“Mãe, vem aí um leão a
correr!”
“Deixe lá o leão. Lavou
as mãos?”
“Mãezinha, o leão vai-nos
comer!”
“Faz-me o favor de ter
modos cristãos?”
“Mãe, o leão está em cima
de mim!”
“Estas crianças não têm
maneiras!”
“O leão deu-me uma
mordidela ruim!”
“Deixe-se o menino de
besteiras!”
“Mãe, o leão já me comeu
um braço!”
“Só mesmo uma paciência
de mãe!”
“Mãe, se perco o outro
braço, que faço?”
“Menino, por favor,
porte-se bem!”
Por que não aprender a
ficar calado,
mesmo no momento mais
delicado?
06.10.2023
Há poucos dias, três meninas, aterradas com o seu futuro, diante de uma
catástrofe climática que se aproxima, atiraram tinta verde a um ministro do
ambiente. Foi uma tropelia censurável, mas foi também um gesto de quem está
realmente assustado. Nos dias seguintes, a imprensa despreocupou-se das razões
do gesto infeliz das meninas e preocupou-se imenso com a falta de estética
democrática das ditas meninas. A forma, antes da substância. É uma maneira,
como qualquer outra, de distrair a atenção das pessoas do essencial,
atraindo-as para o supérfluo. Acho que foi isto que me deu vontade de escrever
o modesto soneto que antecede estas palavras. Às vezes, mesmo querendo, não
conseguimos evitar o escárnio e maldizer.
Eugénio
Lisboa
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