Silva Porto , Apanha do Sargaço, 1884 |
Uma língua é o lugar donde se vê o mundo e em
que se traçam os limites do nosso pensar e sentir.
Da minha língua vê-se o mar. Da minha língua
ouve-se o seu rumor como da de outros se ouvirá
que se traçam os limites do nosso pensar e sentir.
Da minha língua vê-se o mar. Da minha língua
ouve-se o seu rumor como da de outros se ouvirá
o da floresta ou o silêncio do deserto.
Vergílio Ferreira, Bruxelas 1991,
Vergílio Ferreira, Bruxelas 1991,
( in Discurso de entrega do Prémio Europália da Comunidade Europeia)
2016 é o ano do centenário de Vergílio Ferreira ( 28 de Janeiro de 2016 - 1 de Março de 1996). Em Portugal, há um programa muito variado para esta comemoração que vai de Colóquios internacionais , de exposições, do lançamento de um selo evocativo, de actividades diversas em Gouveia a algumas evocações em Teatros. A Editora Quetzal está, também, a reeditar a obra completa do escritor.
Por aqui, temos vindo a assinalar este acontecimento. E porque Vergílio Ferreira é o autor das célebres frases em epígrafe, seleccionámos algumas canções emblemáticas que evidenciam esta circunstância bastante determinante do modo de ser português. O mar ouve-se neste nosso Portugal. Com ele, para ele e por ele perpassam diferentes sonoridades que dão tom a muitas vozes.
Por aqui, temos vindo a assinalar este acontecimento. E porque Vergílio Ferreira é o autor das célebres frases em epígrafe, seleccionámos algumas canções emblemáticas que evidenciam esta circunstância bastante determinante do modo de ser português. O mar ouve-se neste nosso Portugal. Com ele, para ele e por ele perpassam diferentes sonoridades que dão tom a muitas vozes.
Eis algumas:
Meu amor é marinheiro, fado de Alain Oulman com poema de Manuel Alegre, nas vozes de Amália Rodrigues , Cristina Branco , Atlântida e Maria Bethânia (no final da música).
Meu amor é marinheiro
Meu amor é marinheiro
E mora no alto mar
Seus braços são como o vento
Ninguém os pode amarrar.
Quando chega à minha beira
Todo o meu sangue é um rio
Onde o meu amor aporta
Meu coração - um navio.
Meu amor disse que eu tinha
Na boca um gosto a saudade
E uns cabelos onde nascem
Os ventos e a liberdade.
Meu amor é marinheiro
Quando chega à minha beira
Acende um cravo na boca
E canta desta maneira.
Eu vivo lá longe, longe
Onde moram os navios
Mas um dia hei-de voltar
Às águas dos nossos rios.
Hei-de passar nas cidades
Como o vento nas areias
E abrir todas as janelas
E abrir todas as cadeias.
Assim falou meu amor
Assim falou-me ele um dia
Desde então eu vivo à espera
Que volte como dizia.
Aguarda-te ao chegar
Calas-me a voz, voz do olhar
Sinto que o tempo, tarda em chegar
Distante ausente, sinto apertar
O peito ardente por te encontrar
Na minha alma, que anseia urgente
Pelo momento de ter-te presente
Pelo infinito estendo os meus olhos
Num mar de mil desejos, aguarda-te ao chegar
Encho a minha taça vazia com perfumes de poesia
Bebo a saudade amarga e fria e então adormeço ao luar
Calas-me a voz, p'ra lá do tempo
Estrelas que caem por um lamento
Espuma na areia solta no vento
O meu silêncio meu sentimento
Em minha alma que chora vazia
Por um momento se acende a magia
Pelo infinito estende o meu sorriso
Num mar azul de sonhos, acorda-me ao chegar
Encho a minha taça ardente, com incenso doce e quente
Sirvo de beber a alegria que sinto ao ver-te a chegar
Calas-me a voz
Em minha alma que chora vazia
Por um momento se acende a magia
P'lo infinito estende os meus olhos
Um mar de mil desejos aguarda-te ao chegar
Aguarda-te ao chegar
Gisela João, em Vieste do fim do mundo, acompanhada à guitarra portuguesa por Ricardo Parreira e à viola por João Tiago.
Vieste do fim do mundo
Vieste do fim do mundo
num barco vagabundo
Vieste como quem
tinha que vir para contar
histórias e verdades
vontades e carinhos
promessas e mentiras de quem
de porto em porto amar se faz
Vieste de repente
de olhar tão meigo e quente
bebeste a celebrar
a volta tua
tomaste'me em teus braços
em marinheiros laços
tocaste no meu corpo uma canção
que em vil magia me fez tua
Subiste para o quarto
de andar tão mole e farto
de beijos e de rum
a noite ardeu
cobri-me em tatuagens
dissolvi-me em viagens
com pólvora e perdões tomaste
o meu navio que agora é teu.
O grupo Contrabando interpreta o tema "Mar Português", de um poema homónimo de Fernando Pessoa. Este tema faz parte do segundo álbum deste grupo intitulado "coisas do ser e do mar" (2008) e é uma composição original do seu guitarrista, Henrique Lopes, na voz de Nuno Cabrita. Fernando Pessoa é um poeta referencial na obra deste grupo de música. O grupo, cujo primeiro álbum, "Fresta", foi editado em 2000, conta também com interpretações de outros importantes autores da língua portuguesa, o que, aliás, define a ideia deste projecto musical, como sejam, Agostinho da Silva, Branquinho da Fonseca, Ary dos Santos ou José Gomes Ferreira.
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