Manoel de Andrade, poeta brasileiro, acabou de escrever as memórias da sua comprometida diáspora libertária ao longo de 16 países da América Latina, na década de 70. Nessa época , a maior parte desses países vivia sob ferozes ditaduras. Tempo sujo que perdurou e marcou para sempre Manoel de Andrade que foi obrigado ao exílio. Esta obra memorialística, que já está no prelo, sairá sob o título: " NOS RASTROS DA UTOPIA, Uma memória crítica da América Latina nos anos 70".
No excerto que se apresenta, o poeta retorna ao Chile, na era de Salvador Allende.
CHILE: A TERRA PROMETIDA
Por Manoel de Andrade
- “Caminhante não há caminho, se faz caminho ao andar.”
"Em meados de Dezembro de 1971 cheguei novamente a Santiago, de onde havia partido em fins de Agosto de 1969, com destino à Bolívia. Naqueles mais de dois anos, com excepção da Venezuela, eu cruzara todas as fronteiras terrestres subindo o continente até a Califórnia, de onde iniciara, há cerca de sete meses, meu retorno para o sul. Não soubera de ninguém que houvesse feito essa imensa volta como um caminhante solitário. Nem de nenhum poeta que houvesse levado a oralidade do seu canto a tantos rincões da América. Trazia no coração o retrato carinhoso e inesquecível de tantos amigos e chegava com a alma lavada pelo orvalho do tempo e por ter vivido no coração palpitante da História. No espelho da memória balançavam ainda as espigas e os botões na primavera florida dos caminhos, relembrava as paisagens portentosas dos Andes, das tantas travessias, de tantos recantos e encantos, da visão majestosa dos vulcões. Navegara com a imagem do horizonte e sob a carícia da noite e da brisa dos mares. Eu chegava, enfim, com o espírito saciado pelo sabor de tantas aventuras, recontando o significado da História, estampado na memória e no colorido colonial das cidades. Enriquecera meu espírito com a luta libertária dos povos que estudei. Testemunhei, por toda parte, a juventude escavando trincheiras e segurando uma bandeira. Aprendera com eles a cantar o significado da Liberdade, da Igualdade e da Democracia, e assim voltava transformado por tantas lições de vida, vividas com tanta intensidade. Sentia-me realizado por saber que havia “combatido o bom combate”, que soubera ler a mensagem do meu tempo, identificar-me com a condição de latino-americano e que minha poesia tinha realizado sua missão denunciando a opressão e prenunciando um tempo melhor para todos os homens. Chegava em paz comigo mesmo por entender que cumprira um dever, que confiava no poder da Justiça e que minha mensagem, como poeta, fora inspirada pelo encanto da utopia e escrita com o verbo da esperança.
Sabia que nem tudo haviam sido rosas nesse longo caminhar. Que também colhera o espanto e as lágrimas no seio das multidões. Vi a vida parindo a fome, vi a desilusão e o abandono caminhando sem rumo pelas ruas e mendigando nas praças das grandes cidades. Vi os filhos do calvário vergados sob o fardo da angústia. Pressentia, por toda parte, uma sombra opressora pairando sobre o povo. Sabia que havia um “Império” de comandantes e comandados. Um controle sinistro chamado geopolítica guiado por um poder invisível e cruel. Cruzei o continente ameaçado e punido por essa sombra. É verdade que colhi muitas belezas, partilhei meus sonhos e reparti o lirismo dos meus versos, mas diante da miséria e da desesperança, não podia dizer que voltava realmente feliz.
