"A morte é a curva da estrada" [23.05.1932], de Fernando Pessoa (1888-1935). Recitado por Natália Luiza para a colectânea com 2 CDs, organizada por Gastão Cruz, Ao Longe os Barcos de Flores (Assírio & Alvim, 2004).
Audio: A. Vivaldi, "Cum dederit" in Nisi Dominus (Psalm 126).
Tradução de Richard Zenith em F. Pessoa, Forever someone else. Selected poems (Assírio & Alvim, 2009).
Filmado em Lisboa e em Dubrovnik (Croácia)
A morte é a curva da estrada
A morte é a curva da estrada,
Morrer é só não ser visto.
Se escuto, eu te oiço a passada
Existir como eu existo.
A terra é feita de céu.
A mentira não tem ninho.
Nunca ninguém se perdeu.
Tudo é verdade e caminho.
Fernando Pessoa, in Poesias (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942
"Quando vier a primavera" de Alberto Caeiro, heterónimo de Fernando Pessoa, recitado por Pedro Lamares.
Quando vier a Primavera
Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.
7-11-1915
“Poemas Inconjuntos”, in Poemas de Alberto Caeiro, Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946
Sem comentários:
Enviar um comentário