"Quando
soube, ao fim do dia, que o meu nome tinha sido aplaudido no Capitólio, nem por
isso me senti feliz nessa noite,
E
mais ainda, quando me embriaguei ou quando se cumpriram os meus planos, não me
senti feliz,
Mas
no dia em que me levantei bem cedo de perfeita saúde, descansado, a cantar,
aspirando o ar amadurecido do Outono,
Quando
a ocidente vi a lua cheia empalidecer e desaparecer com a luz da manhã,
Quando
vagueei só pela praia, e nu entrei na água, rindo com as águas frias, e vi o
Sol nascer,
E
quando pensei que o meu querido amigo, o meu amante, vinha a caminho, oh, então
senti-me feliz,
Oh,
então, o ar que aspirava era mais fresco, e durante todo aquele dia o que comia
satisfazia-me mais, e aquele belo dia foi maravilhoso,
E
o dia seguinte surgiu com igual alegria, e no outro a seguir, à tarde, chegou o
meu amigo,
E
naquela noite, quando tudo estava em silêncio, ouvi o rolar lento e contínuo
das águas invadindo as praias,
Ouvi
o murmúrio sibilante desse líquido e das areias, como se em murmúrios me
felicitassem,
Pois
aquele que mais amo dormia junto de mim sob a mesma manta na noite fria,
No
silêncio dos raios da Lua de Outono, o seu rosto inclinava-se para mim,
E
o seu braço repousava levemente sobre o meu peito — e nessa noite fui feliz.
Walt
Whitman, in "Folhas de Erva", trad. Maria de Lourdes Guimarães, Círculo de
Leitores, Fevereiro de 2006, p. 114
Aprendi com a experiência pelo menos isto: se o homem segue confiante rumo aos sonhos que teceu e se empenha em viver a vida que imaginou, terá um sucesso inesperado. Deixará algumas coisas para trás, cruzará uma fronteira invisível; novas leis universais e mais liberais começarão a se estabelecer ao redor e dentro dele; ou as velhas leis se ampliarão e serão interpretadas a seu favor num sentido mais liberal, e ele viverá com a licença de uma ordem superior de seres.À medida que ele simplifica a vida, as leis do universo mostrar-se-ão menos complexas, e a solidão não será solidão, nem a pobreza pobreza, nem a fraqueza fraqueza. Se tiver construído castelos no ar, não será trabalho perdido; é ali mesmo que eles devem estar. Agora, basta por-lhes os alicerces."
Henry David Thoreau , in Walden, ou A vida nos bosques. L&PM Editora, 2010.
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