quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

O pavão


O pavão
por Rubem Braga
"Eu considerei a glória de um pavão ostentando  o esplendor de suas cores ; é um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e descobri que aquelas cores todas não existem na pena do pavão. Não há pigmentos. O que há são minúsculas bolhas de água em que a luz se fragmenta, como em um  prisma. O pavão é um arco-íris de plumas.
Eu considerei que este é o luxo do grande artista, atingir o máximo de matizes com o mínimo de elementos. De água e luz ele faz o seu esplendor ; seu grande mistérios é a simplicidade.
Considerei, por fim, que assim é o  amor, oh! minha amada; de tudo que ele suscita e esplende e estremece e delira em mim existem apenas meus olhos recebendo a luz de teu olhar. Ele me cobre de glórias e me faz magnífico."
Rubem Braga , in Desculpem tocar no assunto, Edições Tinta-da-China, Lisboa, Outubro de 2023,  p 160

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