Eros
Nunca o verão se demorara
assim nos lábios
e na água
- como podíamos morrer,
tão próximos
e nus e inocentes.
Eugénio
de Andrade
(1923-2005), Mar de Setembro, in Coração
do Dia - Mar de Setembro,Ed. Assírio &Alvim.
O
Nu era coisa sagrada
"...Ainda há poucos anos, o médico, o pintor e
o freguês de casas de passe eram os únicos mortais que conheciam o nu, cada um
segundo o seu mester. Os amantes praticavam-no com medida; mas um homem que bebe
não é necessariamente um verdadeiro amador e conhecedor de vinhos. A embriaguês
não tem nada a ver com conhecimento.
O Nu era coisa sagrada, isto é, impura.
Permitiam-no às estátuas, por vezes com algumas reservas. As pessoas graves
tinham-lhe horror no seu estado vivo, admiravam-no em mármore. Toda a gente
sentia confusamente que nem o Estado, nem a Justiça, nem o Ensino, nem os
Cultos, nem nada de sério poderia funcionar se a verdade fosse
inteiramente visível. É preciso um traje próprio para o juíz, para o padre,
para o mestre, porque a sua nudez arruinaria tudo aquilo que tem o dever e terá
de ser impecável e inumano numa personagem que encarna uma abstracção.
O Nu não tinha em suma senão dois significados nos
espíritos: tanto, o símbolo do Belo; como também o do Obsceno. ..."
Paul Valéry, in Degas, Danse, Dessin (pg.
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