“Quando um dia acabem os poetas...Há-de ser
tudo uma grande sensaboria.” - Adolfo Casais Monteiro
Convocar as palavras
torná-las responsáveis
pedir-lhes som leveza
força sugestão apelo
exigir-lhes sedução e música
Ficar atento ao seu sinuoso ataque
quando dizem gaivota cálice água
navalha vento madrugada
Devorar as palavras
fazê-las sangue linfa lágrima
esperma suor saliva
devolvê-las lavadas nuas branda
prová-las vinho beijo voo
recomeçar
morrer por elas.
Rosa Lobato de Faria, in " A Noite Inteira Já Não Chega" , Poesia 1983-2010, Ed. Guimarães
Mas que sei eu
Mas que sei eu das folhas no outono
ao vento vorazmente arremessadas
quando eu passo pelas madrugadas
tal como passaria qualquer dono?
Eu sei que é vão o vento e lento o sono
e acabam coisas mal principiadas
no ínvio precipício das geadas
que pressinto no meu fundo abandono
Nenhum súbito súbdito lamenta
a dor de assim passar que me atormenta
e me ergue no ar como outra folha
qualquer. Mas eu que sei destas manhãs?
As coisas vêm vão e são tão vãs
como este olhar que ignoro que me olha.
Ruy Belo, in " Transporte no Tempo, Todos os Poemas II", Assírio & Alvim
Convocar as palavras
torná-las responsáveis
pedir-lhes som leveza
força sugestão apelo
exigir-lhes sedução e música
Ficar atento ao seu sinuoso ataque
quando dizem gaivota cálice água
navalha vento madrugada
Devorar as palavras
fazê-las sangue linfa lágrima
esperma suor saliva
devolvê-las lavadas nuas branda
prová-las vinho beijo voo
recomeçar
morrer por elas.
Rosa Lobato de Faria, in " A Noite Inteira Já Não Chega" , Poesia 1983-2010, Ed. Guimarães
Mas que sei eu
Mas que sei eu das folhas no outono
ao vento vorazmente arremessadas
quando eu passo pelas madrugadas
tal como passaria qualquer dono?
Eu sei que é vão o vento e lento o sono
e acabam coisas mal principiadas
no ínvio precipício das geadas
que pressinto no meu fundo abandono
Nenhum súbito súbdito lamenta
a dor de assim passar que me atormenta
e me ergue no ar como outra folha
qualquer. Mas eu que sei destas manhãs?
As coisas vêm vão e são tão vãs
como este olhar que ignoro que me olha.
Ruy Belo, in " Transporte no Tempo, Todos os Poemas II", Assírio & Alvim
Sem comentários:
Enviar um comentário