Ouvi-te mas nada disseste
As palavras morriam em ti
E eu olhava -te sem mim
O amor fora-se sem nós.
Os dias mornos despojados de todo o calor
levaram dos meus olhos os sons do teu chamar.
Já não sei se desejo ficar nas pregas da sombra
esperando o que não vem, se me fui e já não sou
quem te sonhou nos dias sem saber quem eras
quando chegavas no enlevo perdido do sonho.
Sobraram as ténues memórias dum dizer inaudível
apenas sibilado pelos sons dos gestos nunca feitos
perdido nas palavras gastas da espuma do devir
que se foi sem vir e se fez morrer sem existir.
Adeus. Já não importam
esses sinais que ficaram
no longo desenho dos beijos
que nos lábios se afundaram.
Maria José Soares de Moura , in " Poesias do Mar e da Terra"
Muito se confunde o desejo, o impulso, o gesto, a necessidade que temos do outro, com o Amor, ou o que julgamos ser Amor!... Difícil é destrinçar no conjunto as atitudes e os anelos, na sensualidade e nos sentidos... Depois, fica-nos a ausência do ter sido, a ausência do que não fomos, o esfumar-se do julgávamos ter criado e atingido, e nunca foi nosso, porque só é possível ser nosso aquilo que parecemos perante os outros. Como Maria José Soares Moura no seu poema: tudo o "... que se fez morrer sem existir"... Muito nos morreu, sem sequer termos percepcionado em nós!...
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