Não me sentia cansado, mas pensava descansar nos braços fraternos de uma nação onde aportara o sonho de uma nova sociedade. Agora estava ali, novamente em Santiago, diante dos picos gelados da Cordilheira. Meu espírito era uma agenda de expectativas. Queria rever meus grandes amigos, brasileiros, chilenos e latino-americanos. Ansiava subir novamente ao Cerro San Cristóbal e lá de cima rever a cidade, voltar a caminhar pelas margens do Mapocho, passear nos parques de Arrayán, revisitar as peñas, ouvir Víctor Jara e novamente me encantar com a música do Quilapayún e do Inti-Illimani. Santiago me deixara tantas saudades! A solidariedade dos amigos, quando chegara do Brasil, os companheiros de ideal marcados pelo signo do exílio, os estudos apaixonantes sobre os araucanos. Era, para mim, um momento novo. Eu chegara num país renovado pelo sonho e pela esperança e esperava também fazer a minha parte nesse sonho. Queria me inteirar do que havia mudado no Chile, depois da vitoria de Allende. Por isso precisava também me programar, rever as relações críticas comigo mesmo, planejar meus passos para o futuro e resolver o problema da convivência com o distanciamento de minha esposa e minha filha. Pensava dar ao Chile o que de mais belo eu tenho, que é a minha poesia. Naqueles dias sentia-se que os chilenos respiravam o significado da esperança. Ah! A esperança, essa mais doce companheira da alma, como a definiu o padre António Vieira. Eu queria também semeá-la ali, na pátria de Gabriela Mistral e de Neruda. Queria dar recitais nas grandes universidades, falar das trincheiras abertas na América Latina e contar a saga dos poetas que deram a vida pelo mesmo sonho socialista que naquela “primavera” contagiava os chilenos. Contudo, também havia algo que eu precisava conciliar com tantas ansiedades e iniciar depois de satisfazer todas as saudades: buscar algum isolamento e começar a escrever minhas memórias. Precisava testemunhar tudo que vi e vivi pelos caminhos. A viagem que acabara de fazer fora minha maior universidade. Eu mesmo me perguntava como pude andar tanto e como meus rastros de viandante iriam marcar o resto da minha vida. Era como se tivesse escrito com meus passos os próprios versos andaluzes de Antonio Machado: “Caminhante, são tuas pegadas/ o caminho e nada mais;/ caminhante não há caminho,/ se faz caminho ao andar.”
Cheguei ao aeroporto de Pudahuel no fim da manhã de 15 de Dezembro de 1971 e tomei um táxi direto para a Avenida Manuel Montt, número 2.124. Era lá que morava agora meu querido amigo chileno Bernardo Tapia. Continuava no mesmo bairro Ñuñoa, mas não mais na Obispo Orrego, naquela velha casa que me acolheu quando cheguei pela primeira vez ao Chile. Havíamos trocado cartas nos últimos dias e ele estava me esperando no apartamento da família onde vivia com os irmãos, todos estudantes. Foi uma alegria rever-nos depois de dois anos. Voltamos a recordar o tempo em que caminhamos juntos, com a mochila nas costas, desde Santa Fé. Recordamos os dois jovens advogados, Felix García e Pedro Godoy, que mataram a nossa fome nos pagando um jantar em Rosário. Foram eles que nos abrigaram aquela noite e, na manhã seguinte, deram-nos aquela bendita recomendação para a família Castelli em Buenos Aires, e da acolhida que lá tivemos pelo casal Enrique Castelli e Ana Maria Âmbar, que além da carinhosa amizade ofereceu-nos um apartamento desocupado para ficarmos o tempo que quiséssemos. Bernardo cursava o último ano de arquitetura e estava noivo de uma bonita jovem chamada Pilar. Contou-me que minha amiga curitibana Elci Susko, estivera visitando o Chile e que partilharam belos momentos juntos, assim como me contou emocionado da passagem de Enrique, Ana Maria e o filho Martin por Santiago, no começo daquele ano.
