segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

O ovo da serpente

 
O ovo da serpente
por Eugénio Lisboa
“Espero que os espectadores de televisão, que tenham acompanhado o congresso do CHEGA, em Viana do Castelo, se tenham apercebido de vários pormenores altamente significativos. É que são mesmo de notar e pelas piores razões.
Em primeiro lugar, a sala enorme, toda em profundidade, a lembrar-nos os cenários de má memória, organizados pelos arquitectos do terceiro Reich. A música a embalar as emoções e a adormecer a razão. Os jogos estonteantes de luz e ruído, acariciando e seduzindo os sentidos, para que se não notasse muito o vazio das promessas e os dislates da gritaria. O tom alevantado e carregado sempre de emoção, do líder do CHEGA,
gritando, com enorme convicção, aquilo que sabia não ser verdade. Porque sabe muito bem que uma mentira, repetida muitas vezes e com ar de grande sinceridade, acaba por se tornar uma verdade. Tratava-se ali de seduzir e não de esclarecer. De submeter e não de iluminar. Como observava o líder do Terceiro Reich, ao vencedor, não se lhe pergunta, depois, se disse a verdade. Todos os aforismos da cartilha nazi estavam ali em esplendoroso vigor. A grandeza do cenário foi sempre o vício dos ditadores.
Ah, e a bandeira portuguesa: faltava esse rebuçado! Ali ao lado, para que o líder, no seu discurso final, se aproximasse dela, a namorasse e acariciasse, com gozo quase sensual. A lembrar-nos o Charlie Chaplin, de O GRANDE DITADOR, acariciando o globo, brincando com ele, apropriando-se gulosamente dele… Quase um acto de posse sexual. Colossalmente aplaudido, claro está.
Anda já por aí o ovo da serpente. Acautelai-vos, que não vá ele dar fruto!”
Eugénio Lisboa, 15.01.2024

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