Desafios para o Século XXI
Por Anselmo Borges
“São muitos
os desafios que se nos apresentam neste século XXI, ao mesmo tempo com imensas
vantagens e imensos riscos.
A sua ordem é
um pouco arbitrária, mas começaria pela globalização. Pela primeira vez, somos
verdadeiramente uma "pequena aldeia". Devido às redes de transportes
e comunicações, fluxos de bens, serviços, capitais, conhecimentos e pessoas, os
países e os povos do mundo estão cada vez mais integrados numa sociedade global.
O que vai então significar a globalização: simples liberalização económica? Que
nova configuração vai ter o mundo, com a emergência dos BRICS e, concretamente,
das potências asiáticas, nomeadamente da China e da Índia? E o que será da
Europa, se não caminhar para estruturas federativas?
A
globalização contemporânea, a partir de 1945, tem características próprias e
coloca problemas gigantescos, como escreveu A. Sasot Mateus: as tendências
monopolistas do capital, a ausência de mecanismos para a fiscalização da especulação
financeira à escala planetária, o terrorismo global, a falta de mecanismos
efectivos para a resolução dos conflitos internacionais, os problemas ligados à
sustentabilidade mundial, a desintegração da coesão social, o desemprego, os
défices democráticos nas instituições estatais e supra-estatais e as ameaças à
própria democracia devido à subordinação à ditadura financeira, tráficos
ilegais de todo o tipo: armas, pessoas, drogas, órgãos, com máfias
poderosíssimas à mistura, paraísos financeiros que fomentam a falta de
solidariedade e branqueiam capitais de origem duvidosa... No quadro da
globalização, com os problemas globais, é evidente que é necessário pensar numa
governança global.
Este mundo globalizado, é, também por força dos fluxos migratórios, um mundo multicultural
e a questão que se coloca é se vamos entrar num choque de culturas e
civilizações ou se, pelo contrário, seremos capazes de abrir portas para uma
aliança de culturas, mediante o diálogo intercultural e inter-religioso. Como
impedir a homogeneização cultural? Por outro lado, como proteger a diversidade
cultural, sem permitir a lesão dos direitos humanos?
E aí está uma
nova cultura: a cibercultura, que o sociólogo M. Castells estudou, analisando a
estrutura da "era da informação" como "sociedade da rede".
As novas gerações nascem sob o impacto das novas tecnologias electrónicas, que
modelam a sua visão da existência e do mundo. Navegando por infindos ecrãs de
textos e imagens, ligando-se em fóruns de discussão e intervenção, trocando mensagens
de simultaneidade generalizada, perdendo a noção do tempo e da realidade
mediante a entrada no virtual, marcando encontros cibersexuais, experimentam
uma nova revolução em curso. Então, que novo tipo de homem, que nova imagem do
corpo, que nova relação com a memória e o tempo? Na relação universal virtual,
não se perde a relação com o outro face a face, mergulhando na insuportável
solidão? E não cresce o perigo de novas formas de exclusão, com o novo
analfabetismo: o cibernético? E no meio de tsunamis de informação, como
analisá-la criticamente e distinguir? E não se ergue um risco maior: o de,
esquecendo a dimensão vertical, sem referências, a Rede transformar-se, na
expressão feliz de João Maria André, num Labirinto?
Outras
revoluções estão em curso: a genética e as neurociências - o cérebro é o
infindável novo continente em exploração. Poderemos, com as novas tecnologias,
vir a vencer a dor, o envelhecimento e a própria morte? Assistir-se-á à
transformação da natureza do humano? Caminharemos para o pós--humano e um
transhumanismo, que fazem inclusivamente alguns pensarem na possibilidade de
uma bifurcação da Humanidade? Os novos desafios: manipulação genética,
manipulação da actividade cerebral, investigação em embriões, clonagem,
híbridos, criação do super-homem...
Não se pode
deixar de apontar o desafio ecológico, quando o planeta está em risco e a
Humanidade pode deixar de ter futuro.
Poderá
esquecer-se o Transcendente, ao menos enquanto questão? E abandonar a afirmação
de Cícero: "res sacra homo" ( o ser humano é realidade sagrada)?”
Anselmo
Borges, em Artigo de Opinião, publicado no DN em 4/04/2013
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