Estávamos em meados de dezembro e quando nos reencontramos, Bernardo e seus irmãos já estavam fazendo as malas para viajar a Linares onde passariam o Natal e as férias escolares com a família. Assim que, dentro de uma semana, fiquei com todo aquele grande apartamento só para mim. Nos dias seguintes da minha chegada saí a andar pela cidade para recordar os lugares de minhas velhas caminhadas. Num daqueles dias cheguei até os cafés da Avenida Bernardo O’Higgins, ponto das conversas entre os refugiados e exilados políticos latino-americanos. E foi lá que, num fim de tarde, reencontrei o boliviano Edgar Prieto que fugira para o Chile depois da queda do General Juan José Torres. Eu o conhecera na casa do escritor Oscar Soria Gamarra, em La Paz, e a última vez que nos víramos foi quando da minha participação no Primeiro Festival Universitário de Protesto e Cultura, realizado em Sucre, em maio de 1970, do qual Prieto foi um dos principais organizadores. Foram tantos fatos e pessoas para recordar. Um momento triste ao comentarmos o fim que tivera o cantor Benjo Cruz, que estivera conosco no Festival de Sucre e que desaparera na trágica Guerrilha do Teoponte. No fim da conversa, uma bela notícia: meu grande amigo Jorge Suarez estava em Santiago com a família e trabalhava no jornal Puro Chile.
Na semana seguinte fui a Paine fazer uma surpresa ao pernambucano José Macedo de Alencar, o Arimateia. Já fazia algum tempo que nossa correspondência havia se interrompido, com ele e com tantos outros amigos latino-americanos em face da minha constante mudança de países e de endereços, já que nessas andanças muitas cartas não me chegavam às mãos e por isso não eram respondidas. Algumas me eram reenviadas, como duas cartas que chegaram aqueles dias do Peru: uma de Marilena e outra de um amigo equatoriano.
Arimateia foi tomado de surpresa quando abriu a porta de sua casa. Arregalou os olhos, abriu os braços, gritou meu nome e envolvemo-nos num demorado abraço ao qual se juntou sua esposa Arely. Cheguei à tardinha e havia tanto assunto para conversar que somente voltei para Santiago na manhã seguinte. Crivamo-nos de perguntas. Ele sobre minhas andanças pelo continente e eu querendo saber dos brasileiros, nossos amigos da “colônia”, e das novidades sobre a “nossa” ditadura. Comentamos sobre a viagem de Médici aos EUA para beijar a mão de Nixon, sobre as denúncias de tortura, mortos e desaparecidos, no Brasil, que naquele mês de dezembro começava a ganhar o mundo. Arimateia comentou as grandes comemorações que se fizeram, em outubro, pelo aniversário da morte do Che, da recepção que por todo o país se fez a Fidel Castro durante as três semanas em que lá esteve em novembro, bem como da difícil situação em que se encontravam os Tupamaros, ante a crescente escalada da repressão no Uruguai. Ao final, ele me compôs um panorama da situação geral dos brasileiros no Chile. Por um lado a solidariedade do governo de Allende aos nossos exilados e, por outro, as pérfidas atividades dos agentes do CIEX, o Centro de Informações do Exterior, criado pela ditadura brasileira e ligado ao Itamarati, pelo qual nossa embaixada mandava informações sobre os passos dos brasileiros em Santiago. Disse-me que entre os exilados comentava-se que naquele ano o torturador Sérgio Paranhos Fleury estivera no Chile por conta do SNI (Serviço Nacional de Informações). (14)
O Chile, naquele ano de 1972, era o refúgio dos perseguidos políticos latino-americanos e a capital não só tinha mais da metade da população do país, mas abrigava cerca de dez mil exilados, auto-exilados e refugiados de todo o continente, sendo a imensa maioria constituída de brasileiros que, ao chegarem, eram tratados com solidariedade pelos compatriotas recebendo apoio pessoal e a ajuda financeira da “Caixinha”. Embora o governo de Allende, que eu saiba, não possuísse um comitê de acolhida aos muitos exilados ou refugiados que lá chegavam, sabia-se de alguns casos em que o Estado lhes facilitou o acesso à moradia, ao trabalho e ao estudo, como aconteceu em janeiro de 1971, com os setenta presos políticos que lá chegaram trocados pelo embaixador suíço, no Brasil.
