"(...) O construtor
aspira a uma comunidade fraterna e solidária. Por isso, vive longe da sociedade,
convivendo apenas com alguns amigos e, quer solitário, quer em companhia, a sua
construção é a constante renovação da sua vida. Se a existência é uma
incessante mudança, o móvel equilíbrio de ser implica uma abertura aos outros
sem preconceitos nem fantasias deformadoras. O deus do real não está no
interior do sujeito, no círculo fechado da confusa intimidade mas no rosto dos
outros e é através desses rostos que se perspectiva a construção humana de uma
comunidade viva e essencialmente aberta. Nas pulsações da convivência, o ser
emerge dos seus obscuros labirintos e encontra o pólo do outro que o clarifica
e assegura a sua móvel e aberta identidade. A verdadeira origem solar reside
neste encontro com o outro que, deste modo, ilumina o sujeito e o erige em face
da alteridade essencial. O deus da origem e do recomeço da vida revela, assim,
a sua integridade viva como ser da transformação e da mudança fértil do real. O
outro é uma condição inicial da construção e está sempre implícito nela mesmo
quando irrompe do círculo solitário do ser." António Ramos Rosa, in "
O Aprendiz secreto", 2001, Quasi Edições
Sinopse: "O Aprendiz secreto " é um dos mais marcantes títulos de António Ramos Rosa dos últimos anos, originalmente publicado pela Quasi em 2001. A fragilidade da beleza é o eixo central de um livro que descreve o quotidiano de um ser rodeado de silêncio e empenhado em construir a morada perfeita para as suas inquietações. "Tudo será construído no silêncio, pela força do silêncio, mas o pilar mais forte da construção será uma palavra. Tão viva e densa como o silêncio e que, nascida do silêncio, ao silêncio conduzirá."
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