Quando Vier a Primavera
Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma
Se soubesse que amanhã
morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o
meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.
7-11-1915
Eu,
dar flor, já não dou. Mas vós, ó flores,
Pois que Maio chegou,
Revesti-o de clâmides de cores!
Que eu, dar, flor, já não dou.
Eu,
cantar, já não canto. Mas vós, aves,
Acordai desse azul, calado há tanto,
As infinitas naves!
Que eu, cantar, já não canto.
Eu,
Invernos e Outonos recalcados
Regelaram meu ser neste arrepio…
Aquece tu, ó sol, jardins e prados!
Que eu, é de mim o frio.
Eu,
Maio, já não tenho. Mas tu, Maio,
Vem com tua paixão,
Prostrar a terra em cálido desmaio!
Que eu, ter Maio, já não.
Que
eu, dar flor, já não dou; cantar, não canto;
Ter sol, não tenho; e amar…
Mas, se não amo,
Como é que, Maio em flor, te chamo tanto,
E não por mim assim te chamo?
José Régio , in Filho do Homem, Portugália Editora, 1970
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.
7-11-1915
Alberto Caeiro, in “Poemas Inconjuntos. Poemas de Alberto Caeiro.
Fernando Pessoa” (Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luiz de
Montalvor.) Lisboa, Ática, 1946.
“As
tantas rosas que os poderosos matem nunca conseguirão deter a primavera.”
Che
Guevara
"Podes
cortar todas as flores mas não podes impedir a Primavera de aparecer."
Pablo
Neruda
"O
inverno cobre minha cabeça, mas uma eterna primavera vive em meu coração."
Victor
Hugo
“Do
mesmo modo que no início da Primavera todas as folhas têm a mesma cor e quase a
mesma forma, nós também, na nossa tenra infância, somos todos semelhantes e,
portanto, perfeitamente harmonizados.”
Arthur
Schopenhauer
“Há
uma primavera em cada vida: é preciso cantá-la assim florida, pois se Deus nos
deu voz, foi para cantar! E se um dia hei de ser pó, cinza e nada que seja a
minha noite uma alvorada, que me saiba perder, para me encontrar.”
Florbela
Espanca
“Sejamos
como a Primavera que renasce cada dia mais bela… Exactamente porque nunca são as
mesmas flores.”
Clarice
Lispector
“Aprendi
com as primaveras a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira.”
Cecília
Meireles
“Um
pouco de perfume sempre fica na mão de quem oferece flores.”
Provérbio
Chinês
"Outono
é outra primavera, cada folha uma flor."
Albert
Camus
"Ausente
andei de ti na primavera,
quando
o festivo abril mais se altavia,
e
em tudo um'alma juvenil pusera
que
Saturno saltitava e ria."
William Shakespeare
Canção
de PrimaveraPois que Maio chegou,
Revesti-o de clâmides de cores!
Que eu, dar, flor, já não dou.
Acordai desse azul, calado há tanto,
As infinitas naves!
Que eu, cantar, já não canto.
Regelaram meu ser neste arrepio…
Aquece tu, ó sol, jardins e prados!
Que eu, é de mim o frio.
Vem com tua paixão,
Prostrar a terra em cálido desmaio!
Que eu, ter Maio, já não.
Ter sol, não tenho; e amar…
Mas, se não amo,
Como é que, Maio em flor, te chamo tanto,
E não por mim assim te chamo?
José Régio , in Filho do Homem, Portugália Editora, 1970
Sem comentários:
Enviar um comentário