O ano começava. As classes populares que elegeram Allende, estavam comprometida com o ideal de uma pátria socialista, e a economia, dirigida pelo Ministro Pedro Vuskovic, mostrava, com estatísticas, os primeiros frutos desse sonho. Os chilenos diziam que “El cobre es el sueldo de Chile” e uma das mais importantes decisões de Allende foi a sua nacionalização. Também a extração do carvão, do salitre e do petróleo foram estatizadas, assim como os bancos e as ferrovias. A reforma agrária se iniciara em 1962, com o presidente Jorge Alessandri e continuou se ampliando no governo de Eduardo Frei, mas foi sob a presidência de Allende que ela se acelerou rapidamente, sob a pressão das organizações camponesas e militantes do MIR, levando o estado a expropriar milhões de hectares de terras. No amplo programa social do governo priorizava-se a educação, a redução do analfabetismo e o aumento salarial dos trabalhadores. Pela primeira vez no país se criou uma legislação para dar aos mapuches e aos indígenas em geral, o reconhecimento de sua cidadania, sua diversidade cultural e o direito de recuperar as terras que lhes foram usurpadas.
Na paisagem ideológica, o Chile era o jardim político da América, em cujos canteiros desabrochavam as mais belas flores revolucionárias do continente. No Peru também havia um processo socialista em marcha, mas fora fruto de um golpe militar e a esperança estava ameaçada pela idiossincrasia dos coronéis. Cuba era o farol revolucionário da América Latina, mas a conquista do poder fora através de uma árdua guerra de guerrilhas e o regime socialista, instalado no país, não permitia que, em face das reações internas e das ameaças constantes do imperialismo (leia-se Invasão de Bahia de Cochinos) a liberdade fosse plenamente respirada pelos pulmões da cidadania. Somente no Chile, onde, pela primeira vez no mundo, o socialismo chegara ao poder pela vontade do povo, é que se podia-se andar, falar, opinar, reunir-se, entrar e sair do país, enfim, usufruir plenamente da aura e do encanto da liberdade.
O Chile, que reencontrei na minha volta, era, portanto, não somente uma mágica aldeia de liberdade, mas também o melhor refúgio para os perseguidos por ditaduras ferozes como a brasileira, a uruguaia, a paraguaia, a boliviana e a argentina. – a Argentina de Lanusse, responsável pelo célebre Massacre de Trelev, ocorrida em agosto daquele ano. -- Nós, os brasileiros, nunca havíamos respirado tanta democracia e tanta solidariedade. Estar no Chile naqueles tempos era um privilégio e somente aqueles que conheceram essa ventura é que podem expressar o seu encanto. Muitos homens públicos que hoje comandam segmentos do poder no Brasil, tiveram no Chile de Salvador Allende uma escola incomparável, onde se conjugava o verbo da liberdade e onde se degustava, nas ações e nas palavras, o sabor universal da democracia.” Manoel de Andrade, in " Nos Rastros da Utopia", Brasil
(14)-Passadas quatro décadas, toda verdade está sendo revelada, e para um brasileiro é vergonhoso dizer que a tragédia política que se abateu sobre o Chile em setembro de 1973 teve a Embaixada do Brasil e a residência do embaixador Antônio Cândido Câmara Canto, como dois dos principais endereços da conspiração. Que empresários de São Paulo juntaram fundos para financiar a instalação da ditadura mais cruel que já se conheceu no continente. E que o governo brasileiro enviou seus melhores torturadores ao Chile para ensinar aos agentes da DINA as modernas técnicas de interrogação e tortura que fizeram da Vila Grimaldi o mais sinistro centro de crueldade da América. Contudo, diferente do que aconteceu na Argentina, no Uruguai e no próprio Chile, aqui no Brasil muitas gavetas ainda não foram abertas. É imprescindível achar suas chaves para saber qual a parte que cabe aos coronéis, policiais e empresários brasileiros no débito desse nefando genocídio que, ao longo de dezessete anos, deixou 2.279 mortos e 1.102 desaparecidos, naquele país irmão. Mas essas e outras chaves acabarão por ser encontradas. Neste início de 2013, a Comissão da Verdade “Rubens Paiva”, está promovendo audiências públicas na Assembléia Legislativa de São Paulo para mostrar documentos oficiais da ditadura militar onde constam indícios de relações entre membros da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e do Consulado dos Estados Unidos, com os órgãos de repressão da ditadura militar no período entre 1964 e 1985.
