos por onde viaja a mente. Como, então, devem ser gastas e empoeiradas as estradas do mundo, como são fundos os sulcos da tradição e da conformidade!
Aprendi com a experiência pelo menos isto: se o homem segue confiante rumo aos sonhos que teceu  e se empenha em viver a vida que imaginou, terá um sucesso inesperado. Deixará algumas coisas para trás, cruzará uma fronteira invisível; novas leis universais e mais liberais começarão a se estabelecer ao redor e dentro dele; ou as velhas leis se ampliarão e serão interpretadas a seu favor num sentido mais liberal, e ele viverá com a licença de uma ordem superior de seres.À medida que ele simplifica a vida, as leis do universo mostrar-se-ão menos complexas, e a solidão não será solidão, nem a pobreza pobreza, nem a fraqueza fraqueza. Se tiver construído castelos no ar, não será trabalho perdido; é ali mesmo que eles devem estar. Agora, basta  por-lhes os alicerces."
Henry David Thoreau , in Walden, ou A vida nos bosques. L&PM Editora, 2010.

Sem comentários:

Enviar um comentário