"Era um dos vultos maiores da canção popular francesa. Tinha 79 anos. Milord ou Le Métèque, símbolo do Maio de 68, tinham a sua assinatura. Edith Piaf, Serge Reggiani ou Juliette Gréco devem-lhe alguns dos seus maiores êxitos.
O cantor e
compositor francês, de origem grega, Georges Moustaki, morreu hoje, em Nice,
França, aos 79 anos, completados a 3 de Maio. Nascido no Egipto, em Alexandria,
de pais judeus gregos, ficou conhecido por canções como Le métèque, uma balada
romântica sobre um estrangeiro sonhador com ecos autobiográficos, que haveria
de se transformar num dos símbolos da revolução do Maio de 68.
É que ele
havia crescido num ambiente multicultural, envolvido por quatro idiomas
(italiano, francês, árabe e grego), tendo-se apaixonado desde cedo pela
literatura e pela canção popular francesa, em particular por Edith Piaf, com
quem manteve uma relação afectiva e para quem viria a escrever o clássico Milord
(1958).
Abandonou os
espectáculos ao vivo há quatro anos por causa de uma doença pulmonar que o
impedia de cantar na plenitude. O seu mestre era Georges Brassens, tendo por
isso utilizado o nome Georges como pseudónimo artístico, ele que se chamava
Giuseppe Mustacchi. Chegou a Paris em 1951, tendo nos anos 1960 composto
canções para todos os grandes cantores franceses da época como Henri Salvador,
Yves Montand, Juliette Gréco, Serge Reggiani ou Barbara.
Já esta
manhã, a cantora Juliette Grégo, rendeu-lhe homenagem, descrevendo-o como
alguém requintado, refinado e elegante. "Possuia uma doçura infinita e
imenso talento", disse à RTL. "Era como todos os poetas, alguém
diferente, porque acaba por ser sempre essa diferença que conduz ao
talento."
Com um
repertório de cerca de 300 canções, cantadas por ele, ou por intérpretes como
Reggiani (Sarah, Ma liberté, Ma solitude ou Votre fille a vingt ans de 1969) e
Barbara (La dame brune de 1968), muitas delas viriam a transformar-se em
clássicos quase instantâneos da canção popular francesa.
A
simplicidade era uma das características dos seus muitos discos. Possuia uma
voz suave e quente, e muitas vezes cantava apenas acompanhado pela sua
guitarra, criando um clima de intimidade que era transposto para os seus
concertos. Inicialmente tinha alguma relutância em afirmar-se como cantor,
preferindo o papel de compositor, mas impulsionado por Reggiani ou Barbara
viria também a assumir esse papel no decorrer do sucesso de Le Métèque, que
viria a originar um álbum com o mesmo nome.
Nos anos
seguintes viria a lançar mais uma série de álbuns, incluindo o disco ao vivo Bobino
de 1970, que consolidaria o seu nome como alguém que emanava uma sensação de
liberdade e de harmonia, qualquer coisa que a música transportava, mas também a
sua imagem mediterrânica bronzeada, com um pouco de romance à mistura -
qualquer coisa que o próprio parecia cultivar, como ficaria demonstrado no
sucesso En Mediterranée (1971).
Nos anos 1970
deixa-se fascinar pela música brasileira ou pelo tango argentino - colaborou
com Astor Piazzolla - passando grande parte dos anos 1980 em viagens e
digressões pelo mundo, regressando aos álbuns de originais na década de 1990,
com Mediterranéen (1992) ou Tout Reste à Dire (1996).
A sua relação
com Portugal é antiga. Para homenagear a revolução de 1974 adaptou uma canção
de Chico Buarque que se viria a tornar emblemática no pós - 25 de Abril,
intitulada Portugal (fado tropical). A última vez que actuou em Portugal foi em
2008, um ano antes de se retirar e no seguimento do lançamento do disco Vagabond,
na Casa da Música, no Porto, e no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
Considerado
umas das vozes do Maio de 1968, Moustaki afirmou nessa altura à agência Lusa
que dessa revolução “resta uma certa arte de viver, um certo código ético que,
mesmo que não seja unânime, impregnou-se na nossa cultura”.
Poliglota, gostava de pintar também e, ao longo
dos anos, foi sendo também poeta, escritor, actor ou jornalista. Vivia há cerca
de quarenta anos em Paris.” Público,23/05/2013
Ma liberté
Longtemps je t'ai gardée
Comme une perle rare
Ma liberté
C'est toi qui m'a aidé
A larguer les amarres
Pour aller n'importe où
Pour aller jusqu'au bout
Des chemins de fortune
Pour cueillir en rêvant
Une rose des vents
Sur un rayon de lune
Ma liberté
Devant tes volontés
Mon âme était soumise
Ma liberté
Je t'avais tout donné
Ma dernière chemise
Et combien j'ai souffert
Pour pouvoir satisfaire
Tes moindres exigences
J'ai changé de pays
J'ai perdu mes amis
Pour gagner ta confiance
Ma liberté
Tu as su désarmer
Toutes Mes habitudes
Ma liberté
Toi qui m'a fait aimer
Même la solitude
Toi qui m'as fait sourire
Quand je voyais finir
Une belle aventure
Toi qui m'as protégé
Quand j'allais me cacher
Pour soigner mes blessures
Ma liberté
Pourtant je t'ai quittée
Une nuit de décembre
J'ai déserté
Les chemins écartés
Que nous suivions ensemble
Lorsque sans me méfier
Les pieds et poings liés
Je me suis laissé faire
Et je t'ai trahi pour
Une prison d'amour
Et sa belle geôlière
Et je t'ai trahi pour
Une prison d'amour
Et sa belle geôlière
GEORGES MOUSTAKI
Le Métèque
Avec ma gueule de métèque
De juif errant, de pâtre grec
De voleur et de vagabond
Avec ma peau qui s'est frottée
Au soleil de tous les étés
Et tout ce qui portait jupon
Avec mon coeur qui a su faire
Souffrir autant qu'il a souffert
Sans pour cela faire d'histoires
Avec mon âme qui n'a plus
La moindre chance de salut
Pour éviter le purgatoire
Avec ma gueule de métèque
De juif errant, de pâtre grec
Et mes cheveux aux quatre vents.
Je viendrai ma douce captive
Mon âme sur, ma source vive
Je viendrai boire tes vingt ans
Et je serai prince de sang
Rêveur ou bien adolescent
Comme il te plaira de choisir
Et nous ferons de chaque jour
Toute une éternité d'amour
Que nous vivrons à en mourir
Et nous ferons de chaque jour
Toute une éternité d'amour
Que nous vivrons à en mourir
Georges Moustaki
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