ResponderEliminarEstimado Manoel, é com prazer que vejo publicado nesta multifacetária e erudita bitácora de nossa amiga lusitana, mais um capítulo de sua epopeia americana-viandante, como sempre pulsando de vida e celebrando a memória.
Como você mesmo recorda, Fidel Castro acabara de despedir-se do Chile quando você aqui chegou, E veja o que o ARQUIVO CHILE, editado por ex-MIRistas escreve hoje, 42 anos após a visita do comandante cubano: É excerto algo longo para constar como comentário, ainda assim me atrevo a publicá-lo com a devida licença de Maria José - ei-lo:
(...)
Las consecuencias
La extensa visita de Fidel Castro, jefe del gobierno revolucionario de Cuba, a
Salvador Allende, jefe del gobierno de la Unidad Popular en Chile tuvo importantes
consecuencias. Fue un trago amargo para la derecha chilena y para los sectores
conservadores.
El verdadero objetivo de la visita era limar asperezas en el seno de la Unidad
Popular. Castro debía tratar de conciliar las diferencias que se estaban presentando
en el seno de la coalición oficial entre los radicales y los moderados, por eso al
discutir con los estudiantes de las Universidades su discurso siempre llamó a la
lucha contra el sectarismo dentro de las fuerzas del cambio. No se puede negar que
Fidel Castro hizo lo posible por consolidar la unidad dentro de la izquierda chilena.
Pero su liderazgo no fue suficiente. Los conflictos cotinuaron durante el resto del
gobierno de Allende. El objetivo principal no se cumplió, y el costo fue excesivo.
La intervención cotidiana de un mandatario extranjero en la política interna de la
nación sureña durante cerca de un mes, enturbió la política chilena, y las
relaciones entre gobierno y oposición, desde ese momento en adelante.
Fue avivar el fuego, innecesariamente, de la división entre los chilenos. No era
imprescindible estimular este conflicto, ni siquiera necesario. Todas las alarmas de
la Guerra Fría pasaron de amarillo a rojo, los temores de que el gobierno chileno se
dirigiera al comunismo “cubano” estimularon la búsqueda de cualquier tipo de
salida del gobierno popular.
El Comunicado conjunto chileno–cubano es un interesante documento. En él
sostuvieron que la correlación de fuerzas en el mundo estaba sufriendo
modificaciones que tendían a favorecer la extensión del socialismo. Para sostener
esto argumentaban que la crisis fiscal y la derrota en Vietnam de los EEUU, la
pujanza de los movimientos de liberación nacional en Asia, África y América Latina
y el “incremento progresivo y sustancial de la fuerza económica, política, social y técnica del campo socialista” eran signos que presagiaban la victoria final del
campo socialista en la Guerra Fría. En este documento Chile saluda la integración
de Cuba en el Grupo de los No Alineados. Ambos países rechazan la política de
aislamiento contra la isla caribeña y se comprometen por impulsar el
fortalecimiento del Grupo de los 77 y el perfeccionamiento de la Organización de las
Naciones Unidas.
A pesar de este conjunto de declaraciones de buenas intenciones los beneficios de
la prolongada visita fueron pocos: las mejores relaciones entre el país austral y la
isla caribeña, pero la más fuerte vinculación entre ambos pueblos son opacadas por
los perjuicios a mediano plazo que la visita provocó.
El costo político de la gira no fue medido por ninguno de los protagonistas en su
momento. Los conflictos inútiles desgastan, a corto, mediano o largo plazo, a
cualquier gobierno y a cualquier proceso revolucionario.
Um agradecimento para Frederico Fullgraf, que do Chile, alarga este post e engrandece Livres Pensantes.
EliminarOs dois, Manoel de Andrade e Frederico Fullgraf, concretizam a mundialização da palavra neste espaço.
