É muito tarde.
O tempo implacável me consome
E destrói o vigor do corpo moço:
Apagou o fulgor do meu olhar
Roubou a altivez do seio cheio
Secou o rio manso do meu ventre
Cobriu de pergaminho a minha mão
É tarde, muito tarde
Mas… por dentro
Ainda bate, por ti, o coração.
Maria Aurora Carvalho Homem, in “Discurso
Amoroso”, desenhos de Francisco Simões, Editorial Campo das Letras, Porto
Outras deitados em concha, no soalho.
Umas vezes dela falamos, outras não.
Nessas fingimos ter a fala neutra e
esquiva,
Como se a tristeza não enchesse o
horizonte.
Sozinhos perante ela certo é que
estamos.
Dobramos o riso na curva dos caminhos,
Juntamos mãos a outros gestos já
traçados,
Calcamos passos sobre a terra
E beijamos, nos nossos filhos,
A memória que, nossa, não teremos.
Traço as letras. Ao traçar as letras,
Sei de que falo.
Entretanto, nunca o saberei.
Helena Carvalhão Buescu, in “Ardem as
trevas e outros lugares “, Editorial Campo das Letras, Porto, 2007
Gostei em especial do poema da Maria Aurora, uma escritora e comunicadora que muito fez em prol da cultura madeirense.
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