L'esprit clair fait comprendre ce qu'il ne comprend pas.
Paul Valéry, Choses tues
Pergunta singular. Quem a faria, se não soubesse a resposta?
Eugénio Lisboa é um dos eleitos. Reina no retábulo dos escritores que me acompanham. Quando se ama profundamente um autor, a tentação é grande de escolher os livros todos desse autor e esquecer os outros. Argumento que justifica as minhas palavras e que acabo de roubar ao próprio Eugénio Lisboa do seu premiado livro Portugaliae Monumenta Frivola.
Todo e qualquer exemplar da sua obra tem lugar cativo na minha biblioteca. E se não existe, procuro-o incessantemente até o descobrir. Assim aconteceu com este que acabo de referir . Esgotado em Portugal, veio, por mão amiga, do Brasil. Falta-me um outro livro desejado: " A Matéria Intensa". Apesar de ser um livro de poesia, que mereceu uma distinção literária, permanece esgotadissimo neste nosso país, devido à imperdoável distracção ou incúria do mundo editorial. Uma preciosidade que está ausente das livrarias, coarctando o acesso a uma das mais belas obras poéticas do final do século XX.
Leio Eugénio Lisboa intensa e deliciadamente. Não porque se trate de um escritor fácil, mas sim pelo fascínio que a sua erudição se me torna clara. É um escritor de aprendizagem, onde a clareza é soberana . Sendo um dos seus fiéis promotores, cita, com algum ênfase, Sir Peter Medawar, cientista pioneiro da Imunologia, que proclama the clarity como indispensável e essencial.
Todo e qualquer exemplar da sua obra tem lugar cativo na minha biblioteca. E se não existe, procuro-o incessantemente até o descobrir. Assim aconteceu com este que acabo de referir . Esgotado em Portugal, veio, por mão amiga, do Brasil. Falta-me um outro livro desejado: " A Matéria Intensa". Apesar de ser um livro de poesia, que mereceu uma distinção literária, permanece esgotadissimo neste nosso país, devido à imperdoável distracção ou incúria do mundo editorial. Uma preciosidade que está ausente das livrarias, coarctando o acesso a uma das mais belas obras poéticas do final do século XX.
Leio Eugénio Lisboa intensa e deliciadamente. Não porque se trate de um escritor fácil, mas sim pelo fascínio que a sua erudição se me torna clara. É um escritor de aprendizagem, onde a clareza é soberana . Sendo um dos seus fiéis promotores, cita, com algum ênfase, Sir Peter Medawar, cientista pioneiro da Imunologia, que proclama the clarity como indispensável e essencial.
Eugénio Lisboa tem-na em toda a sua obra. É um autor versátil que sempre surpreende.
Emergiu esta questão a propósito de um artigo que acabo de ler na Revista Ler Nº 143, deste Outono de 2016. Na sua longeva coluna "IPSISSIMA VERBA", assina um inédito e explosivo artigo, intitulado "Joyce-1", que termina com a promessa de continuação, no próximo número da revista . Mas não fica por aqui . Desafia e acorda o nosso premonitório apetite ao sugerir que a festa continua: talvez o melhor esteja ainda para vir.
Eugénio Lisboa é um artífice da palavra e do desconcerto. Quando cremos já ter tudo lido , troca-nos a direcção e conduz-nos por lugares que só ele sabe explorar. E, fascinados , seguimo-lo sem que nada fique por apreender , sem que o sabor do novo esmoreça, sem que o prazer da partilha se esgote , sem que a descoberta de um outro prodígio se esboroe.
Vejamos. Neste artigo aparentemente simples , o nosso escritor parte da sua experiência, enquanto leitor, para evidenciar de quanta falácia se enche o mito, que se foi construindo, sobre a casta dos grandes escritores. E assim nos apresenta Joyce (James Joyce), autor do célebre romance " Ulisses". O tal circunspecto Joyce que Stefan Zweig conheceu na Suiça , durante a Primeira Guerra Mundial, refugiado e isolado para escrever este famoso "Ulisses". Romance, que Zweig veio a considerar a obra mais solitária e a obra mais desligada de tudo. Acrescenta este escritor austríaco que a Joyce raramente o abandonava uma certa amargura (...) parecia comprazer-se na sua própria dureza; nunca o vi rir ou estar realmente alegre.
Ora Eugénio Lisboa confidencia-nos o insuportável aborrecimento que permeia esta obra e de como são poucos aqueles que são capazes de denunciar e/ou admitir. Todos, na mais consentida hipocrisia, lhe tecem elogios porque está miticamente aprovada como obra maior do século passado.
Com saborosa vivacidade , relata como foi tedioso o visionamento do filme que adaptou este romance . Tudo se compõe e se organiza em concatenada previsibilidade: de um romance fastidioso , não se espera um brilhante guião. Eugénio Lisboa não se coíbe de confessar o seu desapontamento. E o texto prossegue com reflexões e assertivas afirmações sobre esta obra e respectivo autor. E como nos compraz o encorajamento que foi lançando àqueles que titubeavam ténues elogios para que soltassem o real e verdadeiro fastio que a obra lhes provocou.
Ninguém esperava de Eugénio Lisboa, escritor e crítico firmado, tão abrupta posição. Mas Eugénio Lisboa tem essa capacidade que lhe vem do seu outro eu como homem da Ciência. Agarra com objectividade qualquer tema por mais complicada e difícil que seja a sua desconstrução. E , num ápice, somos brilhantemente convencidos de que afinal era fácil. E quase acreditamos, perante o engenho que nos conduziu a tal asserção. Nele tudo se transforma: o difícil em fácil, o denso em leve, o profundo em inteligível.
Rico, claro, singular, rigoroso, diverso, erudito, é fecundo o talento em Eugénio Lisboa. Surpreende-nos em qualquer texto literário. Ensaio, Crónica, Poesia ou a monumental produção memorialística, cujo último volume acaba de ser publicado, são registos diversos de uma obra tecida pela mais fina arte de um grande escritor do nosso tempo.
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