Ora, ora, muy estimada Editora de Livres Pensantes: muito obrigado pelas gentis palavras, mas a honra é toda minha. E permito-me admitir-lhe que este generoso espaço não deixa esmorecer e apagar a lembrança de minhas andanças por este Portugal do coração, onde vivi e interagi durante mais de ano, quando os Cravos ainda não estavam murchos, eheheh...
ResponderEliminarAguarde para breve uma crónica bem temperada sobre aqueles idos, pois a imagem de um Baleizão esbraseado sob o sol de agosto - moreno como Túnis, alvo como o susto e encarnado como a bandeira dos descamisados - me persegue ainda 30 e tantos anos depois.
¡Distraídos venceremos!, como brincava outro poeta de Curitiba.
Abraços
Frederico, teu comentário foi muito bem contextualizado. Mas na verdade somente o tempo nos concede a clareza para interpretar a História. Nem Fidel, nem Allende poderiam prever tão radical reviravolta. Eu estava em Quito, quando Velasco Ibarra, naquela mesma viagem de Fidel, o recebeu em Quayaquil, e, três meses depois, foi derrubado. Esse assunto foi largamente comentado em minhas memórias, na terceira passagem pelo Equador, no segundo semestre de 1971, onde cito partes do flamante discurso de Fidel. Eis aqui a parte final de minhas considerações:
ResponderEliminar"A passagem de Fidel pelo Peru e pelo Equador (rumo ao Chile) certamente se cumpria no contexto da nova estratégia cubana para o continente, já que nos anos 70 Fidel Castro abandonou a via armada e passou a considerar a via política -- que levara o partido socialista ao governo do Chile -- como uma nova estratégia para combater o imperialismo, presentes nas revoluções nacionalistas de Velasco Alvarado no Peru e de Omar Torrijos, no Panamá.
O encontro histórico com Fidel foi sem dúvida um arriscado gesto de Velasco, do qual deduzia-se, por um lado, a aproximação com Cuba para um próximo reatamento diplomático e, por outro, uma demonstração de força política ante os setores reacionários das forças armadas. Não foi preciso esperar muito tempo para se recolocar a ordem no “quintal” do imperialismo. Três meses depois de receber o comandante cubano, Velasco Ibarra foi deposto pelos militares. O grande caudilho estava no seu quinto mandato presidencial. Perdeu o poder, mas ganhou na história. Esse foi o preço de sua coragem."
Perdoem-me: esqueci de me identificar.
ResponderEliminarO anónimo sou eu: Manoel de Andrade
Bem, dizem que a idade busca a verdade - busca, nem sempre encontra! Com toda minha humildade, sinto-me mais feliz por ter aposentado alguns dos meus heróis da juventude: o mito é Homérico na acepção irônica do termo, a realidade dói. O Che e o Fidel formavam uma dupla inquestionável. Seus méritos são inesquecíveis, seus estrondosos erros de avaliação também: menosprezaram gravemente, mais o Che do que Fidel, a conjuntura internacional, subestimaram o imperialismo que mirava sua derrota no Vietnã, sim, mas por isso mesmo não "perdoaria" movimentos sociais e governos progressistas na America Latina - os mineiros da Bolívia, assim como Allende, precisavam de tempo e paciência de Jó para neutralizar a contra-revolução, que não dorme. A impaciência e precipitação do Che, seu foquismo sem Povo (!) causou enorme dano à Libertação do Continente. Há bastante tempo, muito mais agora, a História permite-nos concluí-lo. Grande abraço.
ResponderEliminarDeste lado do Oceano, rever uma fase da história da América Latina através dos depoimentos de dois escritores latino-americanos é um acontecimento que me honra.
ResponderEliminarChe, Fidel de Castro e Allende foram a voz da esperança num tempo de asfixia. Fidel permanece vivo. Che será sempre o herói mutilado, enquanto houver perseguidos e explorados. Allende foi a foice que tentou desbravar um país que era um campo minado. Todos eles estão registados no nosso passado, no caminho da utopia , quando a História ainda não tinha sido escrita.